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Brasil Ópera-Bufa (Luís Fernando Neis Blaschke)

Passei aqui para avisar que o meu livro acabou de chegar. Já tava quase cancelando a compra. Brinks, gente. (Mas que o site dos correios cismou que meu endereço estava errado, cismou. hahahahahaha)

Melhor dedicatória do mundo! :grinlove::rofl::chibata:🥰.

Mas não vou compartilhar minha dedicatória, aqui, não. Tenho certeza de que vocês também ganharam ou ganharão dedicatórias fofas.

P.S.: Cês já compraram o livro? Bora comprar, gente.
 
Última edição:
Como tem gente do fórum que não usa o FB, vou postar, aqui, o texto que publiquei lá, ontem, sobre o livro.

É consenso que não se deve julgar o livro pela capa. Entretanto, é inegável que é por ela que a leitura de um livro começa. Com isso em mente, dentre as muitas coisas que se pode depreender da capa de "Brasil Ópera-Bufa", impactou-me a fonte com a qual o título do livro e o nome do autor foram grafados.
O tom escarnecedor, que, por vezes, deixa transparecer a melancolia que perpassa os poemas do Neis Blaschke, anuncia-se nestas letras, que lembram os moldes alfabéticos utilizados na criação das capas dos trabalhos escolares, quando eu cursava o Ensino Fundamental. Na folha de papel almaço, com o auxílio da régua alfabética, escrevia-se "Trabalho de" acrescido do nome da disciplina correspondente. As letras da capa ficavam em perfeita simetria.

A métrica, ditada pelo uso impecável de formas fixas, também é a fonte com a qual se inscreve na Literatura Contemporânea Brasileira esta ópera de escárnio e maldizer, sob o riso estridentemente contido de Luís Fernando Neis Blaschke e os borrões causados pela tinta do pincel que ficou no normógrafo.

Quem avisa, amigo é; ou não. O aviso poético que abre o livro é o “mea-culpa” mais irônico do mundo, no qual a voz poética se coloca como ré e juíza, e, depois, como anônima. Em seguida, no "Prólogo", apresenta-se, “en passant”, e por meio de hiperônimos, as duas grandes vozes em disputa na ópera que se segue. Vozes estas mediadas e instigadas — espinafradas — pelo poeta que, enquanto “dá de ombros”, espia e expia as desventuras encenadas no Brasil.

Não se enganem, a ópera começou antes do primeiro ato, embora muito tarde tenhamos notado tal fato, porque estávamos muito preocupados em desvendar os mistérios da saudação à mandioca — numa terra que não tem mais palmeiras nem sabiá — enquanto ouvíamos Biquíni e Cavadão, e tentávamos estocar vento.

Em “Brasil Ópera-Bufa” satiriza-se o ufanismo desde a saudação à mandioca — que funciona, também, como uma jocosa saudação do poeta ao leitor. E essa sátira percorre, como massa do vento não estocado, todo o livro, no qual cada declaração de amor pelo país faz com que este deseje, desesperadamente, ser odiado.

Uma das citações que abrem a ópera está no livro de João, 8:32: “E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. Não parece, mas trata-se de um aviso ao leitor, tecido com as letras da facécia: desta Ópera, não tente conhecer toda a verdade, porque ela não se mostra em sua inteireza; antes, mostra-se fracionada, mutilada, inventada.

Eu poderia dizer que, em “Brasil Ópera-Bufa”, Luís Fernando Neis Blaschke faz um retrato possível do Brasil dos últimos anos, contudo isso não faria justiça ao primoroso trabalho do poeta. Ele faz o único retrato possível do Brasil dos últimos anos.

Eu também poderia me debruçar sobre cada um dos poemas desta ópera, mas seria de bom tom? Não. O ideal é que as pessoas queiram apreciar a Ópera sem conhecerem as tecnicidades inerentes à sua constituição. Não se preocupem, ter conhecimentos prévios sobre o assunto não atrapalha, em nada, o processo de fruição estética do livro.

Uma prova disso encontra-se no magnífico Soneto Inglês denominado “Pesadelo presidencial”. Quando chegamos ao dístico (couplet), impossível não gargalharmos com a genialidade demonstrada pelo poeta ao utilizar o vocábulo “inocenta” em “Eu juro-lhes por Deus, sou inocenta!”. E essa gargalhada encontrou terreno fértil para florescer por causa da querela que se instaurou desde que a Dilma, no seu primeiro mandato, optou por ser chamada de “Presidenta”.

Nesse caso, a rima extrapola os limites do soneto — acrescenta/inocenta — e desagua no contexto discursivo em que gramáticos tradicionais, linguistas e representantes de Movimentos Sociais se digladiaram durante muito tempo. Todavia, os pormenores do (in)frutífero alvoroço em torno da questão mencionada o poeta deixou para os atores que ocuparam o palco. Ao artífice, interessou fazer saber; abrir a ferida para que nós, leitores, pudéssemos observá-la e tirarmos nossas próprias (in)conclusões sobre o assunto satirizado.

Outro exemplo de que os conhecimentos prévios acerca do imbróglio em que se transformou o cenário político brasileiro contribuem para que possamos fazer uma leitura mais profícua de “Brasil Ópera-Bufa” encontra-se no poema “Profissão de fé”. Para além da referência óbvia ao seu mestre, Olavo Bilac, no poema em questão Neis Blaschke faz um escrutínio de alguns dos pressupostos que sustentam o comportamento, quase religioso, que faz com que militantes — à Direita e à Esquerda — apeguem-se a uma ideia e não consigam considerar a possibilidade de estarem equivocados.

Na ânsia pelo excesso do excesso, pessoas com inclinações políticas aqui satirizadas acabam por, de algum modo, viverem num estado de êxtase — que vai da idolatria cega ao Lula às histórias para gado dormir, prescritas, sob medida, por Olavo de Carvalho, para a defesa de Bolsonaro — tão profundo que incorrem em um dos perigos do elemento letárgico, conforme Nietzsche: a ruptura com a realidade.

É no perscrutar dessa ruptura com a realidade que, seja em Sonetos Ingleses ou Petrarquianos, Trovas ou demais formas fixas que figuram no livro, nada passa pelo buraco da agulha satírica com que Luís Fernando Neis Blaschke — por meio de uma linguagem que remonta a uma tradição de poetas satíricos, dentre os quais destaca-se Gregório de Matos — costura esta colcha de retalhos chamada Brasil.
“Bettina, profissão: herdeira”, entalou-se com as notas do seu milhão; a IURD e a Igreja Católica nem se aproximaram da agulha, que foi ocultada por seus respectivos egos; a família Bolsonaro foi ridicularizada a ponto de não saber o que vem a ser uma agulha; Sérgio Moro amassou a agulha com sua toga burlesca.

Maldita agulha que nos contaminou com o Comunavírus! Vírus este que deve ser o responsável pelo meu poema preferido do livro ser “Fúria e tradição”. A mordacidade desse soneto é, ao mesmo tempo, bela e assustadora. E, confesso, fiquei conscientemente perdida na imensidão de reflexões que cabem nos versos: “Melhor seria se vestisse burca/ Melhor ainda se nem fosse viva...”.

Observa-se, no poema em questão, como em todos os poemas que compõem “Brasil Ópera-Bufa”, o brilhantismo com que o trabalho desenvolvido pelo poeta nos induz ao riso crítico. Assim, no descompasso desta desencantada ópera chamada Brasil, Luís Fernando Neis Blaschke, nas pegadas de Freud, faz valer a máxima de que “brincando pode-se dizer tudo, até a verdade”.
 
Já falei no FB que achei lindinha sua resenha. Agora quero ver esse censo literário atualizado aí, ó, senão o chicote vai estralar geral :chibata:
Mas eu atualizei! Cê nem viu que eu botei o livro lá? :cry:

Peraí, eu li errado ou você está devaneando, Luís Fernando? Quem comanda o chicote sou eu!

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