• Caro Visitante, por que não gastar alguns segundos e criar uma Conta no Fórum Valinor? Desta forma, além de não ver este aviso novamente, poderá participar de nossa comunidade, inserir suas opiniões e sugestões, fazendo parte deste que é um maiores Fóruns de Discussão do Brasil! Aproveite e cadastre-se já!

[CINEMA] Laranja Mecânica

Ronzi

Oh, Crap!
Copiado diretamente de meu blog morto.

Laranja Mecânica (A Clockwork Orange) é um dos raros casos onde o filme iguala-se ao livro que lhe originou. A adaptação do diretor Stanley Kubrick para o cinema, datada de 1971, não preza por ser das mais fiéis ao texto do autor, em contrapartida traz em si toda a essência de caos e violência urbana contida no romance. Na época das filmagens, Kubrick chegou a suprimir o último capítulo da trama, o que causou certo descontentamento dos leitores mais puritanos, mas isso longe de tornar a conclusão mais otimista, reafirma a condição de impossibilidade para uma futura convivência social de Alex.

A obra máxima de Anthony Burgess é comumente colocada lado a lado com Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley, e 1984, de George Orwell, formando uma trilogia que vislumbra o futuro da sociedade com um olhar pessimista, onde a violência e os governos totalitários se sobressaem. Os enredos foram inspirados em alguns casos pela situação política vivida época pelos autores, em outros por reflexões quanto ao avanço científico sem ponderação, mas das três obras a que mais se aproxima da realidade que vivemos hoje continua sendo a criada por Burgess.

Apesar da história de Orwell ter descrito magistralmente o voyeurismo televisivo moderno, e de Huxley ter previsto o corre-corre tecnológico e um medo atual quanto à evolução exacerbada da tecnologia (isso no longínquo ano de 1931), é a distopia criada em Laranja Mecânica que esbarra na realidade atual das grandes metrópoles mundiais e forma um retrato anacrônico de uma civilização industrializada com enormes lapsos sociais.

O Nadsat

Uma das grandes sacadas de Burgess em seu livro, foi a implementação de uma renovação lingüística para seu protagonista narrar a história. Influenciado grandemente pelo idioma russo após uma viagem para Leningrado, o autor juntou expressões de origem eslava com termos ingleses, originando assim as gírias do vocabulário nadsat, repleto de uma carga fonética que acrescenta uma tonalidade futurista e alienígena a história.

Com essa tática o livro ganha um caráter autêntico que causou grande estranhamento no leitor dos anos 60. A confusão se devia ao fato das edições não trazerem um glossário explicativo para palavras como drugue (amigo), horrorshow (do caralho, legal), smekar (rir) e tantas outras que aparecem no texto. Isto com certeza deixava o tomo ainda mais instigante e surpreendente. Outra coisa que surpreendia era a coragem de Burgess. Ele não permitia concessões a sua obra, mesmo a pedido dos editores, o que aumentava a possibilidade dos leitores desistirem após um ou dois capítulos devido a dificuldade de interpretação do nadsat.

A falta de vírgulas, pontos e as constantes aliterações do texto seguem a lógica porra-louca do personagem principal. Os dois andam juntos em uma sinergia fora do comum. Não contente em narrar em primeira pessoa a história, Alex dá forma narrativa, por vezes se refere a ele próprio como se estivesse falando de outra pessoa, com uma autocomiseração que chega a ser cômica e sua afiada ironia, mesmo nos momentos mais dramáticos, não perde o tom.

Ultraviolência Moderna

Se por um lado a forma do romance é inovadora, o enredo não fica atrás. O livro foi escrito em 1961, quando, ao retornar da Malásia, Anthony Burguess recebeu a notícia que teria menos de um ano de vida, por causa de um tumor maligno em seu cérebro. Com a intenção de escrever o maior número possível de livros e deixar sua mulher em uma boa condição financeira com os direitos autorais, ele se isolou em uma cidade no sul da Inglaterra e de lá saiu com cinco livros prontos e outro pela metade. A previsão médica não se realizou, Burgess morreu somente em 1993, com setenta e seis anos de idade.

Não sei ao certo quais seriam os cinco terminados, porém o inacabado era o romance "Laranja Mecânica", ambientado em um futuro caótico e dominado por gangues de jovens. Alex, o narrador da história é um delinqüente juvenil cujo único propósito é praticar atos de violência e fazer sexo. A industrialização das cidades e o crescente desemprego em massa servem como pano de fundo para Burgess criar um ambiente compatível com os atos perversos de seu narrador-personagem.

Acompanhado de Pete, Georgie e Tosko, outros três amigos tão sociopatas quanto ele próprio, Alex (que no cinema ganhou o acréscimo “DeLarge” como sobrenome) narra a história como passava as noites divertindo-se com estupros, leite drogado e ultraviolência horrorshow, como gosta de chamar as brigas e crimes que se envolve. Para justificar suas ausências noturnas, mente para os pais que trabalha a noite e os trata de forma dominante, quase ameaçadora. Essa característica do protagonista também se apresenta no seu convívio social, sua gangue o obedece sem questionamentos, quando concebe os “planos” do grupo, até incomodarem-se com seu radicalismo e revolverem lhe dar uma lição, armando para que seja preso. Nesse momento arma-se o pano de fundo para que o autor exponha seu argumento.

Logo após a emboscada armada pelos ex-parceiros, Alex é preso e enviado a um presídio, onde é condenado a 14 anos de prisão. Decidido a sair da cadeia, candidata-se como cobaia em um experimento que visa transformar homens perversos em criaturas doces, que abominam a violência. O protagonista é submetido a uma lavagem cerebral, chamada “Técnica Ludovico”, tão cruel quanto os atos que praticava na rua.

Porém, a liberdade conquistada com muita dificuldade pelo narrador, é mais um tormento na vida do jovem Alex, que reencontra seus ex-comparsas em situações desfavoráveis. Mesmo não sendo um livro eminentemente político, Burgess faz uma ácida crítica aos métodos do sistema carcerário e ao capitalismo como um todo. Afinal, as gangues retratadas ali foram inspiradas nos grupos adolescentes que começavam a pipocar no começo dos anos 60 nas capitais industrializadas, como os mods e os rockers. Isso dá ao livro de Burgess um caráter futurológico e apocalíptico que, por incrível que pareça, se mantém atual. Um mundo em que as oportunidades que sobram para poucos e para muitos simplesmente inexistem.
 
Bem...devo dizer que gostei do seu post...até por que minha dissertação de mestrado é sobre A laranja mecânica...estimada e proveitosa coincidência! Oh meus irmãos!
 
Não li ainda o livro, mas sou fãnzáça do filme! Mais uma obra prima do Kubrick...

Melhor que falar de Laranja Mecânica, é falar de Laranja Mecânica, cantando Singing in The Rain, tomando Moloko no Korova! Aí tá bão demais!

Adorei o texto, Ronzi... Uma contribuição importante e necessária! :)
 
Laranja Mecânica é meu filme feitiche heheheh. O livro é muito bom, mas acho o filme superior (normal nos casos do Kubrick), especialmente porque no filme o Alex é fissuradaço por Beethoven, enquanto no livro ele só é um fã de música clássica.
 
Cara, o Alex é o anti-herói mais simpático do mundo! Ele espanca velhinhos e a gente ainda se emociona com aquele sorriso maroto, com olho pintado! É fenomenal!
 
Stanley Kubrick acabou com minha inocência.

Laranja Mecânica foi o primeiro filme realmente assustador que que eu vi envolta em música assombrosamente encantadora. Não satisfeito, ele me jogou ao espaço em 2001 uma odisséia no espaço e de lá nunca mais eu quis voltar.

Carlos Gerbase tem um texto em Favoritos que expressa bem o entusiasmo que sinto sobre Stanley Kubrick deixo o link e uma mostra.
[...]
Cinema é espetáculo para o público, ou é meio de expressão para um autor? Cinema é impacto visual, efeito especial, ou é história bem contada, ousadia narrativa? Cinema é conteúdo, é preocupação com o que dizer, ou é forma, habilidade para tornar qualquer tema um bom tema? Questões históricas, recorrentes, que poderiam ser respondidas com outra pergunta: você já viu um filme de Stanley Kubrick?

Nenhum outro cineasta da segunda metade do século conseguiu equilibrar com tanta perfeição a grandiosidade tecnológica do cinema, o deslumbre da imagem, com a essência da linguagem, o mergulho no "texto" de um filme. As realizações menos bem sucedidas de Kubrick são bons filmes. As mais bem sucedidas (e são várias) são obras-primas.
[...]

:grinlove: Seu texto está digno Ronzi, pode servir de modelo para matérias assim.
 
Não li o livro e só vi o filme uma vez....

E foi o suficiente para ficar marcado na minha cabeça.
É maravilhoso.

Não posso dizer muita coisa porque vi uma vez e juro que não me atentei a todos os detalhes possíveis...mas posso dizer que ele antecipou etapas na evolução humana....

Ou dizer que não estamos longe daquilo é exagero?
 
Acho que eu sou o único do mundo que achou o livro melhor que o filme.
Eu fiz questão de ler o livro primeiro para depois ver o filme. Eu adorei o livro, figura entre os meus preferidos. Mas o filme... o filme não me chocou. No livro eu imaginava todas as cenas e eu criava algo violento. No filme eu nem de longe conseguia ver a "ultraviolência" do Alex e seus "druguis". Acredito que na época, o filme tenha sido algo inovador, mas hoje em dia eu não consigo vê-lo como algo violento e chocante.
 
Putz... não sei direito explicar o que eu senti quando vi esse filme. Mas, se existe algum filme que mudou minha vida, foi Laranja Mecânica. Eu gosto de cinema, mas considerava uma diversão, e nunca tinha visto nenhum[ou quase nenhum, sinceramente eu não lembro] filme realmente bom antes dele. Um dia aluguei sem nem saber do que se tratava e fiquei impressionada. Sério mesmo, foi uma experiência surreal ver aquilo... música clássica com toda aquela violência, e todas aquelas cores, e ângulos de câmera, até os objetos do filme chamavam atenção[tipo os da casa da mulher que, se não me engano, tinha um monte de gatos XD]... a atuação do Malcolm McDowell... sei lá, eu só sei que quando começou aquela música tema assustadora e depois ele olhando com cara de psicopata, só aquilo já mexeu comigo. Não foi nem a violência em si como acontece com a maioria das pessoas, mas o conjunto. E eu percebi o que era uma direção, uma direção fantástica aliás.
Deve ter ficado confuso, mas resumindo: eu fiquei chocada e admirada ao mesmo tempo.
E aquele final? "Eu estava novamente curado" e aquela cara de psicopata, me deu medo uaheuaeuhaeuae


E uma coisa que eu acho bem interessante sobre o filme são as reações que ele provoca. Eu simplesmente não entendo como tem gente que considera esse filme como comédia, sério mesmo... tá, eles usam todas aquelas roupas esquisitas, e tem a parte da casa da mulher que é realmente engraçada e mais umas poucas, mas peloamor, eles estão ESPANCANDO pessoas. Emprestei o filme pra um colega meu e ele riu horrores, vai entender.
 
Ótimo texto Ronzi :)
Eu pirei é com o final,
aquele sorrisinho safado-irônico do Alex o.o assusta hein..
Só não compreendi bem o porquê do nome, Laranja Mecânica?:gira:
 
Um dos maiores gênios cinematográficos da segunda metade do século XX, na minha opinião, e mesmo seu gênio sendo somente superado pelo seu ego, Stanley Kubrick foi incomparável. Sobre o 'Laranja Mecânica', eu não acho que é o melhor filme do Kubrick e o livro não é a melhor visão distópica do futuro, dentre os diversos autores já citados aqui (aliás, pra mim, o 'Fahrenheit 451', que ninguém citou, é a visão mais poética e interessante de um futuro distópico).

Sobre o título, Maníaca, o anthony Burgess deu várias explicações diferentes ao longo dos anos. Mas todas tem referências diversas ao comportamento 'mecânico' de Alex depois do tratamento ludovico, demonstrando claramente que suas atitudes não eram algo natural a ele, que agia mecanicamente, artificialmente, quando agia com bondade. Ele era uma 'laranja mecânica' quando era bonzinho. Imagino que o 'Laranja' seja uma referência ao Nadsat, mas aí também não sei.
 
pdr1987 disse:
Um dos maiores gênios cinematográficos da segunda metade do século XX, na minha opinião, e mesmo seu gênio sendo somente superado pelo seu ego, Stanley Kubrick foi incomparável. Sobre o 'Laranja Mecânica', eu não acho que é o melhor filme do Kubrick e o livro não é a melhor visão distópica do futuro, dentre os diversos autores já citados aqui (aliás, pra mim, o 'Fahrenheit 451', que ninguém citou, é a visão mais poética e interessante de um futuro distópico).

Sobre o título, Maníaca, o anthony Burgess deu várias explicações diferentes ao longo dos anos. Mas todas tem referências diversas ao comportamento 'mecânico' de Alex depois do tratamento ludovico, demonstrando claramente que suas atitudes não eram algo natural a ele, que agia mecanicamente, artificialmente, quando agia com bondade. Ele era uma 'laranja mecânica' quando era bonzinho. Imagino que o 'Laranja' seja uma referência ao Nadsat, mas aí também não sei.

ah entendi..valeu o/

Laranja, dá idéia de O escolhido...A Laranja xD
não sei se tem haver, provavelmente que não xD, mas lembra..hehe
 
Um fato engraçado sobre esse filme em minha vida, é que eu nunca consigo ver até o final (acontece também com o 2001...). Sempre acontece alguma coisa que me impede de ver o filme até o final. Da ultima vez estava passando na Globo e quando chegou quase na metade do filme a luz acabou...
Mas tenho fé, um dia acabo de ver o filme e conto o que achei...
 
Marcos, sua professora ia passar esse filme na sala de aula? LOL. :dente:

Enfim, eu gostei bastante, principalmente do lance de ultraviolência x música clássica. Hoje é impossível não associar Singing in The Rain (às vezes me pego cantando quando estou com pensamentos destrutivos =P) e a Nona Sinfonia de Beethoven à ultraviolência.

Porém, houve algo que me desagradou/constrangeu um pouco: o excesso de nudez e putaria. Às vezes se tornava desconfortável. :(

Cara, o Alex é o anti-herói mais simpático do mundo! Ele espanca velhinhos e a gente ainda se emociona com aquele sorriso maroto, com olho pintado! É fenomenal! [2]

E eu adoro aquele sorrisinho irônico.

Quanto ao livro, até hoje, não acabei de ler, principalmente por só ter achado em ebook. Mas, bem, está entre as minhas promessas literárias de 2009.
 
Eu acho um filme muito bom, um daqueles que - pegando carona nos livros da moda - "tem que se assistir antes de morrer". Nao eh o melhor do Kubrick, que pra mim ainda eh o "incomparavel" 2001, mas eh muiiitooo bom.
E quanto ao titulo, um professor de filosofia meu costumava dizer que era pq a laranja eh organica, e a mecanica - a forma como ele passa a se comportar - eh inorganica. Ou seja, transformar algo organico em inorganico, mecanico.
 
Nekoju, não és o único que acha o livro superior, Acho que o filme não me deixou as mesmas impressões que o livro(ainda bem). Mas pelo tanto que badalaram e me falaram do filme, que o deixou numa atmosfera super-cult, ele não encontrou as minhas expectativas, ficou um pouco abaixo.
Mas não tiro o crédito do filme, grande obra.
Vale ressaltar que Anthony Burgess não gostava de Kubrick e nem de divulgar o filme nos talk-shows estadunidenses.

E quanto ao titulo, um professor de filosofia meu costumava dizer que era pq a laranja eh organica, e a mecanica - a forma como ele passa a se comportar - eh inorganica. Ou seja, transformar algo organico em inorganico, mecanico.
Legal, gostei dessa interpretação!
 
Jamil Assis disse:
Nekoju, não és o único que acha o livro superior, Acho que o filme não me deixou as mesmas impressões que o livro(ainda bem).

:grinlove:


E quanto ao titulo, um professor de filosofia meu costumava dizer que era pq a laranja eh organica, e a mecanica - a forma como ele passa a se comportar - eh inorganica. Ou seja, transformar algo organico em inorganico, mecanico.

A parte filosófica da coisa eu não sei, mas o título vem (segundo o próprio autor) da expressão cockney "As queer as a clockwork orange", algo tipo "tão louco como uma laranja mecânica" (é, o queer aqui não é de gay).
 
"Laranja Mecânica" foi o primeiro filme do Kubrick que eu vi e um dos primeiros filmes que me fez pensar o quão foda o cinema podia ser. É um filme onde tudo funciona, do esmero técnico do filme (o Kubrick era conhecido pelo perfeccionismo ao extremo), ao futuro caótico do Burgess, à trilha sonora (o toque de meu celular é a música de abertura do filme), à cara de depravado do Alex (é de se admirar um filme em que um fdp como ele é o mocinho... aliás, se ele é o mocinho, é pq há algo de extremamente errado no mundo em que ele vive)

Eu só fui ler o livro mto tempo depois, talvez por isso eu ainda ache o filme melhor.

E mto bom o texto Ronzi!
 

Valinor 2023

Total arrecadado
R$2.404,79
Termina em:
Back
Topo