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Chama Imperecível e Pré-Socrática

Fëaruin Alcarintur ¥

Alto-rei de Alcarost
No nosso mundo, é (ou era) função da filosofia buscar um princípio único para tudo. A busca da arkhé (que é grego para, entre outras coisas, "comando"); essa busca reside na esperança de encontrar algo (a arkhé/princípio único) que ordene, dirija, guie todas as coisas; em suma, a physis, que significa em literal, natureza; mas o significado filosófico de physis é melhor representado como sendo gênese, origem, manifestação. Esse era o tema desenvolvido pelos primeiros filósofos, a Escola de Mileto, que viriam a ser chamados pré-socráticos.

Tales, considerado o primeiro filósofo na tradição clássica, cria que a água era a tão louvada arkhé; nesse elemento, a physis (existência, "realidade") teria seu princípio único. Segundo o filósofo, a terra era originada a partir do resfriamento e densificação da água; de seu aquecimento, porém, vêm o ar e o vapor, que retorna como chuva, dando início a um ciclo. É claro que essa idéia tem muitas dificuldades, que não convém, contudo, discutir aqui.

Anaxímenes, também da Escola de Mileto, dizia que a arkhé, que comanda a physis, é o ar, um elemento não tão palpável e nem tão abstrato. Para Anaxímenes, tudo vem do ar; do ar rarefeito vem o fogo, de formas cada vez mais condensadas do ar vêm a água, a terra, etc. O ar é vida e respiração; tudo o que existe é resultado das variações mais inúmeras desse único e singular elemento.

É em Anaximandro, contudo, que parece residir a maior aproximação com o conceito de arkhé em Tolkien; se tomarmos, é claro, como arkhé, a Chama Imperecível, tão desejada por Melkor e, poder-se-ia dizer, pelos próprios filósofos ("amantes da sabedoria/conhecimento"). Anaximandro, também representante da Escola de Mileto, seria o outro extremo dos três cabeças pré-socráticos (Tales, Anaxímenes e Anaximandro). Tales é o extremo da materialidade, do concreto; Anaxímenes é o meio-termo entre os colegas; e Anaximandro o extremo da eterealidade.

Anaximandro diz que o princípio único, a arkhé da physis é o chamado ápeiron, que pode ser traduzido como "indeterminado" ou "ilimitado"; conceito que muitos que tentam esclarecer-se sobre a Chama Imperecível parecem aceitar, sabendo dizer o que ela seria, mas sem saber como concretizá-la de fato, em primordial.
Como a Chama, o ápeiron é eterno. Algo totalmente abstrato em primórdio; responsável, todavia, pela physis, mas sem se fixar diretamente em nenhum elemento palpável da natureza, da própria physis. Ao contrário do conceito de Tales, a idéia de Anaximandro é muito mais livre tanto no âmbito interpretativo como de aceitação como princípio de tudo.

Dessas três visões da ilustre Escola de Mileto, é a de Anaximandro, indubitavelmente, a que se correlaciona, ou ao menos se aproxima, com o conceito de Chama Imperecível como sendo responsável pela existência. Em Tolkien, a arkhé, o ápeiron de Anaximandro, é nada mais que a própria Chama (e não Eru, como se poderia pensar em prima), enquanto que a physis seria Eä como um todo de realidade, existência, Tempo e Espaço, passível de manipulação. A própria manifestação do ideário de Eru Ilúvatar.

É estranho pensar em Tolkien usando de um pensamendo filosófico, já que a filosofia e o mito opõem-se conceitualmente; é engraçado notar, entretando, que ao se tentar responder algumas questões pela via da filosofia, acabamos nos aproximando do mito. Do pensamento dos pré-socráticos, podemos fazer uma pequena analogia ao mundo tolkieniano e sua própria filosofia imersa e inerente ao seu mito. Ironicamente, tanto em Tolkien como no nosso próprio mundo, a filosofia parece trazer ainda mais perguntas quando tenta elucidar as anteriores.

Por ora, é só. :D

Namárië!!
 
Almarë nobre Fëaruin, rei das terras de Alcarost! :)

Usando uma tradução conveniente, estaria me referindo à archés ao invés de arkhés.

A busca dos pré-Socráticos pelas archés foi nada se não a busca pela explicação do mito. Se este não existisse, a ciência não existiria. Conseqüente do próprio instindo do homem, o mito surgiu para fazer o papel que hoje busca a ciência: explicar. Inerente de nossa natureza, existir sem saber é agonizante. Um exemplo é este mesmo fórum, todos estamos aqui para tentar revelar os mistérios contidos num mundo que não é outro se não o nosso, em uma forma mítica.

A ciência seria uma evolução do mito. As ciências químicas, físicas e biológicas, em particular, no início de seu desenvolvimento, buscavam explicar o que o homem duvidava que o mito dizia. Graças a céticos, hoje temos muitas explicações do que era a ira de Zeus ou a ferocidade de Poséidon. A dúvida do que afirmavam os mitos com tanta certeza nos levou a buscar respostas, levou os filósofos a buscara as archés.

Envolta de finas camadas de névoa, no Legendarium já temos a arché dada. A Chama Imperecível está em tudo e em todos, como afirmam os escritos do Professor. Sendo ela algo que dá a vida, cria, ela não pode ser senão uma manifestação do próprio Eru, como é. Não diga que ela é o Uníco, mas sim uma manifestação dele, a origem de toda a vida, e sim o elemento formador de tudo o que é, através da Chama Imperecível.

Ainulindalë disse:
He had gone often alone into the void places seeking the Imperishable Flame; for desire grew hot within him to bring into Being things of his own, and it seemed to him that Ilúvatar took no thought for the Void, and he was impatient of its emptiness. Yet he found not the Fire, for it is with Ilúvatar. But being alone he had begun to conceive thoughts of his own unlike those of his brethren.

Tradução Livre disse:
Ele fora diversas vezes sozionho ao Vazio a procura da Chama Imperecível; pois ele deseja ardentemente trazer coisas de seu imaginário para a existência, e para ele parecia que Ilívatar não pensava sobre o Vazio, e ele ficava impaciente com sua eternidade de inexistência. Ainda nada do Fogo ele achara, pois este está com Ilúvatar. Mas, sozinho, ele partiu a conceber pensamentos próprios, diferente daqueles de seus irmãos.

A Chama estava com Ilúvatar pois, ao meu ver, era o próprio. Quando ela fora mandada para o Vazio, era uma manifestação deste criando a vida, dando ao Vazio alguma existência, tão desejada por Melkor. A Chama, que era a fonte de toda esta, era a arché de Tolkien.

E, apenas discorrendo um pouco sobre filosofia, não buscar apoio em mitos era uma característica predominante nos pré-Socráticos. Os pós-Socráticos buscavam apoio nestes sempre, usando-os como alegoria. O exemplo mais famosos é justamente de um de seus discípulos, Platão, que criou o "Mito da Caverna".

Namarië melin nildo! :D
 
Assim... eu não sou um mestre em filosofia, mas vejo a chama mais perto da definição de "Motor non motus" de Aristóteles.

Aquilo que move o mundo... a origem de tudo.

Isso vai até de encontro com a Teoria católica do Ainundalë. A Igreja católica tem sua visão de Deus totalmente Aristotélica influenciada principalmente por Santo Agostinho.

É bem a visão que eu tenho da chama imperecível. Algo inatingivel, origem de tudo. Causa sem consequencia.
 
Aiya, Goba!

Goba disse:
A busca dos pré-Socráticos pelas archés foi nada se não a busca pela explicação do mito. Se este não existisse, a ciência não existiria. Conseqüente do próprio instindo do homem, o mito surgiu para fazer o papel que hoje busca a ciência: explicar. Inerente de nossa natureza, existir sem saber é agonizante. Um exemplo é este mesmo fórum, todos estamos aqui para tentar revelar os mistérios contidos num mundo que não é outro se não o nosso, em uma forma mítica.

A ciência seria uma evolução do mito. As ciências químicas, físicas e biológicas, em particular, no início de seu desenvolvimento, buscavam explicar o que o homem duvidava que o mito dizia. Graças a céticos, hoje temos muitas explicações do que era a ira de Zeus ou a ferocidade de Poséidon. A dúvida do que afirmavam os mitos com tanta certeza nos levou a buscar respostas, levou os filósofos a buscara as archés.

Não é a explicação do mito, não é essa a busca dos pré-socráticos; pelo contrário, a busca deles é de responder a certo questionamento sem precisarem se calcar justamente no mito.

Concordo e sei que o mito surge da ineptidão do homem em explicar certos fenômenos; aspectos da própria physis que não se conseguia justificar sem recorrer a algo divino, ou, escolhendo melhor a palavra, mítico mesmo. Foi a própria disposição do homem em derrubar sua própria criação (o mito) que fez surgir a ciência. O inconformismo de uns evoluiu ao ponto de buscar uma resposta, aqui, recorrendo ao ceticismo, palpável.

Goba disse:
Envolta de finas camadas de névoa, no Legendarium já temos a arché dada. A Chama Imperecível está em tudo e em todos, como afirmam os escritos do Professor. Sendo ela algo que dá a vida, cria, ela não pode ser senão uma manifestação do próprio Eru, como é. Não diga que ela é o Uníco, mas sim uma manifestação dele, a origem de toda a vida, e sim o elemento formador de tudo o que é, através da Chama Imperecível.

Exatamente, uma manifestação do próprio Eru, não ele. Temos a arkhé tolkieniana dada graças à liberdade do Professor em criar o mito, somente isso; sem ler o que o Professor escreveu que era aquilo, estaríamos no mesmo, desespero, pode-se dizer, que os filósofos têm no "mundo real". Querendo ou não, contudo, a Chama Imperecível chega a ser, de certo modo, inconcebível quando pensamos nela no estado prímevo, ou seja, sem que a própria Existência tivesse início; é algo absolutamente abstrato, como o ápeiron de Anaximandro.

Agora, caminhemos ao pós-início da Existência; nela, a Chama existe em tudo e tudo é. Ao mesmo tempo, poder-se-ia dizer, a Chama é tão concreta quanto abstrata. Nesse sentido, podemos aproximar o conceito de Chama com o conceito de arkhé de Anaxímenes, desde que ampliemos a idéia do filósofo no sentido de crer não que a Chama seja o ar, mas que a Chama é algo concreto e abstrato; no mais, um meio-termo entre Tales e Anaximandro.

No estado primordial, contudo, repito-me ao dizer que o conceito de Chama se aproxima da idéia do ápeiron de Anaximandro.

Goba disse:
Ainulindalë disse:
He had gone often alone into the void places seeking the Imperishable Flame; for desire grew hot within him to bring into Being things of his own, and it seemed to him that Ilúvatar took no thought for the Void, and he was impatient of its emptiness. Yet he found not the Fire, for it is with Ilúvatar. But being alone he had begun to conceive thoughts of his own unlike those of his brethren.

Tradução Livre disse:
Ele fora diversas vezes sozionho ao Vazio a procura da Chama Imperecível; pois ele deseja ardentemente trazer coisas de seu imaginário para a existência, e para ele parecia que Ilívatar não pensava sobre o Vazio, e ele ficava impaciente com sua eternidade de inexistência. Ainda nada do Fogo ele achara, pois este está com Ilúvatar. Mas, sozinho, ele partiu a conceber pensamentos próprios, diferente daqueles de seus irmãos.

A Chama estava com Ilúvatar pois, ao meu ver, era o próprio. Quando ela fora mandada para o Vazio, era uma manifestação deste criando a vida, dando ao Vazio alguma existência, tão desejada por Melkor. A Chama, que era a fonte de toda esta, era a arché de Tolkien.

Justamente esse um de meus pontos; sem dúvida, a Chama é a arkhé de Tolkien; não seria tão seguro em afirmar, contudo, que Ilúvatar e a Chama são a mesma coisa; mas um manifestação do outro. Melkor jamais encontraria a Chama pois ela existe, também, nele mesmo; esse foi um dos erros dele. A Chama é a própria existência, de certa forma, o princípio único de toda a physis (como gênese, realidade); Tudo existe porque a Chama existe. Se Eru originou a Chama ou a Chama é Ele, isso é outra discussão, todavia, existindo Eru ou não, Nada existiria se não existisse a Chama. É por isso que a Chama que é o arkhé, e não Eru.

Goba disse:
E, apenas discorrendo um pouco sobre filosofia, não buscar apoio em mitos era uma característica predominante nos pré-Socráticos. Os pós-Socráticos buscavam apoio nestes sempre, usando-os como alegoria. O exemplo mais famosos é justamente de um de seus discípulos, Platão, que criou o "Mito da Caverna".

Sim, eles buscavam apoio somente como alegoria, nunca como explicação; o próprio conceito da filosofia já se opõe ao do mito; a aproximação de ambos, contudo, é evidente.

No entanto, a idéia do tópico é permanecer na pré-Socrática mesmo. :wink:
 
Fëaruin Alcarintur ¥ disse:
Não é a explicação do mito, não é essa a busca dos pré-socráticos; pelo contrário, a busca deles é de responder a certo questionamento sem precisarem se calcar justamente no mito.

A busca por uma explicação que não a do mito é justamente opôr-se a este, discordar, isto é, duvidar da veracidade do mesmo. Sendo assim, a ciência surgiu duvidando do mito, ou seja, para explicar de maneira lógico o que o mito explicou de maneira mítica.

Fëaruin Alcarintur ¥ disse:
Justamente esse um de meus pontos; sem dúvida, a Chama é a arkhé de Tolkien; não seria tão seguro em afirmar, contudo, que Ilúvatar e a Chama são a mesma coisa; mas um manifestação do outro. Melkor jamais encontraria a Chama pois ela existe, também, nele mesmo; esse foi um dos erros dele. A Chama é a própria existência, de certa forma, o princípio único de toda a physis (como gênese, realidade); Tudo existe porque a Chama existe. Se Eru originou a Chama ou a Chama é Ele, isso é outra discussão, todavia, existindo Eru ou não, Nada existiria se não existisse a Chama. É por isso que a Chama que é o arkhé, e não Eru.

O fato da Chama existir em todos, determinando essa existência é justamente o que a torna uma expressão de Eru. Seria algo como sua obra de arte: sem a existência do criador, não haveria de ter a criação. Portanto, se sem a existência da Chama não existiria nada e sem a existência de Eru nada também existiria, suponho que a Chama, fonte de existência, é uma manifestação de Eru, fonte de toda existência.

Sim, eles buscavam apoio somente como alegoria, nunca como explicação; o próprio conceito da filosofia já se opõe ao do mito; a aproximação de ambos, contudo, é evidente.

No entanto, a idéia do tópico é permanecer na pré-Socrática mesmo. :wink:

Nunca disse que filosofia e mito eram unidos. Mas disse que a filosofia surgiu justamente para contrariar o mito, explicando-o. Do mito, portanto, surgiu a razão.

Ainda, mesmo que o mito usado pelos filósofos fossem alegorias, o que, afinal são uns mitos, se não uma grande alegoria da vida?

Cuio mae! :D
 

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