Jeff Donizetti
Quid est veritas?
Prólogo: Chegam os convites
Manaós, 6 de Junho de 1910, uma segunda-feira
A temperatura começa a cair na "Paris dos Trópicos" nesse fim de tarde, mas ainda assim não deixa de beirar os 25°C. Pelas ruas cuidadas da capital aumenta o fluxo de pessoas a caminho de suas casas, depois de mais um dia de trabalho. Estamos em pleno Ciclo da Borracha, e se a concorrência do produto malaio começa a assustar, não conseguiu diminuir ainda a pompa que Manaus procura apresentar para seus cidadãos e visitantes. Misturados, carros importados da Europa e Estados Unidos, propriedade de alguns dos coronéis da borracha que moram na cidade, e bondes apinhados de proletários a caminho dos novos subúrbios, que pouco lembram o fausto ostentado no centro de Manaós. Ali, entre prédios imponentes e luxuosos, como o requintado Teatro Amazonas, o Palácio do Governo, o Mercado Municipal e o prédio da Alfândega, respira-se o glamour da moda francesa e da tecnologia inglesa, com madames e barões suando em bicas por conta dos corpetes e vestidos suntuosos ou dos fraques e cartolas ou chapéu coco e exalando seus caríssimos perfumes parisienses. Para aplacar o calor, alguns endinheirados se sentam às mesas de cafés e tomam despreocupadamentes canecas de chopp alemão enquanto suas mulheres se deliciam com bombons suíços enquanto pensam ou no baile da noite ou na visita a algum cabaré para conhecer a nova “atração” trazida diretamente da Europa.
Não muito longe, vagam alguns mendigos e desocupados das casas, convenientemente mantidos à distância pela polícia e por seguranças especialmente contratados. Outros pobres da cidade, que têm a felicidade de encontrar um emprego, começam a atravessar em pontes precárias os igarapés a caminho de seus casebres sem água ou esgoto, muitas vezes construídos sobre estacas e avançando sobre as águas e conhecidos como “palafitas”. Muitos de seus moradores, em sua maioria mulheres, aguardam ansiosos a cada dia a volta triunfal do marido que foi tentar a fortuna nos seringais do meio da mata, rezando para que seus homens não padeçam de tifo, febre amarela ou atocaidados por algum bugre bravo ou seringueiro inimigo.
Mais um dia como outro qualquer vai terminando na capital manaura.
Quase ao mesmo tempo, por volta das 17:00, nesse mesmo dia cartões em rico papel couché são entregues por mensageiros a quatro pessoas em diferentes locais de Manaós. No verso, pode-se ler uma mensagem breve escrita a mão, com letra cuidadosamente desenhada e assinada com três iniciais, as mesmas do titular do cartão:
O Professor Jerome Anajé recebe o papel em sua sala na Universidade de Manaós e pouco depois de terminar vê que chega a sua porta seu novo amigo, o Professor Nagato Iuki, japonês em visita ao Brasil, segurando um cartão do mesmo tipo. Ambos sabem mais ou menos do que se trata pela conversa que tiveram na sexta anterior com o Diretor da Faculdade, que os avisara que o Diretor do Teatro Amazonas pedira que lhe indicasse alguém de sua confiança para tratar de uma assunto importante
No centro da cidade, na Central de Polícia, o mesmo cartão chega às mãos do Investigador Alberto Nascimento através de seu chefe, o Delegado Noronha, que mencionara de passagem que ia mandá-lo em uma missão a pedido “dos caras do teatro”.
Enquanto isso, em um hotel 4 estrelas da cidade, o Conforto Manauara, o Jornalista Jeremy Owen, o “Jim”, inglês recém-chegado a Manaus, recebe o mesmo cartão de um estafeta em seu quarto. Ele sabe vagamente do que se trata pela conversa que tivera com Mr. Thompson, o cônsul inglês em Manaus, que dissera ter intercedido junto aos brasileiros para que um britânico pudesse observar o andamento da montagem de uma peça de teatro que fora proibida na Grã-Bretanha, pedindo ao jovem que estivesse atento a qualquer possível ameaça à Coroa.
FIM DO PRÓLOGO
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Off: Senhores, passo-lhes a palavra... Lembrando que são 17:00 do dia 6 de junho e o encontro está agendado para a tarde do dia seguinte.
Manaós, 6 de Junho de 1910, uma segunda-feira
A temperatura começa a cair na "Paris dos Trópicos" nesse fim de tarde, mas ainda assim não deixa de beirar os 25°C. Pelas ruas cuidadas da capital aumenta o fluxo de pessoas a caminho de suas casas, depois de mais um dia de trabalho. Estamos em pleno Ciclo da Borracha, e se a concorrência do produto malaio começa a assustar, não conseguiu diminuir ainda a pompa que Manaus procura apresentar para seus cidadãos e visitantes. Misturados, carros importados da Europa e Estados Unidos, propriedade de alguns dos coronéis da borracha que moram na cidade, e bondes apinhados de proletários a caminho dos novos subúrbios, que pouco lembram o fausto ostentado no centro de Manaós. Ali, entre prédios imponentes e luxuosos, como o requintado Teatro Amazonas, o Palácio do Governo, o Mercado Municipal e o prédio da Alfândega, respira-se o glamour da moda francesa e da tecnologia inglesa, com madames e barões suando em bicas por conta dos corpetes e vestidos suntuosos ou dos fraques e cartolas ou chapéu coco e exalando seus caríssimos perfumes parisienses. Para aplacar o calor, alguns endinheirados se sentam às mesas de cafés e tomam despreocupadamentes canecas de chopp alemão enquanto suas mulheres se deliciam com bombons suíços enquanto pensam ou no baile da noite ou na visita a algum cabaré para conhecer a nova “atração” trazida diretamente da Europa.
Não muito longe, vagam alguns mendigos e desocupados das casas, convenientemente mantidos à distância pela polícia e por seguranças especialmente contratados. Outros pobres da cidade, que têm a felicidade de encontrar um emprego, começam a atravessar em pontes precárias os igarapés a caminho de seus casebres sem água ou esgoto, muitas vezes construídos sobre estacas e avançando sobre as águas e conhecidos como “palafitas”. Muitos de seus moradores, em sua maioria mulheres, aguardam ansiosos a cada dia a volta triunfal do marido que foi tentar a fortuna nos seringais do meio da mata, rezando para que seus homens não padeçam de tifo, febre amarela ou atocaidados por algum bugre bravo ou seringueiro inimigo.
Mais um dia como outro qualquer vai terminando na capital manaura.
Quase ao mesmo tempo, por volta das 17:00, nesse mesmo dia cartões em rico papel couché são entregues por mensageiros a quatro pessoas em diferentes locais de Manaós. No verso, pode-se ler uma mensagem breve escrita a mão, com letra cuidadosamente desenhada e assinada com três iniciais, as mesmas do titular do cartão:


O Professor Jerome Anajé recebe o papel em sua sala na Universidade de Manaós e pouco depois de terminar vê que chega a sua porta seu novo amigo, o Professor Nagato Iuki, japonês em visita ao Brasil, segurando um cartão do mesmo tipo. Ambos sabem mais ou menos do que se trata pela conversa que tiveram na sexta anterior com o Diretor da Faculdade, que os avisara que o Diretor do Teatro Amazonas pedira que lhe indicasse alguém de sua confiança para tratar de uma assunto importante
No centro da cidade, na Central de Polícia, o mesmo cartão chega às mãos do Investigador Alberto Nascimento através de seu chefe, o Delegado Noronha, que mencionara de passagem que ia mandá-lo em uma missão a pedido “dos caras do teatro”.
Enquanto isso, em um hotel 4 estrelas da cidade, o Conforto Manauara, o Jornalista Jeremy Owen, o “Jim”, inglês recém-chegado a Manaus, recebe o mesmo cartão de um estafeta em seu quarto. Ele sabe vagamente do que se trata pela conversa que tivera com Mr. Thompson, o cônsul inglês em Manaus, que dissera ter intercedido junto aos brasileiros para que um britânico pudesse observar o andamento da montagem de uma peça de teatro que fora proibida na Grã-Bretanha, pedindo ao jovem que estivesse atento a qualquer possível ameaça à Coroa.
FIM DO PRÓLOGO
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Off: Senhores, passo-lhes a palavra... Lembrando que são 17:00 do dia 6 de junho e o encontro está agendado para a tarde do dia seguinte.
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