Acho que sim, Gabriel.
Ambos são romances de formação. Parece que o Soseki investiu muito nisso. Através da vida dos estudantes ele vai tratando de temas relativos à modernização do Japão.
O Sanshiro é mais focado na vida estudantil e nas relações do personagem com as pessoas que conhece em Tóquio. É mais leve, mesmo envolvendo um tema como solidão, e a prosa mais cuidada. Soseki parecia procurar um esteticismo aqui, principalmente nas cenas ligadas à Mineko, um dos interesses amorosos do protagonista.
Já Coração tem um romance de formação dentro de outro. Achei ele um pouco mais pesado, envolve mortes, solidão, isolamento e incomunicabilidade humana, conflito de gerações, corrupção/perda da inocência, sem falar nas mudanças sociais do Japão. Soseki parecia ver com o fim da Era Meiji, o fim da superioridade do social sobre o individual e o surgimento de uma sociedade mais egoísta/individualista, como representado nos jovens de Sanshiro também, em especial o Yojiro Sasaki. Mas não foi isso que vimos se realizar. Pelo menos não até o fim da Segunda Guerra, em que o caso extremo seriam os kamikazes.
Relacionei a segunda parte de Coração com o A morte de Ivan Ilitch (embora sem as loucuras de Tolstói de que a vida "autêntica" é a do povo, não a da nobreza). E dá para relacionar ambos com o Norwegian Wood do Murakami também. É como se fossem a versão do livro 60 anos antes. Dá para ver mais diretamente a influência do Soseki nele aí. Tanto que é um livro mais diferente do Murakami, né?, sendo mais realista e sem o surreal.
Ainda pretendo ler os outros do Soseki (o próximo é o E depois) e escrever algo sobre Coração. Vamos ver.