O Uglúk e o Eng sintetizaram as coisas a respeito de discussão em fóruns.
(Debora teve MUITA sorte, porque o que já vi de sem-noção que começaram a achar que um tava xingando o outro num tá no gibi.)
Vatho disse:
Meu, uma vez eu deixei de comer um bife porque olhei pra ele e pensei que talvez ele chamasse "mimosa".
No dia seguinte passou.
Quaria entender onde uma pessoa seria "uma pessoa melhor" pelo simples fato de não comer carne. O ser humano é um animal: resta vc decidir se vc quer ter o paladar da zebra ou de quem come a zebra.
Eu seria uma pessoa melhor se ao invés de não comer carne comprasse varios pratos com carne
para as pessoas que não tem o que comer durante a semana santa.
Mas é o que eu disse... esse negócio de ser uma pessoa melhor é deveras relativo. Li estes dias uma matéria sobre canibalismo e me espantei: não havia apenas a vertente do guerreiro inimigo servindo de prato principal (para absorver a coragem e valor do cara), mas também uma outra que jamais me passaria pela cabeça: a do amor. Algumas mães preferiam comer o filho se ele morresse (algo do tipo, prefiro que ele fique dentro de mim, do que enterrado em algum lugar frio).
Não preciso dizer que eu não concordo com esse costume, claro. Mas também não posso condenar, já que se pensarmos bem, todas as tribos com essa prática foram exterminadas (seja pela violência do homem branco, seja pelas doenças do homem branco... como eu disse não seria saudável, no caso do filho morrer de varíola por exemplo.)
Outro dia estava conversando com uma amiga sobre educação de crianças, e chegamos a um ponto onde ao expor o modo oriental, ela achou errado veementemente. O ponto é que não é questão de achar certo ou errado neste caso: em termos culturais, o canibal vai achar que somos desnaturados, assim como o oriental também vai achar o ocidental desnaturado.
Então eu chego ao ponto: no romance Vidas Secas, quando matam Baleia para aplacar a fome da família, apesar de compreenderem os leitores ficam revoltadas por dentro. Como é que eles fazem isso para a pobrezinha, que dias antes salvara-os trazendo um bichinho para eles comerem?
Talvez por que as pessoas orientais criem laços afetivos com bichos, mas isso não os impedem de comer bichos (não seus) da mesma espécie (porquinhos, cavalos), eu seja mais condescendente com os personagens. O fato é: não paramos de ficar julgando os outros por merreca! (de novo lembro: não tem problema julgar os outros, já que é a forma da gente se precaver contra coisas perigosas... o problema é quando o julgamento não é para isso, mas como passatempo!
)
Muad d'ib disse:
Pri quanto a todas as vidas deverem ser respeitadas... eu sou bem a esse favor.... mas nos devemos lembrar q faz parte NATURAL da existencia o exterminio de uma especie... nao devemos nos dissociar do fato q tb somos animais e tb fazemos parte da natureza... quando um castor faz uma represa... ele muda varios outros nichos de micro eco-sistemas.... e ninguem vem dizer q oq eles estao fazendo eh errado.... quando um leao mata a alfa de uma matilha de hienas e portanto destroi o bando ninguem vem dizer q eh errado.... o homem tb faz parte do meio hambiente.... so tem q agir com mais sapiencia... sabendo sempre q se ele predar impunimente nao vai ter oq comer amanha..... eh so isso q eu prego e mais nada...
Bem, houve várias pessoas que disseram que somos mais sapientes/conscientes durante o percurso de nossa discussão. Quase como se fossemos superiores. Isso não é respeitar, em minha opinião. É pensar como algo à sua disposição independente de precisarmos da "coisa" de verdade.
Decerto que os animais também interferem nas coisas. Mas como você disse, é em menor escala, e considerando que eles não pensam é algo incrível: eles fazem menos cagada sem querer querendo. Acho que por instinto.
Neste ponto nossa sapiencia tá na contramão. Tipo, se somos realmente capazes de pensar, então teríamos de ter percebido que hidrelétricas não são tão limpas como prega a propaganda. E que não afeta um ou outro ecossistema, mas algumas centenas por vários quilometros. Somos tão sem-noção, que só depois de um monte delas feitas, que quando começou o problema dos peixes não poderem subir o rio, ou quando as florestas submersas começaram a apodrecer e dar uma maozinha para os efeitos estufas do mundo, só agora é que caiu a ficha de que "epa, a gente fez cagada".
Tipo, a informação/conhecimento de que coisas embaixo da água apodrecem e liberam gases, de que peixes sobem rios, é algo que todos tem na cabeça. Mas ninguém pensou os conhecimentos que tem na hora de fazer uma hidrelétrica.
Há um ditado popular que um amigo me falou ontem:
"Conhecimento sem pensar é desperdício.
Pensar sem conhecimento é perigoso"
Coisa que fatalmente SEMPRE acontece. Isso em toda classe social. No caso, ele veio com esta, depois de desabafar sobre um amigo que participava de um movimento contra a globalizaçao porque é ruim, etc.. Amigo este já mestre, e doutorando. E ao fazer a simples pergunta "então me
explica por que a globalizaçào é tão ruim?" o rapaz ficou mudo. Ao que ele completou "você é a elite da sociedade... não é um peão que pode ser seduzido por qualquer conversa fiada por aí. O peão você - que o julga - tem o direito de ser enganado. Mas você devia ser pensante, procurar a informação antes de entrar em movimentos como esse!" (pensar sem conhecimento - perigoso)
(comentei com ele, a minha refusa em participar dos caras pintadas na época do Collor, já que a Globo colocou o Collor e Globo tira Collor. E os adolescentes da minha época ficaram todo contente em ser instrumento de Roberto Marinho - eu tinha 17 anos. Tipo, como é que meus colegas - e alguns eu pensei que eram inteligentes - não conseguiam ver essa palhaçada? Conhecimento sem pensar - desperdício)
Na realidade, não somos tão pensantes assim. E nào tem nada a ver com usarmos só 10% de nosso cérebro (já usamos tudo, obrigada. Tem coisas que não fico pensando em fazer, como ativar produção de hormônios, que meu cérebro faz em modo automático.)
Esses 10% pensantes na verdade nunca são muito usados... isso eu concordo.
Então o que temos é um monte de gente que pensa que vale mais que um bicho, um vegetal, etc.. Dificilmente vai haver respeito nesses casos. Se você notou, quando eu digo respeito não é deixar de comer arroz, feijão, bife, peixe, alface, mas comer sem desperdiçar o sacrificio (matas derrubadas, sangue derramado, whatever). Mas veja o lixo orgânico das pessoas em geral. Quantos comem arroz requentado do dia anterior? Quanto arroz e feijão você não encontra no lixo? (e se os vira-latas vem comer, acham ruim... vira-latas caninos ou humanos)
O resultado sobre o amanhã... bem a meta da ONU de erradicar a fome em 2015 foi pra cucuias.
http://www1.folha.uol.com.br/folha/ciencia/ult306u13157.shtml
hmmm... sobre os 10% da capacidade cerebral... o mesmo se aplica à humanidade, céus!
exerto da reportagem disse:
A humanidade está fazendo um saque a descoberto no grande (porém finito) banco dos ecossistemas globais. O resultado é um colapso futuro na capacidade do planeta de fornecer bens e serviços naturais aos seres humanos, cujo primeiro efeito prático deve ser a impossibilidade de atingir as metas das Nações Unidas de combate à fome em 2015.
Quem diz isso[/b desta vez não são os ambientalistas, mas um grupo de 1.350 cientistas de 95 países, inclusive o Brasil. De 2001 a 2005, sob a égide da ONU, eles produziram o diagnóstico mais completo já feito da saúde dos ecossistemas e de sua relação com a manutenção da vida humana. O esforço resultou num relatório apresentado hoje a governos do mundo inteiro --no Brasil, numa cerimônia em Brasília presidida pela ministra do Meio Ambiente, Marina Silva.