— Eram os huorns, ou pelo menos é esse o jeito como os ents os chamam na “língua curta”. Barbárvore não gosta muito de falar sobre eles, mas acho que são ents que ficaram quase como árvores, pelo menos na aparência. Ficam aqui e acolá na floresta, ou nas suas bordas, silenciosos, vigiando sem parar as árvores; mas nos vales profundos há centenas e centenas deles, eu imagino.
— Há um grande poder neles, e parece que têm a capacidade de se ocultar nas sombras: é difícil vê-los se movendo. Mas eles se movem. Podem andar muito rápido, se estiverem furiosos. Você fica parado olhando para o tempo, talvez, ou ouvindo o farfalhar das folhas, e de repente descobre que está no meio de um bosque com grandes árvores tateando à sua volta. Eles ainda têm vozes, e conseguem falar com os ents — é por isso que são chamados de huorns, pelo que diz Barbárvore — mas ficaram esquisitos e selvagens. Perigosos. Eu ficaria apavorado se os encontrasse e não houvesse nenhum ent verdadeiro para cuidar deles.
— Bem, no início da noite nós descemos uma longa ravina, para dentro da extremidade mais alta do Vale do Mago, os ents e seus huorns farfalhantes atrás. Não conseguíamos vê-los, é claro, mas todo o ar estava cheio de estalidos. Estava muito escuro, uma noite carregada de nuvens. Marcharam em grande velocidade assim que deixaram as colinas, fazendo um barulho como um vento forte. A lua não a pareceu através das nuvens, e não muito depois da meia-noite havia uma floresta alta em toda a volta da encosta norte de Isengard. Não se via sinal de inimigos ou qualquer desafio. Havia uma luz brilhando numa alta janela na torre, isso era tudo.
(...)
— Mas embora eu não pudesse ver o que estava acontecendo na escuridão, acredito que os huorns começaram a rumar para o sul, logo que os portões se fecharam de novo. Acho que o negócio deles era com os orcs. Já estavam lá embaixo no vale pela manhã; ou pelo menos havia uma sombra que ninguém conseguia atravessar com os olhos.
(...)
— (...) Os ents deixaram os homens fugir, depois de têlos interrogado, restavam apenas duas ou três dúzias. Não acho que muitos do povo dos orcs, de qualquer tamanho, tenham escapado. Não dos huorns: havia uma boa quantidade deles em toda a volta de Isengard naquele momento, além daqueles que tinham descido o vale.
(...)
— “Os huorns vão ajudar”, disse Barbárvore. Depois se afastou e não o vimos outra vez até hoje cedo. Foi uma noite negra. Deitamo-nos sobre uma pilha de pedras, e não conseguíamos ver nada. Névoa ou sombras cobriam tudo como um grande cobertor em toda a nossa volta. O ar parecia quente e pesado, e estava cheio de ruídos farfalhantes, estalidos e murmúrios semelhantes a vozes passando. Acho que outras centenas de huorns estavam avançando em direção à batalha. Mais tarde houve um grande estrondo de trovão ao sul, e clarões e relâmpagos ao longe, sobre Rohan. De tempos em tempos conseguíamos ver os picos das montanhas, a milhas e milhas de distância, penetrando de súbito na escuridão, brancos e pretos, para depois como o dos trovões nas colinas, mas diferentes. Algumas vezes todo o vale ecoava.
(...)
— “Vim saber como estão passando, meus rapazes”, disse ele, [Barbárvore] “e para lhes dar alguma notícia. Os huorns voltaram. Está tudo bem, bem mesmo!”, disse ele rindo e dando tapinhas nas coxas. “Não sobrou nenhum orc em Isengard, nem machados! E virão pessoas do sul antes do fim do dia; alguns que vocês poderão ficar alegres em ver.”
(Senhor dos Anéis: As Duas Torres - Capítulo IX Escombros e Destroços)