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Cinco Livros Favoritos com Bartleby

Fúria da cidade

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Introdução:

Quis fazer com essa lista algo diferente, porque como já é difícil escolher um, ou mesmo cinco, livros favoritos de todos os tempos, decidi escolher os livros que me moldaram como o leitor que sou hoje, que me mostraram o que, além de uma boa história bem contada, se pode fazer com uma narrativa, coisa que expandiu minha visão sobre Literatura, e instigou minha curiosidade a descobrir mais do que realmente interessava a mim: a palavra como instrumento para criar novos significados ao que já conhecemos, ver o mundo por um outro ângulo, e, principalmente, ao meu ver, causar pura e simplesmente prazer.

Enfim, sem mais delongas, vamos à lista, sem ordem de preferência:

Crime e Castigo - Fiódor Dostoiévski

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Como disse António Lobo Antunes, um livro bom é aquele que se pega como doença, que se entranha, e você passa a experienciá-lo como se vivesse no mundo fictício criado pelo autor. Assim foi minha leitura de Crime e Castigo; estava começando a saber mais dos grandes nomes da Literatura e Dostoiévski era um deles, daí vi esse romance na biblioteca do ensino médio e peguei para ler e realmente! passei um mês (talvez tempo demais para um livro desse) com a tormenta da culpa de Raskolnikov. Como esse escritor conseguiu me colocar na pele desse personagem danado! E que audácia maravilhosa me pareceu escrever um livro de umas 600 páginas que se sustentam principalmente em atmosfera. Foi mesmo como uma doença, mas uma que, ao sair dela, tampões se desprenderam de meus olhos, e eu vi o mundo doido com toda clareza.[/ISPOILER]

A Paixão Segundo G.H. - Clarice Lispector

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Se Dostoiévski iniciou meu entendimento do mundo interior, Clarice não só aprofundou minha aprendizagem, mas também me fez sentir o êxtase e a loucura desse mundo, me fez tomar ciência dessas paisagens selvagens que se passavam dentro de mim, me deu um nome para elas, e vi na autora uma alma afim. Lispector nos arrasta para um vórtex em que filosofia, angústia, pensamento pictórico, e uma constante epifania se mesclam em magma, nos derrete junto, e nos faz renascer na linda e bruta vestimenta de uma nova pele. É um desses livros "Só para loucos". Adentre nele por sua própria conta e risco.

Macunaíma - Mário de Andrade

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Quebrando um pouco o clima denso, bem, ao menos em termos de temática, trago a explosão extravagante, excêntrica, e divertida que é esse romance. Confesso que não fazia ideia sobre o que, nem como, esse livro era, pensando se tratar de uma dessas obras indianistas românticas, até que a minha professora de Literatura do ensino médio começou a falar sobre o livro, pedindo apenas que lêssemos para um trabalho o epílogo, mas sabem como é, tudo soa mais cativante na voz de um bom professor, aí corri para a biblioteca depois da aula e devorei o livro. Esse coquetel cartunesco delicioso que o Mário soube fazer, ao mostrar nas diversas transformações do personagem principal, nos deslocamentos de forma tão rápida entre estados, como se precisasse apenas de um pulo para se ir daqui para ali, em todo o folclore, o sincretismo de todas as formas (culturais, religiosas, étnicas etc.), em toda a vivacidade que mal se contém nas páginas do romance, misturando gêneros literários e registros e vozes diferentes, como nosso país não é Brasil, mas são Brasis. É uma demonstração de como um perfeito casamento entre forma e conteúdo pode ser feito, instruindo enquanto deleita!

O Amante - Marguerite Duras

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Como podemos capturar momentos de nossas vidas, tanto aqueles que nos definem quanto os mais banais, mas carregados de importância emocional ainda assim? Esse impasse, o de transpor imagens mentais em palavras, recuperá-las, ou melhor, recriá-las — e, no entanto, será isso possível de verdade? o passado que vive conosco todo dia é realmente como foi, em nossas memórias? ou uma fabricação de uma fabricação de uma fabricação, mediada pela passagem do tempo e nossos desejos de ver o que vemos da forma que queremos? —, é um que está no centro desse romance autobiográfico, em prosa direta e elegante. Junto disso a autora traz à tona, sim, como deixa explícito o título, sua iniciação sexual, e a natureza do erotismo, mas também a relação de amor e ódio entre filha e mãe, como ela pode às vezes ser um turbilhão que deixa em seu rastro ternura e cicatrizes, uma confusão de sentimentos que nos informa como seres humanos. Por fim o que me encantou foi a maestria com que Duras soube acumular fragmentos e com eles construir um painel completo, ou assim parece; foi como respirar ar novo ver que uma narrativa não precisa seguir as regras tradicionais, lineares, e formais com que estamos acostumados; e ainda assim sem deixar de ser cativante.

Memorial do Convento - José Saramago

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Pouco se pode falar sobre Saramago que não foi já dito. Seus parágrafos longos; sua ironia ácida e cortante — e muito bem humorada —, em especial quando se trata de instituições religiosas, mais especificamente a igreja cristã; suas digressões que como a voz de um comentador no seu teatro de dramas e farsas por vezes se distancia do enredo, para então voltar a ele com maior autoridade; sua habilidade em simplesmente narrar uma boa história, com personagens críveis, como se os conhecêssemos; um uso de realismo mágico que deixa tudo ainda mais saboroso; e em especial nesse livro uma prosa barroca, que, se pode assustar ainda mais do que o comum de início, com o tempo pega-se o jeito e ela acaba sendo o que mais envolve o leitor: sempre com sede de mais anedotas vindas da voz desse mestre. Mesmo tendo lido há dez anos ou mais, ainda várias imagens estão comigo. Como esquecer a cena em que centenas de homens arrastam um pedaço enorme de mármore para a construção do convento do título, o labor aparentemente infindo e o suor todo, às ordens caprichosas do rei; ou uma cena mais singela em que os personagens principais — o casal Baltasar e Blimunda (que pode ver — e tomar — as "vontades" das pessoas quando elas se vão), e o padre Bartolomeu de Gusmão (que cria uma espécie de avião primitivo, a chamada Passarola, e usa as tais "vontades" para fazê-la voar) — comem junto em volta de uma fogueira; ou uma enorme procissão que, cheia de energia, se arrasta pela cidade; ou o final, trágico mas lindo, agridoce, em que, apesar das adversidades, o amor reina — mesmo que no coração das pessoas. É um dos livros mais lindos que li, que, assim como os demais da lista, não só mostram novos modos de se narrar uma história, mas o fazem de um jeito que encanta!

———

Por fim um adendo: muitos talvez, sem dúvida por conta do meu nome aqui no fórum, estivessem esperando que um certo livro aparecesse, mas não só ele seria óbvio demais, como, da mesma forma que me identifico com o personagem principal, respondo preferindo não escrever sobre ele; mas leiam, e conheçam um pouco mais de mim.

P.S.: As fotos são das edições em que li, apesar de em alguns casos preferir outras mais bonitas.
 
Só li o que o @Bartleby me deu de presente, mesmo :timido: ... Concordo muito com a opinião que ele resgatou do livro, fiquei com a mesma impressão ao ler..

Mas, assim, como a boa professora de Macunaíma, fiquei querendo ler os outros quatro da lista - ou mais ainda o que já estava querendo ler, como Crime e Castigo - depois das ótimas introduções do Bartleby :timido:
 
Já li todos. Deve ser a primeira vez que isso acontece. Mas foram há tanto tempo que parece ter sido noutra vida. :lol:
Lembro que achei o Macunaíma bem xaropinho e O Amante bem... meh. Dos outros eu gostei; mas seria preciso reler tudo pra chegar a uma opinião de fato. Não quero confiar no meu eu de vinte ou quinze anos atrás. :dente:

Ótima lista, seu menino. :joinha:
 
Que lista incrível.

Mais incrível ainda foi sua descrição primorosa de O Amante, livro que ainda não li. Seu texto primoroso me transportou de chofre para Hiroshima, meu amor, com roteiro da própria Marguerite Duras. O filme me passou as mesmas sensações e reflexões descritas por você para O Amante, o que me faz imaginar que essas sensações e reflexões serão ainda mais intensas em uma futura leitura.

É sempre bom conhecer um pouco mais de pessoas que gostamos tanto =]
 
Dessa lista conheço o clássico Crime e Castigo e o Macunaíma que pra mim também foi leitura no ensino médio, que por sinal na época tive que ler as pressas e se relesse hoje, muito provavelmente teria uma experiência melhor.

E sim achei que pintaria o conto Bartleby, o Escrivão do Herman Melville, mas esse só conheço o filme com aquele ator mequetrefe do Crispin Glover interpretando o próprio.
 
Desses só li Macunaíma, que preciso reler pra conferir se mantenho minha opinião negativa ou não. Em minha defesa, tinha 18 quando li. Na boa, tenho problemas sérios com o ensino de literatura brasileira: o problema não é ensiná-la, mas os livros e os métodos usados.
 
Só li o Macunaíma também. Quando o li já não estava mais na escola. Não gostei.
É um livro que, pra época bem que foi lançado e com o propósito que tinha ao ser lançado, faz sentido. Mas que hoje, pouco me agrega.
Acho que a leitura teria sido mais proveitosa se eu tivesse lido na escola mesmo. No contexto de história da literatura. Mas quando o li, já tendo tido contato com um monte de outras coisas posteriores, a mim ele já não quebrava mais nada.
 
Essa é a primeira lista em que não li nada, nada mesmo, na época da escola quase li Macunaíma, mas ainda bem a professora por falta de tempo nos obrigou a ver o filme.
:shock:

Juro que nunca conectei o Nick do Fúria com algum livro.
 
Gostei bastante dessa lista.
Não só por ter Dostoiévski, mas por conter Macunaíma, que quebra bastante o tom sério dos outros livros.
A algum tempo peguei essa mesma edição dO Memorial para ler, mas, enrolado com leitura como estou, resolvi deixar para depois.
 

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