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[Call of Cthulhu] O Rei em Amarelo [on]

Intercenas

Manaós, 9 de junho de 1910, ~ 12:15

Investigadores:
Todos


Jerome trata de sair rapidamente da praça e dos lugares mais movimentados do centro de Manaós. O grande problema, sabiam eles, era para onde ir naquela situação!!!
Ao lado do motorista, na cabine, Pietro tenta verificar se o estado de Marcopolo tem alguma melhora. Na verdade, ele percebe que o sujeito está piorando, com aquela baba infecta e espumante aumentando e uma febre anormal por todo corpo, fazendo-o suar em bicas. Em dado momento, o diretor do teatro para de balbuciar e começa a pronunciar alguma coisa, ainda incompreensível, mas que faz o arqueólogo e o italiano se lembrarem de um trecho do diário de Valtrop que havia lido na tapera do pajé:

- IÄ! IÄ! HASTUR FHTAGN! CARCOSA NYTHLGUA XUL MGAH'HALI FHTAGN!

Marcopolo pronuncia isso a meia-voz, o mais alto que consegue dado o seu estado mental e físico. Repete isso algumas vezes, e também a palavra "Carcosa" em separado.

Na caçamba, Nagato parece melhorar por conta do afastamento daquele maldito galpão. Ele e os outros acompanham pela fresta da cabine o delírio do diretor de teatro, preocupados com isso e com o lugara para onde iriam rumar naquele momento. Refletiam que era muito provável que Valtrop e Mascarenhas estivessem tramando jeitos de caputá-los, talvez até jogando contra eles denúncias de arrombamento, roubo e mesmo do incêndio do teatro. Ou algo pior... pelo menos a luz do dia ainda lhes trazia um pouco mais de alívio, mais não demoraria mais de seis ou sete horas até que a noite caísse sobre o grupo, de novo.
 
No veículo de Jerome, Jim pondera sobre a situação, e levanta uma possibilidade para seus colegas:

- E se fôssemos novamente até a tribo de Sapaim? Ele provavelmente não estará lá, como havia nos dito que teria que ir para outra aldeia, mas ainda assim a aldeia pode ser um local seguro. Os outros índios de lá nos viram com o pajé, sabem que somos amigos, e talvez até possam conseguir mais dessas folhas para dar a Marcopolo.

- Não temos refúgio seguro na cidade, e não creio que temos condições de nos esconder sozinhos no meio da selva. O que me dizem?
 
Intercenas

Manaós, 9 de junho de 1910, ~ 12:15

Investigadores:
Todos


Alberto e Jerome, moradores da cidade, tentavam e não conseguiam imaginar um lugar seguro para onde ir naquele momento: suas casas e locais de trabalho quase com certeza deviam estar sendo vigiados; ir para a casa de amigos poderia colocar essas pessoas em perigo; mesmo locais públicos seriam muito arriscados caso fossem mesmo acusados de algum crime! Sair da cidade parecia mesmo a melhor opção. Mas e depois?
 
Mas Jim, não resolvemos o caso. E não podemos ficar fugindo o tempo todo.
Temos que resolver este problema o quanto antes e, aliás, o data fatidica está chegando.

Precisamos bolar um plano e agir, infelizmente não podemos mais nos dar ao luxo de esperar pra ver as coisas acontecerem, quanto mais tempo demoramos mais pessoas nós colocaremos em risco. Veja o Senhor Marcopolo.


Jerome já estava impaciente com toda aquela situação e queria agir, ir até os jornais da cidade e tentar mostrar a situação do Senhor Marcopolo para a população e provanto que aquela apresentação irá colocar em risco todas as pessoas.

-Vamos mostrar a real intenção para a população. Vamos tentar utilizar a mídia a nosso favor. O que acham?
 
- Eu não vejo como podemos atacá-los de frente. Eles têm pessoas influentes demais do lado deles, e apesar do Alberto conosco, a força policial inteira estará a serviço de Valtrop e sua gente. Enquanto ficarmos na cidade, será fácil para eles nos localizarem e nos prenderem. E se formos só presos será muita sorte. Coisas muito piores podem ocorrer conosco.

- O que eu esperava, voltando até a aldeia, é poder dar mais atenção para Marcopolo, tentar curá-lo, trazê-lo de volta à razão para nos contar o que aconteceu - e de repente nos auxiliar com algo que ele possa saber.

- Além disso, se eles realmente precisam de uma data certa para realizar a peça, acredito que a melhor estratégia que podemos adotar é causar-lhes um atraso. E temo que isso só possa ser feito efetivamente no próprio dia em que a peça for realizada. Enquanto causarmos problemas para eles nos dias anteriores, eles terão tempo para corrigir o que for necessário e executar a peça no dia, de uma forma ou de outra.


E nisso um pensamento um tanto sombrio passa pela cabeça de Jim, que transforma suas ideias em palavras quase que automaticamente, mas com um tom de voz mais baixo:

- ... A não ser que queiramos liquidar um por um esses malucos.
 
Então Jerome, ouvindo atentamente ao que Jim acabara de dizer, responde:

Você têm razão Jim, precisamos ajudar o Marcopolo e quem sabe conseguir mais informações. Mas é que esse pessoal está me deixando fora do sério.
Devemos aproveitar a luz do dia, porque quando a noite cair a situação não será nada favorável a nós.
 
- Bakemono... Satanismo... Mulata no marido louco da testemonha. Apontamos no dedo do judiciário a cara deles. Pessoas a saber, informa da igreja, avisa da missa, susto do povo e lugar volta o seguro.

Nagato ainda estava abalado, havia começado a frase incoerente mas voltado com uma certa fúria e desespero à idéia de expor tudo de uma vez.
 
Intercenas

Manaós, 9 de junho de 1910, ~ 12:15-13:00

Investigadores:
Todos


Apesar da sugestão de Nagato, os outros decidem seguir a ideia de Jimmy e voltar mais uma vez à aldeia de Sapaim para tentar curar Marcopolo e recuperar as energias. De fato, estavam todos ficando esgotados com a ação sem pausa, a falta de descanso e de alimentos desde o dia anterior. Assim, Jerome ainda contrariado pega a estrada que leva para fora de Manaós, acelerando a fim de chegar lá o mais rápido possível.

Passam mais uma vez pelo local do "acidente" com o carro do taxista, que não está mais ali e depois pelo lugar do confronto com as criaturas. Todos permanecem calados, exceto por Marcopolo, que de vez em quando resmunga novamente aquelas palavras blasfemas. Seu estado parece ter se estabilizado, suando um pouco e babando menos.

Perto das 13:00, veem se aproximar as ocas da tribo de Sapaim e Jerome encosta a caminhonete ali, sob o olhar curioso dos poucos indígenas que ali habitam.

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FIM DA INTERCENAS
 
Cena 12: A Aldeia

Manaós, 9 de junho de 1910, ~ 13:00

Investigadores:
Todos


Além da tapera do pajé, há na pequena aldeia mais três ou quatro ocas coletivas. Pelo que tinham observado antes, e notam agora, não deve haver mais do que vinte índios morando ali. Com a aproximação dos estranhos, as mulheres e crianças que estavam no terreiro trabalhando ou brincando correm a se esconder em suas casas. Quatro índios jovens, com aspecto de poucos amigos, se levantam e vem na direção dos recém-chegados. Quando reconhecem Jerome, mudam um pouco a expressão, mas ainda assim se mantém na defensiva. Um deles, que parece ser o líder na ausência de Sapaim, tenta recebê-los, arriscando-se num português capenga:

- Ere-yu-pê. Amigo Sapaim, pajé não.

Jerome o saúda na língua indígena, que felizmente fala com alguma competência, podendo servir de intérprete para seus companheiros.
 
Então na língua indígena Jerome diz:

-Sapaim ainda não retornou não é? Estamos precisando de mais algumas dessas folhas (mostrando para o índio). Um de nossos amigos não está passando muito bem e precisamos de um local para descançar alguns minutos. Será que conseguiria nos ajudar?
 
Cena 12: A Aldeia

Manaós, 9 de junho de 1910, ~ 13:00

Investigadores:
Todos


O índio que parece ser o chefe responde a Jerome, em nheengatu, que depois o arqueólogo traduz para os outros:

- Pajé Sapaim ainda demora voltar, a aldeia é longe, descendo rio. Sou Uegpai, seu amigo. Não temos outro pajé na aldeia, mas sei algumas coisas que Sapaim ensinou. Deixa ver o seu amigo doente.

Uegpai examina Marcopolo, que Pietro retirara do carro, e apenas comenta:

- Não sei o que é, mas se amigo diz que precisa dessa erva, Uegpai acha na casa de Sapaim ou procura na mata. Melhor fazer chá forte com essa erva pra dar de beber ao amigo doente.


Dizendo isso, entra na tapera do xamã e volta com uma cuia de ferver a várias folhas da erva. Dá algumas a Jerome e começa a preparar o fogo para ferver o restante em uma bebida quente. Então completa:

- Amigos podem ficar aqui. Descansar na tapera do pajé, amigo do amigo. Uegpai e família trazem comida, água e redes pra amigos.

E começa a ordenar as providências para o conforto de seus visitantes enquanto espera o chá ficar pronto. Parecia que finalmente o grupo teria um local e tempo para se recompor física e mentalmente e pensar em como escapar da teia de aranha em que estavam envolvidos.

Poucos minutos depois tudo está pronto e eles são convidados a entrar na conhecida oca de Sapaim. Há redes suficientes para todos, mais uma esteira confortável onde os índios deitam Marcopolo. No centro da casa, sobre outras esteiras, encontram peixe grelhado, frutas, bijus e água. Logo aparece Uegpai com uma pequena vasilha fumegante, que com a ajuda de outro índio faz o pobre diretor beber; este, não muitos minutos depois, cai em um sono suave. Sua febre baixa e ele para de babar.

Uegpai olha curioso para o grupo, perguntando se ainda precisam dele ou se preferem ficar sozinhos para repousar.
 
Última edição:
Jerome em reverência o agradece:

Obrigado, nós realmente estamos precisando.

Naquele momento Jerome sentiu extremo orgulho de ser índio, e mais uma vez a sua determinação e coragem brotaram dentro do seu peito e com isso ele estava decidido em salvar a população do desastre que se aproximava.
 
Fazendo uma reverência com a cabeça, Pietro agradece Uegpai, confiando em Jerome para traduzir suas palavras.

Virando-se então para o restante do grupo, ele fala:

"Acredito que antes de discutirmos qualquer coisa, seria melhor nos alimentarmos."


Dito isso, ele se senta ao lado da comida, no centro da oca, e aguarda os demais.
 
Cena 12: A Aldeia

Manaós, 9 de junho de 1910, ~ 13:00-13:15

Investigadores:
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Uegpai retribui as reverências e sai, deixando os investigadores à vontade na tapera para comer e parlamentar. Seguindo Pietro, os outros se sentam para comer e beber antes de qualquer coisa. Fazem isso maquinalmente, sem sentir direito o gosto da comida. De vez em quando olham para o pobre Marcopolo, que felizmente parece ter ser estado estabilizado e dorme tranquilamente na esteira.

Após alguns minutos de refeição, os investigadores ficam se entreolhando à espera do primeiro a tocar no inevitável assunto que os reunira e os preocupava tanto...
 
Última edição:
Cena 12: A Aldeia

Manaós, 9 de junho de 1910, ~ 13:15-13:20

Investigadores:
Todos


Alguns minutos se passam e ninguém propõe nada. Pietro e Jerome lembram então que não analisaram convenientemente o material retirado do baú de Valtrop. Feito isso, cada um que carrega alguma coisa a retira de seu bolso e a coloca no meio do círculo formado pelo grupo para que voltem a pensar sobre elas: o diário de Valtrop; as anotações em centenas de páginas manuscritas; o horrível apito em forma de criatura voadora; a máscara indígena e, claro, o misterioso livro "O Rei em Amarelo", com o inquietante símbolo na capa.
 
Última edição:
Jim, fumando seu cachimbo para se acalmar, observa os artefatos e arrisca um palpite:

- Se fosse para escolher por onde começar, eu diria que devemos dar uma olhada nesse diário. Se o tal Valtrop se dava ao capricho de anotar coisas aí, é porque devem ser importantes, creio eu. No mínimo vai nos servir para conhecer melhor com quem estamos lidando.
 
Realmente Jim, acho que as intenção de Valtrop estariam todas transcritas aí. E quem sabe seria um grande trunfo a publicação dessas informações.

Jerome pensa na atuação do grupo na porta do teatro onde foi mensionada a inquisição. O arqueólogo lembrava que talvez, apesar de já se passados pouco mais de 100 anos do "término" oficial da perseguição por parte da igreja. Aquilo havia provocado um medo realmente grande em Farina e poderia ser utilizado a favor do grupo.

E Jim, estive pensando sobre o que ocorrera na porta do teatro e sobre a igreja católica, será que eles não poderiam ser grandes aliados nesse momento? O medo na face de Farina era visível, mesmo com todos aqueles zumbis a seu favor ele recuou.
 
Jim faz um movimento acertivo com a cabeça para Jerome, e complementa:

- Sim, acredito que a Igreja possa ser uma forte aliada, se conseguirmos mostrar nosso ponto. Acredito que seja uma boa opção para nós tentar usar dessa força, que certamente possui forte apelo junto à população e pode nos dar um trunfo.

- Além disso, temos aqui vários objetos que podem nos ajudar a provar o que descobrimos. E também tem o próprio Marcopolo, vítima direta das maquinações de Valtrop.


Ao terminar de falar isso, Jim pondera um pouco e, após um breve silêncio, pontua com uma observação:

- ... Isso se não houver também lá dentro alguém corrompido por esse pessoal.
 
Jerome pensa sobre o que Jim acabara de dizer e responde:

-Pode ser...Mas acho muito difícil acontecer visto que são objetivos completamente conflitantes, a igreja abomina completamente este tipo de ritual pagão.

Jerome tenta buscar em sua memória algo ou alguém que pudesse ajudá-los a envolver a igreja no caso. E pergunta a todos se algum deles possui algum vínculo com a igreja que, nessa sistuação possa ajudá-los.

Algum de vocês possui ligação com alguém da igreja católica que possa nos ajudar?
(Mestre, será que Jerome conhece alguém que possa ajudar?)
 
Cena 12: A Aldeia

Manaós, 9 de junho de 1910, ~ 13:20-14:20

Investigadores:
Todos


Jim abre o diário para que possam lê-lo com mais atenção. Já tinham feito isso na noite anterior, descobrindo que se tratava de um breve relatório das atividades do grupo de Valtrop em Manaós. No entanto, com a pouca luz no ambiente e o recente choque causado pelo ataques das criaturas voadoras no caminho até ali, certamente teriam deixado de notar alguma coisa. O inglês pega com atenção aquele caderno de anotações com não mais de 100 folhas em papel fino. Ele está em estado razoável e parece ser novo, apesar da capa bastante amarrotada e de se notarem algumas daquelas fétidas manchas amarelo-esverdeadas nas bordas da páginas. A folha de rosto está em branco, já a segunda traz apenas os dizeres, em francês: “Relatório das Atividades na Amazônia”, com data de meados de maio daquele ano (na verdade, um dia depois da chegada da trupe a Manaós). As páginas seguintes, em cuidadosa caligrafia e também em francês, trazem palavras que parecem saídas da cabeça de um louco descontrolado. Ele as relê para o grupo:

IÄ! IÄ! HASTUR FHTAGN! CARCOSA NYTHLGUA XUL MGAH'HALI FHTAGN!

Este relato servirá como registro para os Irmãos da grande jornada por nós empreendida em plena selva brasileira para contribuir com a volta dos Antigos. Nós, da Irmandade, que sabemos o verdadeiro caminho para os Grandes Antigos. Nós, que conhecemos que há uma ordem na loucura, uma beleza na desistência da moral; que há peças a serem encenadas, máscaras a serem usadas. E que devemos ser pacientes. O Inominável dorme e sonha sob as águas do Lago Hali, em Carcosa, e não tem pressa...

Nós, do Senado Secreto, daremos a glória ao Inominado. Para aquele que é o único, o verdadeiro Rei.

Diga-me, Irmão, já viu o Sinal Amarelo?

Cabe-me antes de tudo traçar para os iniciantes os acontecimentos pregressos que nos trouxeram até este momento glorioso.

Sabe-se que 1895 nós tentamos invocar o Rei em Farrapos em Paris, de forma sutil, de modo a influenciar pouco a pouco a mente dos falhos. Eu mesmo fazia parte da assembleia que montou, produziu e apresentou a peça de Castaigne. Castaigne, o gênio indomado que não suportou a revelação. Castaigne, inspirado por Xastur, que deu forma escrita ao périplo do Estrangeiro, emissário do Rei. Castaige, que terminou a redação do trabalho iniciado por Marlowe e Shakespeare, dois não-iniciados que receberam as graças dAquele que dorme sob o lago. Notem nossa diferença em relação aos seguidores de Cthulhu, os degenerados: enquanto eles acolhem em seu seio toda ralé que aceita urrar e circunvoltear o fogo e a estátua, nós somos os eleitos, pois H*st*r só inspira os melhores, os que tem os dons das artes, os gênios da raça destinados a ajudar no retorno.

A peça foi preparada para a noite da conjunção de Aldebaran em Híades com o Sol em Touro. Tudo indicava uma invocação perfeita, se os espíritos da plateia fossem cooptados de maneira correta. Mas algo falhou. Não previrámos a fragilidade da mente dos falhos, que não estavam preparados para o átimo de Verdade que lhes era ofertado. Perderam o controle e tudo resultou num aparente fracasso. Sim, pois se as autoridades falhas “proibíram” a montagem da peça e a circulação do texto, isso só aguçou a curiosidade dos intelectuais e artistas despertos em toda a Europa. Logo “O Rei em Amarelo” foi traduzida e impressa na Inglaterra, e versões paralelas em outros idiomas não tardaram a surgir. Nossos Irmãos trabalharam rápido, e bem.

Naquela noite de 1895 tive a oportunidade de conhecer aquele que viria a se tornar um Irmão devotado e figura-chave para a consecução de nossos planos na Amazônia: PM, um jovem brasileiro com a veneração estampada nos olhos, os conhecimentos e os recursos materiais para uma nova tentativa. M. era herdeiro de um fortuna feita da borracha amazônica e apreendera parte da Verdade em contatos com tribos afastadas de sua terra natal. E mais: sabia de um tomo de saber de grande valia escrito por colonizadores portugueses em séculos passados. Chama-se esse livro “Ang Mbaë Aiba”, “O Livro da Alma Profunda do Mal”, que trazia descrições de rituais dos primitivos habitantes daquelas terras em devoção aos Antigos. E ele soube de um exemplar que ainda existia no Brasil e que estava na Biblioteca Pública de Manaós. Infelizmente o tomo estava em tupi, língua que ele não conhecia e não conseguia dominar apesar de seus esforços.

Sedento por mais conhecimento foi que viajou para a Europa em 1895 e que por essa sede nos conhecemos. Na apresentação, foi da plateia um dos poucos que entendeu a genialidade do que via e não se perdeu. Isso me chamou a atenção nele. Apresentei-me e descobri nele um bom interlocutor. Falou-me do livro em tupi e como já lera algo, sem profundidade, sobre as manifestações do Indizível, interessei-me de imediato. Contou-me da tribo dos Maku-nhaimã, que adoravam o “rebento da fruta”, provável forma local do Rei, que conheciam a árvore da angakuara e dominavam o segredo da fabricação da mbaë-ú, a bebida que nos coloca em sintonia direta com o Sonhador.

Embora atribulações tenham me impedido de viajar imediatamente ao Brasil, comecei a estudar a língua dos indígenas. M. tornou-se um neófito e passou a vir à Europa constantemente para ver nossas apresentações “clandestinas” da peça, apenas para os iniciados. Mas sabíamos que ela fora escrita para liberar a mente dos falhos, sobretudo dos de grande influência e poder, a fim de colocá-los em contato com a Verdade e que eles a fariam espargir pelo Globo.

Os cálculos astrológicos mostraram que a oportunidade perfeita seria quando da passagem do cometa de Halley (Halley/Hali...), em 1910. Teríamos alguns anos para a preparação perfeita do cerimonial. M. adquiriu cada vez mais prestígio em sua cidade e passou a ser um “patrocinador das artes”. Enquanto isso, eu escolhia os irmãos mais devotados para a tarefa gloriosa. M. mandava fazer cópias manuscritas do Ang Mbai Aiba e do “Sacramentus Crudelissimus in Terra Brasilis”, mas que pouco me ajudavam.

Em 1905 estive pessoalmente em Manáos e comecei a fazer minhas próprias anotações desses tomos, já dominando bem a língua tupi. M. descobrira algumas árvores Angakuara e tomara posses dessas terras. Começamos também a estabelecer relações mais amistosas com membros dos Maku-nhaimã que não tinham passado por uma interessante metamorfose. Essa mudança é uma forma de contato total com o Indizível, e é admirável, mas pouco útil para nossos planos, já que o indivíduo se torna aversivo aos olhos dos falhos. É causada pelo uso constante da mba-ú.

Aprendi rituais interessantíssimos que pude transcrever nos arquivos da Irmandade quando voltei à Europa. Pratiquei alguns deles recentemente e se mostraram muito úteis para os momentos que se aproximam. Como sabem, fiz o Juramento Indizível e passeei entre reinos. Meu corpo se deteriora desde então, mas alcancei um degrau mais alto. Quando desta casca nada restar, já terei feito meu papel e recebido o Soberano.

Passados os anos, chegamos finalmente ao momento esperado. Nossos mentores K´Nyan, esperançosos com o sucesso da cerimônia, deram-me a honra de enviar um sacerdote do povo Tcho-tcho para liderar o ritual final, Py On py, um Mestre Oh-Go de 7º Nível!!! Chegamos ontem a essa terra bárbara, e longe dos malditos Mi-go, pudemos nos concentrar totalmente na montagem do cenário e na obtenção dos elementos indispensáveis ao nosso sucesso.

Montamos as pedras sacrificiais e os dois portais, um no teatro e outro nas terras de M., o que nos tomou várias noites para a energização de um lado e de outro, com uma cansativa viagem de barco. Com o portal, isso não é mais necessário. Nossos outros irmãos ficaram na casa de M. preparando-se. Py on conseguiu os dois cordeiros perto do rio. O sacerdote vem dirigindo cerimônias para visualização do Inominável na cidade e fazendo experiências misturando a mba-e e a lótus negra, com resultados animadores.

Vários falhos importantes foram iluminados a passaram a enxergar através da bebida. Alguns trabalhadores e novatos não resisitiram ao primeiro contato com a Verdade. Falhos demais, não são dignos de contemplar a chegada do Rei. A extração vai bem e em breve as primeiras caixas com a raiz devem chegar em Marselha, e daí para nossos irmãos por toda a Europa. Eliminamos um pequeno obstáculo curioso, nada pode se interpor entre nós e nosso objetivo.

Em breve estrearemos. O resultado ficará evidente para os irmãos. Para os falhos, não passará de mais um acidente. Mas o Rei terá sido coroado e seus súditos leais multiplicados e espalhados, como deve ser.

Além desses excertos já conhecidos, havia a descrição da montagem da peça, providências para os convites de autoridades, menções à idas e vindas pelo "portal". Alguns trechos, no entatno, chamaram a atenção do grupo:

(10 de maio)
Trouxemos há poucos dias do lago uma semente da Angakuara e a plantamos num tonel dentro do galpão. Ela floresce rápido e se alimenta bastante. Mas orientei os selvagens a não lhe dar coisas maiores do que ratos ou aves; ela deve estar do tamanho ideal, não maior do que isso, para ser colocada na réplica do lago na grande noite. Eu e ela entraremos em simbiose: ela me livrará do que ainda tenho de impuro e eu servirei como nutrição para seu despertar. Juntos nos levantaremos da água no momento correto.

(28-29 de maio)
Tenho tentado invocar as aves do Rei usando a fórmula escrita no Ang-Mbaë-Aiba. Devo ter cometido algum erro na transcrição, pois não tem dado certo. Como a fórmula tradicional tem nos servido, não me preocupei, mas devo voltar à biblioteca para verificar qual foi o equívoco.

(2 de junho)
Voltei à biblioteca e o maldito guarda-livros me disse que o Ang-Mbaë está extraviado há alguns anos. Tenho certeza de que está mentindo. M. devia ter me obedecido e retirado a obra de lá antes. O que esse bibliotecário pretende ou sabe? Onde terá escondido o livro? No momento não precisamos dele, mas logo terei que saber isso, de qualquer maneira. A obra tem conhecimentos a que outros tomos do Velho Mundo não fazem referência.

(5 de junho)
Tudo está quase pronto para o envio das primeiras caixas para a Europa. As sementes são frágeis e devem seguir em acomodação especial, não seguirão ainda. Mandaremos as raízes secas para experiências com a lótus negra e preparação do chá para nossos irmãos do velho continente. Estudos devem ser feitos para adaptá-la ao clima frio.

( 7 de junho)
Alguns problemas com um jornalista curioso. Andou bisbilhotando no teatro e no porto e chegou a ver a cerimônia do chá. M. Pretende tomar suas “providências”, mas prefiro ser mais sutil. Os selvagens Maku serão mais eficientes e discretos.

Uma hora se passa rapidamente enquanto Jim e Jerome folheiam aquele diário em busca de informações que lhes possam ser úteis.

Off: Se algum dos outros quiser, posso considerar que durante esse tempo fizeram alguma outra coisa, como olhar os outros papéis, o livro ou algo do tipo.
 
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