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[COLUNA] Ninguém é a favor de bandidos, é você que não entendeu nada

Morfindel Werwulf Rúnarmo

Geofísico entende de terremoto
Sobre as expressões que atravessam as gerações, passando de pai para filho e o pensamento ignorante que elas geram

Espectro político trata fundamentalmente de economia. Você acha que a propriedade privada é a raíz de todo o mal? Vá para a esquerda. Você acha que a propriedade privada pode resolver problemas? Vá para a direita.

Agora, deixe isso de lado. Não me importa, porque o ponto que quero discutir neste texto é comum a todos.

Algumas expressões vem se propagando por gerações. Como uma espécie de roteador que só replica o sinal, a nova geração repete os discursos da geração anterior. Me assusta ver que jovens, como eu, que tiveram acesso a boas escolas, conteúdos e discussões, estejam dando continuidade às falácias mal estruturadas dos mais velhos.

“Bandido bom é bandido morto.”
“Tem idade para matar, mas não tem idade para ir preso.”
“Direitos Humanos só serve para bandido.”
“Esse povinho defensor de bandido… quero ver quando for assaltado.”

Olha só: ninguém é a favor de bandido. Ninguém mesmo. Muito menos os direitos humanos. Ninguém quer que assalto, assassinato, furto e outros crimes sejam perdoados ou descriminalizados.

Você é que entendeu errado.

Por que alguém, em sã consciência, seria a favor de assaltos, homícidios, latrocínios e furtos? Você não deveria sair gritando palavras de ódio sem entender o argumento do qual discorda — a não ser que você se aceite como ignorante, isto é, que ignora parte dos fatos para manter-se na inércia do conforto.

Depois que este texto terminar, você pode continuar discordando, mas espero que desta vez com outros argumentos, argumentos fundamentados.
Antes de mais nada, o que você prefere?
Gostaria de propor dois cenários e que você escolhesse o que mais te agrada.

I) Uma sociedade onde há muitos criminosos, logo há muitos assaltos, latrocínios e homícidios. Entretanto, nesta sociedade, 99% dos crimes são resolvidos e os indivíduos são presos. Após voltarem as ruas, tornam-se reincidentes, ou seja, cometem novamente um crime. Mas nesta sociedade, este criminoso é pego novamente em 99% das vezes. Há pena de morte.

II) Uma sociedade onde quase não há criminosos. Os poucos criminosos que existem, quando pegos, são presos. Além de punidos com tempo de reclusão, os criminosos também são reabilitados (as maneiras são indiferentes, se com cursos profissionalizantes, tratamento psicológico, ambos ou outros) para que possam tentar uma nova vida. Não há pena de morte.

Qual você prefere?

Nenhum destes casos é o do Brasil. No nosso país e em muitos outros, temos altos índices de criminalidade, poucos programas de reabilitação e o senso comum vingativo de que o Lex Talionis desenvolvido há cerca de 4.000 anos ainda serve como solução. Todavia, há países parecidos com os dois casos propostos, o que torna tangível a estrutura. Mas e para o Brasil? Qual dessas você preferiria para o nosso país?

Posso te ajudar neste raciocínio com alguns pontos:

  • No primeiro caso, apesar de quase todos os criminosos serem pegos, o sofrimento das vítimas permanece. Como só se prende depois do crime, os lesados nunca terão a vida de um ente querido de volta, por exemplo.
  • No primeiro caso, além de muitos crimes, os criminosos ainda tem maior probabilidade de reincidir, ou seja, de cometer um crime por mais de uma vez.
  • Como são muitos criminosos, a economia do país perde força produtiva. Pessoas que poderiam estar trabalhando, pesquisando, empreendendo, estão no crime.
  • No primeiro caso, como são muitos casos a serem avaliados, o sistema jurídico pode vir a se tornar lento e ineficaz.
Tome o tempo que precisar para decidir.

OBS: Em nenhum momento quero impor uma falácia de falsa dicotomia. Existem infinitas possibilidades de combinações aqui. Entretanto, este é apenas um exercício que facilita o entendimento do argumento.

A pessoa nasce bandida ou torna-se bandida?
Pergunta importante: você acha que as pessoas já nascem bandidas? O bebê — sim, aquele de colo — já é um bandido?

Prefiro pensar que ninguém acredita que as pessoas já nascem criminosas. É um pouco lunática a visão de um mundo Minority Report, onde o bebê será preso ali mesmo, nos primeiros momentos de vida. Mesmo para quem acredita neste mundo, o próprio filme trata do problema que isso poderia causar.

Partindo da pressuposição de que ninguém nasce bandido, vou utilizar um personagem fictício como exemplo: João, o bebê. Imagine o bebê da maneira como quiser, isso pouco importa, a única certeza que temos sobre João, o bebê, é que ele não nasceu bandido. É uma criança como qualquer outra, ainda dependente dos pais, que pouco faz da vida além de dormir e chorar. Mas neste mundo fictício, o tempo passou, e João cresceu. Aos 16 anos cometeu um latrocínio. Se João não nasceu bandido, então tornou-se bandido. A palavra "tornou-se" implica transformação e esse é o X da questão.

Os seres humanos se constroem com as experiências e aprendizados, portanto o meio em que se vive tem grande influência sobre ele. Sabendo disso, temos a visão clara de que algo acontece na sociedade que transforma as pessoas em marginais. (E se você acha que não, talvez seja curioso saber que a taxa de homicídios no Brasil em 2008 era de 26,4 a cada 100.000 habitantes, enquanto que na Islândia o índice não passou de 1,8 a cada 100.000 no mesmo ano).

O fato é: há algo na sociedade (que não será discutido neste texto) que levam as pessoas a cometerem crimes.

Quando você diz que reduzir a maioridade penal é uma boa ideia, você não está focando na raiz do problema, está apenas sugerindo uma maneira de remediar. E como veremos a frente, dado o nosso sistema, isto só aumenta a chance de criar um delinquente reincidente. Então note, pouco importa se a maioridade penal é de 16, 18 ou 21 anos se o país continua a formar criminosos. Devemos pensar em maneiras de diminuir a criminalidade, no processo que transforma as pessoas em transgressoras da lei, ou logo teremos mais presídios do que universidades e mais marginais do que cidadãos comuns.

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Construir mais penitenciárias e prender mais gente diminui a criminalidade?
O olhar crítico que às vezes não permeia a cabeça das pessoas é que prender as pessoas não faz com que menos pessoas se transformem em criminosas. Penitenciando apenas, você não resolve o problema, apenas posterga enquanto gasta o dinheiro público.

Assim como todo fumante sabe dos males do cigarro, todos que entram para o mundo do crime sabem o risco envolvido. Todo dia no noticiário vemos corpos estirados ao chão, seja do cidadão, do criminoso ou do policial. Não adianta termos penas mais severas: o brasileiro que se torna assaltante já não tem nada a perder, sabe que tem grandes chances de morrer de forma cruel.

Os criminosos brasileiros, depois de presos, ficam ainda mais propensos a perpetuar sua vida marginal. São três os principais motivos: (I) poucas empresas se propõem a contratar ex-presidiários, (II) o trauma vivido dentro da cadeia — como ela é aqui no Brasil — agrava as problemáticas psicológicas do indivíduo e, por fim, (III) não há um programa grande e estruturado de reabilitação de criminosos para que deixem a vida do crime.

Ninguém quer que criminosos não sejam punidos. Eles devem pagar suas penas conforme previsto em lei. O único problema é que a pessoa só vai presa depois de cometer o crime, isto é, depois que alguém já foi lesado. Não seria muito melhor se ao invés de precisar prender as pessoas depois do crime consumado, houvesse menos bandidos? Não seria melhor se os criminosos, após cumprirem suas penas, se reintegrassem a sociedade como parte da massa trabalhadora?

Ah, não dá? Dá sim. Na Suécia dá, por que aqui não daria? Vamos supor que você responda, de maneira óbvia, que é por causa da "cultura brasileira". Eu devo concordar que, realmente, a cultura é diferente: aqui muita gente acredita que pena de morte resolve o problema enquanto lá eles fazem uso da reabilitação.

Deve ser por isso que aqui se constroem presídios e lá se fecham presídios.

Nils Öberg, responsável pelo sistema prisional da Suécia, disse sobre o fechamento presídios no país por falta de condenados:

“Nós certamente esperamos que nossos esforços em reabilitação e prevenção de reincidência tenham tido um impacto, mas nós achamos que isso sozinho não pode explicar a queda de 6%” — reafirmando que a Suécia precisa se esforçar ainda mais em reabilitar os prisioneiros para que eles possam retornar a sociedade.

Direitos Humanos para você também
O artigo 3 da Declaração Universal dos Direitos Humanos diz que:

“Toda pessoa tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.”

O trecho "Toda pessoa (…)" do artigo 3 inclui você.

Ninguém quer que você seja vítima de um crime. Todas as leis do código penal são pensadas para tentar lhe garantir este e outros direitos comuns a todos os seres humanos. Ninguém quer que os bandidos sejam especiais: o que o "povinho dos Direitos Humanos" quer é que a sociedade não crie mais marginais e que a quantidade dos existentes diminua. E é aí que está: infringindo os direitos humanos, você não alcança este objetivo.

O trecho “Toda pessoa (…)” do artigo 3 também inclui o marginal.

É confuso que o cidadão que clama tanto por justiça, que a lei seja cumprida, fique ávido para descumpri-la: tortura, homicídio e ameaça são crimes, mesmo que sejam contra um condenado. Então, não, bandido não tem que morrer, porque isso te tornaria tão marginal quanto.

Se você quer uma sociedade com menos criminosos, conforme discutido no começo deste texto, entenda o papel dos Direitos Humanos. O artigo 5 diz:

“Ninguém será submetido à tortura, nem a tratamento ou castigo cruel, desumano ou degradante.”​

Ninguém lhe nega o direito a sentir dor, raiva e/ou tristeza após ter sido vítima de um crime. A culpa não é sua e isto nunca foi dito. Só quem é vítima sabe da própria dor. Mas o fato é que o olho por olho não te trará paz, não trará um ente querido de volta, não removerá seus traumas. O dente por dente só te levará para mais perto de uma sociedade violenta, onde o crime se perpetua e você pode ser vítima mais uma vez. Ninguém quer que você seja vítima outra vez.

A punição deve ser aplicada, sim. E com certeza será ainda melhor quando este indivíduo estiver apto a se tornar um cidadão comum, após cumprir sua pena, e nunca mais venha a causar problemas para a sociedade e para você. E é sobre isso que os Direitos Humanos falam.

Portanto entenda
Se você leu o texto um pouco mais exaltado, talvez tenha perdido algum trecho importante, portanto aqui vão alguns dos principais pontos:

  1. Ninguém nasce bandido. A estrutura social, de alguma maneira, transforma as pessoas em criminosas.
  2. Entender os motivos que levam a formação de criminosos e resolvê-los é mais importante do que puni-los com mais severidade. Se não formarmos criminosos, as pessoas não precisam ser vítimas.
  3. Todo crime deve ser devidamente punido, mas a maneira de punir pode influenciar na reincidência do criminoso, que fará novas vítimas.
  4. Construir presídios, prender mais pessoas, não evita que mais pessoas se transformem em bandidos.
  5. O que aprendemos com os países mais desenvolvidos é que reabilitar marginais colabora com a redução da criminalidade.
  6. Infringir os Direitos Humanos de qualquer pessoa é atentar contra a vida e, no caso do marginal, vai na contra-mão da reabilitação.
E novamente:

Você tem o direito de ficar desolado e/ou enfurecido por ter sido vítima. Ninguém é a favor do crime.

Você é que não tinha entendido antes.

Alguns vídeos para relaxar
Os vídeos que listarei a seguir NÃO são sugestões de atitudes que podem ser aplicadas diretamente. São apenas vídeos curiosos, interessantes, inusitados ou informativos.

A história dos Direitos Humanos:

A história do empresário que decidiu empregar o próprio sequestrador:

A história da mulher de 93 anos que construiu uma fundação para reabilitar presidiários:

Experiência de reabilitação penitenciária na Áustria:

Fonte
 
Última edição:
Sou contra a pena de morte, até porque a mesma nos igualaria aos criminosos.

Mas sou a favor de os detentos trabalharem, de maneira digna, para que possam até mesmo se sentir úteis, e aí sim poder ajudá-los com tratamento psicológico/reabilitação.

Eu particularmente teria um pouco de receio porque ainda há os que são sociopatas/manipuladores que "fingem" estar bem, enganam até médicos e voltam a cometer crimes quando reinseridos na sociedade. Se a pessoa é reincidente, mesmo após reabilitação, a lei deveria ser mais dura para com a pessoa
 
O que me incomodou foram essas partes aqui:

Os seres humanos se constroem com as experiências e aprendizados, portanto o meio em que se vive tem grande influência sobre ele. Sabendo disso, temos a visão clara de que algo acontece na sociedade que transforma as pessoas em marginais. (E se você acha que não, talvez seja curioso saber que a taxa de homicídios no Brasil em 2008 era de 26,4 a cada 100.000 habitantes, enquanto que na Islândia o índice não passou de 1,8 a cada 100.000 no mesmo ano).

O fato é: há algo na sociedade (que não será discutido neste texto) que levam as pessoas a cometerem crimes.

(...)

1. Ninguém nasce bandido. A estrutura social, de alguma maneira, transforma as pessoas em criminosas.

Esse tipo de argumento costuma ser um tiro pela culatra. Pois existem muitas pessoas pobres, muitas pessoas chafurdadas na desigualdade social mais profunda que não são bandidas. E existem pessoas ricas que são bandidas. Suspeito até que existam políticos bandidos. Não sei. Tem como apagar depois?

Sim, o ser humano é influenciado pelo meio que vive... Mas a decisão é dele. O cara que resolve assaltar escolheu essa opção. O autor do texto não usou bem essa expressão, mas deu a entendê-la: o cara não é bem uma "vítima da sociedade". Temos que olhar a questão não sob a ótica de que, se o cara é pobre e assalta, certo, ele foi vítima. A questão vai mais pro lado daquela outra expressão popular: "ele não teve as mesmas chances de vida".

Aí sim. Pois é fato que o assaltante saído de um ambiente pobre não teve as mesmas opções de vida que o playboy que disputa o racha ou enfim. O playboy que enche a cara de maconha e tem como se reabilitar, tem grana pra pagar o traficante e sustentar o vício. Já o moleque pobre não. Se ele cai na besteira de provar e se viciar, ele vai simplesmente enfiar as mãos nos pés, pois vai precisar de uma grana que não tem e que é gasta muito rápido.

Mas isso tudo, também é claro, não torna menos aceitável o fato do cara ser pobre e entrar no crime: continua sendo inaceitável. Não podemos incorrer de novo no tiro pela culatra: se é compreensível o cara entrar no mundo do crime porque é pobre, então estamos automaticamente ofendendo os milhares, milhões de pessoas pobres que ralam pra conseguir seu dinheirinho mirrado.

E eu posso falar disso como esquerdista sem problema algum: muitas da esquerda não entendem a coisa como ocorre. Acabam simplificando a questão e entrando pelo cano. Acabam confundindo as bolas. Não temos que olhar pro crime no sentido de que a sociedade é a verdadeira culpada. É bom repetir que a escolha é do criminoso. Mas, óbvio, não dá pra querer partir do princípio que a escolha é só dele, pois tem também o lance das escolhas -- tem todo um sistema de erros, falhas, lapsos, ausências que permeia a vida desse cara. É a hora em que olhamos pro passado dele e observamos como ele está, assim como nós, sob a tutela de uma constituição que garante o céu, o paraíso, com dignidade pra lá e pra cá: mas, na prática, ele não teve nada disso.

É aí que temos que ser críticos pra olhar isso também como inadmissível (afinal de contas, é uma mentira das mais sérias). Tanto no sentido de que essa comédia dos erros contribuiu sim para a escolha, quanto no sentido de que isso está acontecendo (ou não está) com várias outras e que pode acontecer (ou faltar) um dia com você. Aí podemos até abordar outras discussões que são válidas na hora de entender o fenômeno do crime, como o racismo ou a repressividade excessiva do Estado para um lado e não para outro. Mas tudo isso entendendo que o criminoso escolheu esse caminho. A pessoa tem que arcar com as consequências de seus atos. Mesmo que seja sob o cinismo de querermos que somente a faceta penal do Direito funcione, enquanto as outras todas podem falhar a torto e a direito (especialmente quando ele põe os pés num presídio).
 
O que me incomodou foram essas partes aqui:
O fato é: há algo na sociedade (que não será discutido neste texto) que levam as pessoas a cometerem crimes.
(...)Sim, o ser humano é influenciado pelo meio que vive... Mas a decisão é dele. O cara que resolve assaltar escolheu essa opção. O autor do texto não usou bem essa expressão, mas deu a entendê-la: o cara não é bem uma "vítima da sociedade". Temos que olhar a questão não sob a ótica de que, se o cara é pobre e assalta, certo, ele foi vítima. A questão vai mais pro lado daquela outra expressão popular: "ele não teve as mesmas chances de vida".

Note que ele diz "há algo na sociedade que levam as pessoas a cometerem crimes."
Ele não escreveu "as pessoas pobres".
O que me faz pensar que talvez não esteja falando de uma sociedade em que apenas os pobres entram pro mundo do crime por ser injusta, mas também de uma sociedade em que é muito fácil pra um rico entrar pra o mundo do crime.

Exemplo: desde criança o sujeito rico vê a própria família impune quando faz coisas pelas quais devia pagar, e isso desde ultrapassar o sinal vermelho até (em casos extremos) assassinato, passando por discriminação, maus tratos de empregados, fumar um baseado etc.
Dificilmente essa pessoa não vai crescer acreditando que ele pode sim praticar esses crimes (os pequenos e os grandes) porque só quem é pobre é que "passa por perrengue".

Enfim, o negócio é complexo e talvez por isso mesmo o autor tenha colocado a ressalva: "há algo na sociedade (que não será discutido neste texto)..."
 
tem um cara chamado steven pinker que publicou um livro chamado tábula rasa, onde ele questiona essa ideia de que é a sociedade que nos molda. é bem controverso (até porque para alguns casos ele não acredita na ideia de reabilitação) e não digo que concordo com toda a argumentação dele, mas ele até consegue levantar questões interessantes sobre o assunto - inclusive que de certa forma respondem as indagações que o mavericco faz ("se a condição social faz o bandido, por que nem todo pobre é bandido?", etc.). eu diria que vale a leitura nem que seja para conhecer um olhar diferente sobre o assunto.
 
O que me incomodou foram essas partes aqui:



Esse tipo de argumento costuma ser um tiro pela culatra. Pois existem muitas pessoas pobres, muitas pessoas chafurdadas na desigualdade social mais profunda que não são bandidas. E existem pessoas ricas que são bandidas. Suspeito até que existam políticos bandidos. Não sei. Tem como apagar depois?

Sim, o ser humano é influenciado pelo meio que vive... Mas a decisão é dele. O cara que resolve assaltar escolheu essa opção. O autor do texto não usou bem essa expressão, mas deu a entendê-la: o cara não é bem uma "vítima da sociedade". Temos que olhar a questão não sob a ótica de que, se o cara é pobre e assalta, certo, ele foi vítima. A questão vai mais pro lado daquela outra expressão popular: "ele não teve as mesmas chances de vida".

Aí sim. Pois é fato que o assaltante saído de um ambiente pobre não teve as mesmas opções de vida que o playboy que disputa o racha ou enfim. O playboy que enche a cara de maconha e tem como se reabilitar, tem grana pra pagar o traficante e sustentar o vício. Já o moleque pobre não. Se ele cai na besteira de provar e se viciar, ele vai simplesmente enfiar as mãos nos pés, pois vai precisar de uma grana que não tem e que é gasta muito rápido.

Mas isso tudo, também é claro, não torna menos aceitável o fato do cara ser pobre e entrar no crime: continua sendo inaceitável. Não podemos incorrer de novo no tiro pela culatra: se é compreensível o cara entrar no mundo do crime porque é pobre, então estamos automaticamente ofendendo os milhares, milhões de pessoas pobres que ralam pra conseguir seu dinheirinho mirrado.

E eu posso falar disso como esquerdista sem problema algum: muitas da esquerda não entendem a coisa como ocorre. Acabam simplificando a questão e entrando pelo cano. Acabam confundindo as bolas. Não temos que olhar pro crime no sentido de que a sociedade é a verdadeira culpada. É bom repetir que a escolha é do criminoso. Mas, óbvio, não dá pra querer partir do princípio que a escolha é só dele, pois tem também o lance das escolhas -- tem todo um sistema de erros, falhas, lapsos, ausências que permeia a vida desse cara. É a hora em que olhamos pro passado dele e observamos como ele está, assim como nós, sob a tutela de uma constituição que garante o céu, o paraíso, com dignidade pra lá e pra cá: mas, na prática, ele não teve nada disso.

É aí que temos que ser críticos pra olhar isso também como inadmissível (afinal de contas, é uma mentira das mais sérias). Tanto no sentido de que essa comédia dos erros contribuiu sim para a escolha, quanto no sentido de que isso está acontecendo (ou não está) com várias outras e que pode acontecer (ou faltar) um dia com você. Aí podemos até abordar outras discussões que são válidas na hora de entender o fenômeno do crime, como o racismo ou a repressividade excessiva do Estado para um lado e não para outro. Mas tudo isso entendendo que o criminoso escolheu esse caminho. A pessoa tem que arcar com as consequências de seus atos. Mesmo que seja sob o cinismo de querermos que somente a faceta penal do Direito funcione, enquanto as outras todas podem falhar a torto e a direito (especialmente quando ele põe os pés num presídio).
Aí que tá. Eu nunca vi nenhum esquerdista (ou não lembro de ter visto) dizer que porque é pobre a pessoa não deveria pagar pelo crime, dizem que o ambiente pode levar a pessoa pra esse caminho. Então o que muitos propõem é tentar evitar que o problema ocorra, das várias maneiras possíveis (mas sem bradar aqueles bordões imbecis do tipo "bandido bom é bandido morto"). O que eu concordo. Eu nunca disse que ninguém deveria ser perdoado por ser pobre.

Mas também é cruel dizer que a pessoa escolheu ser bandido, pois nem todo pobre vira bandido. As pessoas são diferentes, tem vidas diferentes, sentimentos diferentes, sabe se lá o que se passa na cabeça da pessoa quando a pessoa decide ir por esse caminho. Nem toda vítima de abuso sexual na infância vira estuprador infantil, mas isso quer dizer que algumas vítimas conseguem superar o trauma, tem apoio familiar e da sociedade, a culpa da pessoa não superar não pode ser jogada nas costas dela. "Você é fraco, fulano foi abusado mas nem por isso virou um maníaco, seu pervertido!" É aquela velha falácia de que qualquer doença psicológica só não é superada por fraqueza da pessoa. E antes que venham me acusar de estar querendo dizer que estuprador de crianças tem que ser perdoado eu não disse isso. Só usei como exemplo. Depois que o trauma foi feito a única saída é afastar o criminoso, mas não seria melhor se pudéssemos evitar que o dano fosse feito no lugar de ter que remediá-lo?

É uma forma de culpabilizar a vítima (nem todo pobre vira bandido e você além de ser pobre também e bandido logo é pior ainda). Eu vejo as pessoas com um sanha de encontrar um culpado que passa por cima de qualquer coisa apenas pra achar um culpado.

E só usei o post do Mavericco, não afirmei em nenhum momento que você concorde com o que eu critiquei.
 
O que me faz pensar que talvez não esteja falando de uma sociedade em que apenas os pobres entram pro mundo do crime por ser injusta, mas também de uma sociedade em que é muito fácil pra um rico entrar pra o mundo do crime.

É verdade, o texto não fala sobre pobreza e criminalidade. Só que, sinceramente, duvido muito que não esteja falando sobre isso. A questão toda é que depois que o criminoso sai da cadeia ele não consegue se reintegrar à sociedade e coisa e tal. Você acha que o autor está falando de todos os bandidos, sejam eles pobres ou ricos? Eu acho que não.
 
É verdade, o texto não fala sobre pobreza e criminalidade. Só que, sinceramente, duvido muito que não esteja falando sobre isso. A questão toda é que depois que o criminoso sai da cadeia ele não consegue se reintegrar à sociedade e coisa e tal. Você acha que o autor está falando de todos os bandidos, sejam eles pobres ou ricos? Eu acho que não.

Bom, sobre exatamente o que ele estava falando eu não sei, mas acho que se estivesse falando especificamente dos marginais pobres acho que ele diria, não? :think:

O que não falta por aqui é gente rica e/ou importante que comete falcatruas (às vezes até barbaridades) e depois sai impune. E isso gera sim, muita revolta nas pessoas.
Caso recentes: Henrique Pizolato, ex-diretor do Banco do Brasil envolvido no esquema do mensalão e que fugiu pra Itália; aquela moça que mandou o namorado e um comparsa assassinarem os pais, ela não está impune, foi presa e ainda está na cadeia, mas muita gente achou que devia haver pena de morte pra casos como o dela.

Acredito (ou quero acreditar, talvez) que o autor quando diz "há algo na sociedade que leva as pessoas a cometerem crimes." está se referindo à cultura da sociedade toda: o consumismo desenfreado estimulado até nas crianças; a excessiva valorização da aparência; o ter valer mais do que ser, que faz as pessoas acharem normal um Thor Batista declarar que nunca leu um livro, e acham isso legal porque ele "é rico e não precisa" (sim, eu ouvi esse comentário).

Tem uma coisa que escrevi lá no outro post que é sobre a impunidade e corrupção das pessoas ricas, mas eu quero mudar isso porque a verdade é que existe uma cultura da corrupção em todas as classes sociais.
Mesmo coisas menores como dar "gorjeta" pra um funcionário público; alterar a declaração de IR pra ser restituído em vez de pagar; conseguir emprego público através de apadrinhamento; comprar um diploma de graduação ou pós. São coisas feitas e geralmente creditadas ao infame "jeitinho brasileiro" mas que no fundo não passa de corrupção, desonestidade pura e simples.
Então, resumindo, acredito mesmo que o autor esteja se referindo a isso, também a esse tipo de cultura e não só à discriminação com os pobres.
 
Eu tb nao consigo estender. Entao todos bandidos dao vitimas de algum processo social? Sejam eles ricos ou pobres?
 
Eu não acredito que todos os criminosos/pessoas que cometem delitos/maldades/etc tenham passado por "mecanismos sociais" que os fazem ficar assim. Tem gente que é sacana mesmo, e quando mais se dá a mão, mais sacana fica.

Isso é rico ou pobre, favorecido ou desfavorecido.
 
Eu acho que a teoria que a sociedade molda a personalidade das pessoas, ainda que tenha vários furos, tem também alguns pontos válidos de fundamento. Num país com tanta corrupção, pilantragem, impunidade e um sistema carcerário falido como o Brasil se a pessoa vê que o sistema tende a favorecer cada vez mais quem tá do lado do mal, dúvido que isso por menor que seja não tenha algum peso pra influenciar de forma mais forte e decisiva a pessoa que escolheu optar por esse triste meio do que aquela que vive num país de primeiro mundo com uma sociedade mais justa onde a influência de bons valores é muito maior.
 
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Em um país, quando as pessoas não controlam o ambiente o ambiente tende a se auto-regular brutalmente, mas o ambiente é só um fator e existem outros (como a vontade e a capacidade do indivíduo de discernir).

A má administração de recursos do meio-ambiente cria forças naturais que tendem a diminuir o número de pessoas da população podendo se manifestar na forma de crime. Por vezes a criminalidade tem origem em uma única pessoa e as vezes começa na coletividade (vide os regimes criminosos do passado).

Antes de acontecer uma ilegalidade o fenótipo da pessoa precisa reunir muitos fatores para formar o indivíduo. Especificamente, há impacto e vulnerabilidade de pessoas criadas em ambientes inóspitos em momentos cruciais da vida (as zonas urbanas possuem vastas áreas nas quais a competição é selvagem e a comunicação entre seres é baixa, muito próxima dos níveis de sobrevivência):

Like the children who were adopted from the terrible conditions of East European orphanages in the 1990s, carers for deprived, neglected, damaged children faced the daunting task of helping these children regain as much function as possible. But as many specialists, parents and carers will attest, some of these children are lost to us, incapable of loving, making eye contact, speaking or laughing. Because of their treatment, they are incapable of showing interest in the world, in people, in themselves.

http://feralchildren.info/rehabilitation/

^^^^
Com 50000 mortes\ano vivemos os mesmos problemas de sobrevivência de uma guerra declarada. Uma vez que o corpo cobre um custo para aprender uma linguagem nova essa hipótese tende a se referir também a adultos:

http://en.wikipedia.org/wiki/Critical_period_hypothesis

Em um estado que não esteja pronto para reter ou acompanhar de forma completa e vitalícia alguns de seus membros costuma ocorrer conforme disseram na fonte aí em cima:

It is absolutely false to think that a few months of love and care, good food and clean clothes will sort them out. It won’t.

Entretanto a vulnerabilidade não é o bastante para criar um criminoso. Além da exposição a pessoa precisa também estar disposta a gestar intensamente (alimentando) intenções ilegais por bastante tempo antes de se manifestar.

Quer dizer, enquanto alguns não conseguem recuperar por causa de limites humanos outros não recuperam porque apesar de o ambiente prever que existam pessoas que não se recuperem as políticas de estado são ingênuas e ignorantes porque jogam para pessoas comuns realizarem um trabalho complexo, de diagnóstico e encaminhamento que não são nada óbvios e que podem durar anos ou mesmo uma vida para serem identificados e conduzidos.

Em tempo, numa pesquisa recente os dados mostraram que nos EuA até 50% das receitas prescritas e tratamentos são desobedecidas pelos pacientes por razões diversas, entre elas:

-Rebeldia (não gostar de médicos, por exemplo)
-Carência (pobreza impede a aquisição de remédios e exames)
-Ignorância (medo de continuar o tratamento ou não gostar da quebra de uma rotina)
-Outros males não diagnosticados
-etc...
 
Última edição:
"Quando você diz que reduzir a maioridade penal é uma boa ideia, você não está focando na raiz do problema, está apenas sugerindo uma maneira de remediar."

Esse é o tipo do argumento que só está desviando o foco. Ok, concordo que não é a raiz do problema, mas com certeza ajuda. Só porque remédios contra AIDS não curam, e usar camisinha é que combate a raiz do problema, não quer dizer que não devemos usar ou fabricar tais remédios, afinal, algumas pessoas já tem AIDS. Da mesma forma, alguns já são delinquentes. Combater o processo que os fez delinquentes é melhor, mas combater os delinquentes ainda é necessário.

Outra coisa óbvia é o fato de que a impunidade é um grande fator motivador para a criminalização. Deputados só roubam tanto porque sabem que não serão pegos, e se forem pegos, não serão julgados, e se forem julgados e condenados, no máximo perdem o mandato. Isso é um enorme atrativo que corrompe as pessoas sim.

Outro fator é o tipo de crime que estamos falando. Roubar, traficar, vingar, matar... cada um merece uma visão diferente.

1- Tenho certeza de que se fosse muito fácil sair ileso de um assassinato, muitas pessoas matariam as outras em momentos de raiva, e só o medo da pena é o que as segura.
2- Já alguem que rouba pra comer ou pra se drogar, raramente pensa na pena ou na perspectiva de ser pego
3- Ainda outro exemplo é o do político, que só faz as tranbiqueiras quando está (quase) certo que não será pego

Reduzir maioridade penal e aumentar as penas pode não combater a causa raiz, mas é óbvio que ajuda a reduzir a criminalidade e injustiça na sociedade. De qualquer forma, minha conclusão é que são dois assuntos separados e independentes (combater o processo de criminalização e sua fiscalização/punição). Não vejo nenhum motivo pra um interferir no outro.

Ainda sim, maior fiscalização é sempre mais eficiente que maiores e mais pesadas penas. Pense na lei seca: se vc soubesse que sempre que dirigisse e bebesse seria fiscalizado, vc nunca mais faria isso, sendo a pena grande ou pequena. Mas como todo mundo sabe que a chance de ser pego é ridiculamente pequena, mesmo a pena sendo grande, o pessoal ainda dirige bêbado.
 
O que não falta por aqui é gente rica e/ou importante que comete falcatruas (às vezes até barbaridades) e depois sai impune. E isso gera sim, muita revolta nas pessoas.

Eu digo mais, acho que esse tipo de crime é várias vezes pior que qualquer batida de carteira. O pessoal da política tem poderes maiores teoricamente porque tem responsabilidade maiores. Acredito eu (baseado em fonte nenhuma) que uma falcatrua de políticos gera milhares de outros pequenos crimes. Um desses pequenos desvios de alguns milhões de reais é que gera um assassinato de um favelado aqui, ou um roubo de uma lojinha ali, ou um assalto qualquer.

Falando em mim mesmo, ver pessoal fazendo absolutamente nada, ganhando milhões, enquanto eu trabalho até maio só pra pagar impostos, gera uma revolta enorme, tão grande que nem causa raiva mais, causa só depressão e resignação, saber que não posso fazer nada pra mudar... mas aí eu vou declarar o imposto de renda e vem o sentimento: "poxa, esse dinheiro vai financiar uma festa, um iate ou uma mansão pra algum sem vergonha?" É quando eu tenho certeza de que, se eu estivesse certo que não me pegariam, eu escolheria adulterar a declaração e não pagar nada. Não está correto, mas estou falando sinceramente. Seria errado? Por um lado sim, mas seria minha "vingança", por menor que seja. Não faço porque sou medroso mesmo, essa é a verdade.

Tenho certeza que esse sentimento passa por várias cabeças e várias camadas da sociedade, até atingir pessoas que, diferente de mim, tem coragem pra cometer o crime, multiplicando as injustiças, e assim por diante.

É por isso que penso que não adianta tentar ser igual a Suécia, se não tivermos governantes suecos.

A responsabilidade e impacto das ações de quem está no poder é muito maior que qualquer assaltosinho onde levam seu celular.
 
O interessante e mais triste desse texto é que o original foi apagado. E no texto original ele faz umas tréplicas das questões levantadas pra ele. Uma delas é essa: pessoas dizendo que ele escreve que os bandidos são "vítimas da sociedade". E essa não é uma verdade, não é isso que ele quer dizer. Ele quis dizer que no caminho da pessoa bebê até a adulta existe uma infinidade de coisas pelas quais ela passa. Que existe ALGO na sociedade que transformou o bebê inocente num adulto infrator. E que não podemos ignorar isso. Devemos sim é detectar sabiamente esses pontos e agir neles. O que difere muito de dizer que alguém é vítima disso.
 
O interessante e mais triste desse texto é que o original foi apagado. E no texto original ele faz umas tréplicas das questões levantadas pra ele. Uma delas é essa: pessoas dizendo que ele escreve que os bandidos são "vítimas da sociedade". E essa não é uma verdade, não é isso que ele quer dizer. Ele quis dizer que no caminho da pessoa bebê até a adulta existe uma infinidade de coisas pelas quais ela passa. Que existe ALGO na sociedade que transformou o bebê inocente num adulto infrator. E que não podemos ignorar isso. Devemos sim é detectar sabiamente esses pontos e agir neles. O que difere muito de dizer que alguém é vítima disso.

Esse princípio vale para, por exemplo, os ladrões da Operação Lava-Jato?
 
Ele está certo de que há algo na sociedade, em especial a do nosso país, que empurra a pessoa para a vida do crime. Assim como existem pessoas com dom nato para crescerem na vida, há outras onde qualquer escolha dá errado e lentamente sua vida entra numa espiral de infortúnios; até que acaba atingindo um ponto sem volta que pode ser a morte do familiar que era o pilar emocional/financeiro da casa; violências constantes em casa ou na rua; empregos degradantes e humilhantes que corroem a autoestima e por último a válvula de escape do álcool e das drogas para mitigar o peso da vida.

E no Brasil há uma barreira invisível e nefasta que impede a pessoa de poucos estudos ou renda melhorar sua classe social. Não há perspectiva de melhorias no horizonte e uma hora o indivíduo capitula e cansa de lutar.
 
A discussão filosófica, que passa pela questão do livre-arbítrio, é pesada demais: é tão profunda e convoluída que estão discutindo isso há uns 2400 anos, pelo menos. E é bom lembrar que, das soluções potenciais para uma afirmativa, existem pelo menos três resultados possíveis: a afirmativa é verdadeira, falsa, ou ainda, a questão pode ser de solução impossível.

Estando a pé em filosofia, a gente apela para a ciência, para a busca de exemplos e contra-exemplos. É evidente que algumas sociedades tendem a cometer mais crimes, violentos ou não, que outras. Mais ainda, algumas sociedades, como a europeia, conseguem ter índices baixísssimos de violência com níveis também relativamente baixos de coerção. A não ser que alguém acredite que a origem seja genética. Coisa que eu tenho motivos para crer que não: há sociedades europeias, indígenas e africanas com taxas de homicídio, por exemplo, bem inferiores do que a nossa.

Por outro lado, mesmo no quadro atual de criminalidade endêmica da sociedade brasileira, há sempre exceções à regra: vemos pessoas que nascem em ambientes violentos e têm todos os incentivos a favor a cometer crimes, e não o fazem.

A saída é ser pragmático, e reconhecer que o sistema prisional deve lançar mão sim, dos 3 fatores que podem reduzir a criminalidade: o princípio de proteger o cidadão idôneo de um reincidente potencial (reclusão), o de reduzir a possibilidade de que as pessoas cometam crimes por temerem consequências negativas dos mesmos (coerção) e o de reincluir o presidiário novamente na sociedade, de forma que ele tenha incentivos para ser um reincidente mais improvável (reabilitação).

Como eu disse, estamos a pé, nas trevas, em termos de conhecimento sobre o ser humano. Acredito que um modelo razoavelmente válido seja para o lado da economia do crime, isto é: supor que cada pessoa tenha certo nível de tendência de cometer crimes em interesse próprio e que a probabilidade seja afetada pela predisposição pessoal e por incentivos positivos e negativos. Daí em diante, trata-se de aumentar os incentivos negativos e coibir os positivos (isto é, aqueles que estimulam o cometimento do ato ilegal). Levando, é claro, outras variáveis da sociedade e os direitos inerentes ao próprio indivíduo em conta.
 
Acabei não lendo os últimos comentários, mas comentarei sobre o texto.

Achei ridículo ele querer citar aqueles dois exemplos de sociedade. Várias das pessoas que eu conheço (e me incluo nisso) que defendem penas mais severas e até a redução da maioridade penal, sabem e são a favor que também sejam criados programas sociais para que possamos diminuir a reincidência. Segundo a jurisprudência penal brasileira, nossas penas têm caráter, em termos leigos, de prevenção e punição, claro que a parte de prevenção não funciona direito em nosso país. Temos que melhorar essa parte preventiva? Claro que temos, mas não significa que não possamos cobrar mudanças que deixem as penas punitivas mais justas e proporcionais.

Quanto a essa parte de Direitos Humanos, me desculpem, mas achei risível. Sabemos que na teoria os direitos humanos são apara todos, mas muita gente desenvolveu essa "birra" com eles por causa das atitudes tomadas por eles. Só para citar um exemplo, vamos pegar um policial, pai de família, que muitas vezes ganha um salário que não é proporcional ao risco que ele enfrenta durante seu trabalho, vamos supor que esse policial é honesto e sempre tenta agir de acordo com as leis e os regulamentos da corporação. Agora vamos supor que esse policial foi assassinado brutalmente, tanto faz se foi em serviço ou não, por um bandido. Você acha que irá ver alguém dos Direitos Humanos prestando homenagem no velório desse policial? Pois é.

Agora vamos seguir a mesma linha de pensamento, mas vamos pensar em algum bandido famoso, que já cometeu vários crimes, que não tem o mínimo de consideração pela vida ou propriedade alheia, seja morto por um policial. Vamos supor que mesmo que ele estivesse armado o policial acabou "atirando mais do que devia", claro que o policial agiu errado. Mas vá no velório de um bandido morto nessa situação pra você ver se não terá alguém dos direitos humanos.

O ponto onde eu quero chegar é: O policial morto brutalmente também não merece uma homenagem desse pessoal? Porque os direitos humanos cobram um melhor treinamento da polícia quando um bandido é morto, mas não cobram melhores condições de serviço para os policiais quando o oposto ocorre? É complicado você querer defender algo citando uma lei que fala que todos têm direito a algo quando sabemos que muitas leis não funcionam da forma que deveriam em nosso país e essa é só mais uma delas.
 

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