Minha avó era o inverso do arquetipo. (Só conheci meus avós maternos)
Eu moro no interior e ela morava na capital.
Ela amava pedir pizza, comida chinesa, sanduiche, ou o que fosse pelo telefone.
Não lembro dela pondo nenhum neto no colo.
Era meio nazista em algumas coisas.
Quando criança eu tinha medo dela. Muito inteligente e muito brava. Intimidadora.
Depois de adulta eu aprendi a apreciar as qualidades dela. Conversar com ela nunca era o esperado.
Mas eu amei cada verão da minha infância que passei na casa dela.
Em grande parte por causa da minha tia e do meu avô.
Ele tinha risada de papai Noel (hohoho) e era do tipo que defende os netos, trás alguma coisa diferente todo dia - de uma bala a um brinquedo. O coração mais generoso do mundo.
Minha tia era a paixão de todos nós.
Ela não era tia de sangue, e sim trabalhava na casa da minha avó desde que minha mãe nasceu.
Ela sim cozinhava - sabia o que cada um dos sobrinhos gostava - era carinhosa, e tinha uma paciência de santa. Ensinou todos nós a jogar buraco, paciência, burro, burre em pé, fedô.
Às vezes ela tava cochilando e a gente querendo "mais uma partida, tia!"
Tadinha
Na hora de dormir não tinha quarto e cama para todo mundo. Um cado ia pro quarto de hóspede, nas camas e nos colchões, e sempre tinha um colchão no quarto dela e um na cama com ela.
Aí era a briga. Todo mundo queria dormir lá.
Minha avó morri de ciúmes.
Na primeira casa dela tinah a horta enorme e o pé de manga. A abençoada mangueira!!!
Essa árvore foi nosso navio, nossa nave espacial, nossos cavalos - alados ou não -, nossos palácios.
A horta foi selva africana, ila desarta, planeta misterioso, reino de fada.
Era perfeito.
Depois ela mudou. Na casa nova tinha um barração enorme, entulhado de velharia. Eu amava. Tinha zilhões de livros velhos.
Minha avó não gostava da gente lá, mas eu dava meu jeitinho, rsrsrsrs
E quando juntava os primos, a gente escrevia peças e enquetes e ensaiva dias e criava figurinos e cenários com entulhos e trapos. Depois fazia os adultos da família assistir.
E bater palma.
Ainda lembro alguns trechos até hoje.
A casa da minha avó, as pessoas de lá, ela em especial tiveram muitas faces e fases.
Hoje é só lembrança, mas de alguma forma é muito presente.