Rato toma mais um gole de café e para um pouco, tentando recordar mais alguma coisa:
- Então, dotô, num sei os nome dele, só me mandarô ajudá a discarregá as caixas e as mala. Levamo tudo pra uns carro e mais umas caixa bem pesada, parecia que tinha preda dentro, que colocamô num caminhauzinho. As coisas, eu sei bem porque fui junto e ajudei a discarregá lá, foram pru Hotel Soberano, sim sinhô.
E então olha, curioso e amedrontado, pro policial, esperando sua reação.
Alberto parece perder a calma:
_ Rato! Rato! Rato! Eu acho que você que mesmo ir da uma volta la na delegacia. Você sabe de mais coisa. Se não me conta eu não terei outra escolha.
O estivador encolhe os ombros e fala:
- Dotô, o que eu lembro desse barco eu falei. Quando me chamam pra descarregá, eu descarrego e num pregunto, só observo... Dispois, pruquê eu ia escondê arguma coisa do sinhô, hein?
Alberto olha diretamente nos olhos do Rato, tentando descobrir se o que o estivador fala é verdade. No entanto, mesmo com sua experiência como policial, não sabe dizer se ele está ou não dizendo a verdade, mas por ora se contenta com o que ouviu, então se levanta e diz:
_ Tudo bem! Eu vou checa a informação. Mas fique de olhos e ouvidos bem abertos. Qualquer novidade sabe como me encontra.
E vai na direção da mesa para onde tinham ido Jerome e Nagato.
Enquanto isso, Jerome tinha se encostado no balcão e pedido uma cerveja bem gelada. Num primeiro momento q ele ve oportuno puxar papo com o balconista, ele puxa uma conversa:
-Boa noite, meu nome é Jerome Anajé, estou precisando contactar os serviços de um navio que fassa conexão com a frança, e soube recetemente q um navio vindo de la aportou na cidade, o Helenic, e gostaria de refrencias sobre o mesmo. Você saberia me iformar onde posso encontrar um membro da tripulação deste navio?
Enquanto fala isto, ele passa sobre o balcão um nota relativamente grauda(nem tanto assim), embaixo da mão, de maneira meio furtiva mas q de para o balconista perceber.
O balconista dá um sorriso sem dentes e pega mais do que depressa a nota oferecida pelo arqueólogo. Coloca então dois copos diante dos professores e oferece:
- O que vai ser, meus dotores? O mesmo de ontem? - E olhando de soslaio, baixa a voz e mostra o fundo do bar - tão vendo aquele negão lá naquela mesa? Acho que, se não em engano, é de Angola e veio com um navio francês no mês passado e tá aqui inté agora, esperano outro barco pra i simborá pra outras partes...
Na mesa indicada avistam um negro tipo "armário" de uns dois metros de altura, largura equivalente, com duas raparigas, uma em cada coxa, e a mesa bem farta: peixe à vontade, uma garrafa de caninha e outra de vinho barato. O sujeito ri bem alto e toma todo tipo de liberdades com as "mocinhas".
- Professor Jerome – adverte o professor japonês - , ele parece estar ocupado, poderíamos tentar outro meio de chegar ao navio.
Nagato conhecia o estilo do sujeito e sabia que aquele era um terreno escorregadio, se fosse um encrenqueiro uma simples palavra errada serviria para iniciar um tumulto na birosca... Contava com a experiência e bom tato de Jerome para lidar com a situação.
Jerome, atraves do seus conhecimentos de grande frequentador dos meretricios da cidade, espera uma oportunidade de falar com A rapiriga do local, aquela por quem todo adolecente fica suspirando, e q muitos desavisados acabam se apaixonando, aquela que deve ter um vudu escondido embaixo da cama de cada colega de profissão de pura inveja. O arqueólogo desembolsa a grana(não sem tristeza, pensando q vai ter de negociar um artefato logo logo) - se for preciso pede pra nagato complementar na mo cara de pau -, e a orienta a ir na mesa do marinheiro, e perguntar se ele trabalhou no navio Helenic. Caso afiramativo, orienta ela a desmbancar as raparigas q estão com ele, e com o papo de que desejo conversar sobre negocios e que ela sera uma cortesia de minha parte para o que ele bem entender apos tivermos terminado de conversar.
Jerome lembra que a "dona" da birosca é a caboclinha Marta, uma jovem de uns 22 anos, muito bonita e gostosa, com quem já se deitou algumas vezes. Ela está acabando de atender um cliente e voltou a pouco pro bar. Quando é chamada pelo professor, chega cheia de amor pra dar, perguntando quem é o "dotô de olho puxado" que ela já tinha visto ontem. Fica um pouco decepcionada com a proposta a princípio, mas logo se alegra com a boa quantia oferecida. Olha pro marinheiro e fala:
- Ah, o Tonho? Ele é um amô de pessoa... Vô lá falá cum ele, sim. Aguarde só um poquinho, meu dotô!
Ela se aproxima da mesa. As duas raparigas ficam visivelmente enciumadas, enquanto Tonho ri de orelha a orelha e a convida pra sentar. Ela troca algumas palavras com o homenzarrão, que não para de beber, comer e rir, e então volta pra junto de Jerome e Nagato, dizendo:
- Ele disse que ocês e eu tamu tudo convidado pra bebê e comê com ele na mesa. Vamu?
E, antes de esperar a resposta dos dois professores, volta saracoteando pra mesa de Tonho.
Enquanto isso, olhando para o balcão, Jerome nota que Alberto está tendo uma conversa "pouco amistosa" com o estivador Rato, embora este pareça estar colaborando...
- Pelos antigos... – exclama Nagato - Santo cavalo de Tróia. Vamos ir senhorita.
E confiante Nagato se aproximou e sentou caso Jerome fizesse o mesmo.
Jerome e Nagato se sentam nas duas cadeiras restantes à mesa ocupada por Tonho. Marta já pega um pedaço grande de peixe e uma caneca de vinho e começa a se fartar. As duas outras raparigas (uma indiazinha, longe de ser feia; e uma mulatinha, longe de ser bonita), continuam nas coxas do marinheiro e se mostram visivelmente irritadas pela presença da rival.
O enorme marinheiro abre um largo sorriso, pede copos para os recém-chegados e lhes fala de um jeito amistoso, com uma possante voz grave e num português com sotaque lusitano:
- O pá, senhores. Sentem e se sirvam à vontade. Sou Antonio M´Benguela, seu criado, mas todos aqui me chama de Tonho... Será que poderei ajudá-los em alguma coisa?
Jerome começa o papo de maneira bem alegre, falando alto:
- Grande Tonho! Espero que tenhas gostado da cortesia q aqui lhe apresento! Uma coisa que nunca poderão dizer de nos brasilerios é q não sabemos como recepcionar nossos visitantes, hahahaha! Mas, antes da diversão, os negocios! Me chamo Jerome, e este é um amigo, Nagato!!
interompe por um momento:
-Jarbas, pra mim um branquinha por favor!
depois num tom mais serio e bastante mais baixo, num medio tom:
- Bem tonho, vc me foi indicado com alguem que pode me ajudar num negocio q tenho pela frente... Eu trabalho com transporte de certos tipos de carga... Nada num primeiro momento ilegal como drogas ou venda de brasileiras, veja bem!!! Materila tudo dentro da lei, mas que para evitar toda aquela burocracia, toda aquela papelada, e pela notoria urgencia e importancia, pra nao falar do necessario sigilo, dos meus clientes, eu costumo buscar rotas, digamos assim, alternativas para meus produtos. Enfim, tendo isto em mente, estou precisando, provavelmente para os proximos dias, de um meio de transporte q fassa conexão com paris e talvez mais algumas cidades da europa. Soubemos de algumas estorias estranhas sobre a carga e tripulação de um navio recetemente chegado, o Helenic, e ja sabendo da estoria de um previo transporte nao convencional de tal navio, gostaria de saber mais informações sobre o mesmo, sobre sua ultima viagem, sobre suas condições de sua carga e tripulação... Enfim, num primeiro momento, e apenas num primeiro momento dado q nunca se sabe onde conseguiremos novos socios, apenas isto, informações!!! - de novo num tom alto e alegre - Um papo, estorias... Conte-nos suas estorias de sua ultima viagem pelo Helenic!"
Nagato deixa Jerome iniciar a conversa. Ele se sirve e fica atento ao que dizem tentando parecer o mais pacato possível.
Tonho dá uma sonora gargalhada e bate com força nas costas de Jerome (que, felizmente, também é bem grande... ):
- Hehehe... gostei do seu jeito, Jeromo, direto ao assunto! - e vira mais uma dose de cachaça, enquanto termina de comer um peixe) - Sabem, já estou ficando entediado de ficar parado aqui nesta cidade e ia mesmo embarcar no próximo navio pra Europa ou África. Essa proposta veio em boa hora, pois sim! Mas vamos ficar mais à vontade para discutir...Meninas, podem ir dar uma volta, depois lhes chamo. Inclusive você, Marta!
E depois que as raparigas se levantam, volta-se para Nagato e Jerome e fala:
- Querem estórias do mar, gajos? É bom pra iniciar os negócios, pois sim... Então, sobre o Hellenic...!
Nesse momento os dois investigadores veem se aproximar o policial Alberto, depois de sua conversa com o Rato. Ele chega até a mesa e informa:
- Tenho novidade. Vamos ao Hotel Soberano.
Nagato responde prontamente, mas em tom casual, para não deixarTonho desconfortável:
- Creio que ainda temos tempo, começamos a comer Alberto. Se quiser sente para não interromper a história de nosso novo amigo. Tonho parece ter boas histórias do mar a nós.
Jerome também fala ao policial:
-Claro... tem encontro em 10 minutos? Estou terminando uma conversa com um antigo amigo, nao pretendo me demorar muito. Espero q não se importe, meu camarada aqui tem noticias do velho mundo que muito me interessam!
Tonho convida Alberto a se sentar e pede mais um copo e outra garrafa da "marvada".
- Então, senhores, onde eu estava?! Ah,ia começar a falar de minhas viagens. Bem, eu saí de minha terra, Angola, com 16 anos, quando embarquei num navio holandês...
E ele começa a falar sem parar sobre sua vida de lobo do mar, enquanto bebe e come. Ele fala, fala e fala por quase 20 minutos sem tocar no assunto do Hellenic... E olha que está ainda com seus 18 anos na história, contando causos dos idos de 1890...
Alberto espera com pacienca e ouvi toda a historia sem dem ostra qualquer emoção. Ele bebe algum goles e belisca um pouco.
Jerome, tentando ser o mais discreto possível, fala:
-Hummmmmmmm - cof cof, olha o relogio - Sim Sim... hã, um aparte, desculpe ser rude...
Tonho percebe a indireta de Jerome e conclui sua narrativa, que não traz nada de interesse para os investigadores. Perguntado sobre o Hellenic, diz que a viagem nele da Europa para o Brasil foi corriqueira, não ocorrendo nenhum incidente importante. Sobre a companhia de teatro, lembra que eram cerca de quatro ou cinco homens europeus, duas belas mulheres, além de um "anão" que os acompanhava.
- Aliás, se corrige Tonho, não era um anão exatamente, pois não tinha pernas e braços atarracados. Parecia mais um pigmeu, só que amarelo, como o nosso amigo aqui. Mas tinha os olhos bem mais puxados e a cabeça era raspada.
Diz que a trupe era bastante discreta e raramente saía de seus camarotes, exceto para as refeições. A diferença, segundo ele, era a moça mais nova, que parece ter tido um caso rápido com o comandante do navio, o qual ficou bastante atraído por ela. Além disso, recorda de uma cena estranha envolvendo o grupo:
- Foi na noite em que atravessamos a linha do Equador... Todos já deviam estar dormindo, com exceção da turma de serviço, da qual eu fazia parte. Vi os artistas se reunirem no convés, usando estranhos colares, e formarem um círculo enquanto cantavam alguma coisa, em tom baixo, numa língua que não conheço... Todos pareciam estar admirando as estrelas, sei lá o porquê. O anão, digo, pigmeu, colocou na boca uma espécie de apito, mas não sei se soprou ou não, porque não saiu som algum. Mas o mais estranho foi que, algum tempo depois que começaram com isso, avistei algumas formas escuras voando sobre o navio até o fim da cerimônia. Estavam a uma boa distância, mas se pareciam com enormes morcegos. Mas morcegos em pleno mar?! Não sei, não sei...
Tonho ainda fala mais outras coisas, todas sem relação com o grupo de teatro ou a peça, sobre a qual, aliás, ele nada sabe.
Já são quase 21:00 quando ele termina de narrar esses fatos. Ele recebe então um recado por um dos estivadores, e pede licença ao grupo, dizendo que tem que tratar de outro negócio, convidando-os para aparecer no bar no outro dia a fim de acertarem as bases do acordo proposto por Jerome.
Alberto então chama Jerome e Nagato para ir com ele até o hotel e informa que o compania de teatro está hospedados no Hotel Soberano.