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Cinco Livros Favoritos com Paganus [2.0].

Melian

Período composto por insubordinação.
Tolstói disse que os temas mais complexos podem ser explicados ao menos inteligente dos homens, caso ele ainda não tenha uma ideia formada sobre eles; mas o assunto mais banal não pode ser esclarecido ao mais inteligente dos homens caso ele esteja convencido de que já conhece sem sombra de dúvida o que tem diante de si. Ao analisarmos as duas — a primeira está aqui — listas de livros favoritos do Paganus percebemos que ele nunca está convencido. Cada livro escolhido, numa lista ou na outra, parece ser uma tentativa de se convencer do que é apenas vestígio e, embora ele argumente de modo satisfatório, está, sempre, em busca de outros argumentos, o que é possível notarmos mesmo quando se trata de O Pequeno Príncipe, livro que está presente em ambas as listas, e que o Paganus afirma reler todo mês, para poder redescobrir, para poder encontrar coisas que nem desconfiava existir. E é impossível falarmos sobre procura sem que mencionemos Clarice Lispector, que figura na lista por intermédio de A paixão Segundo G.H. Este livro, não por acaso, tem início com o gerúndio, que indica uma ação em andamento. Não estamos, todos, procurando, tentando entender e dar a alguém o que vivemos? É que viver, dizia Riobaldo, é muito perigoso. Mas o que ele não disse é que não viver é ainda mais perigoso.​

1. O Pequeno Príncipe (Antoine de Saint-Exupéry)

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Esse aqui não sai nunca mais da minha lista. É um livro com um significado profundo, cujas lições valiosas serão, sempre, extraídas, de formas novas. Eu leio pelo menos uma vez por mês, para não perder o contato e a amizade com o principezinho, a raposa, a rosa, tão amada rosa, tão disposta a ferir como a perdoar... Para além de lições morais, eu costumo dizer que é um livro rico em pensamento e reflexão, porque vai além de determinar regras de conduta. Os valores estão ali, na carne de um texto infantil, e isso se percebe no próprio texto, belíssimo e sempre rico.​

2. O amor nos tempos do cólera (Gabriel García Márquez)

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Não existe livro mais precioso para mim. É o livro que me fez querer ser escritor, que me fez me apaixonar pelo ofício, pela habilidade e capacidade de um ser humano despertar tais emoções, tais pensamentos no leitor. Não se mencione que a história de amor descrita aqui se assemelha muito à minha própria, ou que eu ame como as relações mais puramente carnais são expressas com tanto sentimento e vivacidade, mas o fato é que o que ele possui de mais sensual está na escrita, na narração da história.​

3. Grande Sertão: Veredas (Guimarães Rosa)

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Cleozinha vai querer me matar pelo meu atraso em fazer o tópico do Rosa, mas esse livro eu vou falar, já: é quase uma pintura, de tão bem feito. É uma escrita revolucionária, um estilo inigualável, uma obra que o homem dificilmente poderá fazer parecida em sua estranha aventura na Terra. Não é só uma obra-prima, é um clássico instantâneo, um monumento literário. Como se já não bastasse o enredo faustiano (bem em linha com nosso Clube de Leitura), envolvendo supostos pactos, e as querelas filosóficas que o jagunço Riobaldo se mete a enfrentar, sem resolver, poucas vezes um romance tão profundo foi tão belamente escrito, a ponto de se querer ler o livro em voz alta o tempo todo, pois parece um crime cada segundo que bicho homem passa na existência sem se deleitar com a bruxaria que o Rosa foi capaz de evocar aqui; levantando o sentido da terra mais seca e mais árida, aqui tornada eloquente, viva, profética.​

4. Ulysses (James Joyce)

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E falar de Rosa sem falar de Joyce é falhar em muita coisa. O Ulysses, talvez não sua obra mais extensa e complexa (esse papel cabe a Finnegan's Wake), mas aqui Joyce criou o antirromance, a tentativa mais ousada e destrutiva de recriação da arte literária. O que há de mais impressionante nesse livro? Certamente, não é o enredo banal: um dia corriqueiro da vida do judeu Bloom. Seria a profusão de gêneros literários que compõem os capítulos? A diversidade de tons, sentidos e linguagens? As mudanças repentinas de focalização, abordagem e tratamento das mesmas questões? Ou o tom abertamente debochado com que toda a tradição ocidental, e não apenas literária, é defenestrada, ridicularizada? Talvez, seja tudo isso; talvez, nada disso. O que sei é que essa leitura é um desafio, e é um desafio que é um prazer, e as recompensas são muitas, variadas, e se dirigem especialmente àqueles de nós que estão cansados dessas "palavras grandes que nos deixam tão tristes". Aqui o grande tesouro está no percurso, no esforço que ele exige, no prazer com que tantas referências e cânones são destruídos; o prazer secreto de todo leitor, o grande orgasmo sempre prometido e jamais cumprido. Aqui. Agora. Sim.​

5. A paixão segundo G. H. (Clarice Lispector)

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Falando em bruxaria, minha querida não poderia faltar. Eu não sei se é meu livro preferido dela, sendo que só li os contos, alguns bem mais impressionantes, mas essa obra é chocante. Choca ler as reflexões filosóficas dessa mulher, que come a carne de uma barata morta; mas a barata, sejamos sinceros, é o que choca menos, depois de uma excursão pelo que há de baixo da pele da vida. Os sábios de Torá, os cabalistas mais bem preparados, só sorririam ao passar os olhos pela obra dessa judia moderna, independente e tão forte: a tradição mística judaica pulsa nas veias desse trabalho, e não de forma aberta e panfletária, mas sutil, poética. A viagem nos leva para dentro da nossa pele, para o interior do sentido próprio e individual da existência humana, e nos deixa aos pés de Ha'Kadosh Baruch Hu, o Eterno, Bendito Seja. No stones unturned, que miséria, Clarice, que você faz com a minha alma?​
 
Baita lista, com excelentes escolhas e comentários bem instigantes! Não esperava menos do menino @Paganus . :clap:
E aplausos para a @Melian , que o textinho de introdução ficou com uma potência impressionante. Ôxi, essa invertida da frase do Riobaldo no final me puxou o tapete.

Só li os três primeiros livros da lista do Pagz, sendo que o Grande Sertão: Veredas também entrou para a minha lista.
Joyce eu ainda não tive coragem de encarar. E da Clarice eu só li "A Hora da Estrela", que eu adorei, e "A via crúcis do corpo", que foi uma leitura que não me pegou tanto. Quero ler mais dela...
 
Última edição:
Lindo texto de introdução, Cleozinha, sim, esse sou eu mesmo, meu eu leitor é o fio condutor da minha experiência total de ser pensante. Mesmo quando o foco não e exatamente uma fruição intelectual, eu estou sempre escavucando os textos em busca de não sei o que que afaste o medo do irracional, que acolha um grande sentido, que me faça acordar do pesadelo da história.

Clarice é um tesouro ainda grandemente inexplorado por mim, li vários contos e esse romance, sempre com o coração e os sentidos abertos e já fui interiormente desfeito, não uma, mas várias vezes. Uma capacidade de realizar algo em um conto de duas, três páginas que nos causa tento inveja quanto medo r especialmente assombro.

Gabo é especial demais pra mim. Não se trata aqui de uma leitura especialmente filosófica, apesar das questões esotéricas e políticas que ele acaba sempre levantando. Pra mim os livros dele são uma invasão dos sentidos, especialmente do desejo, uma exploração do limite dos sentidos pela literatura. É um escritor que pega você pela mão e, antes que você perceba, está totalmente perdido em longos períodos insuportavelmente sexuais, mesmo se estiver descrevendo uma pracinha, um cortejo fúnebre ou um por do sol. Ninguém faz isso, pelo menos não como ele. É o tipo de encantamento, hipnose que eu gostaria algum dia de despertar nos meus leitores algum dia.
 
Paganus disse:
Cleozinha vai querer me matar pelo meu atraso em fazer o tópico do Rosa
A cara nem queima, né? VAI FAZER O TÓPICO DO ROSA, PAGANUS!

E aplausos para a @Melian , que o textinho de introdução ficou com uma potência impressionante. Ôxi, essa invertida da frase do Riobaldo no final me puxou o tapete.
Que bom que você gostou do textinho, migo! 🥳
Lindo texto de introdução, Cleozinha
Sabe o que você poderia fazer para me agradecer, Pagz? O TÓPICO DO ROSA!
 
Só li "O Pequeno Príncipe", que achei mó fofo. Tenho uma ediçãozinha especial aqui, de capa dura, lindona, e com uns extras sobre o autor. Eu recomendo a quem se interessar.

E também li o da Clarice, que... sei lá. Faz tantos anos; nem lembro de nada (além da barata).
Acho que gostei na época, mas não me marcou. Um dia ainda releio.

Os demais estou devendo, e me constranjo em admiti-lo. :oops:
 
O Pequeno Príncipe já figurava na primeira lista não? Se bem que pra mim faz parte de um seleto grupo de obras que considero muito bacana reler em fases diferentes da vida, pois não parece, mas sempre é possível aprender um novo ponto de vista com ela e qualquer ponto novo, por menor que seja, é sempre valioso.

Os demais, conheço outras obras dos autores listados, mas lido apenas o Grande Sertão: Veredas, obra que só cheguei a ler depois de ver uma adaptação muito bem feita no teatro e só depois vi o quanto ela é bem escrita.
 
Desconheço completamente a lista do Paganus, já ouvi falar de um ou outro, mas nunca me interessei por lê-los, o pequeno príncipe anda jogado na minha lista "preciso ler, mas não quero". Mas como assim você deixou de ter o Silma como favorito, e como você tinha o Silma como favorito!
 
O Pequeno príncipe é o meu livro favorito de todos os tempos. Em 2011 aprendi sobre amizade com ele. Em 2021, aprendi sobre o amor. O que será que vou aprender em 2031? Não sei, só sei que espero que ele me acompanhe sempre.
 
  • Mandar Coração
Reactions: fcm
Eu teria acertado 4 dos 5 livros da lista desse fofo. Só teria trocado o quinto por Karamazov.
 
Esqueci de comentar, mas o da Clarice também estaria (estará, caso a Melian esteja lendo - algum dia eu mando rsrs) na minha lista. Ô livrinho encantador - no sentido mesmo, como você colocou, de parecer bruxaria.

Tava pensando em me programar, há uns dois anos ou mais já, para ler Ulysses quando ele fizesse 100 anos, que já fez, e eu ainda nem li O Retrato... 🤡

Tirando O Pequeno Príncipe, os outros dois também ainda não li. Ainda :timido: ...
 
Eu até achei que nessa segunda lista ele colocaria algum autor russo.
Meu afastamento do cristianismo me afastou um pouco de Dostoievski, não por princípio, só por falta de oportunidade mesmo. Tenho lido outras coisas. Mas ele sempre estará em meu coração e talvez retorne em outras listas, acho que nenhum livro me marcou mais que Irmãos Karamazov.
 

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