Salamanca
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Depois de mais de um ano de atraso, o filme finalmente deu as caras nos cinemas brasileiros, infelizmente com uma estréia limitadíssima. A espera, no entanto, valeu a pena, e ele já tem um lugar garantido na lista dos cinco melhores de 2004.
Depois de sair do Irã com sua família, Behrani (Ben Kingsley) compra uma casa com vista para o mar nos Estados Unidos. Por ser uma propriedade confiscada pelo governo, o irariano pagou um preço 3 vezes menor que o normal, e portanto vê na situação a oportunidade de lucrar, bastando revendê-la por um preço mais alto. O problema é que a ex-proprietária da casa, Kathy (Jennifer Connelly) exige as chaves de volta, alegando que foi expulsa por causa de um equívoco da prefeitura, já que ela havia pago os impostos corretamente. Sem nenhuma culpa pelo engano, o novo morador rejeita a ordem. A partir daí, inicia-se uma disputa pela residência por parte dos dois lados, levando ambos a um fim imprevisto e trágico.
Por mais que o trailer dê uma impressão contrária, a verdade é que o filme não defende nenhum dos lados, ratificando que tanto um quanto o outro têm suas razões bem fundamentadas e plausíveis para si, ainda que - e aí entra a questão do preconceito - Kathy não aceite as explicações de Behrani, e vice-versa. Mais que isso, observa que os dois são seres humanos, obstinados a defender sua família, seus ideais e seus patrimônios; e, como tal, suscetíveis a erros. Quando finalmente começam a pensar em fazer certas concessões, talvez já seja tarde demais.
O destaque está mesmo nas atuações. Jennifer Connelly interpreta brilhantemente uma mulher depressiva, que parece encontrar o azar em todas as saídas. O ambiente parece se espelhar na alma da personagem, quase sempre obscuro e embassado pela densa névoa que enche o lugar. Ben Kingsley e Shohreh Aghdashloo (ambos indicados ao Oscar) também merecem destaque por suceder em criar um drama familiar responsável por construir as motivações de seus personagens, e fazer com que acreditemos nelas. No fim, todos os envolvidos na trama conquistam nossa empatia e nos levam a um clímax de torcer o coração.
Por último, destaque para a trilha de James Horner, que embora seja simples, constrói perfeitamente a atmosfera de que o filme precisava. Em conjunto, todas essas características fazem de "Casa de Areia e Névoa" uma obra forte e inesquecível.
