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Cinco Filmes Favoritos Com Mavericco

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Cinco Filmes Favoritos Com Mavericco



Cidadão Kane
--
1941, de Orson Welles.

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Um clássico absoluto do cinema, Cidadão Kane possui, em termos compactos e para além de seus méritos técnicos revolucionários, uma excelente história contada de forma excelentemente, isto é, uma história que se utiliza de fato e inegavelmente dos instrumentos cinematográficos, pondo abaixo qualquer forma estéril de redução da sétima arte à sexta.

Além disso, o tema da história em-si, já dissecado inúmeras vezes, já posto em comparação com grandes nomes (Proust, Fernando Pessoa etc), seria por si só capaz de gerar uma discussão sem fim, para me usar de um jargão sempre usado quando nos deparamos com algo que já disse tudo -- ou seja, que o passado é um produto a um só tempo individual e social e que nossa personalidade social, como dito por Proust, é uma criação do pensamento alheio.

Mais ou menos como a cena de Susan montando um infindável quebra-cabeças, uma das minhas preferidas no filme todo. Pois não é irônico que ela busque montar uma cena em seus mínimos e complexos detalhes quando está junto de um dos donos do mundo, praticamente? Quando mora em Xanadu? Quando percebe que está entediada e que, além e aquém do que está lá fora, é tudo a mesma coisa, é tudo pura e simplesmente um espetáculo cheio de som e fúria, significando nada se nós mesmos não significamos nada?

Tudo o que restou foi um pequeno globo que, no começo do filme, rola e se espatifa. "(...) the great globe itself, / Yea, all which it inherit, shall dissolve / And, like this insubstantial pageant faded, / Leave not a rack behind. (...)", para citar Shakespeare, autor da preferência de Welles.

Cyrano de Bergerac -- 1950, de Michael Gordon.

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Cyrano de Bergerac é talvez minha peça preferida. Mas, como tentarei falar um pouco mais na minha justificativa ao filme 3, muito do que já se foi produzido de Cyrano de Bergerac, por ser o texto um texto teatral, foi "perdido".

Para a TV ou o cinema, recebeu nomes como Derek Jacobi e Gèrard Depardieu. Mas, se estamos falando de cinema, o embate acaba ficando entre Depardieu e José Ferrer, este último vencedor de um Oscar (apesar de Jacobi ser meu favorito).

Um devido Oscar, a meu ver. A atuação de Ferrer é realmente impressionante, em especial em algumas passagens clássicas como a cena do Nariz, o Duelo, a dos Métodos de Viagem à Lua ou o Final. E, por mais que em algumas passagens eu julgue que ele errou a mão (o "Non, merci" ou a cena do balcão), ou por mais que a versão de Rappeneau faça um uso mais amplo das ferramentas cinematográficas (veja-se o quarto ato), a versão de Ferrer, no cômputo geral, em especial o das atuações e do encantamento capaz de gerar em nós, está um passo à frente. Devidamente, um passo à frente.

Ricardo III -- 1965, de Laurence Olivier.

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Laurence Olivier é considerando um dos maiores atores teatrais do século XX. No campo de Shakespeare ele quase atingiu a unanimidade, a perfeição. No entanto, como o teatro é uma arte baseada no efêmero, ou seja, está muito mais próxima da vida do que qualquer outra forma de arte, é natural que o que reste de todos os grandes nomes teatrais do passado seja apenas uma lembrança. Seja, como diz Drummond em Eterno: "(...) tudo aquilo que vive uma fração de segundo / mas com tamanha intensidade que se petrifica e nenhuma força o resgata".

O cinema conseguiu resolver a maior parte desses "incômodos estruturais" do teatro graças à sua reprodutibilidade técnica. E é graças a isso que podemos assistir a algumas atuações ou montagens teatrais mesmo tanto tempo depois. Ou mesmo pouco tempo depois da ribalta cair, entre um dia de apresentação e outro, e assistirmos outro espetáculo, entre um dia e outro. Naturalmente que não com a mesma força; e naturalmente também que muitas dessas incursões, por mais que contassem com um elenco inegavelmente espetacular, não logrou sucesso enquanto cinema (pois cinema não é apenas "teatro filmado").

No caso da carreira cinematográfica de Olivier, em alguns momentos a ideia que temos é justamente isto: a de "teatro filmado", erro em que muitas versões de Shakespeare para o cinema costumam incorrer, com exceção, é claro, de nomes ilustres tal como o Macbeth de Orson Welles [1948], talvez o melhor Shakespeare pras telonas. É o que vemos no Otelo de 1965 -- por mais que seja espetacular ver Olivier encarnar Otelo, a sensação que temos é a de assistirmos uma filmagem amadora feita dentro do teatro (pra se ter uma ideia, até mesmo a maquiagem de Otelo é teatral, o que faz com que, vista de perto, ela até mesmo pareça ridícula).

No entanto, assim que Olivier consegue se utilizar com melhor aproveitamento dos elementos cinematográficos, e ao mesmo tempo preservar, diria adaptar, sua interpretação às necessidades cinematográficas -- nesses casos, Olivier alcançou seus melhores feitos. E é a partir da união destes dois: atuações em-si, especialmente a dele mesmo, Olivier, e mínimo uso das ferramentas do cinema; é a partir da união destes dois que escolhi esse filme como um de meus favoritos. Porque ele, de fato, é.

Laranja Mecânica -- 1971, de Stanley Kubrick.

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Ainda não li o clássico de Burgess, mas o filme de Kubrick é de fato impressionante. Nunca entendemos ao certo porque Kubrick é Kubrick, em grande parte porque, para entender porque Kubrick é Kubrick, precisamos entender tecnicamente o cinema (e o cinema não deixa de ser uma arte sofisticada por nascença). Mas também não costumamos entender porque T. S. Eliot é T. S. Eliot ou porque Van Gogh é Van Gogh. Muito antes de darmos uma explicação clara sobre isso, somos capazes de sentir uma explicação obscura, mas muito mais duradoura, que nos faz dizer: "então é isso!"

Disse reiteradas vezes ao longo dessa lista que no cinema o uso das ferramentas cinematográficas é algo crucial para se definir o que é um bom cinema. Não basta escolhermos boas atuações, se o uso do cinema, em tudo o que ele compreende de amplo, não for também amplamente usado. E Laranja Mecânica, do Kubrick, assim como Cidadão Kane, é um filme que mostra isso de forma claríssima.

Em primeiro lugar pois qualquer tentativa de dizer que o "livro é melhor" é, pura e simplesmente, uma inocência. Não é simplesmente uma tradução nem tampouco uma adaptação -- é uma recriação. As experiências que o livro nos dá são experiências literárias, e Kubrick não quis simplesmente filmar experiências literárias concretizadas. Cinema não funciona assim. Kubrick fez o enredo do livro, a tessitura dele inteiro se passar numa experiência cinematográfica, o que inúmeras passagens clássicas ao longo do filme apenas pontuam de forma, é claro, clássica.

Gosto, em especial, do clima de tédio que a todo momento o filme consegue transmitir. Às vezes assisto até mesmo a cena de estupro com um tédio incômodo... um tédio que julgo maior que o de ver Alex enfiando a cara num prato de macarrão. Acho que a única quebra disso é quando lhe arreganham os olhos, numa cena perturbadora, talvez a mais perturbadora do filme todo, pois é "apenas" nela que somos também obrigados a ver. A assumir, num funcionamento em tudo análogo ao funcionamento dos romances, como que a mente de Alex, sua dor, seu impacto, e não mais sua dor ou seu impacto intermediados por um narrador. Tudo o que sobra são os olhos recebendo doses insanas de colírio e uma tela, um filme dentro de um filme (mas mais próximo e menos próximo da realidade ao mesmo tempo, pois o que importa é a dor de Alex, a nossa e não mais a nossa). E o nosso horror não sabemos do quê -- da guerra no telão, numa instituição em tudo análoga ao nazismo?, dos gritos de Alex?, da conversa dos funcionários?

De nós mesmos?

Eclipse de uma Paixão -- 1995, de Agnieszka Holland.

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A história de vida de Arthur Rimbaud é, por si só, cinematográfica. Revolucionar profundamente a literatura num espaço de 16 aos 19 anos e terminar seus dias como traficante de armas na África.

A atuação de DiCaprio caiu como uma luva. Ou, para fugir desses chavões que, como diz Roland Barthes, não fazem jus exato à arte do ator (isto é, objetivo não é "encarnar", mas interpretar), conseguiu incutir um sentimento de liberdade indômita e ao mesmo tempo um temor, uma devoção secreta a essa mesma liberdade que, como diz o poeta n'A Canção da Mais Alta Torre: "Temor e dolência / Aos céus ofereço, / E a sede sem peias / Me escurece as veias."

O final do filme ficou um pouco nublado. Cacofônico, eu diria. Seria de maior monta, a meu ver, se o diretor tivesse simplesmente terminado o filme sem mostrar o fim dos dias de Rimbaud na África. Pois se o objetivo principal do filme parece ter sido o de mostrar a relação conturbada entre Rimbaud, Verlaine e Mathilde (como muitos pôsteres do filme atestam), acho que demonstrar o triste fim do poeta foi um movimento desnecessário.

A cena do tiro (a atuação jocosa e depois infantilmente espantada de DiCaprio é incrível), como que numa paga à cena ritualística da faca, creio que seria uma boa hora para pôr fim ao filme, com apenas alguns apontamentos posteriores do jovem Rimbaud concluindo as Iluminações no celeiro da casa da mãe até o momento em que decide, como o Barco Bêbado de um de seus mais célebres poemas, se libertar de seus rebocadores e seguir livremente a vida em direção à morte: "Da Europa a água que eu quero é só o charco / Negro e gelado onde, ao crepúsculo violeta, / Um menino tristonho arremesse o seu barco / Trêmulo como a asa de uma borboleta."
 

Anexos

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As justificativas me deixaram com vontade de ver os filmes (só vi Laranja Mecânica da lista)
 
Infelizmente só assisti o Cidadão Kane. Quero assistir o Cyrano, o Ricardo III e o do DiCaprio, o Laranja Mecânica não me interessa.
 
Essa lista me fez ter vontade de rever Cidadão Kane. Só vi uma única vez há mais de 20 anos e ainda assim perdendo aproximadamente os 10 minutos iniciais.
 
Legal que vocês gostaram da lista! :joy:

Esse filme do DiCaprio eu achei que ficou bem legal mesmo. Pra quem gosta de Rimbaud, é uma maravilha... :grinlove:

(E pra quem não gosta ou não conhece, aí uma ótima forma de redenção =D)
 
Dando um Phoenix Down no tópico, acho que remanejaria minha lista. Cidadão Kane, Ricardo III e Laranja Mecânica continuam firmes e fortes, mas o Cyrano e o Eclipse eu já não sei... Depois que me aprofundei pra valer na obra do Rimbaud pra escrever o tópico, não consigo deixar de ver com uma certa superficialidade a abordagem da Holland. Acho que, hoje, eu trocaria os dois por um Kurosawa e um Woody Allen. Do Allen eu colocaria o A Rosa Púrpura do Cairo e do Kurosawa eu colocaria o Rashomon. Se pá eu escrevo uma justificativa pra escolha desses dois novos e posto aqui. Ainda estou absorvendo direito algumas coisas que li a respeito do cinema do Allen e do Kurosawa :yep:
 
Acho que Cyrano se sustenta basicamente pelo Ferrer, que aliás teve uma atuação impressionante como Toulouse Lautrec onde atuou de joelhos.

Esse do Di Caprio também não conhecia. Mas não gosto dessa fase "rostinho bonito" dele. Mas deve ser interessante pela biografia.
 

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