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[Caio Alves] No infinito[L]

Caio Alves

Asuka Langley Soryu
Quando eu a encontrei em uma bela manhã de algum mês esquecido falávamos de literatura. Eu citava as minhas impressões sobre o velho senhor de barbas e cabelos pretos, de uma tristeza incomensurável pelo mundo belo que sempre fora mas de repente partira. Ela ouvia, envolvente e envolvida, pelo embalo das doces canções de tempos idos, a minha monótona preleção. O sol nascia e se punha com o dia que era noite e anoitecia nos nossos corações, crepusculava a tristeza outonal. A tristeza pela morte que não vem, pelo ouro que não reluz, pela montanha tão, tão distante. A sabedoria das árvores nada sabia da verdade profunda de nossas confabulações.

Lembro do teu rosto mediado pela distância, diminuído por uma presença virtual e atualizada de símbolos e expressões que nenhum outro século além do nosso jamais conheceu ou conhecerá. Pois muda o mundo, muda a linguagem, mas a nossa tristeza é a mesma. A mesma clareza nos teus olhos de lince me revelaria a profundidade do meu abismo mas naquele momento eu só pude esquecer a paixão morena dos olhos negros porque o teu interesse se fixava nas minhas pesquisas, na minha viagem insone por um mundo triste. Outrora só pensaria nisso, hoje eu superei as paixões, e me embriago com nossos pensamentos, trocados, em um amor senil, uma amizade atemporal. Será? Teríamos a mesma beleza como na época da inocência? Inocência haveria? Os sonhos que me embalariam seriam menos perturbados pela serenidade do primeiro encontro, o espelho no teu olhar, um nervosismo da minha própria alma esticada e não de medo. Não mais medo, não mais solidão.

Encontrar-me contigo é me revelar o teu rosto da forma mais pura e mais deslavada, é revelar o teu eu mais profundo. Revelá-lo, face dos meus sonhos, é te descobrir na minha tristeza, no meu desespero, reencontrar o Homem Perdido, jamais perdido, mas que nos recusamos a encontrar, o Revelador das faces. Deixemos o homem para lá... A tua dureza recriminatória contrasta com a beleza sedosa do rosto de verão, transbordante de vida e de um calor voraz por apetites. Adoro porque não me torna culpado por outras areias em que me afundei, pois nestas era areia movediça, e a tua terra é argamassa de catedrais, as mais belas. A culpa se esvanece pelo jorro de vida que me alivia as dores, desafoga das fadigas e dá alento. Alento é o teu nome.

O rosto que se não encontra é uma humanidade perdida, uma alma desumanizada. O rosto só se revela a partir do contato com outro rosto, ser uma pessoa é isso, ser humano, enfim. Lições catedráticas inspiradas no profeta da tristeza e do alento. Lembro de lhe afirmar que a humanidade só se recuperaria quando cada um tivesse a consciência e o firme propósito de que nada pode fazer pela humanidade, que vãos são nossos esforços e que nossa única esperança está Naquele Rosto que nos permite nos discernirmos uns aos outros. O valor de nossas tristes vidas está nessa tristeza mesma, ali quando acaba todo o mundo físico, a materialidade da face, o brilho imaterial do olhar, o toque das mãos, o contato do pensamento. O desacordo entre a linguagem e o pensamento, a matéria e o espírito, o sujeito e o objeto, os condicionamentos que nos separam de Deus, essa barreira, a não-Verdade, o não-rosto, a antipessoalidade está na idolatria fria de nossas imagens corpóreas, políticas, mundanas. Ah, lições...

O que as benditas lições não me ensinaram foi ver que naquela conversa o meu coração se abrira ao maior milagre do universo, me ver, livre, claro, brilhante, voando pelas nuvens com toda a minha essencialidade, refletido em você, na tua verdade, na tua tristeza. O que revelamos um ao outro... é inescapável. infindo, imenso. Nós nos encontramos pela palavra no infinito. Ali, só ali, onde somos realmente livres, onde vemos de fato os rostos um do outro, onde brilha o valor, o sentido, a vida. No infinito, no abismo escuro e profundo de nossas consciências. Não há fardo pesado que não carregue por ti e a minha cruz será a tua para todo o sempre. Porque sim. No infinito.
 
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