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Cite um trecho do livro que você está lendo! [Leia o 1º post]

"Um coração de mulher compreende certas delicadezas, que parecem ridículas ao espírito de um homem."
(Sonhos D'Ouro - José de Alencar)
 
O Abrir e o Fechar-se
Dos Seres se parecem
Ou diferem, se o fazem,
Como Botões no Pé

Que de mesma Semente
Até o mesmo. Broto
Seguem juntos, completos
No que neles já foi.


(p.77).

Eu estava lendo A branca voz da solidão, da Emily Dickinson (tradução de José Lira), e o poema acima me tirou dos trilhos (no bom sentido, claro). A potência da palavra é algo que nunca vai deixar de me emocionar.​
 
“Foi a caça que nos ensinou como nos comportar em meio à natureza, modelando profundamente nossa maneira de ser. Georg, principalmente, aprendeu a se conhecer na floresta, antes do nascer do sol, rastejando a alguns metros do galo tetraz sem ser detectado, insinuando-se por entre os arbustos sem um farfalhar de folhas para não alertar o veado, desaparecendo na vegetação, perfeitamente camuflado, suportando o silêncio, o tempo e a inércia da emboscada, e agindo na fração de segundo precisa. Resumindo, a caça, praticada em grupo ou durante longas excursões solitárias, com aquela admiração pelos animais que anima os verdadeiros apaixonados pela natureza, transformou Georg num índio. E assim ele permaneceu. Esse treinamento iria revelar-se valioso mais tarde.”

Trata-se de um trecho de Operação Valquíria. De Philipp Freiherr Von Boeselager.

Grande livro! História real do velho Philipp que junto de seus amigos foi corajoso o suficiente para tentar matar Adolf Hitler, de dentro do exército alemão!

As operações do grupo não foram bem sucedidas, como sabemos. Philipp que sobreviveu aos atentados teve que mudar de país, de nome, abrir mão de sua herança, e além disso: viveu a vida inteira com medo de ser descoberto. Ao fim da vida, ao se dar conta que era o último membro da conspiração vivo, se perguntou “porque ele teria sobrevivido”, sentiu que ele sobreviveu para contar a história. E assim, velho, reuniu a família, esposa, filhos e netos para contar seu grande segredo: ele tentou matar Hitler! Um segredo que ele nunca tinha revelado. E depois ele escreveu esse livro.

uma obra-prima!
 
Tô no início de Dez argumentos para você deletar agora suas redes sociais, de Jaron Lanier, e quero sair citando tudo, porque tô gostando demais da conta! A argumentação é convincente, feita dum jeito que faz com que o livro seja gostosinho de ler, mesmo quando joga umas verdades inconvenientes na nossa cara. :hihihi:

Nós modificamos o comportamento uns dos outros o tempo todo, e isso é bom. Afinal, só uma pessoa insensível e indiferente não mudaria seu modo de agir em função de como o outro reage. Quando a modificação de comportamento mútua funciona, talvez isso seja parte daquilo que chamamos de amor.

Não precisamos pensar em livre-arbítrio como se fosse uma intervenção sobrenatural em nosso universo. Talvez o livre-arbítrio exista quando nossa adaptação ao outro e ao mundo ganha uma qualidade excepcionalmente criativa.

Portanto, o problema não é a mudança comportamental em si. O problema é quando isso acontece de maneira implacável, robótica e, no fim das contas, sem sentido, a serviço de manipuladores invisíveis e algoritmos indiferentes.

(p.36).
 
Tenho vontade de excluir as redes e ficar só jogando fogueira no bloguinho, mas a internet já não é mais a mesma, e eu estaria deixando de lado muitos babados e memes e reflexões legais que os colegas publicam
 
Meu FB ficou desativado durante o ano passado quase todo, e, vez ou outra, eu costumo dar uma desativada. O livrinho tá bom demais da conta, e aborda com argumentos estatísticos algo que o Franzen já havia (a)bordado (há não sei quantos anos) com palavras, no maravilhoso ensaio A dor não nos matará, que está no livro Como ficar sozinho. A meu ver, este é o melhor trecho do ensaio:
Um fenômeno relacionado a esse é a transformação, graças ao Facebook, do verbo "curtir", que deixa de descrever um estado de espírito e passa a designar um ato que desempenhamos com o mouse: deixa de ser um sentimento e vira uma opção de consumo. E curtir é, no geral, o substituto da cultura comercial para amar. A característica mais notável de todos os produtos de consumo — sobretudo dos aparelhos eletrônicos e aplicativos, — é o fato de terem sido projetados para ser bem curtíveis. Essa é, na verdade, a "definição" de um produto de consumo — em contraste com o produto, que é apenas aquilo que é e cujos fabricantes não estão preocupados se vamos ou não curti-lo. Estou pensando nos motores de aviões a jato, nos equipamentos de laboratório, na arte e na literatura em suas manifestações mais sérias.

Mas, se pensarmos nisso em termos humanos e imaginarmos uma pessoa definida pela ansiedade de ser curtida, o que temos aí? Temos uma pessoa sem integridade, sem um centro. Em casos mais patológicos, temos um narcisista — alguém incapaz de tolerar que sua autoimagem seja manchada pela possibilidade de não ser curtido e que portanto ou se afasta do contato humano ou se dedica a sacrifícios cada vez mais extremos da própria integridade com o intuito de ser curtido.

Se uma pessoa, no entanto, dedica sua existência a ser curtível e passa a encarnar um personagem bacana qualquer para atingir tal fim, isso sugere que perdeu a esperança de ser amado por aquilo que realmente é. E, se tiver êxito na tentativa de manipular os outros para que seja curtido, será difícil que, em algum nível, não se sinta verdadeiro desprezo por aqueles que caíram em seu embuste. Tais pessoas existem para que nos sintamos bem em relação a nós mesmos, mas que bem podem nos fazer se não as respeitamos? Podemos ficar deprimidos, descambar para o alcoolismo ou, no caso de Donald Trump, concorrer à presidência (e depois desistir).

Os produtos tecnológicos de consumo nunca fariam algo tão desestimulante, pois não são pessoas. São, no entanto, grandes aliados dos narcisistas, a quem facilitam a vida. Além de saírem da fábrica com a ansiedade de ser curtidos, têm incorporada a ansiedade de nos causar boa impressão. Nossas vidas parecem muito mais interessantes quando filtradas pela interface sexy do Facebook. Estrelamos nossos próprios filmes, fotografamos incessantemente a nós mesmos, clicamos o mouse e uma máquina confirma a sensação de que estamos no comando. E, já que nossa tecnologia é apenas uma extensão de nós mesmos, não precisamos desprezar suas manipulações, como faríamos no caso de pessoas de verdade. É um movimento circular sem fim. Curtimos o espelho e o espelho nos curte. Ser amigo de uma pessoa significa apenas incluí-la em nossa lista particular de espelhos elogiosos.

Talvez eu esteja exagerando um pouco. Provavelmente vocês estão cansados de ver as mídias sociais desrespeitadas por cinquentões rabugentos. Meu objetivo aqui é estabelecer um contraste entre as tendências narcisistas da tecnologia e o problema do amor verdadeiro. Minha amiga Alice Sebold gosta de falar em "cair no fosso e chafurdar no amor". Ela tem em mente a sujeira que o amor inevitavelmente espirra no espelho do nosso respeito próprio. O fato é que a tentativa de ser perfeitamente curtível é incompatível com relações amorosas. Mais cedo ou mais tarde, por exemplo, você se verá envolvido numa briga horrível, aos berros, e ouvirá saindo da sua boca palavras de que não gosta, coisas que estilhaçam sua autoimagem de pessoa justa, gentil, bacana, atraente, controlada, divertida e "curtível". De repente, surge algo mais real que a curtibilidade e você se vê levando uma vida real. De repente, existe uma escolha verdadeira a ser feita, não uma falsa escolha de consumidor entre BlackBerry e iPhone, mas uma pergunta: Eu amo esta pessoa? E para a outra pessoa: Ela me ama?. Não existe a possibilidade de "curtir" todas as partículas de uma pessoa real. É por isso que um mundo de curtição é, no limite, uma mentira. Mas é possível "amar" cada "partícula" de uma pessoa real. É por isso que o amor representa tamanha ameaça existencial à ordem tecnoconsumista: ele denuncia a mentira.​

Já li o texto acima umas mil vezes, e ele sempre me emociona. :timido:
 
LÍCIDAS

Não há governo imune a desgoverno.
Porém somente na democracia
existe espaço para as muitas vozes
dos cidadãos, que, se silenciados,
terão no coração um só desejo:
instaurar o governo popular.
Entendes? Toda forma de poder
desigual, arbitrário, autoritário,
conforme cresce, faz crescer também
o sentimento de inconformidade,
que inevitavelmente levará
à volta de um governo popular.

Lícidas, de Leonardo Antunes, p. 24.


Que livrinho gostoso de ler! (Ainda estou no início, mas tô adorando).
 
" — Bem — disse —, suponha que Morgana é a rainha das fadas, ou de alguma maneira tem a ver com elas, e que as fadas não são o tipo de criaturas que sua ama lhes contou. Algumas pessoas dizem que elas são As Mais Velhas de Todos, que viviam na Inglaterra antes da chegada dos romanos — antes de nós, saxões, antes dos próprios Antigos — e que foram empurradas para os subterrâneos. Alguns dizem que parecem humanas, como anões, e outros dizem que parecem pessoas comuns, e outros dizem que não se parecem com nada, mas assumem várias formas conforme lhes convém. Seja o que for que pareçam, possuem a sabedoria dos antigos celtas. Lá dentro de suas tocas, sabem de coisas que a raça humana já esqueceu, e boa parte delas não são boas de ouvir."
(O Único E Eterno Rei Vol. 1: A Espada Na Pedra - T. H. White)
 
"Os lançamentos sistemáticos de folhetos sobre o Japão tiveram começo em meados de maio, muitos dos quais feitos em meios aos bombardeios regulares. Em julho, LeMay pediu ao pessoal do departamento de guerra psicológica que preparasse um folheto especial, a ser lançado em várias cidades japonesas, advertindo os habitantes para evacuar as cidades programadas para serem bombardeadas. Os primeiros folhetos (...) foram jogados sobre 11 cidades (...). Na noite seguinte, os bombardeiros atacaram as seis primeiras cidades da lista com 3700 bombas incendiárias."

B-29 A SUPERFORTALEZA - Carl Berger
 
"Em vez disso, ele atacou de noite. Na escuridão, com um grito de guerra — uma tática deplorável e nada cavalheiresca — caiu sobre o campo insurgente, com o sangue golpeando-lhe as veias da nuca e Excalibur dançando em suas mãos. Ele aceitara o três para um. Em cavaleiros, estava em absoluta inferioridade. Um único Rei dos rebeldes — o rei dos cem cavaleiros — tinha em suas tropas dois terços do total do número que a Távola Redonda jamais teria. E Arthur não começara a guerra. Combatia em seu próprio território, a centenas de quilômetros dentro de suas próprias fronteiras, contra uma agressão que ele não provocara."
(O Único E Eterno Rei Vol. 2: A Rainha Do Ar E Das Sombras - T. H. White).
 
"Enquanto isso, o carro afastava-se, a rapariga ficava para trás, e, como carecia a meu respeito de quaisquer das noções que constituem uma pessoa, os seus olhos, que mal me tinham visto, já me haviam esquecido." (À sombra das raparigas em flor, Marcel Proust, p. 347)

A impressão que esse trecho me causa talvez decorra de me parecer representar a semente daquele poema do Sebald, que acompanha a pintura dos olhos de sua filha, Anna, e diz:

Por contar

fica a história
dos rostos que
desviam o olhar
 
“Rosário partiu da estância naquela manhã de outono, e era como se, na verdade, já tivesse ido embora havia muito tempo, desde que mergulhara em seu túnel de silêncios, desde que achara para si aquele amor de outro mundo. Era minha irmã, e, no entanto, eu soube tão pouco dela, tão pouco... Tínhamos crescido juntas, brincado com as mesmas bonecas e, tantas vezes, sonhado sonhos idênticos de amor. Mas havíamos sido talhadas de diferentes matérias, e essa diversidade nos foi intransponível. Sob o teto da mesma casa, durante aquela guerra, nossas vidas se distanciaram até a encruzilhada final — ela partiu rumo ao silêncio que havia de recompor o frágil equilíbrio de sua alma, eu permaneci na estância, ao sabor daqueles dias de incerteza, vivendo do mesmo amor e sofrendo idênticas angústias até o fim da revolução.”

– A casa das sete mulheres
, Letícia Wierzchowski
 
"Tio Dap cavalgava em silêncio atrás do infeliz rapaz. Sabia de uma coisa que o outro ainda estava muito verde para saber — que havia treinado o melhor cavaleiro da Europa. Como um chapim excitado que criara um cuco, Tio Dap seguia alvoroçado atrás de seu prodígio. Levava a armadura de combate, ordenadamente amarrada segundo seu método e artimanhas, pois, de agora em diante, seria o escudeiro de Lancelot."
(O Único E Eterno Rei Vol. 3: O Cavaleiro Imperfeito - T. H. White)
 
perguntei pra minha mãe:
— o que é morrer?
ela estava fritando bife pro almoço.
— o bife
é morrer, porque morrer é não poder mais escolher o que farão com a sua
carne.
quando estamos vivos, muitas vezes também não escolhemos.
mas tentamos.


O Peso do pássaro morto (Aline Bei).
 
Ah, eu preciso postar alguns trechos da minha paixão literária, Meridiano de Sangue. Pra começar:

"Eram homens de outro tempo embora carregassem nomes cristãos e tinham vivido toda sua vida em uma vastidão selvagem como seus pais antes deles. Aprenderam sobre a guerra guerreando, empurrados por gerações desde o litoral leste através de todo um continente, desde as cinzas em Gnadenhutten até as pradarias e através das rotas de fuga para as terras sanguinolentas do oeste."
 
Comecei a ler Breve história de quase tudo, agora há pouco (o e-book tá no Kindle há séculos). Estou em 1%, e o livro me ganhou, completamente, aqui*, ó:

Além da sorte de ater-se, desde tempos imemoriais, a uma linha evolucionária privilegiada, você foi extremamente — ou melhor, milagrosamente — afortunado em sua ancestralidade pessoal. Considere o fato de que, por 3,8 bilhões de anos, um período maior que a idade das montanhas, rios e oceanos da Terra, cada um dos seus ancestrais por parte de pai e mãe foi suficientemente atraente para encontrar um parceiro, suficientemente saudável para se reproduzir e suficientemente abençoado pelo destino e pelas circunstâncias para viver o tempo necessário para isso. Nenhum de seus ancestrais foi esmagado, devorado, afogado, morto de fome, encalhado, aprisionado, ferido ou desviado de qualquer outra maneira da missão de fornecer uma carga minúscula de material genético ao parceiro certo, no momento certo, a fim de perpetuar a única sequência possível de combinações hereditárias capaz de resultar — enfim, espantosamente e por um breve tempo — em você. (Breve história de quase tudo, de Bill Bryson).

*Acho que isso se deve ao fato de que o trecho citado fez com que eu me lembrasse de um dos melhores momentos de Watchmen (a HQ, claro): As trevas do mero ser. :grinlove:
 

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