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Barragem da Vale se rompe em Brumadinho, na Grande BH

Bel

o.O
Barragem da Vale se rompe em Brumadinho, na Grande BH
Mar de lama avançou sobre casas na área rural da cidade. Ainda não há informações sobre vítimas.
Por G1 Minas — Belo Horizonte

25/01/2019 13h17 Atualizado há um minuto

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Barragem se rompe em Brumadinho (MG) — Foto: Corpo de Bombeiros/Divulgação

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Rompimento de barragem em Brumadinho

Uma barragem da mineradora Vale se rompeu nesta sexta-feira (25), em Brumadinho, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Ainda não há informações sobre vítimas. Imagens aéreas mostram que um mar de lama destruiu casas da região do Córrego do Feijão. O Corpo de Bombeiros e a Defesa Civil estão indo para o local.

A Vale informou que o rompimento ocorreu no início da tarde de hoje, na Mina Feijão. As primeiras informações indicam que os rejeitos atingiram a área administrativa da companhia e parte da comunidade da Vila Ferteco.

"A prioridade total da Vale, neste momento, é preservar e proteger a vida de empregados e de integrantes da comunidade", disse.

O que se sabe até agora

  • Rompimento ocorreu no início da tarde na Mina do Feijão, da Vale, em Brumadinho
  • Corpo de Bombeiros e Defesa Civil municipal e estadual estão mobilizados
  • Prefeitura emitiu alerta para que população se mantenha longe do leito do Rio Paraopeba
  • Por precaução, o Instituto Inhotim está retirando funcionários e visitantes do local
  • Ainda não há informações sobre vítimas

De acordo com a Defesa Civil, os moradores que moram na parte mais baixa da cidade estão sendo retirados das casas.

O helicóptero do Corpo de Bombeiros está sobrevoando o local. O secretário de Estado do Meio Ambiente, Germano Vieira, também está indo para lá.

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Lama se espalha pela vegetação — Foto: Redes sociais

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Arte - Barragem da Vale se rompe — Foto: Igor Estrella/G1

Alerta da prefeitura

Fotos de moradores divulgadas pelo Corpo de Bombeiros mostram a lama. Nas redes sociais, a prefeitura da cidade publicou um alerta para que a população não fique perto do leito Rio Paraopeba.

Vídeo da lama

Um vídeo divulgado nas redes sociais mostra o estrago causado pela lama (veja abaixo). "O Feijão acabou com tudo, com restaurante, tava todo mundo almoçando. Acabou com tudo, acabou com tudo, tem nada mais", diz o autor das imagens.

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Barragem da Vale se rompe em Brumadinho (BH)

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Barragem em Brumadinho, na Grande BH — Foto: Redes sociais

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Barragem se rompe em Brumadinho (MG) — Foto: Globocop/Reprodução

Nota da Vale

Veja a íntegra do texto:

"A Vale informa que ocorreu, no início da tarde de hoje, o rompimento de uma barragem na Mina Feijão, em Brumadinho (MG). As primeiras informações indicam que os rejeitos atingiram a área administrativa da companhia e parte da comunidade da Vila Ferteco. Ainda não há confirmação se há feridos no local. A Vale acionou o Corpo de Bombeiros e ativou o seu Plano de Atendimento a Emergências para Barragens.

A prioridade total da Vale, neste momento, é preservar e proteger a vida de empregados e de integrantes da comunidade.

A companhia vai continuar fornecendo informações assim que confirmadas."

A reportagem está em atualização.

https://g1.globo.com/mg/minas-gerai...-de-barragem-em-brumadinho-na-grande-bh.ghtml
 

Anexos

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Dessa vez o Rio São Francisco corre risco, pois a lama já chegou no Rio Paraopeba, que é um afluente do Chico :(
 
Triste é que quando aconteceu o acidente de Mariana foi alertado que outras barragens semelhantes corriam o mesmo risco e não fizeram nada.
 
Brumadinho: as perguntas que ainda não foram respondidas
João Fellet Da BBC News Brasil em São Paulo
  • 26 janeiro 2019
Enquanto equipes buscam sobreviventes do rompimento de uma barragem da mineradora Vale em Brumadinho (MG), técnicos começam a se debruçar sobre as causas da tragédia.

Até a noite de sábado, 34 pessoas haviam morrido e 296 estavam desaparecidas após a Barragem 1 da Mina Córrego do Feijão desabar, provocando uma avalanche de lama que engoliu edificações da Vale e atingiu casas na vizinhança.

O juiz do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) Renan Chaves Carreira Machado, a pedido da Advocacia Geral do Estado (AGE), determinou o bloqueio de R$ 1 bilhão das contas da empresa Vale, após o rompimento da barragem. O valor deve ser disponibilizado em uma conta judicial.

A medida, proposta pelo Estado de Minas Gerais e decidida pela Justiça em caráter liminar, busca oferecer "imediato e efetivo amparo às vítimas e redução das consequências (...) e na redução do prejuízo ambiental".A decisão determina, ainda, que a empresa apresente, em até 48 horas, "um relatório sobre as ações de amparo às vítimas, adote medidas para evitar a contaminação de nascentes hidrográficas, faça um planejamento de recomposição da área afetada e elabore, de imediato, um plano de controle contra a proliferação de pragas e vetores de doenças diversas".

A BBC News Brasil ouviu três integrantes de organizações que monitoram a mineração na região e acompanham os desdobramentos do acidente.
Elas listaram perguntas que ainda não foram respondidas pela empresa e por autoridades - e cujas respostas ajudarão a compreender os motivos do desastre e a medir seus impactos.

Por que o sistema de alarme não funcionou?
Segundo Maria Júlia Andrade, que integra o Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM), moradores de áreas vizinhas à barragem disseram que o sistema de alarme não funcionou no momento do acidente.

A Vale promoveu um treinamento com os moradores da região para casos de acidente, orientando-os sobre como agir e para onde fugir caso ouvissem o alarme. Porém, segundo Andrade, nenhuma sirene foi acionada após o acidente. "É a sirene que desencadeia todos os protocolos de segurança. Se ela não toca, não há protocolo."

Em entrevista coletiva na sexta, o presidente da Vale, Fabio Schvartsman, disse que o acidente pode ter ocorrido muito bruscamente, sem que o alarme pudesse surtir efeitos.

Outras barragens foram afetadas pelo rompimento?
Após o acidente, bombeiros disseram à imprensa que o rompimento da barragem havia danificado outras duas barragens do mesmo complexo de mineração.

Já o presidente da Vale afirmou que uma única barragem se rompeu e que uma segunda barragem havia transbordado, mas estava com a estrutura intacta.

Direito de imagem Corpo de Bombeiros de MG
Image caption Rompimento de barragem provocou uma avalanche de lama que engoliu edificações da Vale e atingiu casas na vizinhança
Representante do Comitê Nacional em Defesa dos Territórios Frente à Mineração, Katia Visentainer diz que, caso outras barragens tenham sido danificadas, o volume de rejeitos poderá ser ainda maior.

Segundo a Vale, a barragem que rompeu tinha um volume de cerca de 11,7 milhões de metros cúbicos. Em comparação, no acidente da Samarco em Mariana, foram liberados 34 milhões de metros cúbicos de rejeitos.

Não se sabe quais os volumes das outras duas barragens do complexo em Brumadinho.

Até onde a lama chegará?
O presidente da Vale disse que o impacto ambiental do acidente em Brumadinho será menor do que o de Mariana, quando uma avalanche de lama percorreu 633 km de cursos d'água, atingindo 39 municípios em dois Estados - o maior desastre ambiental da história do Brasil.

A lama do desastre em Brumadinho já chegou ao rio Paraopeba, que é um afluente do São Francisco. Este, por sua vez, é o rio mais importante da região Nordeste, responsável pelo abastecimento de dezenas de milhões de pessoas.

Para chegar ao São Francisco, a lama terá de atravessar outras barragens que não estão em sua capacidade máxima e que podem diluí-la, atenuando seus impactos na bacia.

O alcance da lama também poderá ser influenciado pelo clima: caso chova forte nos próximos dias, o volume da lama despejada nos rios poderá aumentar.

Como a barragem teve sua segurança aprovada em relatórios recentes?
Segundo a Vale, a barragem rompida tinha Declarações de Condições de Estabilidade emitidas pela empresa TUV SUD em junho e setembro de 2018. A empresa diz que os documentos atestavam "a segurança física e hidráulica da barragem".

Porém, especialistas questionam os critérios dessa aprovação. Alessandra Cardoso, assessora política do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), cita o fato de que a barragem estava sem receber rejeitos há três anos.

"É importante saber se a empresa adota o mesmo rigor de segurança em barragens que estão inativas, em processo de sedimentação."

Para ela, quando uma mina ou barragem paralisa suas atividades, "a tendência é que a empresa dê menos atenção" aos critérios de segurança.
Fonte: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-47012088
 
Pra aqueles que acham que privatização é melhor em si, ver casos da Exxon Valdez, British Petroleum, só pra citar uns exemplos, e agora a Vale. Mas isso não quer dizer que estatais são melhores em si também (ver casos de Chernobyl, Mar de Aral pelos soviéticos), a questão é mais complexa...

 
A despeito das lamentáveis perdas humanas e o enorme prejuízo ambiental em que a Vale deverá ser seriamente responsabilizada e que espero arque com as devidas consequências, ainda assim espero também que:

1- Não impacte drasticamente no futuro do Instituto Inhotim ,um dos maiores e melhores centros de arte contemporânea do mundo, patrocinado pela Vale e que há pouco mais de uma década mudou completamente de forma altamente positiva o perfil da cidade de Brumadinho, pois vinha se destacando cada vez mais num setor muito importante que é o turismo.

2- Não afete também o famoso Trem da Vale que é o roteiro de trem BH-Vitória, que é a única rede de trem de viagens de passageiros de longa distância entre duas capitais brasileiras que ainda funciona decentemente no Brasil e que há vários anos é mantido pela Vale.
 
Funcionários da Vale e engenheiros que atestaram barragem em MG são presos
** Posts duplicados combinados **
Empresa de cosméticos causa polêmica ao fazer "campanha" por Brumadinho com atores enlameados

Iniciativa foi considerada "oportunista" e "sem noção" na internet
28.01.2019

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Modelos foram contratados por marca de cosméticos (Foto: Divulgação)

Uma empresa postou em suas redes sociais um ensaio protesto sobre a tragédia em Brumadinho (MG).

A empresa, a Jendayi Cosméticos, e o fotógrafo Jorge Beirigo contrataram atores para interpretar as vítimas. Eles aparecem cobertos de lama, abraçados e segurando uma bandeira do Brasil.

O fotógrafo, que também trabalha no marketing da empresa, afirmou em um post que “o objetivo da campanha é mostrar que existe uma marca de cosméticos que se preocupa com a beleza…beleza da vida”.

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Campanha foi considerada "oportunista" por usuários de rede social (Foto: Divulgação)

As fotos da postagem original foram deletadas pela Jendayi. No entanto, uma foto continua no ar no Facebook. Lá, as reações são sobretudo negativas. Os comentários chamam a empresa de "oportunista" e "sem noção", entre outros adjetivos não muito cordiais.

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Tragédia em Brumadinho ocorreu na última sexta (25) (Foto: Divulgação)

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:doh:
 
Funcionários da Vale e engenheiros que atestaram segurança de barragem em Brumadinho são presos em MG e SP
Investigações apontam suspeita de fraude em documentos. Último balanço da Defesa Civil de MG confirmou que 65 pessoas morreram e 279 ainda estão desaparecidas.
Por Bruno Tavares e Robinson Cerantula, TV Globo

29/01/2019 06h43 Atualizado há 13 minutos

Cinco pessoas foram presas na manhã desta terça-feira (29) suspeitas de responsabilidade na tragédia da barragem 1 da Mina do Feijão, em Brumadinho (MG), que se rompeu na sexta-feira (25). Dois engenheiros da empresa TÜV SÜD que prestavam serviço para a mineradora Vale foram presos em São Paulo. Em Minas, foram presos três funcionários da Vale.

Na noite de segunda-feira (28), a Defesa Civil de Minas Gerais informou que há 65 mortos e 279 desaparecidos após a tragédia provocada pelo rompimento da barragem da mineradora Vale, na região metropolitana de Belo Horizonte. Nesta terça-feira, começa o quinto dia de buscas no local.

Os investigadores do Ministério Público e da polícia apuram se documentos técnicos, feitos por empresas contratadas pela Vale e que atestavam a segurança da barragem que se rompeu, foram, de alguma maneira, fraudados.

Quem foi preso
  • André Yassuda - engenheiro, preso em SP
  • Makoto Namba - engenheiro, preso em SP
  • Cesar Augusto Paulino Grandchamp - geólogo da Vale, preso em MG
  • Ricardo de Oliveira - gerente de Meio Ambiente Corredor Sudeste da Vale, preso em MG
  • Rodrigo Artur Gomes de Melo - gerente executivo do Complexo Paraopeba da Vale, preso em MG
Atestado de segurança

Segundo investigadores, os engenheiros presos em São Paulo participaram de forma direta e atestaram a segurança da barragem número 1 da Mina do Feijão, que se rompeu em Brumadinho.

Os engenheiros Makoto Namba e André Yassuda foram presos em São Paulo, nos bairros de Moema e Vila Mariana, Zona Sul. Eles foram levados para a sede da Polícia Civil e deverão ser encaminhados em seguida para Minas Gerais, após embarcarem no Aeroporto Campo de Marte, na Zona Norte.

Na casa de Makoto Namba, chamou a atenção dos investigadores o fato de haver vários recortes de jornal com informações sobre a tragédia de 2015 de Mariana, da Samarco. Também foram identificados cartões de crédito, computadores e extratos de contas bancárias no exterior.

Licenciamento

Na região metropolitana de Belo Horizonte, foram presos os engenheiros da Vale diretamente envolvidos e responsáveis pelo licenciamento do empreendimento minerário onde fica a barragem que se rompeu. A reportagem tenta contato com a defesa dos presos.

As ordens da Justiça são de prisão temporária, com validade de 30 dias, e foram expedidas pela Justiça no domingo.

Por meio de nota, a Vale informou que "está colaborando plenamente com as autoridades". "A Vale permanecerá contribuindo com as investigações para a apuração dos fatos, juntamente com o apoio incondicional às famílias atingidas", diz a nota divulgada após a prisão dos engenheiros.

Também por meio de nota, a Tüv Süd Brasil, responsável pelas análises de segurança da barragem, informou que "não irá se pronunciar neste momento e fornece todas as informações solicitadas pelas autoridades".

A Tüv Süd Brasil informou, ainda, lamentar "profundamente o rompimento da Barragem I da Mina de Córrego do Feijão". Segundo a empresa, foram feitas duas avaliações da barragem a pedido da Vale: "uma revisão periódica da segurança da barragem (junho de 2018) e uma inspeção regular da segurança da barragem (setembro de 2018)".

Mandados de busca e apreensão em empresas

A Polícia Federal em São Paulo também participa da operação e cumpre, neste momento, dois mandados de busca e apreensão em empresas que prestaram serviços para a Vale. O nome das empresas ainda não foi divulgado.

Toda a operação é coordenada por policiais, promotores e procuradores de Minas Gerais. A força-tarefa envolve a Polícia Federal, o Ministério Público Estadual e Federal e a Polícia Civil.

As ações em São Paulo são coordenadas por promotores do núcleo da capital do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do MP de São Paulo, e pelo Departamento de Capturas (Decade) da Polícia Civil paulista.
** Posts duplicados combinados **
VALE SABIA DE PROBLEMAS NA BARRAGEM E OMITIU OS RISCOS EM DOCUMENTO PÚBLICO
Breno Costa
28 de Janeiro de 2019, 16h20

A VALE FOI ALERTADA sobre falhas nos procedimentos de controle e manutenção da barragem que se rompeu em Brumadinho, mas omitiu as informações para a população. Em seu Relatório de Impacto Ambiental, apresentado em 2017, a empresa cortou uma tabela importante que alertava para os riscos, produzida para um relatório de 2015. O documento de 2015 é o mesmo que serviu de base para a versão mais recente, de 2017, apresentado sem as informações sobre os riscos da barragem.

Os problemas na barragem foram identificados por uma consultoria contratada pela mineradora, a empresa Nicho Engenheiros Consultores Ltda, uma firma de Belo Horizonte com atuação nesse mercado desde 1990. O Intercept conversou com o dono da Nicho, o engenheiro Sérgio Augusto da Silva Roman, que assinou o estudo de impacto de Brumadinho como responsável técnico. A Vale precisava dos laudos para expandir a mineração em Brumadinho.

Questionado sobre a ausência das informações na versão divulgada ao público geral em 2017, Sérgio Roman diz que “não foi por omissão, mas porque não cabia mesmo”. Perguntado por que não cabia esse tipo de informação mesmo depois da tragédia ocorrida em Mariana, em 2015, o engenheiro justificou assim: “A população não ia entender porcaria nenhuma”.


“Eu vi árvores enormes e pessoas desaparecerem sob a lama”, contou Emerson dos Santos. Ele permaneceu na casa de sua família para proteger o que restou dela de saques. Foto: Mauro Pimentel/Getty Images

Medidores danificados, drenos secos
O documento é o Estudo de Impacto Ambiental (EIA), exigido de qualquer empreendimento que afete o meio ambiente. A papelada é a base dos processos de licenciamento. É a partir do documento e de vistorias próprias e eventuais pedidos de esclarecimentos que os órgãos de controle ambiental autorizam obras ou, se for o caso, determinam o cumprimento de “condicionantes” – medidas práticas que devem ser tomadas para que, aí sim, as licenças necessárias sejam dadas pelo governo. É um processo lento, geralmente proporcional ao tamanho do empreendimento.

Entre as mais de duas mil páginas redigidas a partir do trabalho de uma equipe de 27 profissionais, a Nicho listou falhas de segurança nas barragens da Vale em Brumadinho. Os problemas afetavam diretamente a Barragem I, a maior do complexo do Córrego do Feijão, justamente a que estourou no dia 25 despejando uma quantidade equivalente a 4.800 piscinas olímpicas lotadas de lama tóxica sobre funcionários da própria Vale e residências espalhadas na zona de mineração da empresa.

O estudo de impacto descreve, a partir da página 1.041, os métodos geralmente usados na indústria para controlar a segurança de barragens. Um monte de termos técnicos para basicamente dizer que alguns elementos são simples de observar (como fissuras superficiais e erosões), enquanto outros, praticamente invisíveis, demandam uma atenção muito maior e o apoio de instrumentos. O problema é que, segundo a consultoria contratada pela Vale, os instrumentos da gigante mundial da mineração não estavam em perfeitas condições.


Relatório de 2015 identificou medidores de pressão que não estavam funcionando.

Uma geringonça chamada piezômetro é essencial para a medição do nível da pressão exercida pelos rejeitos e pela água sobre a estrutura das barragens. O relatório diz que a Vale tinha 78 deles para medir diferentes pontos das barragens, mas quatro deles eram antigos (instalados oito anos antes) e “alguns foram danificados ou suspeita-se não estarem funcionando corretamente”. A pressão dos rejeitos sobre a parede de contenção é justamente o motivo mais evidente do rompimento. Pelo relatório, portanto, a Vale não poderia ter certeza, à época, de que a pressão estava sob controle, já que vários medidores eram antigos, estavam danificados ou sequer funcionavam. Perguntada, a empresa não respondeu se trocou os equipamentos.

Outro instrumento importante são os drenos, que conseguem medir a vazão da água. Nesse caso, indica a Nicho nas suas observações, “vários drenos encontram-se secos” – ou seja, não estavam medindo vazão nenhuma.

Numa espécie de puxão de orelha na mineradora, os especialistas da Nicho registraram que, “como princípio, a manutenção deve ser executada imediatamente após a identificação do problema evitando-se sua progressão, conjugação com outros e ameaça à segurança das Barragens I e VI”. Como os problemas foram encontrados naquele momento, era sinal, portanto, de que não havia reação imediata da Vale aos problemas (ou ao menos sobre parte deles).


Empresa que fez o estudo deu um puxão de orelha na Vale.

Para apresentar às autoridades ambientais o impacto que determinado empreendimento terá no meio ambiente (árvores, rios, animais e também seres humanos), as mineradoras contratam empresas de consultoria independentes, com equipe formada por especialistas de diferentes áreas (de biólogos a geólogos, passando por engenheiros), para detalhar os possíveis impactos ambientais gerados pelas suas atividades. É uma exigência legal. Mas também uma relação de conflito de interesses intrínseca já que, no fim das contas, o objetivo do estudo é convencer o poder público a liberar as obras.

No caso da Vale, que desde 2003 explode montanhas na região do Córrego do Feijão em busca de minério de ferro, a contratada para produzir os laudos é a Nicho. Em agosto de 2015, portanto meses antes do rompimento da barragem da Samarco (controlada pela Vale) em Mariana, a Vale apresentou às autoridades ambientais de Minas Gerais mais de 2 mil páginas redigidas pela Nicho detalhando todo o projeto de expansão da operação de Brumadinho.

O Copam (Conselho Estadual de Política Ambiental, órgão de Minas Gerais responsável pela concessão da licença) nunca pediu esclarecimentos sobre os problemas apontados em relação à Barragem I.

Calhas entupidas e até formigas
O engenheiro Sérgio Augusto da Silva Roman, da Nicho, que assinou o estudo de impacto de Brumadinho como responsável técnico, explica que a observação dos problemas se deu em vistoria presencial, mas que não caberia à sua empresa fazer uma análise mais pormenorizada da estrutura. “Nós que fazemos licenciamento só recebemos o projeto pronto. Pressupõe-se que todos os critérios técnicos e de segurança tenham sido obedecidos”, disse.

“A gente faz observação, [aponta que] tem tal problema. Mas dificilmente numa mina que já está operando o órgão ambiental vai dizer que não pode operar mais”, afirma. A barragem que estourou estava em operação desde a década de 1950. Segundo Roman, caberia ao órgão técnico pedir à Vale mais esclarecimentos, complementação de informações, para fazer uma análise mais profunda antes de conceder a licença. “Se o órgão ambiental diz que não tem problema, não sou eu que vou dizer que tem”.

Entre outros problemas encontrados, estavam também o acúmulo de sedimentos em calhas onde deveria escorrer água pela encosta da barragem e a presença de formigueiros na estrutura inclinada que liga o topo dela ao chão (se há formigueiros, sinal de que as formigas estavam penetrando no solo).

E, por fim, um outro problema de falta de prevenção: a Vale não produzia relatórios mensais de segurança das barragens. A empresa responsável pelo Estudo de Impacto Ambiental recomendou, então, que a Vale ou empresa contratada por ela passasse a emitir “mensalmente um parecer escrito sobre a condição das barragens, à luz dos resultados do monitoramento”.


Relatório recomendou vistoria mensal da barragem.

Sobre o controle das barragens, a Vale afirmou em comunicado divulgado na última sexta-feira que vinha fazendo inspeções quinzenais na barragem e registrando suas observações em sistema controlado pela Agência Nacional de Mineração, órgão federal criado recentemente para regular o setor. A última inspeção foi realizada três dias antes do rompimento e, segundo a mineradora, “não detectou nenhuma alteração no estado de conservação da estrutura”.

Apesar dos problemas apontados, a empresa contratada pela Vale concluiu em 2015 que, “de acordo com inspeções realizadas pela Pimenta de Ávila Consultoria (2010), análises de documentos e monitoramento disponibilizados pela Vale, constata-se que a estrutura [da Barragem I], na situação atual, se encontra em condições adequadas de segurança”.

‘A população não vai entender porcaria nenhuma’
Dois anos depois do primeiro estudo, em maio de 2017, a Vale e a Nicho apresentaram aos órgãos ambientais uma nova versão do documento, agora já batizado como Relatório de Impacto Ambiental (RIMA). Não era de fato um novo relatório. Era apenas uma versão resumida do estudo feito anteriormente, com as mesmas conclusões e uma capa mais bonita. Em vez de 2.114 páginas, eram 238.

Como a Vale explica, esse novo relatório “trata das principais conclusões sobre a região e o empreendimento, sendo apresentadas de forma resumida e clara para que a população entenda o projeto, bem como as consequências ambientais de sua implementação”. E sugere que as pessoas interessadas leiam o Estudo de Impacto Ambiental, com suas mais de duas mil páginas cheias de jargões do mundo da mineração – mas que só ficaria disponível para consulta pública, segundo a própria Vale, depois da aprovação do empreendimento pelos órgãos competentes. A divulgação de estudos de impacto ambiental antes da aprovação do empreendimento é vetada por uma resolução do Conselho Nacional de Meio Ambiente, de 1986.

Faria falta a leitura completa, porque, no resumo, a Vale e a Nicho esqueceram de informar à população sobre as observações críticas feitas pela equipe de especialistas aos procedimentos de controle e manutenção das barragens. Na verdade, as barragens, embora sejam parte importante do projeto de expansão, são comentadas apenas em uma página do relatório (pág. 36). E sem referências críticas.


Animais ficaram presos na lama que tomou o Córrego do Feijão. Foto: Pedro Vilela/Getty Images

Dinheiro extraído da barragem
As barragens mereciam um maior destaque no relatório. A Vale pretendia aumentar seus lucros explorando os rejeitos depositados na Barragem I. Explicando de maneira simplificada: geralmente os restos não aproveitados do processo de transformação do ferro bruto extraído das montanhas em produto comercializável vai para a lata de lixo – ou seja, para as chamadas barragem de rejeitos, uma espécie de fossa sanitária gigante a céu aberto.

Acontece que, desde antes da tragédia ambiental de Mariana, a Vale tenta obter a aprovação do governo de Minas Gerais para poder mexer nessa barragem já lotada (e, portanto, inativa) para drenar rejeitos para uma nova etapa de processamento.

Nesse novo processo, os rejeitos seriam transferidos a partir de um duto de cerca de 1,5 km de extensão, a ser construído, para que fossem transformados em “pellet feed” (um minério super fino, com menos de 0,15 mm de espessura). Trata-se de um minério menos valorizado, mas, ainda assim, é dinheiro. Como a equipe da Nicho Engenheiros citou no Estudo de Impacto Ambiental, um pesquisador da Universidade Federal de Minas Gerais analisou a importância econômica desse reaproveitamento de rejeitos pelas mineradoras e apontou que essas intervenções são feitas de forma “que seja traduzida em maior margem de lucro”.

Antes que essa transferência pelo chamado rejeitoduto começasse, a Vale pretendia colocar retroescavadeiras em cima da barragem (que é resistente no topo) até quando fosse possível (ou seja, antes que as escavadeiras começassem a afundar na lama movediça). Para que as escavadeiras pudessem fazer o trabalho em segurança, o nível da água no fundo da barragem de rejeitos deveria ser diminuído gradativamente.

Como se viu, a Vale pretendia mexer num gigante adormecido. No início de dezembro passado, a companhia finalmente conseguiu autorização para fazer isso. Pouco mais de um mês depois, a barragem inativa que a Vale teve autorização para colocar retroescavadeiras em cima se rompeu e sua lama tóxica matou dezenas de pessoas.

Tudo certo, segundo a Vale
As investigações oficiais sobre o desastre ainda estão apenas começando, então não se tem informação definitiva sobre os procedimentos de controle e prevenção que vinham sendo efetivamente realizados pela Vale em Brumadinho. A mineradora tem dito que fez tudo certo e que as barragens eram seguras.

Em comunicado divulgado horas após o rompimento da barragem, a Vale informou que a estrutura “possuía Declarações de Condição de Estabilidade emitidas pela empresa TUV SUD do Brasil, empresa internacional especializada em Geotecnia”. A última declaração tinha sido emitida em setembro passado, segundo a mineradora, referente “aos processos de Revisão Periódica de Segurança de Barragens e Inspeção Regular de Segurança de Barragens”. Ainda segundo o comunicado da Vale, “a barragem possuía Fator de Segurança de acordo com as boas práticas mundiais e acima da referência da Norma Brasileira”.

O Intercept enviou alguns questionamentos para a Vale na noite de domingo, mas, até o fim da manhã de hoje, a empresa ainda não respondido três de nossas perguntas:

A Vale produzia o parecer mensal de segurança das barragens I e VI, conforme recomendado pela equipe responsável pela produção do Estudo de Impacto Ambiental do projeto de expansão da Córrego do Feijão/Jangada? Em caso positivo, a companhia pode fornecer uma cópia dos três últimos pareceres? Caso esses pareceres não tenham sido produzidos, qual a justificativa da companhia para o não cumprimento da recomendação presente no EIA?

A Mina Córrego do Feijão foi objeto de alguma fiscalização ambiental nos últimos três anos? Em caso positivo, a empresa apresentou às autoridades ambientais o relatório previsto no Parágrafo 5º do Artigo 7º da Deliberação Normativa COPAM nº 87, de 17 de junho de 2005?

Por que a Vale apresentou, em 10 de maio de 2017, uma versão resumida do Relatório de Impacto Ambiental originalmente apresentado em 4 de agosto de 2015, sem referências às observações críticas sobre a Barragem I?

Vamos atualizar a reportagem com as respostas, se elas vierem.


Bombeiros se esforçam para encontrar sobreviventes após o rompimento da barragem. Foto: Mauro Pimentel/Getty Images
 
Antes e depois da lama

Sete fotos de Brumadinho revelam o tamanho da tragédia após o rompimento da barragem da Vale

Talita Marchao e Carla Borges Do UOL, em São Paulo
Wilton Júnior/Estadão Conteúdo

Um refeitório com dezenas de funcionários almoçando. Uma pousada. Vários veículos. Centenas de hectares. Tudo foi coberto por uma enxurrada de lama que devastou parte de Brumadinho (MG), depois do rompimento de uma das barragens da mineradora Vale na sexta-feira (25).

Desde então, equipes de resgate trabalham na busca por sobreviventes. Mas a maior parte dos resgatados são corpos, em um tragédia humana ainda mais grave do que a que acometeu, há três anos, a cidade de Mariana -- também em Minas Gerais, também envolvendo a Vale.

Como os resgates ainda estão em andamento e devem se estender por semanas, o número de vítimas deve crescer. Até esta terça, 65 corpos sem vida foram retirados em meio ou debaixo da lama do chamado "rejeito" -- a sobra do processo de mineração, que separa metais de valor comercial, em grande parte exportado, de terra sem utilidade industrial.

E foram 12 milhões de metros cúbicos dessa terra rejeitada pela mineração que devastou parte de Brumadinho, cidade próxima a Belo Horizonte com pouco menos de 40 mil habitantes.

As imagens abaixo testemunham o que havia na região e o que restou. A primeira desta série mostra o centro administrativo da Vale e a pousada Nova Estância, em imagem captada por um satélite da Agência Espacial Europeia, antes e depois do desastre. Nas fotos grandes, estão as imagens do antes e do depois. Nas imagens menores de cada foto, está a localização de cada área atingida.

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O desastre em detalhes


Por diversos ângulos é possível ver o impacto da lama. Por volta das 13h da sexta-feira (25), a barragem 1 eclodiu e atingiu, primeiramente, prédios da Vale, e depois tudo mais que havia pela frente, incluindo plantações, casas e animais pastando.

Nada mais está no lugar onde estava. Em alguns pontos, a lama hoje conta com 15 metros de profundidade, tornando os trabalhos de resgate ainda mais difíceis.

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Imagens mostram o antes e o depois da área da barragem que se rompeu na mina do Córrego do Feijão, um distrito de Brumadinho.
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Nas imagens, é possível ver a barragem 6, que tem água para recirculação dos trabalhos da mina Córrego do Feijão. Na imagem, nota-se que a onda de lama desceu muito próxima da estrutura da barragem.
Ela quase se rompeu no domingo devido ao seu volume de armazenamento após uma forte chuva depois da tragédia --ela precisou ser drenada até não apresentar riscos à população.
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As imagens seguintes mostram o impacto da lama nas áreas urbanas e rurais. Nota-se que a enxurrada de lama segue o curso do vale, atingindo as áreas mais baixas de Brumadinho. Na rota, a pousada, centenas de casas e propriedades rurais.

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Estava no tablet e dava erro. Agora do note segue


Tragédia com barragem da Vale em Brumadinho pode ser a pior no mundo em 3 décadas
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Segundo relatório da ONU, a pior tragédia por rompimento de barragem dos últimos 35 anos foi na Itália, em 1985, quando 267 pessoas morreram. Em Brumadinho, número de mortos alcançou 60 e há mais de 300 desaparecidos Imagem: Pedro Ladeira/Folhapress4





Segundo relatório da ONU, a pior tragédia por rompimento de barragem dos últimos 34 anos foi na Itália, em 1985, quando 267 pessoas morreram. Em Brumadinho, número de mortos alcançou 65 e há quase 300 desaparecidos.

Com o número cada vez maior de mortes confirmadas em Brumadinho (MG), o Brasil pode vir a se tornar a sede da pior tragédia humana provocada por rompimento de barragens de minério das últimas três décadas.

Relatório da Agência de Meio Ambiente das Nações Unidas registrou os maiores rompimentos de barragens ocorridos desde 1985. Só nos últimos 5 anos, ocorreram oito grandes acidentes pelo mundo.

O Brasil, lamentavelmente, tem destaque nessa lista por ser o país com o maior número. Foram três acidentes com perda humana ou grave dano ambiental de 2014 para cá: rompimento de uma barragem da Herculano Mineração, em Itabirito (MG), em 2014, com três mortes; o vazamento na barragem do Fundão, em Mariana (MG), em 2015, com 19 mortes; e, agora, a tragédia com grande perda de vidas, em Brumadinho.

Segundo o relatório da ONU, publicado no ano passado, o evento mais trágico envolvendo barragens de minério nos últimos 34 anos foi em 1985, no norte da Itália. Na hora do almoço, 180 mil metros cúbicos de lama da barragem administrada pela Prealpi Mineraria varreram as cidades de Stava e Tesero, matando 267 pessoas, entre as quais famílias inteiras.

Em Stava, um memorial com uma estátua de bronze foi erguido em homenagem às vítimas. A escultura retrata a cena dramática vista pelas equipes de resgates: dezenas de homens, mulheres e crianças foram encontrados mortos, envoltos em lama, com as mãos erguidas na frente do rosto, numa última tentativa de se proteger.

"Eles não tiveram chance de escapar quando o tsunami de lama desceu o vale, na hora do almoço, num dia ensolarado de julho", descreve o relatório das Nações Unidas.

Agora, o rompimento da barragem em Brumadinho caminha para superar a tragédia da Itália em perdas humanas. Foram encontrados, até o momento, 65 corpos e pelo menos 279 pessoas continuam desaparecidas.

"A tragédia em Brumadinho estará, certamente, no topo dos maiores desastres com rompimento de barragem de minério do mundo. Infelizmente, é possível que ultrapasse Stava, que foi a maior tragédia do tipo nos últimos 34 anos", afirmou à BBC News Brasil o geólogo Alex Cardoso Bastos, um dos autores do relatório da ONU sobre barragem de minério.

'Top 1 e 2' do mundo em desastre

Se o rompimento em Brumadinho pode se tornar o pior das últimas décadas em número de mortos, o da barragem da Samarco - uma joint-venture entre a Vale S.A. e a anglo-australiana BHP Billiton - na região de Mariana (MG), em 2015, é o mais grave desastre ambiental da história provocado por vazamento de minério.

O mar de lama causou destruição à vida marinha no Rio Doce, afetando drasticamente a vida da população local.
"O aniquilamento dos ecossistemas de água potável, vida marinha e mata ciliar eliminou recursos naturais insubstituíveis para a vida ribeirinha, para pesca, a agricultura e o turismo", diz trecho do relatório da ONU, intitulado Mine Tailing Storage: Safety is no Accident.

Segundo Alex Bastos, que também é professor de Geologia da Universidade Federal do Espírito Santo, as Nações Unidas utilizam um sistema de classificação de gravidade de desastres que leva em conta volume de rejeitos espalhados, tamanho da área afetada e número de mortos.

É considerado um "desastre de alta gravidade" um rompimento de barragem que provoque vazamento de mais de 1 milhão de metros cúbicos, afetando uma área de pelo menos 20 km, e causando cerca de 20 mortes.

A barragem de Fundão, em Mariana, gerou um vazamento de mais de 40 milhões de metros cúbicos de rejeitos, que percorreram mais de 600 km. E 19 pessoas morreram.

Já o rompimento da barragem da Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho, espalhou 12 milhões de metros cúbicos por mais de 46 km. O número confirmado de mortos já chega a 65 e o de desaparecidos, a 279.

"O de Mariana não é o pior em termos de fatalidade, mas em volume e distância percorrida, é o maior desastre ambiental por rompimento de barragem. E o de Brumadinho deve ser o maior desastre em termos de tragédia humana das últimas décadas", afirma Alex Bastos, que integra o comitê da ONU sobre barragens de minério.

"Ou seja, esses dois casos estão no top 1 e 2 do mundo em termos de gravidade. Infelizmente, os dois maiores rompimentos de barragem do mundo serão no Brasil. Aliás, no Estado de Minas Gerais, a menos de 150 km um do outro", lamenta.

O barato que sai caro

Atualmente, o Brasil tem 430 barragens de minério, segundo relatório da Agência Nacional de Águas (ANA). Tanto a barragem de Brumadinho quanto a de Mariana são to tipo "à montante", feitas com os próprios rejeitos.

Neste caso, os detritos minerais, rochas e terras escavadas durante a mineração - e descartados por não terem valor comercial - são depositados em camadas num vale, formando a barragem.

Esse tipo de "lixão de minério" é mais barato para as empresas. Mas é, também, o que oferece mais riscos.
"Quando a gente imagina uma barragem, tende a pensar num muro de concreto. Mas essas não são feitas com concreto, são feitas com a compactação do próprio rejeito. Isso faz com que a manutenção e monitoramento sejam muito mais importantes, porque essas barragens podem sofrer erosão por fora", diz Alex Bastos.

"Os rejeitos precisam ficar secos e consolidados, por isso é importante haver um sistema eficiente de drenagem. Em Mariana, a base da barragem começou a solapar, perder estabilidade, e rompeu."

Uma alternativa mais segura a esse tipo de barragem é a armazenagem a seco de rejeitos minerais. Mas a técnica é mais custosa.
"O benefício é que os rejeitos não ficam confinados em barragens que podem romper. Mas o custo para secar os rejeitos e armazená-los em silos é muito mais alto", diz Bastos.

Os erros mais comuns

O relatório das Nações Unidas elenca as principais causas de rompimentos de barragens. O documento afirma que chuvas fortes e prolongadas, furacões e abalos sísmicos podem provocar rupturas ou transbordamentos.

Mas, mesmo nesses casos, a ONU considera que houve erro humano, já que o planejamento de risco para manutenção e construção da barragem deve levar em conta as condições climáticas do local.

No caso da barragem de Mariana, as investigações concluíram que houve falhas na construção da barragem, na manutenção e no monitoramento.
"A conclusão do estudo é que existem dois motivos causadores de rompimentos: erro na análise de risco e negligência na manutenção da barragem", resume Alex Bastos.

"Ou seja, se teve uma chuva torrencial que causou transbordamento da barragem, houve aí um erro na análise de risco. Se a região está sujeita a uma chuva assim, a estrutura da barragem deveria ser outra. A análise de risco tem que ser precisa", afirma.

Um problema recorrente mencionado no relatório da ONU é o fato de barragens originalmente construídas para armazenar determinado volume serem modificadas ao longo do tempo para guardar quantidades adicionais de rejeitos.

Nesses casos, nem sempre é feita uma reestruturação adequada para garantir que a estrutura seja capaz de suportar o material descartado das minas.
"Muitas dessas barragens foram crescendo, aumentando de tamanho, e isso não seguiu o planejamento inicial da barragem. É como se você fosse fazendo puxadinhos em vez de consertar e refazer o projeto", critica Bastos.

A barragem que rompeu em Brumadinho foi construída em 1976 e tinha volume de 12 milhões de metros cúbicos. Ela estava desativada desde 2015, ou seja, não recebia rejeitos desde então.

Em 2018, a Vale recebeu licenciamento para reutilizar parte do rejeito e depois ser "descomissionada"- passar por uma extensa obra para deixar de ser barragem, se tornando, por exemplo, um morro.

Por que Brasil é campeão em acidentes graves

O Brasil é o país que teve, nos últimos dez anos, o maior número de casos graves de rompimento de barragens de mineração, conforme o relatório da ONU. Outras nações que também tiveram casos recentes de vazamento de minério são China, Estados Unidos, Israel, Canadá e México.
Por um lado, é importante considerar que o Brasil é o segundo maior exportador de minério, atrás apenas da Austrália. Tem mais minas, portanto, estatisticamente a possibilidade de acidentes é maior.

Por outro lado, segundo a ONU, muitos desses acidentes poderiam ser evitados se as empresas investissem em sistemas mais seguros de armazenamento de rejeitos ou em manutenção eficaz.

O relatório das Nações Unidas aponta que já existem protocolos de segurança e tecnologias alternativas suficientes para evitar acidentes com rejeitos minerais.

O problema, ressalta a ONU, é que as empresas, ao investirem em barragens "à montante", avaliam segurança em conjunto com custo. E, não raro, optam por procedimentos mais baratos, porém menos seguros.

"É preciso que as empresas coloquem segurança em primeiro lugar, priorizando a proteção ambiental e humana. As agências reguladoras, as indústrias e as comunidades devem adotar um objetivo de falha-zero no armazenamento de rejeitos", diz o relatório das Nações Unidas.

Para isso, a recomendação é que "questões de segurança sejam avaliadas separadamente de considerações econômicas". "Custo não pode ser um fator determinante."

Na noite de sábado, o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno, disse que o governo pretende realizar vistorias em todas as barragens do país que "ofereçam maior risco".

"É importante e urgente que aquelas barragens, no Brasil inteiro, que ofereçam maior risco sejam submetidas a uma nova vistoria, para que nós possamos nos antecipar, na medida do possível, a novos desastres", declarou.

Segundo Relatório de Segurança da Agência Nacional de Águas, 45 barragens apresentam alto risco atualmente no país. A barragem da Vale em Brumadinho era classificada como de "baixo risco" e "alto potencial de danos".
Só a segunda avaliação se confirmou.

Outros casos graves pelo mundo

O relatório das Nações Unidas afirma que, nas últimas três décadas, o número de falhas em barragens diminuiu, mas os casos de rompimento foram mais graves.

Entre os piores desastres ambientais, depois de Mariana, está o rompimento da barragem da mina de ouro Mount Polly, em British Columbia, no Canadá, em 2014.

A barragem se rompeu liberando 25 milhões de metros cúbicos de rejeitos. O acidente ocorreu numa área pouco populosa, portanto, não houve mortes. Mas a destruição da fauna e flora locais foi grave.

O acidente no Canadá pode ser considerado um caso típico da prática do "puxadinho" mencionado por Alex Bastos. Segundo o relatório das Nações Unidas, a barragem aumentou nove andares de tamanho após entrar em operação, alcançando 40 metros de altura, além do que previa o projeto original. Pouco antes de romper, a mina ainda tentava conseguir aprovação para aumentar mais um andar.

O mar de lama invadiu uma área de preservação ambiental e o lago Quesnel, um dos mais profundos lagos glaciais do mundo, e importante fonte de subsistência para a população indígena da região, que costumava pescar lá.

O lago possuia uma grande quantidade de salmões, trutas e outras espécies de peixe. As investigações revelaram falhas no projeto da barragem, que não levou em consideração características geológicas da região.

Também foram encontrados erros nas avaliações de risco e nos relatórios de inspeção, que não levaram em conta as possibilidades de erosão e transbordamento. O Ministério de Minas e Energia também foi responsabilizado por falhar na fiscalização.

Filipinas

Outro desastre ambiental com consequências sérias para a população ribeirinha foi o colapso de uma barragem da Marcopper Mining Corporation, no Monte Tapian, nas Filipinas.

Rejeitos da mina de ouro foram acumulados num poço de concreto. Após quatro anos da prática, em 1996, um dos túneis do poço cedeu, liberando até 4 milhões de toneladas de metal no rio Boac e matando o seu ecossistema.

"Esse foi um dos mais catastróficos desastres com mina da história", diz o relatório da ONU. Mais uma vez erros no manuseio da barragem, na manutenção e no projeto de avaliação de risco foram citados como causa do desastre.

'Pior desastre ambiental na Europa desde Chernobyl'

Na Europa, o pior desastre causado por rompimento de mina foi na Romênia, no ano 2000. Metais pesados da mina de ouro Baia Mare, no condado de Maramures, invadiram o rio Tisza, um dos maiores afluentes do rio Danúbio.

"De 50 a 100 toneladas de cianeto e cobre foram liberados, fazendo desse acidente o pior desastre ambiental desde Chernobyl", diz o relatório das Nações Unidas, em referência ao acidente nuclear ocorrido em 1986, na Ucrânia.

De acordo com a ONU, os rejeitos passaram da Romênia para Hungria, Sérvia e Bulgária até chegar ao Mar Negro, matando mais de 1.240 toneladas de peixes.

"A falha foi causada por uma combinação de erros no projeto de construção, falhas na avaliação das condições de operação e fortes chuvas e nevascas que resultaram no transbordamento", diz o documento das Nações Unidas.
 
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Brumadinho: por que animais sentiram antes o rompimento da barragem?
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Relatos de vítimas apontam para comportamento estranho de animais antes da chegada da lama Imagem: Wilton Júnior/Estadão Conteúdo

Antes mesmo de notarem qualquer sinal da avalanche de lama que estava à caminho, muitos sobreviventes da tragédia em Brumadinho (MG) contaram que repararam no comportamento estranho de cachorros, galinhas ou vacas. Os animais que estavam próximos à barragem da Vale serviram como um "alerta" do que iria ocorrer.

Há uma explicação para isso: os bichos, de fato, sentem antes eventos como o rompimento que devastou a região e matou 134 pessoas (até o fechamento deste texto), porque possuem sentidos mais aguçados --num nível que os humanos não possuem.

"A barragem não rompe de uma vez só. Ela tem movimentos anteriores ao rompimento completo. Esses movimentos geralmente emitem sons ou muito baixos ou infrassom, que é uma frequência abaixo do que o ouvido humano consegue ouvir", explica Carlos Alberts, professor de zoologia e comportamento animal da Unesp (Universidade Estadual Paulista): Muitos animais conseguem ouvir ou sentir a vibração da terra

Um caso chama a atenção. O sobrevivente da tragédia Lieuzo Luiz dos Santos estava acima da barragem e aparece no vídeo que mostra o exato rompimento da terra. Em entrevista à TV Globo, ele relatou não ter ouvido nenhum som anterior ao rompimento. A única coisa que notou foram gados correndo antes que o chão se abrisse.

Segundo Alberts, os animais podem ter sentido que a barragem iria se romper por diversos sentidos - tanto pelo som, causado pelo choque de moléculas dentro da barragem enquanto os rejeitos entravam em liquefação, ou pelo tato, das patas na terra, que pode ter apresentado pequenas movimentações próximas ao local e horário do rompimento que não foram notadas pelos humanos.

Já moradores do Córrego do Feijão dizem ter visto, antes de ouvir o tsunami de lama chegando, um comportamento estranho de cachorros e galinhas. Mais uma vez a audição e o tato também podem ter ajudado os animais a reconhecer o perigo.
Não temos essa percepção dos animais. Se vivêssemos na natureza o tempo todo, poderíamos perceber algumas dessas coisas

"A galinha é uma ave, pode ter notado mudança do ar. As massas de ar são deslocadas quando a barragem é rompida. Também podem notar modificações de cheiro. Elas são muito sensíveis e dependem de perceber essas coisas para sobreviver", aponta o professor da Unesp.

Sentidos ajudam

Esses sentidos aguçados, inclusive, podem ter ajudado alguns animais a escaparem da tragédia. Entre os sobreviventes, há relatos de famílias que acharam seus cachorros após voltarem à região onde estavam.

"Muitos animais não conseguiram sobreviver, foi muito rápido. Mas alguns, que deveriam estar no caminho da lama, provavelmente escaparam por causa disso", afirma Carlos Alberts.

O zoólogo cita animais que estavam próximos a rios e riachos como alguns que podem ter notado com antecedência alguma modificação no ambiente pela vibração da água.

Para o especialista, os humanos podem confiar em animais para descobrirem se algum problema no ambiente está a caminho.
Uma boa atitude ao ver animais correndo é correr também, porque alguma coisa não está certa

"Os animais não erram, eles percebem antes da gente. A gente precisa ver ou estar muito perto, ouvir um som alto. Eles podem estar à distância", diz Alberts. "Existem fenômenos como tsunamis e outros eventos catastróficos mais raros que fazem os animais se movimentarem de forma estranha."

Toda essa sensibilidade dos animais vem de anos de evolução dos bichos e da seleção natural.

"Eles estão geralmente em duas condições opostas: ou são presas ou são predadores. Em ambos os casos, a sobrevivência depende de eles descobrirem uns aos outros. Essas percepções são usadas normalmente para sobrevivência, mas em condições diferentes servem para indicar algo. Climatologistas, por exemplo, sabem que moscas agem diferente antes de chuvas. Os animais também notam outros correndo à distância, um estouro de boiada, e passam a correr também", diz o professor.

Animais sentem terremotos

Um dos exemplos dessa percepção de animais está no fato deles historicamente estarem ligados à previsão de terremotos, algo que os humanos ainda engatinham para fazer.

Segundo o site oficial do governo norte-americano dedicado a esses fenômenos, a primeira referência a animais se comportando de forma estranha antes de um terremoto significante vem de 373 a.C., na Grécia, envolvendo ratos, cobras, doninhas e centípedes deixando suas casas para lugares seguros dias antes da destruição.

O comportamento diferente dos animais pode variar de semanas a segundos no caso de terremotos. No geral, animais conseguem notar o terremoto segundos antes por serem capazes de sentir uma onda que parte da fonte do terremoto que não é perceptível para humanos. O tema da previsão de terremotos por animais ainda é pesquisado por cientistas e envolto em mistério.
 
Instituto Inhotim reabre as portas no sábado, com entrada gratuita

Segundo o diretor executivo Antonio Grassi, a entrada gratuita é 'para simbolizar que o Inhotim está de portas abertas para a comunidade nesse momento de dor'

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Mais do que nunca Inhotim terá um papel fundamental pra recuperação de Brumadinho.
 
Essa questão de seguir animais com instintos funcionais em terremotos é bem complexa.

É essencial considerar também os mesmos fatores de filtragem dos indivíduos da sociedade humana.

Tem uns vídeos de abrigos de gatos no Japão em ocasiões de terremotos e durante o abalo enquanto uma parte dos gatos se movimenta para fugir (seja para lugares mais seguros seja para lugares mais perigosos) mas outra parte fica parada esperando cair algo em cima.

O comportamento poderia variar de acordo com fatores da genética (animais com bons instintos nascem com organismos sensíveis) e adquiridos (animais que não tenha contraído doenças na vida que afetaram os sentidos ou desvios comportamentais introduzidos por humanos).

Eu diria que numa selva a chance de encontrar um animal não selecionado para ser manso/passivo é maior que em área urbana (aonde os animais vão se tornando mais dependentes como as pessoas.

Um outro exemplo seriam pombos doentes sendo atropelados em rodovias por não fugirem ou cães comendo alimentos venenosos em locais com lixo. Na natureza isso também ocorre, então a pessoa tem que ficar de olho pra monitorar grupos para poder comparar se o animal realmente tem bom instinto.
 

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