" - De fato é difícil fazer uma ligação racional entre o caso do desaparecimento e o nosso, mas não podemos negar essa possibilidade. Temos que prestar atenção em qualquer acontecimento e até mesmo na falta dos mesmos. No momento, ainda temos tempo e poucas pistas, então temos que analisar o máximo possível as que estão disponíveis."
Tomando o último gole de vinho da taça, ele continua:
" - E, se existe algo que aprendi nessa vida, é que não existem coincidências."
Terminando a frase com um sorriso, ele enche a taça novamente, e prossegue com seu raciocínio:
" - Quanto ao caso em si, eu considero suspeito até demais. Vamos começar pela insistência do Coronel. Independente de quanta pompa tentem demonstrar, persiste o fato de que pessoas como ele continuam sendo cafones, caipiras, por assim dizer. Como alguém como ele obtém um interesse como esse nessa peça? Se ele insiste sabendo seu conteúdo, como obteve acesso a ele? Se ele não sabe com certeza, de onde vem essa temeridade toda para lutar tanto por uma peça que fora proibida por governos e pela Igreja, pela sua suposta periculosidade? E sua insistência por também manter o texto da peça em sigilo? Certamente, ao lado de Valtrop, ele é a pessoa mais suspeita deste caso."
Tomando um pouco de fôlego, ele continua:
" - Aliás, o que quer que haja nessa peça, as evidências parecem apontar para algo intencionalmente maligo, por assim dizer. Toda a confusão em volta dela, a insistência doentia, a manutenção de sigilo absoluto, as proibições, os acontecimentos com os trabalhadores. Quando analisamos tudo em conjunto, a coisa mais amena que passa pela minha cabeça é "medonho". Existem poucos limites para as coisas ruins que não podemos pressupor que estejam ligadas à essa obra."
Com um suspiro, ele termina seu raciocínio, bebendo um gole considerável de seu vinho quando termina de falar:
" - De qualquer maneira, sugiro que investigar o Coronel seja um de nossos primeiros passos. Dependendo do que desenterrarmos do passado e da fama dele, as coisas podem ser até piores do que imaginamos..."