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Chamego, Rapadura & Forró

JLM

mata o branquelo detta walker
[size=x-large]CHAMEGO, RAPADURA & FORRÓ[/size]
Por Jefferson Luiz Maleski



O luar dava forma à imensidão do sertão revelando e escondendo a vegetação seca e esparsa, as pedras quais vultos que observavam caladas e a estrada de chão batido que só sabia brilhar e perder-se no horizonte. E os dois amigos, abraçados, caminhando trôpegos e barulhentos.

- Hoje eu sou o ómi mais filiz do mundo, Quinzinho! – e apontou uma garrafa na frente do rosto do outro – segura a pinga que euvô ali mijá um poquinho.

- Glub, i pruquê, glub, dessa aligria, glub, toda?

- Ara, só me fala uma coisa, Quinzinho, num foi a maior festança que tu já viu na vida não?

- Ah, isho foi. (arrôto)

- Pois então, festa como essa vai entra pra história da região, us mininu de hoje quando fô véi vai tudo conta pros mininu que nem nasceu ainda como foi porreta a gafieira dessa noite enluarada, deixanu ess tudo murrenu dinveja.

- Mas pru modiquê vosmicê, glub, gosthou tantho assim da festha, Titonho?

- Ara, i ocê num tava lá não pra vê tudo que si assussedeu di bom? Pra começá, eu nunca na vida tinha visto tanta banda boa de forró, Quinzinho. Tinha aquele tar de Elvispreslêi da Silva, que veio lá das banda do norte, com aquela dança de quebrá as cadeiras. Eu mesmo vi ele quebranu umas três. U ómi tava impossíver. Depois que tiraram os pedaços das cadeiras entrou outras banda retada que custuma tocá lá pra dispois do laguinho, os tar de Besouros. Vish maínha, eu quais fiquei tonto de tanto arrodá cantando Ah o ano a rolha o rééééé, ah o ano a rolha o rééééé. E pra fechá cum chave di ôro veio o Rolinho Uínston e satisfez todo mundo com as múrsica do pangaré brabu, a do trato cum o cramunhão, a do…

- Tithonho, ic, essa úrtima aí eu num gostei não, ic.

- Ara, isso é pruquê você é beato e só pensa em inchê a pança i isquece di dançá cas moça bunita.

- Mas é qui as raphadura tava da gota serena, Tithonho. Vai dizê quioscê num deush uma ixperimentadhinha nelas tamém?

- Ara, craru qui eu comi as rapadura da dona Maria Joana. Eu precisei, num foi? Tive de adoçá o bico e criá corage pra chamá a filha do seu Neno pra dançá. Ô mulé qui mi deixa cas perna bamba, sô! Foi só dispois de uns cinco pedaço é que foi crescenu a coragem lá no meu istomo, crescenu i crescenu até qui quando eu vi já tava na frente dela.

- I disphois, ic?

- I dispois qui eu dancei agarradinho com ela até o pai dela separá nóis pra modimbora. Ê lasquêra. É por isso, Quinzim, que eu digo que festança como essa nunca teve antes por estas banda. Posso até dizê que todas as ôtra festa que aparecerem daqui pra frente vão imitar essa di hoje. Espera só procê vê.

- Tithonho…

- Diga, Quinzinho.

- Será que existhe nesse mundão de Deus coisa melhor que chamego, rapadura e forró?

- Ói, se existe eu não sei não, mas se existir com certeza devem ter levado daqui. I passa pra cá essa garrafa que eu vô esvaziá o resto da mardita antes quiocê beba ela toda sozim.
 
cramunhão?! O que é isso? Comunhão? O dito cujo tinhoso pé partido anjo caído capeta satanás?

Dança de quebrar as cadeiras... E depois de quebrá-las ainda requebra. Bão dimais da conta, sô! Êita festão! Nem tem Chico Buarque. Tem é Chico Bento. Vou ficar de Chico Science.

Gostei muito do diálogo. Não foi necessário nenhum narrador. Isso é bom. Alguns diálogos deixam muito de fora. São nessas horas que um filme consegue superar um livro. Sem contar que, como Mário de Andrade escreveu em Macunaíma, os escritores têm mania de escrever diferente do jeito que falam. Como se ninguém ficasse sem palavras quando está fazendo um discurso improvisado. Como se pessoas não arrotassem, nem tossissem, nem ficassem com a língua travada enquanto falam.
 
rodovalho, só precisei do narrador no início, para descrever o cenário, coisa q seria + trabalhosa se tentasse dentro do diálogo. e espero q o tema "sexo, drogas & rock'n roll" tenha ficado claro, embora implícito.

ah, cramunhão é a típica palavra q vc só fica conhecendo se morar na região onde ela é usada ou se procurar no google. ainda ñ botaram ela nos dicionários.
 
O diálogo ficou engraçado, na minha opinião. Mas tem algo que eu admiro muito, que é a naturalidade, bem típico mesmo.

E de onde vem 'cramunhão'...?
 
google

Lu Eire disse:
E de onde vem 'cramunhão'...?

o oráculo google diz:

nos livros de Monteiro Lobato a personagem Tia Nastácia falava muito.

Ela se referia a cramulhãozinho ou caramulhão ou cramunhãozinho para falar de um diabinho.

No nordeste parece que a referência é à figura do mal mesmo.

já eu ñ posso confirmar a informação sobre o monteiro lobato pq nunca li nada dele.
 

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