Anica
Usuário
Um livro bem interessante, a começar pela forma como o Choderlos conta a história: através de cartas trocadas pelos personagens da trama. Com isso, a leitura fica bem leve.. e... ok, acho que tem uma coisa meio de voyeur. Acho que cai na mesma explicação de porque os livros com forma de diário fazem tanto sucesso.
A história conta as armações que a Marquesa de Merteuil faz com o Visconde de Valmond para se vingar de um homem que no passado deu um fora nela. Toda a trama gira em torno de questões sobre sedução (Valmond é muito bom no negócio), traição e principalmente, orgulho.
E é interessante também porque ao longo da história, nota-se várias críticas do Choderlos à sociedade da época. Tem uma passagem bem legal em que uma das personagens denomina o duelo (de espadas, que hoje achamos tão romântico) algo "primitivo".
Segue uma das minhas cartas favoritas:
A história conta as armações que a Marquesa de Merteuil faz com o Visconde de Valmond para se vingar de um homem que no passado deu um fora nela. Toda a trama gira em torno de questões sobre sedução (Valmond é muito bom no negócio), traição e principalmente, orgulho.
E é interessante também porque ao longo da história, nota-se várias críticas do Choderlos à sociedade da época. Tem uma passagem bem legal em que uma das personagens denomina o duelo (de espadas, que hoje achamos tão romântico) algo "primitivo".
Segue uma das minhas cartas favoritas:
Carta CLIII
(do Visconde de Valmont à Marquesa de Merteuil)
Respondo imediatamente a vossa carta, e tratarei de ser claro; o que não é fácil convosco, quando tomais a resolução de não entender.
Não eram necessários tão longos discursos para estabelecer que, tendo cada um de nós tudo que é preciso para perder o outro, temos igual interesse em nos poupar mutuamente; não é, por tanto, do que se trata. Mas, entre a resolução violenta de nos perdermos e aquela, sem dúvida melhor, de permanecermos unidos como até agora estivemos, de nos tornarmos mais ainda reatando a antiga relação; entre essas duas resoluções, digo, há mil outras. Não era, portanto, ridículo dizer-vos, nem o é repetir-vos, que a partir deste dia serei vosso amante ou vosso inimigo.
Sinto muito bem que a escolha vos embaraça, e que preferíeis tergiversar; e não ignoro que nunca apreciastes ser colocada assim entre o sim e o não; mas deveis sentir, também, que não posso deixar-vos sair desse círculo estreito sem me arriscar a ser ludibriado; e deveis ter previsto que não o suportaria. Cabe-vos decidir agora; posso deixar-vos a escolha, mas não ficar na incerteza.
Previno-vos, tã-somente, de que não me enganareis com vossos raciocínios, bons ou maus; que não me seduzireis, tampouco, com alguns carinhos com que talvez procureis enfeitar vossa recusa; e que, enfim, o momento da franqueza chegou. Não desejo outra coisa senão dar o exemplo; e declaro, com prazer, que prefiro a paz e união; mas, se for preciso romper uma coisa e outra, acredito ter o direito e os meios de fazê-lo.
Acrescento pois, que o menor obstáculo de vossa parte será tomado da minha por uma verdadeira declaração de guerra. Vedes, assim, que a resposta que vos peço não exigenem longas nem belas frases. Duas palavras bastam.
Paris, neste 4 de dezembro de 17**.
RESPOSTA DA MARQUESA DE MERTEUIL, (escrita ao pé da mesma carta):
Pois bem, a guerra!