Prometi um post não rabugento aqui, né? Então, transcrevo o que postei no Facebook:
Eu não sou mãe. Não posso falar sobre aquele momento em que a mulher pega, pela primeira vez, o seu bebê no colo, ainda sujo de sangue, e tem as reações mais diversas possíveis. Não posso descrever a emoção do momento, mas posso imaginar qual seria a minha reação. Imagino que eu esboçaria um sorriso todo desajeitado, borrado pelas lágrimas, enquanto diria, olhando para o meu filho (minha filha): COISA LINDA DE DEUS!
Imagino, também, que eu repetiria, não em voz alta, durante todos os dias da vida dessa criança, o "coisa linda de Deus!". E tudo o que eu fizesse, a partir do nascimento do bebê, seria, primeiramente, pensando no bem da "coisa linda de Deus". E eu ficaria grata por cada momento que eu passasse ao lado do meu filho. Quando ele fizesse aniversário, eu comemoraria e diria: "que tenhamos mais um ano juntos, e que você nunca me deixe esquecer de que eu sou mãe, maluca, neurótica, preocupada, e que acabo me anulando em prol do seu bem estar; e que me perdoe por eu lançar minhas frustrações sobre você".
Mas eu não sou mãe. Eu sou torcedora. Torço por um time que, hoje, completa 104 anos. E, por vezes, me comporto com o meu time como a minha mãe se comporta comigo e com os meus irmãos. Demonstro a minha paixão, a minha loucura pelo meu time. Demonstro a minha preocupação. Fico brava, brigo, reclamo, falo que não vou mais me preocupar, digo que estou magoada e, dois minutos depois, estou procurando notícias sobre ele. E fico com aquela vontade de dar um abraço reconciliador, coisa que só mãe sabe fazer.
Dos 104 anos do Clube Atlético Mineiro, estive presente em 26 comemorações. Sim, presente. Porque mãe é onipresente, ela está com a gente mesmo quando não está. Ela nos ama mesmo quando está magoada demais para conseguir falar isso. Ela nos perdoa mesmo quando nem nós mesmos conseguimos nos perdoar. E ela se odeia por não poder ser onipotente e não conseguir evitar que o seu filho sofra. Mas ela ama quando o seu filho faz com que ela se sinta a pessoa mais importante do mundo. Eu me senti assim, Clube Atlético Mineiro, quando te vi, pela primeira vez, no Mineirão. Você fez com que eu me sentisse confortável, segura, mesmo que eu estivesse no meio de uma multidão ensandecida. Os gritos de "Galooooo" embalaram os batimentos do meu coração.
Eu te perdoo, Clube Atlético Mineiro, não por ter chorado durante a madrugada e me feito levantar, mas por ter me deixado chorando durante muitas madrugadas. Eu te perdoo, Clube Atlético Mineiro, não por ter ficado emburrado sem falar comigo por eu ter chamado a sua atenção, mas por você ter feito com que eu ficasse sem conversar durante uma semana quando foi rebaixado para a segunda divisão. Eu te perdoo, Clube Atlético Mineiro, por você fazer com que eu me torne o ser mais IRRACIONAL de todo o universo quando o assunto é você. Eu te perdoo, Clube Atlético Mineiro, por todas as vezes que você torna difícil o fato de eu te amar, e torna impossível o fato de eu te odiar.
Eu te perdoo, Galo mais lindo do mundo, por você ser coisa linda de Afrodite, e fazer com que eu te ame a ponto de pensar em você desde a hora que me levanto até a hora em que me deito. Eu te perdoo, Galo, por você ser coisa linda de Apolo e cantar e encantar a minha vida com o seu hino que, quando ouço, faz com que cada célula do meu corpo fique arrepiada. Eu te perdoo, Galo, por você ser coisa linda de Dionísio e me embriagar de um sentimento tão intenso que faz com que eu cometa desmedidas que são, para o bem ou para o mal, inesquecíveis.
Tenha um ótimo fim de tarde e uma excelente noite, meu amado filho de 104 anos.