Gostei da incorporação bíblica, inclusive Tolkien era muito católico e sua obra foi baseada na bíblia, como a estória do elfo (que esqueci o nome, pois não leio o silmarilion a tempo) que se matou com a própria espada, assim como Saul da bíblia. Também notasse a presença de Cristo, como se fosse Frodo carregando todo o fardo do anel para salvar a terra-média e o anel como se fosse o próprio pecado que separou Deus dos homens. Até os nomes são parecidos, como as minas de Moria e o monte Moriah, onde Abraão iria sacrificar o seu filho, elessar e eleazar, Endor (um nome para terra-média) e Em-dor (uma cidade). Só uma coisa que eu não entendi: os elfos são ressuscitados?
Oi eajj,
A obra de Tolkien não foi baseada na Bíblia tanto quanto você imagina, apesar de Tolkien ser muito católico. Uma das reclamações que eu tenho, e que até onde eu lembre o próprio Tolkien tinha com relação a Nárnia é que C.S. Lewis (que ele ajudou a trazer para o cristianismo) escreveu aqueles livros de forma alegórica, realmente tendo a intenção de contar o Evangelho de uma forma diferente. Você pode ver como Aslan se deixa sacrificar e depois aparece na frente das duas "Marias". Tolkien não gostava de alegorias, e se esforçava para não contar uma história mascarando outra por trás.
Eu digo "se esforçava" porque Beren, Aragorn, Bilbo e Faramir tinham semelhanças muito fortes com Tolkien. O primeiro era seu alter-ego declarado; o segundo era órfão de pai desde cedo na vida, perdeu a mãe uns 20 anos depois (o que não é nada comparado com os 210 que ele viveu), foi criado por um tutor e se apaixonou por uma mulher mais velha, tendo se casado só depois de uma guerra; o terceiro era o tipo de pessoa que ele se imaginava ser (um hobbit, mas ainda assim um hobbit incomum); o quarto ele mesmo reconhece nas Cartas ser o personagem com o qual ele mais se identifica (ele adiciona, porém, "exceto em coragem").
Mas isso, eu creio, é inevitável. O mundo que nós conhecemos melhor é o nosso mundo, e a personalidade que mais conhecemos é a nossa e a de quem vemos por perto. Se Tolkien não contasse a história dele em seu livro, e os personagens não tivessem parcelas de sua personalidade, tanto os personagens quanto a história pareceriam superficiais. Contudo, isto é muito diferente de dizer que a obra foi baseada na vida dele.
Da mesma forma, portanto, não acredito que ela é baseada na Bíblia, mas apenas baseada nos valores católicos de Tolkien. O humano (não elfo) que se matou com a espada era Túrin, e a sua história não foi baseada em Saúl, mas sim em um anti-herói finlandês chamado Kullervo. Frodo não poderia ser uma roupagem para Cristo porque, primeiro, Tolkien diz que ele falhou, e segundo, segundo a cronologia do mundo de Tolkien o Antigo e o Novo Testamento estão no futuro do mundo, não no presente ou no passado (ou seja, a Terra-média
é a Euroásia, e Cristo nascerá lá mesmo no local que seria conhecido como Belém, e pelo que pude interpretar esse seria o início da Sexta Era do Sol).
Os nomes também tem explicação. Veja na página 362 do Cartas de J.R.R. Tolkien:
Moria. ... Quanto à "terra de Morīah" (note a ênfase): ela tampouco possui qualquer ligação (mesmo "externamente"). Internamente não há ligação concebível entre as minerações doa Anões e a história de Abraão. Repudio totalmente tais significados e simbolismos. Minha mente não trabalha daessa forma; e (na minha opinião) o senhor se confundiu por uma similaridade puramente fortuita, mas óbvia na grafia do que na fala, que não pode ser justificada pelo verdadeiro significado pretendido de minha história.
Na página 363:
O elemento (n)dor "terra" provavelmente deve algo a, digamos, tais nomes como Labrador (um nome que por seu estilo e estrutura poderia ser Sindarin). Mas não a Endor das Escrituras. Este é um caso ao contrário, que mostra como a "investigação" sem conhecimento dos eventos reais pode desvirtuar-se. Endor S. Ennor (cf. o pl. coletivo ennorath I 250) foi inventado como o equvalente Élfico de Terra-média através da combinação das já elaboradas en(ed) "médio" e (n)dor "massa de terra", produzindo uma palavra composta supostamente antiga, Q. Endor, S. Ennor. Quando criada, obviamente observei sua semelhança acidental com En-dor (I Sam. xxvii), mas a congruência de fato é acidental e, portanto, a bruxa necromante consultada por Saul não possui ligação ou significado para O S.A. Como é o caso com Moria. Na verdade, este nome apareceu pela primeira vez em O Hobbit, cap. 1. Lá ele foi, confome me lembro, um "eco" casual do Castelo de Soria Moria em um dos contos escandinavos traduzidos por Dasent. (O conto não era de interesse algum para mim: eu já o havia esquecido e desde então nunca mais o vi. Assim, ele foi meramente a fonte da seqüência sonora moria, que pode ter sido encontrada ou composta em outro lugar.) Gostei da seqüência sonora; aliterava com "Minas" e relacionava-se com o elemento MOR em minha construção lingüística.
Não consegui encontrar uma citação sobre
Elessar, mas é de se notar que os elementos EL e SAR do élfico primitivo existiam muito antes de 1938, quando o personagem que se tornaria então Aragorn foi criado.
Tenn' enomentielva!