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Cinco Livros Favoritos Com Kainof

Melian

Período composto por insubordinação.
A lista do Kainof ganha o respeito imediato do povo das Letras por ter, como 'puxadores da escola de samba', nomes como Homero, Shakespeare e Fernando Pessoa. Boa estratégia, alemão.

Kainof disse:
Os livros foram escolhidos por autores. Poderia pegar qualquer livro de qualquer dos autores a seguir arrolados e seriam todas boas escolhas. Seleciono os seguintes por serem os meus preferidos ou por serem os mais marcantes na minha vida. O resultado foi uma lista até bem variada em estilos, embora semelhantes no assunto: ensaio filosófico, romance, dramaturgia, poesia e epopéia. Alguns bem clássicos e outros quase desconhecidos, apesar da fama e aclamação no meio literário, como são os casos dos agraciados com o Nobel de Literatura, Beckett e Camus. Espero que se inspirem e interessem por essas obras.

O Mito de Sísifo – Albert Camus
http://filosofocamus.sites.uol.com.br/camus_sisifo_completol.htm
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“Só existe um problema filosófico realmente sério: é o suicídio. Julgar se a vida vale ou não vale a pena ser vivida é responder à questão fundamental da filosofia”, assim começa o ensaio “O Mito de Sísifo” do franco-argelino Albert Camus. Um livro destinado a lançar questionamentos antigos sobre modos contemporâneos de viver o mundo. Um livro que trata já dos principais motes de Camus: o absurdo e a revolta.

Na mitologia grega, Sísifo, após enganar os deuses, é condenado no pós-vida ao castigo de rolar um imenso rochedo montanha acima e, quando prestes a concluir a tarefa e alcançar o topo, o rochedo despencava morro abaixo, obrigando Sísifo a recomeçar a tarefa, e assim infinitamente. Sísifo é o símbolo do homem absurdo, o homem atual, ocupado em tarefas inúteis e desgastantes para nada, para o fracasso, para após isso recomeçar tudo outra vez. “No topo é possível imaginar Sísifo feliz”. O objetivo não importa só a tarefa, a revolta diante do absurdo da existência. O niilismo de Camus é positivo, no sentido em que dispõe a invalidade de tudo não ser motivo para a apatia. O absurdo conduz ao cansaço, mas este inaugura a revolta do Homem que se vê diante de um mundo ausente onde somente a sua ação sobre ele pode lhe dar uma significação.

Esse foi o livro que mais influência teve na minha formação recente. Marcou-me profundamente e foi responsável por uma secessão de epifanias. Talvez pelo momento em que eu vivia, esse era o livro que eu estava esperando para ler naquele momento. Pois livros, sobretudo, fazem-se bons não só por autores, mas por localidades, por leitores e por momentos.

Malone Morre – Samuel Beckett
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Malone é um talvez homem talvez velho talvez doente talvez ainda vivo talvez deitado em uma talvez cama talvez internado em um talvez hospital. Não é possível determinar nada com exatidão em toda a narrativa. Aparentemente, Malone é um idoso moribundo de cerca de 90 anos, incapaz de se levantar da cama mais do que alguns centímetros, que narra com enfadonha descrição os meios pelo qual se utiliza para gastar o tempo de viver. Prosseguir, apenas isso, porque, por vezes, continuar, em simplesmente continuar é que consiste a verdadeira superação. Em um mundo privado de sentido, banal, irracional, Malone torna comum o absurdo da vida humana e naturaliza a decadência.

Para matar o tempo até a morte, Malone cria teorias, inventa histórias, faz rememorações (não importa se precisas ou verdadeiras), sente e vigia o próprio corpo (ainda que seja incapaz de manter o controle total sobre ele). “Sim, tenho meus pequenos passatempos”, repete o personagem título. Até que venha o inevitável é preciso continuar.

Uma linguagem coloquial, com interrupções de ideias, frases incompletas, parágrafos por vezes extensos demais com pluralidade de assuntos nem tão complementares. A prosa de Beckett é inusual e transforma o tédio em assunto de interesse. Suas tragédias não são boas nem más nem chocantes, são tornadas apenas cotidianas e naturais, como uma conversa no café-da-manhã.

Hamlet – William Shakespeare
http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=5346
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O procrastinador, vingativo, rancoroso e sorumbático príncipe da Dinamarca dá-se com a aparição do fantasma de seu pai morto há pouco onde este lhe conta que foi assassinado traiçoeiramente pelo irmão e esposa. Enfurecido, Hamlet vaga pensativo planejando a vingança enquanto presencia a falsidade dos homicidas. Obcecado pela vingança ao seu modo, não tem atenção para mais nada, a ponto de rejeitar o amor de Ofélia, e nem ao menos demonstrar grande remorso ao saber do suicídio dela após o fato. O desfecho da peça, por fim, é apoteoticamente trágico.

Hamlet, além da intensidade do enredo, tornou-se um clássico, penso, pela história e personagens arquetípicos. Eles são descritos, características que se combinam, mas são estereótipos e generalizantes o suficiente. Assim o hipócrita, ganancioso e sensual Cláudio; o falastrão, empolado e pedante Polônio e o próprio Hamlet, com suas reflexões e titubeios acabam por tornar-se signos de personalidade e comportamento.

Onde há identificação entre leitura e leitor, onde realidade vivida e narrativa sonhada se encontram há a sinergia necessária para transformar palavras em sublime. À parte ser um príncipe dinamarquês (nobre, alto, belo, louro... :g:), a melancolia existencial evidenciada em seus momentos de solidão por solilóquios dramáticos, a procrastinação, a obsessão cega e o repúdio às convenções hipócritas da corte, fazem de Hamlet uma personagem familiarmente marcante para mim e uma obra sem par na literatura, múltipla em sentidos e interpretações.

Poemas de Álvaro de Campos – Fernando Pessoa
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Fernando Pessoa tem um legado literário interessante: além de poemas próprios, escrevia sob nomes de pessoas com personalidade e estilo próprios sendo essas pessoas ele mesmo. Despersonalização da pessoa de Pessoa (entre outros trocadilhos fáceis e infames). Publicou apenas um livro em vida e poesias esparsas em revistas de literatura, entre as quais uma que ele mesmo era editor.

Entre seus heterônimos, o mais vibrante parece ser Álvaro de Campos, poeta inicialmente eufórico, da modernidade, da experimentação juvenil. Logo após melancólico, da modernidade, do tédio, do cansaço e da angústia existencial. É de Álvaro de Campos o poema “Tabacaria”, um dos mais representativos do estilo e do tema tão caro a Pessoa: as sensações, o fracasso, a utopia desenganada, a incerteza, a divisão entre a “vida vivida e a vida sonhada”.

Álvaro de Campos, na opinião do próprio Pessoa, é o mais sentimental dele mesmo. De fato, as poesias de Campos são puro sentimento, em sua maioria introspectivos e pessoais. Nos poemas de Álvaro de Campos a tristeza adquire a beleza suficiente para tornar-se arte.

Odisseia – Homero
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A existência de Homero é questionável. Um único homem, rapsodo (“declamador”) e cego, segundo a tradição, autor dos 24 cantos que compõe a obra escrita no século VIII a.C. parece mesmo inverossímil. Fora as diferenças de linguagem e estilo originais nas variadas partes da história e desta com a outra epopeia homérica, a Ilíada. Nada mais natural para algo que foi escrito há milênios e traduzido e transcrito diversas vezes ao longo dos séculos. Um livro que é das maiores obras da humanidade, tanto em beleza, quanto em influência e significação.

Odisseu, após passar dez anos guerreando em Tróia, passa mais dez anos vagando no mar tentando encontrar o caminho de casa, na sua amada ilha de Ítaca. Ao longo do percurso, sofre tantas acidentes e percalços que da tripulação só resta o seu comandante. Odisseu, na viagem, conta com o auxílio da deusa Atena, mas com a inimizade de Poseidon, o deus dos mares, que através de monstros e correntes marítimas desfavoráveis prejudica o marinheiro de encontrar a rota para casa. Enquanto isso, em Ítaca, sua fiel esposa Penelope aguarda pacientemente o retorno do marido, mesmo assediada por pretendentes ao trono e ao casamento com a rainha, que dissipam os bens do rei em festas.

A Odisseia tornou-se símbolo da busca incessante do herói ao seu destino, que para atingi-lo precisa superar grandes desafios e sofrimentos. Símbolo das grandes aventuras heróicas e desesperadas. Se hoje nos soa clichê esse gênero, é devido a esta obra, escrita há milênios, e desde lá introduzida no imaginário ao ponto de pertencer ao âmago da cultura ocidental, inspiradora de um sem número de outras criações artísticas. É uma obra belíssima, com suas descrições sublimes e os epítetos marcantes e poéticos de Homero. Quanto a Odisseu, o solerte Odisseu, um modelo do homem grego, que apesar de suas elevadas qualidades físicas e de distinção nobre, sobressai-se preferencialmente através do intelecto. Foi assim que venceu o ciclope Polifemo, ouviu as sereias sem perecer, enganou a feiticeira Circe e armou a cilada para exterminar os pretendentes.

Em minha vida esta foi das obras mais marcantes, que li aos 15 anos com dificuldades imensas devido ao vocabulário e extensão. O dicionário foi companhia constante ao longo dos dias febris e empolgantes que passei junto ao livro. E de curioso passei a obcecado por mitologia e cultura grega, assunto que me consumiria na adolescência até o início da faculdade.
 
Kainof apela, né?
Os 3 últimos, apesar de nunca ter lido, conheceu superficialmente e sempre tive vontade de ler, só não tive oportunidade ainda.
Mas os dois primeiros me despertaram a atenção, principalmente Malone. Vou procurar por eles e, se nao gostar, dou uns cascudos no Kainof!
 
Odisséia é o clássico dos clássicos, qualquer análise que se faça é pequena demais, incompleta demais. O mesmo, em menor grau, pode ser dito de Hamlet.

Agora preciso mesmo ler Fernando Pessoa, só ouço maravilhas da sua poesia e ainda não a experimentei. Quanto a Camus, é mesmo interessante essa questão do suicídio e como ele antecipa o niilismo, de certa forma. Preciso ler esses dois.

Agora Becket me interessou bastante, hem? Vou dar uma pesquisada...

Excelente lista do Kainof, uma das melhores que vi por aqui! :clap:
 
Fernando Pessoa? :D

Muito bom realmente esse livro de poesias. Ótima escolha para representar um livro lusitano.

Muito boa a lista! Bons clássicos.
 
A lista do Kainof ganha o respeito imediato do povo das Letras por ter, como 'puxadores da escola de samba', nomes como Homero, Shakespeare e Fernando Pessoa. Boa estratégia, alemão.

Nem é estratégia, é preferência mesmo.

Foi duro viu deixar de fora Ionesco, Cioran, Nietzsche, Aristófanes, "Crime e Castigo", "O Senhor dos Anéis"...

Mas os dois primeiros me despertaram a atenção, principalmente Malone. Vou procurar por eles e, se nao gostar, dou uns cascudos no Kainof!

Nem dá nada. :obiggraz:

O Beckett é mais conhecido pelas peças de teatro dele, por ser vinculado à corrente denominada "Teatro do Absurdo". Mas eu só li romances dele... "Malone Morre" foi o primeiro e o melhor até agora. O livro em si não tem nada de empolgante ou emocionante, como eu disse, é uma narração por vezes bastante enfadonha, característica do autor. Mas ele se utiliza disso exatamente para fazer transparecer todos os assuntos abordados no texto, de incomunicabilidade, banalidade, desengano, marasmo, tédio existencial, etc.

Quanto a Camus, é mesmo interessante essa questão do suicídio e como ele antecipa o niilismo, de certa forma.

Para Camus, na verdade, o suicídio é a resposta comum ao niilismo, ao que ele chama de absurdo. O absurdo é exatamente a "deproporção que existe entre a intenção humana e a realidade que o espera". O ser pretende algo, mas é barrado, impossibilitado pela realidade, que é sem sentido e sem objetivo. O suicida então, é alguém que perdeu a esperança, não tem mais nada a alcançar pois alcançar o que quer que seja é impossível. O suicida é alguém que confessa que foi ultrapassado pelo sem sentido e entrega o jogo, não através do desespero, mas da desesperança. Essa via só pode ser evitada pela revolta, que admite o sem sentido, mas ainda busca o sentido, sem esperança.
 
Só li Hamlet da lista. Gostei bastante das descrições, e fiquei com vontade de ler Malone Morre.

Odisseia e Poemas de Álvaro de Campos são coisas que já estão na fila há algum tempo. Dos heterônimos do Pessoa, conheço mais Alberto Caeiro.

Enfim, gostei da lista.
 
Chega a ser hilário e ao mesmo tempo constrangedor o quanto somos despidos nessas listas de Top 5, 10 ou 50.

O ponto de interseção óbvio e plangente dessas publicações é a tragédia. Desde que conheço o Kainof percebo que o trágico é o cerne dos seus pensamentos, e ele próprio é um tragediógrafo. A impressão que tenho é que ele está em constante lida com a vida e com ele mesmo, hora lutando pela sua individualidade, hora em dúvida sobre a necessidade de integrar-se na vida a muitos. Kainof repudia o homem-Sísifo, ao mesmo tempo que adere o modo de encarar a vida de Malone e o modus operandi de manifestação crítica de Álvaro de Campos (ele é um poeta!, Pessoa e Ohlweiler). Seu destino não será diferente do de Odisseu, perdido por anos, encontrando-se em si mesmo, senhor de seu intelecto e de seus subjugados.

A união destas maravilhosas obras é a filigrana do pensamento deste amigo que conheço menos do que gostaria e reconheço mais do que o necessário para desvendar sua charada pessoal.

Só pra não fugir do assunto do tópico: no mais, excelente lista! :yep:
 
eu lembro que do camus eu comecei a ler a peste quando era mais nova e achei um saco, depois disso nunca mais tentei. por enquanto me contento em saber pronunciar o nome do cara :dente:
 
Kainof disse:
Melian disse:
A lista do Kainof ganha o respeito imediato do povo das Letras por ter, como 'puxadores da escola de samba', nomes como Homero, Shakespeare e Fernando Pessoa. Boa estratégia, alemão.
Nem é estratégia, é preferência mesmo.
Eu sei, mas no meu caso, foi estratégia, já que o fórum não me deixou postar só o quote. :hihihi:

Tá, agora acho que consigo comentar um pouco a lista. Eu gosto absurdamente de Odisséia, mas não colocaria este livro no meu TOP 5. Talvez eu colocasse em um TOP de Livros Mais Importantes Para a Literatura. Acho engraçado que, ao contrário de muitos, que idolatram Odisseu, interessa-me mais a atuação dos deuses. É claro que a inteligência de Odisseu fascina, mas me fascina, ainda mais, a fonte dessa inteligência: Atena. Mas, paradoxalmente, também gosto de pensar que nem sempre somos "joguetes dos deuses".
 
Também prefiro as aparições e atuações dos deuses, no meu caso deve ser reflexo do meu amor por mitologia, quando literalmente adorava os deuses, principalmente Atena.
 
Esqueci que estava reunindo forças sacais para responder algumas coisas sem necessidade de serem respondidas. Mas...

O ponto de interseção óbvio e plangente dessas publicações é a tragédia. Desde que conheço o Kainof percebo que o trágico é o cerne dos seus pensamentos, e ele próprio é um tragediógrafo. A impressão que tenho é que ele está em constante lida com a vida e com ele mesmo, hora lutando pela sua individualidade, hora em dúvida sobre a necessidade de integrar-se na vida a muitos. Kainof repudia o homem-Sísifo, ao mesmo tempo que adere o modo de encarar a vida de Malone

Tem razão numa coisa: para mim, a existência é pautada pela tragédia. Concordo com a teoria existencialista de que a vida humana é trágica, aglutinadora, como é, de aporias, contingências e angústias (de liberdade, de existência, de tempo). Todas essas provindas de um desejo humano impossível: o de compreender. Nesse sentido é que aparece o absurdo de Camus, a desproporção, o impulso humano de saber e o silêncio do mundo que se cala ante as questões humanas, que não lhe fornecerá respostas, condenando o Homem ao fracasso. Ou seja, à tragédia.

Entretanto, não repudio Sísifo, mas me identifico com ele e o admiro, o torno meu herói, no estrito sentido de que tanto ele como eu estamos ocupados em tarefas titãnicas inúteis, fadados ao fracasso e à frustração. Sobrevém o cansaço, o niilismo. Mas toda ruína inaugura um renascimento, que se realiza através da revolta camusiana: saber da impossibilidade, trabalhar para o nada, para o fracasso, para o fim. Um bater o pé, um agir somente pela vontade que se imprime ao mundo sem sentido. Nesse ponto, Sísifo e Malone se aproximam, pois ambos continuam, apenas prosseguem, sem garantia de eternidade, nem desejo de recompensa ou orgulho de legado, ambos sabem que terminarão, admitem que não podem compreender, mas superam a si e ao mundo para imprimir na existência as suas vontades de durar.

Seu destino não será diferente do de Odisseu, perdido por anos, encontrando-se em si mesmo, senhor de seu intelecto e de seus subjugados.

Móóóóóó. :obiggraz:

eu lembro que do camus eu comecei a ler a peste quando era mais nova e achei um saco, depois disso nunca mais tentei. por enquanto me contento em saber pronunciar o nome do cara :dente:

Também acho difícil resistir à tentação de transformar, na pronúncia de leitura, o nome do cara em Cavaleiro de Ouro... :dente:

Sou um incorrigível cheira-peido do Camus. Gosto de tudo o que leio dele e desde que li O Mito de Sísifo, primeiro dele que li, é meu autor preferido. Tanto que Regente perguntou no twitter, depois de certo tweet meu, se eu colocaria nos meus filhos os nomes de Alberto e Camus. O pior foi que admiti ser uma boa ideia... :tsc:

Enfim, sobre a Peste, é um romance mais longo que os demais, mas mantém o mesmo estilo narrativo de Camus, em que ele se esmera em fazer transparecer no próprio estilo o absurdo, num desenrolar um tanto arrastado mesmo, mas sempre pontuado por reflexões essenciais do pensamento filosófico do autor. Faz tempo que li "A Peste", gostei bastante do livro. Ao contrário de "O Estrangeiro" que expõe mais o aspecto do absurdo, n'A Peste, a ruína atinge o povoado de Oran, minando pouco a pouco as forças da população, destruindo a comunidade e enfraquecendo o coletivo. A Peste é o romance de Camus que trata da revolta, necessária para sobrepujar o absurdo, o dano.

Acho engraçado que, ao contrário de muitos, que idolatram Odisseu, interessa-me mais a atuação dos deuses. É claro que a inteligência de Odisseu fascina, mas me fascina, ainda mais, a fonte dessa inteligência: Atena. Mas, paradoxalmente, também gosto de pensar que nem sempre somos "joguetes dos deuses".

Nesse aspecto, a Ilíada é muito mais rica que a Odisséia. Naquela os deuses atuam diretamente entre e sobre a humanidade. Na Odisseia, os deuses de maior importãncia mitológica, Atena e Poseidon, agem de forma indireta e manipuladora, expondo suas conhecidas rixas e inimizades através de Odisseu. Atena é mais uma quase patrona, no sentido bem do termo patriarcal que é comumente vinculado a ela, alguém que intercede e protege. Mas é dela o segundo epíteto homérico do qual mais gosto: "deusa de olhos garços", dependendo da tradução pode ser "deusa dos olhos verde-água" ou enfim. Só perde para "Aurora de Róseos Dedos"... (sim, eu gosto muito dos epítetos de Homero).
 

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