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Clara Nunes

Melian

Período composto por insubordinação.
"Tenha bons sonhos", disse o anestesista, antes de colocar Clarinha para dormir e iniciar a cirurgia para 'cuidar' das varizes. "Que sejam coloridos, doutor", foi a fala da cantora para o médico. Foi a última fala da cantora para o mundo.

Falar sobre a Clara, para mim, é personificar o exagero; é permitir o predomínio da emoção, da poesia... da música. Clara foi (e é!) a mulher que cantou e encantou o Brasil. Ela nasceu às 18 horas do dia 12 de agosto (esses leoninos da minha vida, viu!) de 1942, em Cedro (que, hoje, é Caetanópolis, cidade emancipada de Paraopeba), interior de Minas Gerais (sério, eu me irrito quando o povo começa a dizer que Clara era baiana ou carioca.) E faleceu, no dia 2 de abril de 1983, depois de ter uma reação alérgica a algum componente da anestesia, ter choque anafilático, e entrar em coma irreversível. Não, a Clara não estava fazendo um aborto e disse que tinha ido fazer uma cirurgia das varizes. Ela foi histerectomizada em 79. Não, a Clara não foi espancada pelo marido. Não, a Clara não estava sob o efeito de drogas. Sim, a Clara tinha pavor de "circo" e, ironicamente, armaram um, gigantesco, e inventaram trilhões de coisas sobre o que causara sua morte.

Clarinha (olha a intimidade, Cleonice!) é sempre lembrada por sua relação com a Umbanda. Eu diria que ela era uma espiritualista. Ela era "católica de berço". Aos seis anos, já era orfã de pai e mãe. O pai morreu quando ela tinha 2 anos, e a mãe, quando ela tinha seis. Na adolescência, começou a frequentar um Centro Espírita Kardecista. E já no Rio, porém antes de ser famosa, ela foi apresentada, por uma prostituta, de nome Denise (aliás, essa foi uma das pessoas fundamentais para que Clara conseguisse se sustentar no Rio, na época em que ela estava ‘abandonada’), à Umbanda, que seria a religião que ela seguiria até o precoce fim de sua vida. Sem querer ser insensível, mas a Clara era, por vezes, deslumbrada. Não que ela não se interessasse, efetivamente, pela Umbanda, mas é que ela acabava por atribuir atividades do Candomblé à Umbanda, e vice-versa.

Eu acho que deveria falar um pouco sobre a Clara cantora, mas, antes disso, vou me torturar mais um pouco. Assim, eu acho que não deveria falar isso, porque, né, se eu não falasse, vocês não saberiam, porque este tipo de coisa é informação que só fã se importa de saber. Enfim, em uma entrevista, ao ser interrogada sobre coisas de que gostava, Clara respondeu: "Botafogo e Cruzeiro (por causa do Tostão)". Essa é a mágoa profunda do meu coraçãozinho atleticano. Ah! Sim, eu acho que deveria falar sobre a CANTORA. Não vou citar todas músicas cantadas por Clara, para não carregar o tópico. Colocarei a discografia (excluindo, claro, as coletâneas). O gostoso é que as canções venham à tona no decorrer do tópico. Falarei, aleatoriamente, sobre algumas canções preferidas.

Nação (1982); Clara (1981); Brasil Mestiço (1980); Esperança (1979); Guerreira (1978); As forças da Natureza (1977); Canto das três raças (1976); Claridade (1975); Alvorecer (1974); Brasileiro Profissão Esperança Clara Nunes e Paulo Gracindo (1974); Clara Nunes (1973); Clara Clarice Clara (1972); Clara Nunes (1971); A Beleza que Canta (1979); Você passa e eu acho graça (1968); A voz adorável de Clara Nunes (1966); A história dos shows inesquecíveis: poeta, moça e violão - Vinícius de Moraes, Clara Nunes e Toquinho (1991).

Clara Nunes foi uma das maiores intérpretes de Samba que já existiu. Na verdade, uma das maiores cantoras da Cultura Brasileira que já existiu. E a minha cantora preferida. Interpretava, como ninguém, canções de ritmos essencialmente brasileiros: Calango mineiro: "Quando vim de Minas"; Maxixe: "Ninguém tem que achar ruim"; Baião: "Cinto cruzado", etc. A Clarinha cantando "Alvorada no morro" (que, para mim, é uma das canções mais belas da música brasileira. Salve, Cartola!) é um presente para todos os apreciadores da música.


E a Clara cantando Macunaíma, gente? É como trazer o carnaval da Portela para dentro de nossas casas. Ouvir a Clara cantando é fazer a minha alma se encher de alegria. Aliás, mesmo que minha escola de samba do coração seja a Mocidade Independente de Padre Miguel, a Portela é muito bem quista por mim, não só por ela ser o berço de muitos sambistas, mas por ela ser a escola do coração da Clara. Eu sinto um misto de angústia com fortaleza quando ouço "Portela na Avenida". Sabem quando o Vinícius falou que sem tristeza não se faz samba, não? Vejo isso refletido em "Tristeza pé no chão". Meu Deus do céu! Essa música é bela porque é triste. "Conto de areia" é magistral, "A deusa dos orixás" está no meu sorriso. Eu poderia ficar o resto do dia falando sobre as canções interpretadas pela Clara, mas elas falam por si. Colocarei alguns vídeos (poucos, porque minha internet está limitada, e não poderei procurar por outros), e encerrarei o meu post. Este tópico é uma homenagem para a minha cantora preferida, que, se estivesse viva, faria aniversário hoje*. Mais do que isso, esse tópico é uma homenagem a todos os amantes da boa música. Obrigada por colorir a minha vida, Clara Nunes.



P.S.: Texto integralmente copiado de um tópico que criei, na Valinor. Depois dou um jeito de editar consertando o link dos vídeos e coisa e tal, ok?

* Criei o tópico no dia 12 de agosto de 2011, dia do aniversário da Clara.
 
Última edição por um moderador:
O treco do fórum tá me falando que eu só posso inserir UM vídeo por mensagem. WTF?

 
Última edição por um moderador:
A que mais gosto de Clara Nunes é a interpretação de "É doce morrer no mar", do Dorival Caymmi.


Tanta paz...
 
Última edição por um moderador:
Em tempo, faltava postar no tópico de uma das cantoras que mais gosto. Obrigado pelo tópico @Melian

Tive a felicidade na minha infância de acompanhar um pouco do maravilhoso trabalho da Clara Nunes com ela ainda em vida. Posso dizer que foi com ela, que tive o meu primeiro contato com as tradições culturais da Umbanda e Candomblé, falando sobre os orixás, o mar, a natureza e tudo relacionado a essa rica cultura que associada ao samba produziu uma musica maravilhosa. Foi algo único e fantástico.

Até hoje é triste não ver uma representante em nossa MPB com um trabalho tão expressivo quanto foi o da Clara, mas fica um legado que é riquíssimo.

 
Até hoje é triste não ver uma representante em nossa MPB com um trabalho tão expressivo quanto foi o da Clara, mas fica um legado que é riquíssimo.

Infelizmente, hoje em dia convivemos com música brasileira de pouca qualidade; com todo o respeito a quem gosta, atualmente temos que aguentar Anitta, Pablo Vitar e "que tais".
 
A Clara merece muito crédito não apenas pela qualidade, mas por ter sido uma grande desbravadora num segmento mais específico da MPB, até então pouco explorado.
 
É por causa de tópicos como este, sobre a Clara Nunes, que eu sinto saudade da minha conta antiga.

Hoje, mais cedo, eu estava ouvindo Canto das Três Raças, que é uma das canções mais tristes e mais belas da minha cantora preferida. Então aproveitei para olhar se tinha um tópico para ela aqui na Valinor. Sim, eu não me lembrava de ter criado o tópico. :lol:
 
Você é (era) a @Excluído046? Você era uma usuária bem ativa... às vezes dou uma fuçada em tópicos antigos e sempre tem posts seus.

Sim, sou eu. Houve uma época em que eu praticamente morava no Literatura, mas todos os dias passeava pelas outras áreas do fórum. Já fui bem ativa, mesmo. Provavelmente, esse foi o meu maior erro. hahahaha

Mas que eu sinto falta dos meus mais de cinco mil posts, sinto, sim. Não me orgulho de todos eles, mas me orgulho, muito, do que aprendi até com os meus piores posts.
 
Mas que eu sinto falta dos meus mais de cinco mil posts, sinto, sim. Não me orgulho de todos eles, mas me orgulho, muito, do que aprendi até com os meus piores posts.

Acho que você pode fazer como a @Haleth fez recentemente (se não me engano já nessa versão nova) e pedir pra admin. fundir as contas, pois creio que não deva ter faltado gente que tenha dado quote em tópico antigo seu, mas como a conta é outra, você fica sem receber notificação.
 
Acho que você pode fazer como a @Haleth fez recentemente (se não me engano já nessa versão nova) e pedir pra admin. fundir as contas, pois creio que não deva ter faltado gente que tenha dado quote em tópico antigo seu, mas como a conta é outra, você fica sem receber notificação.

Eu acho que não tem como fazer a fusão das contas quando uma delas foi deletada. Só funciona se a pessoa tiver dois cadastros e ambos estiverem ativos. 😭
 
Recentemente (logo após de ver o filme da Elis), resolvi me aprofundar nessas divas da MPB. Elis Regina eu acompanho desde menino, Nara Leão (logo farei um tópico dela), e por ter tanto amigo macumbeiro, ouvir Clara Nunes, virou rotina.
Seu carisma e o apego religioso dela era algo fenomenal, sempre admirei a fé do umbandista, e quando a Clara Nunes alinhou isso a sua musica, ou vice-versa, não poderia ter feito coisa melhor.
 
Seu carisma e o apego religioso dela era algo fenomenal, sempre admirei a fé do umbandista, e quando a Clara Nunes alinhou isso a sua musica, ou vice-versa, não poderia ter feito coisa melhor.

De fato ela foi uma das poucas, em diversos momentos a única a expressar tão bem pra grande mídia toda essa fé, os elementos da natureza e o que os orixás são e representam entre tantas outras coisas da afrocultura.

Ouvi-la sem nenhum compromisso de estar ligado a Umbanda, é o que todo brasileiro deveria fazer pelo menos uma vez na vida, pois é conhecer uma importante raiz cultural que tão bem se incorporou a cultura brasileira.
 
Até hoje é triste não ver uma representante em nossa MPB com um trabalho tão expressivo quanto foi o da Clara, mas fica um legado que é riquíssimo.

Que cantora jovem nós temos hoje no Brasil, que se compare à Clara?
Talvez eu esteja numa espécie de bolha de isolamento que não permite que eu veja algum novo talento feminino... mas estou pessimista.
As grandes cantoras parecem ter ficado todas no passado, sem surgir alguém realmente capacitada, nos últimos 20 anos... talvez 30 anos.
O Brasil ficou meio que vazio de grandes intérpretes homens nas últimas décadas. Parece que o mal também está atacando as intérpretes.
 
Que cantora jovem nós temos hoje no Brasil, que se compare à Clara?
Talvez eu esteja numa espécie de bolha de isolamento que não permite que eu veja algum novo talento feminino... mas estou pessimista.
As grandes cantoras parecem ter ficado todas no passado, sem surgir alguém realmente capacitada, nos últimos 20 anos... talvez 30 anos.
O Brasil ficou meio que vazio de grandes intérpretes homens nas últimas décadas. Parece que o mal também está atacando as intérpretes.

Se levarmos em consideração não apenas a música que ela fazia, mas de uma MPB da mais alta qualidade como um todo, como tivemos há 30 ou mais anos atrás, os bons nomes atuais infelizmente não são muito midiáticos, a grande maioria faz shows em espaços menores, sendo o de maior porte geralmente algo no chamado "Circuito Cultural Sesc" e suas músicas são veiculadas em poucas emissoras que proporcionam espaço para artistas novos divulgarem trabalhos autorais como por exemplo a Educadora FM de Salvador que eu acompanho de vez em quando e foi lá que ouvi pela primeira vez Carol Andrade que é um nome atual que faz uma MPB de alto nível, mas sem nenhuma grande mídia por trás.
 
Como é bom entrar nesse tópico e ter a sensação que não estou totalmente isolado ouvindo as maravilhosas canções da Clara que me encantam em todos os sentidos.
 
Clara Nunes é mais uma da lista "canções que mamãe me obrigou a aprender quando criança". Até hoje lembro desta letra presepeira:
Filhos de Gandhi,
Badauê, ilhê malê balê di malê ôtum obá/ tem um mistério... etc.
(tô escrevendo de cabeça, mas a letra é praticamente essa mesmo)
Pra mim isto era um imbróglio impossível de ser decorado, e eis me aqui cantarolando como se fosse a coisa mais simples do mundo:
Filhos de Gandhi, hê povo grande, ojuladê cantedê baba-obá
(Novamente sem cola)
Se algum dia eu tiver um filho vou forçar ele a decorar não só canções, mas poemas, fábulas, trechos de um livro sagrado aí qualquer. Existem nostalgias e cicatrizes que são "apenas" marcas da infância. A memória é a única e verdadeira herança possível provinda diretamente do nosso tempo de curumim.
P.S.: mesmo sendo "obrigado" na infância, amo Clara Nunes até hoje.
 
Clara Nunes é mais uma da lista "canções que mamãe me obrigou a aprender quando criança". Até hoje lembro desta letra presepeira:
Filhos de Gandhi,
Badauê, ilhê malê balê di malê ôtum obá/ tem um mistério... etc.
(tô escrevendo de cabeça, mas a letra é praticamente essa mesmo)
Pra mim isto era um imbróglio impossível de ser decorado, e eis me aqui cantarolando como se fosse a coisa mais simples do mundo:
Filhos de Gandhi, hê povo grande, ojuladê cantedê baba-obá
(Novamente sem cola)
Se algum dia eu tiver um filho vou forçar ele a decorar não só canções, mas poemas, fábulas, trechos de um livro sagrado aí qualquer. Existem nostalgias e cicatrizes que são "apenas" marcas da infância. A memória é a única e verdadeira herança possível provinda diretamente do nosso tempo de curumim.
P.S.: mesmo sendo "obrigado" na infância, amo Clara Nunes até hoje.

Mãe de excelente bom gosto!
 

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