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Como fazer uma resenha?

Zzeugma

Usuário
1867)[size=large] Updike e a arte da resenha [/size](4.3.2009)

Via Mundo Fantasmo, de Braúlio Tavares => http://mundofantasmo.blogspot.com/2010/04/1867-updike-e-arte-da-resenha-432009.html


Nunca li nenhum livro de John Updike, recentemente falecido, e um dos jesus-pequeninos da crítica literária dos EUA. O New York Times publicou há poucos dias um texto em que Updike, que por muito tempo escreveu resenhas e críticas literárias na imprensa, resume seus mandamentos como resenhador.

O primeiro deles diz: “Procure entender o que o autor quis fazer, e não o culpe por não conseguir algo que ele não estava tentando”. Há críticos que desembarcam num livro armados até os dentes, como Rambos, com o arsenal teórico de um Ismo qualquer. Quando constatam que o arsenal teórico não se aplica ao livro, condenam o livro. Segunda regra de Updike: “Dê ao autor a chance de ser citado diretamente, em pelo menos um trecho longo, para que o leitor possa ter uma noção da prosa do livro”. Muito importante, mas difícil de obedecer sempre numa coluna como esta, em que a gente mal tem espaço para dizer o que achou. O estilo de alguns autores é visível em pequenos trechos (Guimarães Rosa, p. ex.) mas para dar uma idéia da prosa de Thomas Pynchon ou de Marcel Proust, escritores de fôlego largo e períodos quilométricos, seria preciso uma lauda inteira. Terceira: “Comprove sua descrição do livro com excertos do próprio livro, em vez de resumos pouco objetivos”. Aqui também entra a questão do espaço.

Quarta regra de Updike: “Não faça resumo muito minucioso do enredo; e não revele o final”. É impressionante como certos críticos não hesitam em revelar as surpresas de um livro, imaginando, talvez, que todos os leitores do jornal leram o livro ao mesmo tempo que ele. E nem me refiro a livros policiais e de mistério, cuja crítica minuciosa sempre envolve uma certa ginástica para não revelar o essencial. A cultura internética criou o conceito de “spoilers”, revelações que podem estragar o prazer da leitura. Quando encontramos essa advertência no comentário de um livro ou filme, temos a opção de pular aqueles parágrafos e continuar a leitura mais adiante. Poucos críticos de livro usam esse recurso tão honesto e amigável.

Ele diz também: “Se o livro é um fracasso, procure indicar um livro na mesma linha que foi bem sucedido, seja na obra do mesmo autor ou de autor. Procure entender o fracasso. Tem certeza que é do livro, e não seu?” Updike conclui seu cardápio com uma recomendação que não vale a pena somente para críticos e resenhadores, mas é uma espécie de Oração do Leitor. Transcrevo:

“Não aceite resenhar um livro que você está predisposto a não achar bom, ou que se sente na obrigação de gostar, por amizade. Não se considere um defensor de tradição alguma, nem o vigia de normas partidárias, um soldado numa guerra de ideologias, ou um guardião de qualquer tipo de moral. Resenhe o livro, não a reputação do autor. E deixe-se levar por qualquer tipo de encantamento, fraco ou forte, que o livro produza. Melhor compartilhar desse encantamento e louvá-lo, do que condená-lo e recusar-se a ele”.

* * * * * * *
(Negritos meus)
Alguém tem mais alguma dica?

Abs
 
Zzeugma disse:
1867)[size=large] Updike e a arte da resenha [/size]

“Não aceite resenhar um livro que você está predisposto a não achar bom, ou que se sente na obrigação de gostar, por amizade. Não se considere um defensor de tradição alguma, nem o vigia de normas partidárias, um soldado numa guerra de ideologias, ou um guardião de qualquer tipo de moral. Resenhe o livro, não a reputação do autor. E deixe-se levar por qualquer tipo de encantamento, fraco ou forte, que o livro produza. Melhor compartilhar desse encantamento e louvá-lo, do que condená-lo e recusar-se a ele”.

O problema é quando você precisa resenhar um livro que você odeia de qualquer jeito. Na faculdade faço muito isso, eu não tenho que querer nada... Até entendo que se aprende muito, mas é um saco.

Eu consultava um site muito bom que tinha os passos para fazer uma boa resenha e vários exemplos, mas agora que linkei, percebi que está fora do ar, que pena.
 
Mas estão misturando um crítico com um resenhista.

O crítico é aquele com bagagem cultural e erudição para analisar a obra sobre vários prismas e contrapontos, provavelmente estudou as escolas críticas; que existem, assim como as literárias, além de possuirem uma variedade polifônica para transcorrer sobre o escrito. Crítico não é pra qualquer um, é arte - apesar de haver muita discordância quanto a isso.

O resenhista sou eu, você, um jornalista, ou qualquer um que leu um livro, gostou, e deseja falar sobre ele.

O problema é quando você precisa resenhar um livro que você odeia de qualquer jeito. Na faculdade faço muito isso, eu não tenho que querer nada... Até entendo que se aprende muito, mas é um saco.

Mas se você odeia há motivos, e você deve discorrer sobre o porquê do livro não ser bom. A advertência é sobre aqueles livros que, movidos por preconceitos, odiamos antes mesmo de ler.
 
Saber resenhar é algo que eu realmente me interesso, quanto à crítica nem me predisponho a isso, porque querendo ou não é muito subjetiva....
 
O crítico vai usar todo seu conhecimento para modelar e decifrar seu entendimento das intensões do livro. Algumas são claras, outras somente exigem maior erudição, mas é uma arte que exige muito de quem a faz. Além do que, o crítico não é alguem que possui a verdade, ele é um ponto de vista que tem muito mais a nos oferecer quando nós discordamos (daí vem a reflexão: até que ponto o que ele diz está certo? Por que não concordo com isso ou aquilo?), mas que pode nos abrir outros caminhos sobre algo que imaginávamos ter completo conhecimento. Pelo menos é assim que eu encaro uma crítica, um crítico.
 
O crítico pra nós meros leitores, é mostrado como "o cara" detentor de todo o conhecimento e pobre do autor que não cai nas graças do mesmo, ahsuahus
Eu de minha parte, pouco me interesso pelo que eles dizem, visto que raramente tenho a mesma opinião, porém ainda insisto {opinião pessoal} que eles apenas dão sua opinião parcial da obra, obviamente com um embasamento e fundamentos que poucos vão se incomodar em discutir, dizem o que pensam de uma forma convincente, nem sempre de forma justa...
 
Báh Arnie adorei tuas colacações sobre as diferenças entre resenhistas e críticos, muitas pessoas não percebem a diferença abissal que existe entre um e outro.
 
-Arnie- disse:
Mas se você odeia há motivos, e você deve discorrer sobre o porquê do livro não ser bom. A advertência é sobre aqueles livros que, movidos por preconceitos, odiamos antes mesmo de ler.

Nem sempre. Por exemplo, eu já resenhei um livro de um antropólogo (Malinowiski) que se chama " A Vida Sexual dos Selvagens", não dá para dizer que o livro não é bom porque não me interesso pela vida sexual dos selvagens. Não há preconceito nenhum do autor, muito pelo contrário, o problema é o tema em si. Isso aconteceu várias vezes comigo...
 
Muito bom mesmo a diferenciação, Arnie.

E essas dicas aí são boas também, mas não precisam, na minha opinião, ser seguidas a risca. Podem ser usadas como artifícios para diversificar os textos. Porque eu sou daquelas leitoras que se cansam da leitura, seja do que for, se o autor não varia seu texto.

E sobre resenhar... sempre digo uma coisa (não que valha muito, já que faço isso a pouco tempo): falar o simples: do que gostou, do que não gostou. E porque. Só isso. Eu não vejo dificuldade em fazer isso, só quando as palavras teimam em fugir. Você se expressa melhor conforme vai fazendo esse exercício, e daí nunca vão faltar meios para colocar no papel aquilo que se tem na cabeça.
 
Sim, a observação do Arnie foi importante.

Um crítico que admiro é o Vinicius Jatobá. Ele escreve de vez em quando para o Estado de São Paulo e tem (ou tinha) uma coluna no Terra Magazine sobre literatura (http://terramagazine.terra.com.br/ultimas/0,,EI12510-SUM,00.html).

Eu não sei se ainda tenho uma crítica que ele fez no jornal para o livro "Macacos Malvados" da Cia das Letras: se eu a encontrar, tentarei postar por aqui. Era uma crítica que não era totalmente favorável, mas ainda assim justa e contextualizada e conseguiu despertar meu interesse para ler o livro. É um bom livro e tenho certeza que as fraquezas que possui não o desabonariam para a maioria dos leitores. Recomendo: é muito engraçado e inteligente.

Em todo caso, suas críticas conseguem "abrir" a leitura do livro, ir além do que está escrito.

Aqui abaixo segue um trecho de uma crítica do Vinicius Jatobá que usei em uma antiga postagem de meu blogue (http://brontops.blogspot.com/2009/03/telegramas.html):

"(...)A literatura cada vez mais se afasta de um enfrentamento do torto nos termos do torto: narradores são puros, compreensivos, iluminados, generosos e sem preconceitos. Uma neutralidade do olhar narrativo, curiosamente em tempos de distopia e demolição dos projetos políticos, tem levado a literatura para um terreno que sequer ela parece ter consciência que está ocupando: a do porta-voz do bom-mocismo. O núcleo deste conflito literário á a intransigência, e em última instância o próprio preconceito, porque é do choque e tensão entre a incapacidade de se comunicar dos personagens que surgem os grandes abismos e contradições da alma humana.
Narradores que compreendem tudo, capazes de construir seus mundos dando oportunidades iguais a todos, sem jamais emitirem qualquer fala agressiva se aproximam mais de uma suposta missão evangelizadora de elevar a consciência pública do que da própria carnalidade do cotidiano das pessoas, que é a própria matéria da literatura. As vozes dos livros parecem de plástico, mas as pessoas são feitas de carne. É por isto que autores como Roth, Bernhard, Bolaño, Naipaul, Kertész, Lobo Antunes são capazes de cativar tanto o emocional do leitor para além da experiência da própria leitura - seus narradores veem os problemas do mundo, mas nunca se eximem da própria carne da matéria do problema. São, evidentemente, parte do problema. Denunciam o antissemitismo, mas são antissemitas; substituem uma violência pela outra; sentem saudade do poder que detinham; desprezam abertamente outras classe sociais; são mesquinhos e pouco generosos; não possuem paciência com o que veem como fraqueza. Isto não quer dizer que os autores padecem da mesma carne dos narradores que inventam (e não importa); esta construção narrativa apenas indica que o narrador que vê tem um corpo que sabe, mesmo em silêncio, aquilo que a cultura ao seu redor não sabe e não escapa nunca desta cultura porque ninguém escapa da história.(...)"
 
do vinícius jatobá só lembro da desistência dele como jurado em cima da hora da 1ª copa de literatura brasileira em 2008, e foi linchado publicamente por todos os outros críticos pela falta de ética. eu ñ falei nada na época até pq ñ conheço o cara.

mas se vc gosta das resenhas do cara, ponto pra ele. ou pra vc.
 
JLM disse:
do vinícius jatobá só lembro da desistência dele como jurado em cima da hora da 1ª copa de literatura brasileira em 2008, e foi linchado publicamente por todos os outros críticos pela falta de ética. eu ñ falei nada na época até pq ñ conheço o cara.

mas se vc gosta das resenhas do cara, ponto pra ele. ou pra vc.

Não conhecia esta história... Irei atrás. Obrigado.

************************************************************
No google, o site da Copa está fora do ar: em manutenção. Entretanto consegui acesso pelo "cache" e encontrei este comentário feito pelo Vinicius Jatobá no Jogo 13 da Copa de 2008.

" * Vinicius Jatobá
* 10/11/08 - 23:35
*

Lucas,

Essa é a primeira e última vez que me manifesto aqui. Primeiro, você não respeita meu pedido de saída da Copa e expõe meu nome rasurado na página para todos o verem (e despertar a curiosidade, claro). Depois, passa por cima da minha vontade de não ter meu nome envolvido com a Copa e escreve uma ‘resenha’ em que me pinta, publicamente, como uma pessoa desequilibrada. E, num ato misterioso, me envia essa resenha antes para que a lesse e soubesse o que me esperava. E agora, para terminar, afirma que não conhecia os resultados e minha decisão foi anterior quando você mesmo escreveu na tal ‘resenha’ que tínhamos conversado pessoalmente e por telefone. Afirmar que não conhecia os resultados quando foi justamente esse o motivo que me fez sair da Copa? Sei os resultados até a final. Você sabe disso. Você mesmo me contou, “pessoalmente e por telefone”. Ou vai ficar sustentando que não sabia de nada? Lucas, vou pedir mais uma vez: me esqueça. Eu não sou importante. O importante são os bons livros, e você os negligenciou.

Passar bem,
"

* * * *
Existe a resposta do Lucas a este comentário, mas prefiro não repostar aqui (Não é uma questão de ser justo, só acho que não vale a pena esparramar a polêmica por aqui, ainda mais que o assunto não tem nada a ver... Os interessados que procurem no google...).

Eu não acompanhei a nenhuma das Copas: o clima sanguinário na "torcida" (Comentários) não me animou a isto. Acho tudo isto lamentável... Estou FORA deste tipo de coisa. De todo modo, obrigado novamente JLM.

Abs
 
Há pouco mais de um ano resolvi criar um blog sem qualquer pretensão... meu desejo era apenas ter um espaço meu onde pudesse dividir com outras pessoas o meu prazer pela literatura, cinema, quadrinhos, etc.

Não é lá muito simples encontrar pessoas que tenham a pretensão de realmente discutir literatura (ou qualquer outra forma de arte); normalmente tudo se resume a "gosto" ou "não gosto", sem um motivo ou razão aparente.

Como sempre fui louco por cinema (desde que aluguei meu primeiro VHS de "willow na terra da magia"), passei a olhar essa forma de manifestação cultural de um jeito todo particular; desfrutava os bons filmes, mas observava com olhos "críticos" os defeitos da quantidade homérica de lixo que lotava, e ainda lota, as locadoras.

Talvez na tentativa de separar as pérolas das bombas cinematográficas, comecei a observar com mais atenção aos detalhes dos filmes. Hoje penso no roteiro, nas atuações, no posicionamento das câmeras, todos os pequenos detalhes contribuem para a manutenção do prazer pela 7ª arte.

Com os livros foi a mesma coisa. Depois que adquiri o gosto pela leitura, passei a tentar analisar os livros de maneira mais criteriosa; não para destruir os maus livros, mas para enaltecer os bons e ajudar na construção do meu próprio amor pela literatura.

Não tenho a pretensão de ser crítico literário, mas adoro analisar os livros que leio. O faço não porque desejo apontar nas páginas os erros dos autores, mas porque quero construir a cada dia o meu amor pela boa literatura.

Se nessa viagem alguns bons amigos quiserem me acompanhar, serão sempre muito bem-vindos.
 

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