Contemporâneo seriam as obras de arte feitas hoje? Feitas a partir de meados do século passado? Sendo assim, o expressionismo não seria contemporâneo, mas tampouco é clássico.
O expressionismo, mesmo não sendo clássico por definição, é a subversão da arte clássica se valendo de técnicas clássicas e procurando reproduzir, de algum modo, o figurativo mesmo que empregando estímulos visuais outros.
Na verdade contemporâneo seriam as obras de arte das últimas décadas. Acho que mais opções devem ser acrescentadas a enquete.
Na verdade a partir do Movimento Radical Italiano dos anos 60, do pós-pop dos anos 60 (o movimento pop-art ainda tem vínculos profusos com a postura moderna e autenticidade própria) e das "vanguardas dos anos 70 e 80". É a arte-pastiche, que se projeta em elementos dessemantizados de estilos e escolas do passado de modo a construir algo novo sem agregar valor próprio ou autenticidade.
Eu fico com aqueles que não escolheram nem um nem outro, consigo ver beleza nas mais variadas formas, e fico feliz com isso.
Bom, o que tenho de visto de belo hoje em dia se espelha em técnicas clássicas e transparece um mínimo de capacidade, ao contrário de muita porcaria que tenho visto em museus por aí.
Claro, tenho uma tendencia a apreciar melhor obras que acrescentem algo a realidade observada, que privilegiem os sentimentos do artista em relação as formas naturais.
Essas duas variáveis não são necessariamente conflitantes. Nada é mais alusivo a sua realidade do que um quadro de Delacroix alegorizando a Revolução Francesa, por exemplo. O problema é quando os sentimentos do artista se tornam o pretexto de fazer qualquer porcaria. Quando Duchamp mandou um mictório pra uma exposição, foi ousadia. Quando fazem isso hoje, além de não original, é denotativo de mediocridade. Pelo menos é o que acho.
Existe muito preconceito em relação a arte contemporânea. É o que o Orc já disse: a beleza esta na ideia que a obra traz, esse é o cerne da arte conceitual.
O problema é quando a arte tem mais o que explicar na legenda do que na obra em si, fico pensando que o cara deveria logo virar teórico da arte ao invés de artista. Tudo bem, uma obra de arte não é como um produto de comunicação, pode ser algo introspectivo, etc. Mas não consigo ter apreço por algo que tem cara de feito de qualquer jeito, sem nenhum apuro técnico ou algo que diferencie o material apresentado daquilo que faço no banheiro por um ocaso da fisiologia humana.
Na verdade, as formas clássicas de artes plásticas perderam muito de sua força com uma invençãozinha chamada fotografia.
É isso ai, antes do romântismo as pinturas serviam para captar um momento, buscando a beleza também. Durante o finzinho do século XVIII e durante o século XIX se formou a idéia da arte pela arte, como manifestação dos sentimentos de quem cria. Mas logo surgiu a fotografia ao mesmo tempo que os pintores de vanguarda abandonavam as formas naturalistas.
Mas contemporâneo não é sinônimo de não naturalista. A arte-moderna, ao contrário do que muitos pensam, mantém um profundo vínculo com a arte clássica. Picasso era um soberbo pintor, veja os pierrots dele antes de embarcar no cubismo. O mesmo vale artistas da época, como nosso compatriota Portinari, e mesmo gente que veio depois. Andy Warholl fez uma releitura da arte com o pop, trabalhando com técnicas reproduzíveis vide fotografia misturada com serigrafia, composição de objetos industriais, etc, e era original quando apareceu.
A questão é que, de uns 20 anos pra cá, salvo raras exceções que parecem viver mais no mercado editorial e publicitário que nos museus, a arte produzida vem sendo de uma enorme pobreza. Claro, de vez enquando aparecem trabalhos legais, mas a arte contemporânea, enquanto uma "farsa da boa preguiça", parafraseando Ariano Suassuna, impera.
Claro que esse processo não foi uma coisa instantanea. Ate hoje ainda existe em boa parte da população uma preferencia pela arte realista. E há espaço para todas as formas de manifestação artística, inclusive as mais tradicionais.
O foco não é nem necessariamente realista. O design do De STIJL é tudo menos realista, mas tem muito mais a ver com o clássico, como algo com significado rico e que se vale de técnicas artísticas desenvolvidas para obter um resultado gráfico desejado.
Sobre a fotografia, bom, fotografia é arte também. Eu não vou me aprofundar aqui porque não é o tema, mas adoraria discorrer sobre o assunto se alguém criar um tópico. Sem dúvida causou profundas modificações na arte dos séculos XIX e XX, mas não foi a mola propulsora pro que vemos nos últimos anos. Acho que talvez a facilidade de se obter um resultado, o fácil acesso a materiais e a banalização do resultado final do produto artístico propulsionado pelo pop e o
fluxus e que culminaram no movimento punk inglês de meados dos anos 70, acabaram por tornar qualquer coisa definível como arte. Pra mim, pelo menos, não funciona assim.
Nunca vou esquecer de quando fui a uma exposição de dois artistas, um deles um conhecido aquarelista amigo meu... e do outro lado uma mulé que estava expondo rolos de papel higiênico com manchas de aquarela...
Eu quase tive uma crise de risos com a cara de pau da moça. Não, não consegui ver sentimento naquilo, me desculpem.