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Cite um trecho do livro que você está lendo! [Leia o 1º post]

[...] pois a melancolia, por discretas e etéreas que sejam suas aparências, implica ainda ressentimento: é um devaneio carregado de agrura, uma inveja disfarçada de languidez, um rancor vaporoso. Enquanto estamos submetidos a ela, não renunciamos a nada, nos atolamos no "eu" sem contudo nos desligar dos outros, em que pensamos mais justamente por não ter conseguido nos desprender de nós mesmos.
- Cioran, "História e utopia". Trad.: Jose Thomaz Brum
 
ÂNGELA. — Sou a contemporânea de amanhã. Quando fico sozinha muito tempo, eu de repente me estranho e me assusto e me arrepio toda em mim. De agora em diante eu quero mais do que entender: eu quero superentender, eu humildemente imploro que esse dom me seja dado. Eu quero entender o próprio entendimento. Eu quero atingir o mais íntimo segredo daquilo que existe. Estou em plena comunhão com o mundo.

AUTOR. — Ângela vive para o futuro. É como se eu não lesse os jornais de hoje porque amanhã haverá notícias mais novas. Ela não vive das lembranças. Ela, como muita gente, inclusive eu, está ocupada em fazer o momento presente deslizar para o momento futuro. Tinha quinze anos quando começou a entender a esperança.


Estou, desde o ano passado, tentando ler o único romance da Clarice que ainda não li: Um sopro de vida; mas cada frase é um soco, e sempre sou nocauteada. Ontem, tentei, novamente. Comecei a ler, do início. Estou na página 60. Vamos ver se, dessa vez, eu consigo terminar. Clarice Lispector :grinlove: deveria ser um adjetivo.
 
"'Livros que você pretende ler um dia' equivale a 'livros que você nunca vai ler'. Leia-os agora ou livre-se deles."

A Mágica da Arrumação, Marie Kondo.

:rofl:

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Como vocês sabem, eu leio mil livros ao mesmo tempo, e, dia desses, comecei a ler mais um. Acontece que, dessa vez, eu tenho um motivo realmente muito bom para ter colocado mais um livro no balaio de leituras em andamento. Uma amiga, muito querida, há algum tempo estava reclamando sobre não conseguir ter amor próprio, e mais um tanto de questões relacionadas ao fato de ter depressão. Li a sinopse do livro, vagueando pela internet, e pensei: "acho que isso aqui pode ajudar a [insira o nome dela aqui]". Mas é claro que, antes de indicar o livro, eu preciso checar se ele fará mais bem do que mal para a minha amiga, né? Foi quando achei este trecho, aqui, que eu acho que poderá ajudá-la:


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Fiquei com preguiça de inserir isto aqui em algum debate sobre o tema na época em que li o livro, só tirei um print de uma página e postei no Instagram; daí o @Mercúcio chegou a sugerir que eu trouxesse pra cá a discussão, mas deu preguiça kkk. A quem interessar possa, deixo transcrito esses dois "trechinhos", já que tive o trabalho de escrever tudo. É do livro A Civilização do Espetáculo, de Mario Vargas Llosa, tradução de Ivone Benedetti, Objetiva, 1ª ed., 2013:

As reportagens e testemunhos coligidos por [Frédéric Martel, em seu livro Mainstream], assim como suas próprias análises, são instrutivos e bastante representativos de uma realidade que até agora a sociologia e a filosofia não tinham se atrevido a reconhecer. A imensa maioria do gênero humano não pratica, não consome e não produz hoje outra forma de cultura que não seja aquela que, antes, era considerada pelos setores cultos, de maneira depreciativa, mero passatempo popular, sem parentesco algum com as atividades intelectuais, artísticas e literárias que constituíam a cultura. Esta já morreu, embora sobreviva em pequenos nichos sociais, sem influência alguma sobre o mainstream.

A diferença essencial entre a cultura do passado e o entretenimento de hoje é que os produtos daquela pretendiam transcender o tempo presente, durar, continuar vivos nas gerações futuras, ao passo que os produtos deste são fabricados para serem consumidos no momento e desaparecer, tal como biscoitos ou pipoca. Tolstoi, Thomas Mann e ainda Joyce e Faulkner escreviam livros que pretendiam derrotar a morte, sobreviver a seus autores, continuar atraindo e fascinando leitores nos tempos futuros. As telenovelas brasileiras e os filmes de Hollywood, assim como os shows da Shakira, não pretendem durar mais que o tempo da apresentação, desaparecendo para dar espaço a outros produtos igualmente bem-sucedidos e efêmeros. Cultura é diversão, e o que não é divertido não é cultura.

A pesquisa de Martel mostra que hoje esse fenômeno é planetário, algo que ocorre pela primeira vez na história, e dele participam os países desenvolvidos e subdesenvolvidos, não importando as diferenças entre tradições, crenças ou sistemas de governo, embora, logicamente, estas variantes introduzam, em cada país e sociedade, certas diferenças de detalhe e matiz em filmes, telenovelas, canções, mangás, animações etc.

Para essa nova cultura são essenciais a produção industrial maciça e o sucesso comercial. A distinção entre preço e valor se apagou, ambos agora são um só, tendo o primeiro absorvido e anulado o segundo. É bom o que tem sucesso e é vendido; mau o que fracassa e não conquista público. O único valor é o comercial. O desaparecimento da velha cultura implicou o desaparecimento do velho conceito de valor. O único valor existente é agora fixado pelo mercado.

De T. S. Eliot a Frédéric Martel a ideia de cultura experimentou mais que uma evolução paulatina: uma mudança traumática, da qual surgiu uma realidade nova em que restam apenas rastros da que foi substituída. (p. 26–27)

O que quer dizer civilização do espetáculo? É a civilização de um mundo onde o primeiro lugar na tabela de valores vigentes é ocupado pelo entretenimento, onde divertir-se, escapar do tédio, é a paixão universal. Esse ideal de vida é perfeitamente legítimo, sem dúvida. Só um puritano fanático poderia reprovar os membros de uma sociedade que quisessem dar descontração, relaxamento, humor e diversão a vidas geralmente enquadradas em rotinas deprimentes e às vezes imbecilizantes. Mas transformar em valor supremo essa propensão natural a divertir-se tem consequências inesperadas: banalização da cultura, generalização da frivolidade e, no campo da informação, a proliferação do jornalismo irresponsável da bisbilhotice e do escândalo.

O que fez o Ocidente ir resvalando para uma civilização desse tipo? O bem-estar que se seguiu aos anos de privações da Segunda Guerra Mundial e à escassez dos primeiros anos pós-guerra. Depois dessa etapa duríssima, seguiu-se um período de extraordinário desenvolvimento econômico. Em todas as sociedades democráticas e liberais da Europa e da América do Norte as classes médias cresceram como bola de neve, a mobilidade social se intensificou e, ao mesmo tempo, ocorreu notável abertura dos parâmetros morais, a começar pela vida sexual, tradicionalmente refreada pelas igrejas e pelo laicismo pudico das organizações políticas, tanto de direita como de esquerda. O bem-estar, a liberdade de costumes e o espaço crescente ocupado pelo ócio no mundo desenvolvido constituíram notável estímulo para a multiplicação das indústrias da diversão, promovidas pela publicidade, mãe e mestra de nosso tempo. Desse modo sistemático e ao mesmo tempo insensível, não se entediar e evitar o que perturba, preocupa e angustia passou a ser, para setores sociais cada vez mais amplos do vértice à base da pirâmide social, o preceito de toda uma geração, aquilo que Ortega y Gasset chamava de “espírito de nosso tempo”, deus folgazão, amante do luxo e frívolo, ao qual todos, sabendo ou não, rendemos tributo há pelo menos meio século, e cada dia mais.

Outro fator, não menos importante, para que essa realidade fosse forjada foi a democratização da cultura. Trata-se de um fenômeno nascido de intenções altruístas: a cultura não podia continuar sendo patrimônio de uma elite; uma sociedade liberal e democrática tinha a obrigação moral de pôr a cultura ao alcance de todos, por meio da educação, mas também da promoção e da subvenção das artes, das letras e das demais manifestações culturais. Essa louvável filosofia teve o indesejado efeito de trivializar e mediocrizar a vida cultural, em que certa facilitação formal e superficialidade de conteúdo dos produtos culturais se justificavam em razão do propósito cívico de chegar à maioria. A quantidade em detrimento da qualidade. Esse critério, propenso às piores demagogias no âmbito político, provocou no âmbito cultural reverberações imprevistas, como o desaparecimento da alta cultura, obrigatoriamente minoritária em virtude da complexidade e às vezes do hermetismo de suas chaves e seus códigos, e a massificação da própria ideia de cultura. Esta passou a ter exclusivamente a acepção adotada no discurso antropológico. Ou seja, cultura são todas as manifestações da vida de uma comunidade: língua, crenças, usos e costumes, indumentária, técnicas e, em suma, tudo que nela se pratica, evita, respeita e abomina. Quando a ideia de cultura passa a ser um amálgama semelhante, é inevitável que ela possa chegar a ser entendida, apenas, como uma maneira agradável de passar o tempo. É óbvio que a cultura pode ser isso também, mas, se acabar sendo só isso, se desnaturará e depreciará: tudo o que faz parte dela se equipara a uniformiza ao extremo, de tal modo que uma ópera de Verdi, a filosofia de Kant, um show dos Rolling Stones e uma apresentação do Cirque du Soleil se equivalem.

Por isso, não é de estranhar que a literatura mais representativa de nossa época seja a literatura light, leve, ligeira, fácil, uma literatura que sem o menor rubor se propõe, acima de tudo e sobretudo (e quase exclusivamente), divertir. Atenção, não condeno nem de longe os autores dessa literatura de entretenimento, pois entre eles, apesar da leveza de seus textos, há verdadeiros talentos. Se em nossa época raramente são empreendidas aventuras literárias tão ousadas como as de Joyce, Virginia Woolf, Rilke ou Borges, isso não se deve apenas aos escritores; deve-se também ao fato de que a cultura em que vivemos imersos não propicia, ao contrário desencoraja, esses esforços denodados que culminam em obras que exigem do leitor uma concentração intelectual quase tão intensa quanto a que as possibilitou. Os leitores de hoje querem livros fáceis, que os distraiam, e essa demanda exerce uma pressão que se transforma em poderoso incentivo para os criadores.

[…]

A literatura light, assim como o cinema light e a arte light, dá ao leitor e ao espectador a cômoda impressão de que é culto, revolucionário, moderno, de que está na vanguarda, com um mínimo esforço intelectual. Desse modo, essa cultura que se pretende avançada, de ruptura, na verdade propaga o conformismo através de suas piores manifestações: a complacência e a autossatisfação. (p. 29–32)
 
"A mais meridional, Jerusalém, era uma cidade miserável, convertida em santuário por todas as religiões semitas. Cristãos e maometanos iam até lá em peregrinação a santuários de seu passado; alguns judeus a consideram a base do futuro político de sua raça. Essas forças unidas do passado e do futuro eram tão fortes que a cidade quase deixava de ter um presente."

OS SETE PILARES DA SABEDORIA Lawrence
 
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Fiquei com preguiça de inserir isto aqui em algum debate sobre o tema na época em que li o livro, só tirei um print de uma página e postei no Instagram; daí o @Mercúcio chegou a sugerir que eu trouxesse pra cá a discussão, mas deu preguiça kkk. A quem interessar possa, deixo transcrito esses dois "trechinhos", já que tive o trabalho de escrever tudo. É do livro A Civilização do Espetáculo, de Mario Vargas Llosa, tradução de Ivone Benedetti, Objetiva, 1ª ed., 2013:

Muito bom! Acho mesmo que esse trecho merecia um tópico para discussão.

Acho interessantíssima essa ideia de que teria havido uma diluição da cultura no entretenimento e essa ideia de que houve uma equiparação de valor e preço. Vi uma vez uma palestra do Llosa, no YouTube, falando de Victor Hugo e Os Miseráveis, em que ele dizia que achava impossível que o nosso mundo atual gerasse um "novo" Victor Hugo. Até então, eu não conhecia essa discussão do Llosa que você está trazendo, @Béla van Tesma , e não me lembro se ele chegou a desenvolver as razões pelas quais achava impossível um "novo" Victor Hugo.

Algumas questões que me coloco, lendo esse trecho:

A democratização do acesso à Cultura, a massificação, é mesmo a raiz desse rebaixamento da Cultura? Essa alegada "intenção" de tornar as coisas mais palatáveis - dentro dos propósitos nobres e elevados de uma sociedade democrática e liberal - é a causa dessa trivialização e mediocrização da cultura ou sintoma do desenvolvimento do capitalismo do pós-guerra, da consolidação da indústria cultural no espaço deixado pela relativa desmobilização das economias de guerra, do imperialismo cultural? Pra mim parece que essa diluição da cultura no entretenimento e essa redução do valor artístico à categoria preço está mais associado a esse movimento mais amplo do capital do que a um efeito imprevisto de um propósito nobre de colocar a cultura ao alcance de todos. Acho até que o Llosa talvez não perca de vista esse movimento mais amplo, na medida em que trata do papel da "indústria da diversão", do "espírito do tempo" - então talvez seja uma questão de ênfase, não sei.

Ao falar do desaparecimento da Alta Cultura, o Llosa diz que ela é "obrigatoriamente minoritária em virtude da complexidade e às vezes do hermetismo de suas chaves e seus códigos". Não seria possível pensar uma sociedade que democratizasse essas chaves e esses códigos? Por que caminhamos no sentido da trivialização? Outra questão: o que ele chama de Alta Cultura é necessariamente hermética e inacessível? Uma obra literária que é tida como um clássico eventualmente não pode ser "light" e mesmo ter algo de trivial? Como essa Alta Literatura é ressignificada e consumida nos marcos dessa Sociedade do Espetáculo? Quais os efeitos sobre a sua recepção?

Quando ele fala dessa Arte light, que dá ao leitor/expectador a impressão de que é culto, moderno e revolucionário sem demandar um pingo de esforço intelectual e que isso se dá no quadro de uma cultura conformista, quase noto ecos de Adorno e Horkheimer aí. Bem, não li a obra, então imagino que em algum momento o Llosa deva polemizar com os frankfurtianos - diz aí, Béla (rs).
 
Última edição:
Um poema do livro Cromossomos Cósmicos, do Igor Alves, que é um conterrâneo e amigo meu:

RECEBI UM ELOGIO pelo tamanho
do meu lattes

Respondi que não valorizava isso tanto
q estudo leio escrevo pq amo

Mas preferia morar no campo
passar o dia pescando

e eu nem sei pescar

Preferia abraçar com ritmo
forró samba tango

e eu nem sei dançar

Preferia pegar meu violão
dizer tudo e nada falar

e eu nem sei tocar

Que tinha lições de humildade
com microscópios e telescópios

e eu nem sei olhar

E daí fico nesse amor platônico
Tentando criar sentidos

que nunca alcanço

Não sei dirigir nem bicicleta
daí crio acidentes sintáticos

com licenças poéticas

Colando catarses
panfletando epifanias

gozando da cara do dia a dia.

A vida que poderia ter sido

e foi

e foi-se

e foice

( entre os olhares, vanidades, vaidades e açoites )
 
Como vocês sabem, eu leio mil livros ao mesmo tempo, e, dia desses, comecei a ler mais um. Acontece que, dessa vez, eu tenho um motivo realmente muito bom para ter colocado mais um livro no balaio de leituras em andamento. Uma amiga, muito querida, há algum tempo estava reclamando sobre não conseguir ter amor próprio, e mais um tanto de questões relacionadas ao fato de ter depressão. Li a sinopse do livro, vagueando pela internet, e pensei: "acho que isso aqui pode ajudar a [insira o nome dela aqui]". Mas é claro que, antes de indicar o livro, eu preciso checar se ele fará mais bem do que mal para a minha amiga, né? Foi quando achei este trecho, aqui, que eu acho que poderá ajudá-la:



Me identifico; também tenho o péssimo hábito de ficar o tempo todo dizendo que sou um lixo. 😐
Cara, esse assunto é meio gatilho pra mim, mas em um sentido positivo.

Preso recentemente em um caso de amor platônico recíproco (sim, é tão absurdo quanto soa), foi só então que percebi como a baixíssima autoestima afetou minha vida. Se achar feio, gordo, esquisito, inadequado, ou só incapaz de aprender certas coisas, de falar em público, dizer o que penso, criar, realizar, isso era minha realidade cotidiana. Entendi que a grande oportunidade romântica da minha vida perdi por isso, e cedo, na adolescência, por causa da baixa autoestima, e atrasei minha felicidade, meus sonhos, por causa disso. Tudo podia ter sido tão diferente, mas não foi, porque eu vivi me sabotando, incapaz de enxergar como poderia ser querido, amado, como realmente era amado. É inútil ficar remoendo o passado assim, mas não tem como deixar de fazê-lo quando você entende como viveu anos da sua vida uma ilusão sobre si mesmo, sobra sua autoimagem. Só que Saturno não perdoa, não deixa o inacabado morrer na praia e acaba te trazendo de volta pra resolver aquilo que você deixou pra trás.

Nos últimos dois anos, tenho percebido um surto tão grande de amor-próprio em mim que pareço outra pessoa. Acho que seja por causa das coisas boas que tem me acontecido, a coragem de abandonar o cristianismo e enfrentar as piores reações possíveis (flaming, shaming, calúnias espalhadas sobre mim por aí, além do antissemitismo básico), as novidades profissionais, o encerramento desse ciclo novo na minha vida (fim da faculdade e início da advocacia), e os resultados dos anos de academia e treino em musculação, que eu tenho me sentido cada vez melhor, mais forte, mais bonito, mais corajoso. E não fiz terapia, nem acredito que tenha operado esse trabalho meticuloso de construção da autoestima, é só uma coisa que me foi acontecendo, paralelamente às piores fases da minha vida. Um ano desempregado e sem perspectivas em 2017 seguido da aprovação para concurso público em 2018, decepcionar minha amada em 2019 e conseguir coragem pra voltar a falar com ela em 2020, e tantos desafios que continuam aparecendo e eu vou tentando resolver, e já tiro de letra isso de resolver problemas, que sempre foi algo que busquei evitar fazer, fugir...

E a pandemia tinha tudo pra ter o efeito contrário, me deixar mais macambúzio, isolado, taciturno, mas senti o contrário, forças pra correr atrás de um sonho de amor, estudar com afinco através de cursos e livros mais sobre novas religiões, magia, esoterismo, e troquei o desânimo por um amor à vida, ao sucesso que espero ter. Não sei, acho que se eu ainda me vejo inadequado e com uma imagem ruim de mim mesmo, eu lembro das pessoas que passaram na minha vida, no efeito que possuo sobre elas, e no que já pude construir, e me atento ao meu eu real, que faz, realiza, acontece, é amado, procurado, e consigo reconciliar presente ao passado, e sinto que não há muito que eu não possa fazer.

Associado a esse assunto, principalmente o poder do passado na minha vida, vão os trechos das leituras:

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Curiosamente, esse tema de reconciliação da vida atual com o passado aparece também em David Copperfield. Novamente, minha relação complicada com a literatura moldando minha vida, de alguma forma.
 
Pois é, isso de se achar um lixo e tal é algo que todo mundo já sentiu em menor ou maior grau, com menos ou mais frequência. Quando eu me sinto assim, eu preciso me lembrar de que eu mereço tanta respeito e dignidade quanto qualquer outra pessoa e que os outros também têm cada um seus defeitos. Se eu acredito que todo ser humano é uma vida preciosa provida de dignidade, por que eu seria a exceção? Não é bom ficar alimentando pensamentos negativos; negatividade não se vence com mais negatividade. Mas claro, na prática é complicado e todo mundo tem seus momentos de maior dificuldade.
 
Última edição:
Quando o Gabo se mete a escrever bem, é um sai-de-baixo, né?
Preciso reler com urgência o Cem Anos de Solidão e frequentar outras obras desse gajo.

E sobre se sentir um lixo...
Quem nunca? Se o pensamento é frequente, ajuda médica.
Pra mim é sinal claro de depressão. Daí à ideação suicida é um pulo.
 
Eu tenho um verdadeiro tesão pela escrita do Gabo, às vezes releio umas 5 vezes um trecho porque fico sem acreditar que um ser humano consiga escrever assim. Não à toa é minha maior influência e modelo para minha própria escrita.
 
Tava comentando no tópico sobre "Crônica" e me lembrei deste trecho da crônica "A diferença", de Luis Fernando Verissimo, compilada no livro Diálogos Impossíveis:

— Não somos muito diferentes — diz Drácula.
— Somos completamente diferentes! — rebate Batman. — Eu sou o Bem, você é o Mal. Eu salvava as pessoas, você chupava o seu sangue e as transformava em vampiros como você. Somos opostos.
— E no entanto — volta Drácula com um sorriso, mostrando os caninos da fantasia — somos, os dois, homens-morcegos...
Batman come o resto do seu iogurte sob o olhar cobiçoso do conde.
— A diferença é que eu escolhi o morcego como modelo. Foi uma decisão artística, estética, autônoma.
— E estranha — diz Drácula. — Por que morcego? Eu tenho a desculpa de que não foi uma escolha, foi uma danação genética. Mas você? Por que o morcego e não, por exemplo, o cordeiro, símbolo do Bem? Talvez o que motivasse você fosse uma compulsão igual à minha, disfarçada. Durante todo o tempo em que combatia o Mal e fazia o Bem, seu desejo secreto era de chupar pescoços. Sua sede não era de justiça, era de sangue. Desconfie dos paladinos, eles também querem sangue.
 
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Meu Sidur (livro de orações), compilado pelo meu rabino, chegou. Essa é uma página de explicações cabalistas para uma benção de duas linhas. :lol:
 
"Após duas ou três estrofes entornadas e algumas comparações que o impressionaram particularmente, o trabalho dominou-o e ele sentiu a aproximação daquilo que chamam de inspiração. A correlação de forças que rege a criação parece que fica invertida. A liderança não é da pessoa que escreve, nem do estado de espírito para o qual ela busca a expressão, mas sim da linguagem com a qual ela quer exprimir-se. A linguagem, pátria e receptáculo da beleza e do sentido, começa, ela mesma, a pensar e falar pela pessoa e tudo transforma-se em música, mas não em relação à ressonância exterior e audível, mas em relação à impetuosidade e grandeza de seu fluxo interno. Então, assim como a colossal queda da corrente do rio que com seu próprio movimento afia as pedras do fundo e gira as rodas do moinho, o fluxo da linguagem, pela força de suas próprias leis, cria em caminho, na sua passagem, a medida, a rima e mil outras formas e imagens ainda mais importantes, mas até então desconhecidas, inexploradas, não denominadas.”

-Boris Pasternak, “Doutor Jivago”
 

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