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Cite um trecho do livro que você está lendo! [Leia o 1º post]

Não é trecho de um livro, mas de uns artigos que ando lendo e pensando em traduzir:

"Platão nos disse, mais de dois mil anos atrás, que a democracia degenera-se inevitavelmente em ditaduras, e Toccqueville reenfatizou isso em 1835. A maioria dos idiotas, de ambos os lados do Atlântico, continua a confundir democracia com liberalismo, dois elementos que podem, ou não, coexistir. Uma “proibição” apoiada por 51 por cento do eleitorado pode ser muito democrática, mas é dificilmente liberal."
-- Erik von Kuehnelt-Leddihn
 
"Sharpe não sabia o que dizer, por isso olhou pela janela, para um pequeno trigal que parecia esmagado pela chuva. Para além do trigo úmido havia um monte de feno, lembrando-lhe que Grace tinha morrido entre a época de fazer feno e a colheita, havia um ano. Sentiu um nó na garganta. Desgraça, pensou, desgraça, isso nunca iria passar? Podia vê-la na mente, vê-la sentada no terraço com as mãos na barriga inchada, rindo de alguma pilhéria boba. Ah, meu Deus, pensou, faça com que isso passe."
(As Aventuras de Sharpe Vol. 5: A Presa de Sharpe - Bernard Cornwell)

:osigh:
 
Talvez o nada é que seja a verdade e todo o nosso sonho não exista, mas sentimos que então essas frases musicais, essas noções que existem em função do sonho, não hão de ser nada, tampouco. Pereceremos, mas temos como reféns essas divinas cativas que seguirão a nossa sorte. E a morte com elas tem alguma coisa de menos amargo, de menos inglório, de menos provável, talvez.
- No caminho de Swann. Proust.

Uma das frases que deixam você assim: :o

Essa veio, no meio de um baile cheio de convidados mesquinhos, depois de umas 200 páginas de narração da paixão semi-doentia de um mulherengo (Swann) por uma mulher sem nenhum valor (Odette de Crécy). Vale a pena? Não, não vale... =/

Que pena que ele não dispensou esses personagens desprezíveis e escreveu só coisa boa como isso aí.
 
Quanta maldade nesse coração, Jorge... A análise do ciúmes que o Proust faz nessa parte é uma das poucas capaz de rivalizar com Machado e Otelo
 
Tô de má vontade mesmo! :humpf:

A análise tá perfeita. O ápice é quando ele sente ciúmes de si mesmo no passado porque supostamente ela amava ele lá (o que não é verdade. Nunca amou, nem nunca amará. Só quer o dinheiro dele. Trouxa!)

Só acho inverossímeis e desagradáveis os personagens. O Swann era um mulherengo que se acha superior aos outros, inclusive Odette. Está sempre denegrindo ela. E ela não vale nada mesmo (pelo menos a se acreditar no narrador): fútil, falsa e rasa. Para ser um pouquinho justo, dá pena de Swann às vezes, se apegando a algumas migalhas de afeto. Isso até lembrar dele como mulherengo, enfim...

E até a narrativa me irritou. Tem que contar quantas vezes Proust escreveu "Odette" ali. Daí do nada interrompe a descrição da "loucura" de Swann para falar de um baile e faz uma descrição descabida dos valetes da entrada comparando com obras de arte. Por fim (eaté agora), temos os fúteis convidados da festa, uma nobreza decadente (ainda bem).
 
Última edição:
Ahhh, vc ñ terminou ainda ñ? Ñ sei se me lembro direito desse baile, mas salvo engano é num baile que ocorre uma parte importante dessa parte... Uma transição que eu acho esplêndida, aliás
 
Terminei a segunda parte ainda não. Mas é no baile que o Swann tem uma epifania enquanto escuta a Sonata de Vinteul. Aliás, nesse trecho temos que a teoria da arte de Proust é platônica (talvez por influência indireta de alguém? Bergson? a ver), com os objetos artísticos remetendo a uma outra realidade fora dessa e mais real que ela. Daí a citação que nos trouxe aqui.

Foi aí que parei de ler. Ele reviu/reviveu em um momento, todos os momentos desde que tinha conhecido Odette. Mais ou menos como o narrador com a madeleine no chá.

Aliás, o Swann é um duplo do narrador, né? Daí toda esse desvio para falar do amor dele. Só achei que, se o trecho do "tempo redescoberto" se encaixa bem com o baile, o baile não se encaixa bem com o que vinha antes.

Enfim, vou esperar que melhore na parte 3 ou no volume 2: À sombra das raparigas em flor. Mas não sei se vou ler pra já.
 
Última edição:
Pois é, e é essa transição com base na sonata que eu acho genial. É como a madeleine, mas o poder evocativo é um tanto quanto conturbado -- o Swann relembra tudo, mas ele escutou essa sonata à exaustão, e o relacionamento não está localizado num passado tão remoto. A questão da memória e da madeleine gira em torno da memória involuntária -- degusto a tal da madeleine mas nem imagino reinvocar aquilo tudo. É possível que o Swann há um tempo não tenha ouvido a sonata, mas ela não se encontra numa camada mais remota de sua memória. É recente, e é um tipo de memória que ele com esforço criou -- todo casal precisa desse tipo de coisa. Mas aí ele escuta e aquilo ali cria o start pra abrandar o ciúme doentio dele, e mesmo arrefecer o amor que sente pela Odette. A forma como o Proust parte da sonata e vai de um lado a outro, da paixão que começava a nascer, que crescia, se tornava num monstro, num monstro que afasta, num monstro que perece... E tudo numa transição leve... Acho isso belíssimo, de uma perícia narrativa impecável.
 
Ah, então vai se curar? Já me animou.

As memórias seriam como pequenas fotografias ligadas à sonata, então, né? E tudo explodiu no baile. Mas acho que elas devem ter sido unilaterais aí, coitado. A Odette não tava nem aí pra sonata (talvez só no começo...). E o crescendo do ciúme dele acompanharia "imaginariamente" os movimentos da sonata (já que o livro não tem som?)? Hum. Dá uma melhorada nessa segunda parte assim.

Talvez seja o caso de reler o livro para perceber melhor esses detalhes (a progressão, por exemplo).
 
"Há um espetáculo mais grandioso que o mar, é o céu; e há outro mais grandioso que o céu, é o interior da alma."

Os miseráveis - Victor Hugo
 
"La Forge saw a faint smile tug the corners of the captain’s mouth, and remembered him saying on many occasions that, if he were not in command of a starship, there was nowhere he’d rather be than at an archaeological dig with spade in hand. La Forge felt that archaeology had lost out when a young Jean-Luc Picard had opted to join Starfleet."
(Star Trek Myriad Universes 2: Echoes and Refractions - Geoff Trowbridge, Keith R.A. DeCandido, Chris Roberson)

Picard tem alma de arqueólogo, é dos meus, hehe.
 
"Vivar estava sentado perto da barrica da água junto à porta do forte, onde embebia as meias em gordura de porco que fora distribuída aos soldados, para prevenir as bolhas nos pés."
(As Aventuras de Sharpe Vol. 6: Os Fuzileiros de Sharpe - Bernard Cornwell)
:blah:
 
"Werner parou de escrever porque estava na hora de voltar para a lavoura. Nunca chegou a terminar a carta, pois naquele mesmo dia os índios atacaram a picada e mataram onze colonos. Werner caiu de borco com uma frecha cravada nas costas. A última palavra que disse, babujando a terra de sangue, não foi o nome do Vaterland nem o de algum ente amado. Foi: Scheisse!" (O Tempo e o Vento, Tomo I - Érico Veríssimo)
 
"Ora, um boato é uma espécie de enjeitadinho que aparece à soleira duma porta, num canto de muro ou mesmo no meio duma rua ou duma calçada, ali abandonado não se sabe por quem, em suma, um recém-nascido de genitores ignorados.
Um popular acha-o “engraçadinho” ou monstruoso, toma-o nos braços, nina-o, passa-o depois ao primeiro conhecido que encontra, o qual por sua vez entrega o inocente ao cuidado de outro ou outros e assim o bastardinho vai sendo amamentado de seio em seio ou, melhor, de imaginação em imaginação, e em poucos minutos cresce, fica adulto – tão substancial e dramático é o leite da fantasia popular – começa a caminhar pelas próprias pernas, a falar com a própria voz e, perdida a inocência, a pensar com a própria cabeça desvairada, e há um momento em que se transforma num gigante, maior que os mais altos edifícios da cidade, causando temores e às vezes até pânico entre a população, apavorando até mesmo aquele que inadvertidamente o gerou."
(Incidente Em Antares - Érico Veríssimo)
:lol:
 
“You must not be ready to go with everything beautiful all at once, Diamond.”


“But what’s beautiful can’t be bad. You’re not bad, North Wind?”


“No; I’m not bad. But sometimes beautiful things grow bad by doing bad, and it takes some time for their badness to spoil their beauty. So little boys may be mistaken if they go after things because they are beautiful.”


“Well, I will go with you because you are beautiful and good, too.”


“Ah, but there’s another thing, Diamond:—What if I should look ugly without being bad—look ugly myself because I am making ugly things beautiful?—What then?”


“I don’t quite understand you, North Wind. You tell me what then.”


“Well, I will tell you. If you see me with my face all black, don’t be frightened. If you see me flapping wings like a bat’s, as big as the whole sky, don’t be frightened. If you hear me raging ten times worse than Mrs. Bill, the blacksmith’s wife—even if you see me looking in at people’s windows like Mrs. Eve Dropper, the gardener’s wife—you must believe that I am doing my work. Nay, Diamond, if I change into a serpent or a tiger, you must not let go your hold of me, for my hand will never change in yours if you keep a good hold. If you keep a hold, you will know who I am all the time, even when you look at me and can’t see me the least like the North Wind. I may look something very awful. Do you understand?”


“Quite well,” said little Diamond.


“Come along, then,” said North Wind, and disappeared behind the mountain of hay.


Diamond crept out of bed and followed her.

At The Back of North Wind, Chapter 1 - The Hay Loft - George MacDonald
 
"Sharpe pôs-se a rir. O rosto dele era duro em repouso, em virtude da cicatriz na face, mas quando sorria ou ria, a dureza desaparecia e Kate, para seu espanto, sentiu o coração falhar uma batida. Recordara-se da história que Christopher lhe contara, como Lady Grace destruíra a sua reputação para viver com aquele homem. O que é que Christopher dissera? Ah, pescar em águas turvas. De súbito, porém, Kate invejou Lady Grace e, depois, lembrando-se que tinha casado havia menos de uma hora, sentiu uma grande vergonha de si mesma. Não obstante, pensou, aquele canalha era extremamente atraente quando sorria e estava ali, agora, sorrindo para ela."
(As Aventuras de Sharpe Vol. 7: A Devastação de Sharpe - Bernard Cornwell)

:hanhan:
 
"Como fizessem uma pausa longa, viram duas ou três pessoas, que passavam embaixo, olharem para cima com certo ar curioso e indiscreto. Jorge ergueu-se.
— Estamos dando na vista, disse ele; hão de supor que somos dois namorados.
— Sente-se, disse Iaiá em tom intimativo. E continuou: — Que perde o senhor
com isso? Dirão que não tem mau gosto em amar uma moça bonita."
(Iaiá Garcia - Machado de Assis)

:lol:
 
"Tudo tem significado para um feiticeiro - disse ele. - (...) Os vermes, os pássaros, as árvores poderiam todos nos contar coisas inimagináveis, se ao menos tivéssemos a velocidade de captar a mensagem deles. O fumo pode nos dar essa velocidade de apreensão. Mas devemos estar em bons termos com todas as coisas vivas deste mundo. É por este motivo que devemos falar com as plantas que vamos matar e pedir desculpas por feri-las; o mesmo se deve fazer com os animais que caçamos. Só devemos pegar o suficiente para as nossas necessidades, senão as plantas e os animais e os vermes que matamos se viram contra nós e nos causam doenças e desgraças."

Dom Juan, tentando enfiar um pouco de sabedoria na cabeça dura do autor em:
Uma Estranha Realidade - Carlos Castañeda
 
"Uma das superstições mais costumeiras e difundidas é a de que cada pessoa tem determinadas qualidades só suas, que existe a pessoa boa, a má, a inteligente, a tola, a enérgica, a apática etc. As pessoas não são assim. Podemos dizer sobre uma pessoa que ela é boa com mais frequência do que má, inteligente com mais frequência do que tola, enérgica com mais frequência do que apática, e o contrário; mas seria falso dizer sobre uma pessoa, que ela é boa ou inteligente, e sobre outra que é má e tola. Mas sempre dividimos as pessoas dessa maneira. E isso é errado. As pessoas são como rios: a água é a mesma para todos e é igual em toda parte, mas cada rio é ora estreito, ora rápido, ora largo, ora calmo, ora limpo, ora frio, ora turvo, ora morno. Assim também são as pessoas. Cada um traz em si o germe de todas as qualidades das pessoas e às vezes se manifesta uma, às vezes outras, e não raro acontece de a pessoa ficar de todo diferente de si mesma, enquanto continua a ser exatamente a mesma."
-- Ressurreição, de Liev Tolstói.
 

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