Credo, que cara chato
Literatura não
tem que ter entretenimento. O escritor quer até passar algo (sei lá o que) para o leitor, mas não vai ficar fazendo palhaçada só para agradar o leitor. Isso sim o torna desinteressante.
O interessante não é algo quantificável (ainda), mas dá para definirmos qualitativamente o que é interessante, quando pensamos em termos de gente.
Gente que fica pendurando melancia no pescoço não é interessante.
Gente que acrescenta em alguma discussão, que quer fazer alguém rir com alguma careta é interessante.
O primeiro tipo quer que o resto do mundo perceba que ele existe, que DÊ importância para ele - ele QUER ALGO do mundo para ELE sentir-se melhor. O segundo tipo OFERECE ALGO para o mundo (um ponto de vista, uma chance de rir) porque algo falta para O MUNDO ser melhor.
Em termos de literatura, se ela se baseia apenas em entretenimento, se torna ópio. Não há evolução de leitor de Sabrina, não há evolução de alguém que só lê volumes enormes como os de HPotter, não há evolução em fanáticos torcendo por times de futebol, ou telespectadores compulsivos de novela (mesmo que seja remake de mexicana)
O fornecedor do ópio não vai ter interesse que o consumidor mude de gosto. Porque ele não consegue fornecer outra coisa. Ele não sabe fornecer outra coisa.
E é interessante para a pessoa que está entretida? Bem, SE fosse, ela com certeza lembraria da bagaça, sabe?
Mas quantas vezes já não vi meu pai viciado em bang-bang à italiana e eu falava "mas de novo essa estória? os outros dois vão morrer e o cara vai continuar no deserto com o bebê e termina assim e você não lembra depois de 7 vezes vendo o mesmo filme?"
Ou para minha mãe assistindo a novela Esmeralda que é na verdade Topázio, e eu falo "agora vai acontecer isso e isso porque a gente já viu isso uma vez! Mas você não se lembra!"
Ah, mas como eu me lembro então? Porque eu incuti o interesse em mim mesma pela joça (porque senão morreria de tédio tendo de assistir com família). E em minha experiência pessoal, percebi que essa NECESSIDADE de entretenimento/ópio bloqueia muitas pessoas a incutir prazer em coisas "obrigatórias".
Então o que acontece é que coisas que deviam dar prazer como escolher o que quer ser quando crescer se tornam angústias, com o peso de não ser entretenimento, mas sim obrigação. Quantas pessoas ficam contentes em trabalhar no que fazem? Mesmo tendo a chance de escolher o que fazem!
Outras consequências: as pessoas vêem fantasia fantástica necessariamente algo a ver com dragões e fadas, mas dificilmente pensam como Emily Bronte ou Italo Calvino. Elas diminuem todo o potencial criativo que existe na cabeça de qualquer ser humano, digo criança que existiu, limitam a si mesmas.
Entretenimento tão somente? É anestésico. Não é interessante porque se fosse ficava na cabeça (e já vi que não fica!)
Coisas interessantes não são anestésicas (mesmo quando fazem rir). Elas incomodam, mexem com algo dentro da gente. Marcam.
Então em termos de gente com melancias e gente interessante: o primeiro tipo quer que a gente dê valor para eles, quer GANHAR algo (amizade, clientes para ópio que vendem). O segundo tipo não se preocupa que dêem valor para ele, mas as pessoas acabam dando valor para ele porque ele mais OFERECE algo que intuitivamente sabemos que é importante.
Irônico... agora penso que todos nós damos mais $$$ para os traficantes, em todos os sentidos. (Ratinho, novelas Sabrina, games RPG com limitacoes, etc).