Pondé seguramente consolidou-se como o "maior filósofo que nunca tivemos". Uma palavra define-o bem: desperdício. Karnal e Cortella podem até ser bons divulgadores, "coachings" ou escritores de branda filosofia carismática, mas carecem daquele ritmo e força estilística que caracterizam o verdadeiro literato. Quem leu o "Contra um mundo melhor" compreende minha afirmação. O problema do Pondé nem é tanto o gosto pela polêmica quanto o vício de fazer tábula rasa dos seus adversários. Quer encher de paulada o movimento e as teorias feministas? Ótimo. O feminismo não é uma corrente de pensamento santificada pelo sofrimento das mulheres ao longos dos séculos, bem como o Comunismo não o é pela exploração do proletáriado nem o cristianismo pela superioridade moral dos pobres frente aos ricos. Feminismo, "esquerdismo" e veganismo podem e devem ser criticados SIM. Agora, transformar o feminismo num espantalho feioso com os peitos de fora, desenhar eternamente as ideias e personagens "de esquerda" como caricaturas grotescas tingidas sempre com um vermelho berrante -- isto é sacrificar a filosofia no altar da ideologia. O Método de escrita do Pondé consiste em fazer um ensaio promissor terminar num panfleto "destruidor", exortando seus leitores a serem revolucionários, o que na gíria neoconservadora se traduz na pose "politicamente incorreta". Aí está outra tara recorrente nos textos de Luiz Felipe Pondé: utilizar-se de um falso dilema enquanto parâmetro para suas considerações de teor ético/moral suscitados pelos fenômenos contemporâneos. Deixemos claro: politicamente correto/incorreto NÃO É conceito nem métrica argumentativa para ABSOLUTAMENTE NADA, mas sim uma pessoal profissão de fé. Imaginemos que na fértil terra do pensamento humano germinou e se fortaleceu, durante milhares de anos, doutrinas e correntes religiosas e filosóficas as mais diversas. Nesta imensa floresta cruzam-se os galhos do Cristianismo e Platonismo, do Estoicismo e Budismo, Escolástica, Lógica Aristotélica, Tomismo, Protestantismo, Islamismo, Iluminismo, Existencialismo e o diabo a quatro. Algumas incipientes árvores só se desenvolveram muito recentecemente, como é o caso dos estudos da Negritude, o Feminismo e etcétera e tal. Entendo o politicamente incorreto/correto como uma espécie de erva-de-passarinho caída do céu (de fato, ninguém sabe direito como surgiu) para sufocar estas jovens arvorezinhas do pensamento. Dupla violência de quem usa tais termos: primeiro contra o indivíduo representado por dada "minoria"; segundo contra toda uma sistemática filosófica e epistemologia legítima que é simplesmente ignorada. Eu digo e repito: criticar, mostrar as contradições, os acertos e as absurdidades destas novas formas de pensar o Humano é totalmente legítimo e aconselhável. Desde que bem embasado, qualquer um pode vir e apontar: aqui o feminismo está errado, ali os estudos negros apresentam uma tese fraca e insustentável .. O que não é admissível é acreditar que para falar de racismo, cotas, subjugação da mulher e temas correlatos seja preciso recorrer ao pingue-pongue monótono e infrutífero do politicamente correto/incorreto e esquecer que, por exemplo, o feminismo não é questão de "aceitar ou negar" e sim ponto de partida para quem pretende pensar solidamente sobre.
Pode passar por espirituoso ou humorado quem aprecia discursos acerca do "Mimimi de hoje em dia" ou de como o politicamente incorreto "exagera" [o que é uma evidente contradição: se a maioria dos intelectuais conservadores condena o politicamente correto justamente por seu "exagero", pra que, então, os seus obscenos elogios e efetivas ostentações de atitudes ditas "politicamente incorretas"? Pois, afinal, não são igualmente "exageros" provindos da mesma deturpação da práxis política?], entretanto, uma coisa é o salão social ou o palco de stand-up, outra bem diferente é a análise séria, seja em sede acadêmica ou feita de forma independente, a qual, comprometida em compreender antes de criticar, parece faltar quase absolutamente ao espírito demoníaco do Sr. Pondé -- verdadeiro representante dos "homens do subterrâneo" anunciado por Dostoiévski, e que atualmente ganham cada dia mais espaço para fora de suas tocas sombrias.
Quanto à enquete, voto no Pondé, não pelo que ele é, mas pelo que certamente poderia ter sido.