Lucas_Deschain
Biblionauta
Estava procurando a respeito de algum top-alguma-coisa de novelas, aquele "formato" que está entre o conto e o romance e que sempre dá a maior discussão para saber se é ou não é.
Diante da dificuldade (e da minha preguiça) de separaro joio do trigo listas de novelas brasileiras de televisão e novelas literárias, pensei que deveríamos eleger nós mesmo as nossas e aproveitar para nos digladiarmos mais uma vez sobre nossas indicações serem ou não novelas, que tal?
Pensei em colocar no formato mais ou menos padronizado:
Título (autor) - um breve comentário sintetizando uma sinopse e as razões pelas quais acha que ela é digna de estar aqui nessa lista.
Pensei que esse comentário podia ser um pouco mais sucinto, mas isso fica a critério de cada um de vocês.
Sigam-me os bons então! Começo com três das quais me lembro agora:
A Metamorfose (Franz Kafka) - A história de Gregor Samsa praticamente dispensa comentários. É um rapaz, caixeiro-viajante, que acorda metamorfoseado em um inseto (uns dizem barata, outros besouro rola-bosta) e enfrenta toda a situação de rejeição e crueldades físicas, morais e espirituais a ele dirigidas por toda a sociedade em torno dele, incluindo sua própria família. Uma bela história sobre a rejeição, o horror da marginalidade e do sentir-se estranho em relação ao mundo a sua volta, fazendo com que se inadeque de tal modo que uma tragédia se torne praticamente iminente.
Billy Budd, Marinheiro (Herman Melville) - O relato se dá acerca da inglória saga do jovem Billy Budd, o "belo marinheiro" que passa por maus bocados em um navio inglês em que enfrenta o mau caráter de Claggart, um oficial que acusa o jovem de estar organizando algum levante ou motim. Melville usa o navio H.M.S. Indômito como palco para uma profunda arena moral, onde se digladiam diferntes concepções de bem e mal e de certo e errado. Merece um lugar nessa lista por conta do caráter subjetivo e em constante devir sócio-histórico da moral e da natureza humanas. Também atinge altas notas quando toca nas teorias da época, ainda experimentando os ecos da Marselhesa da Revolução Francesa de 1789 e os pensamentos profundos dos iluministas sobre a humanidade.
Bartleby, o escriturário (Herman Melville) - A história de Bartleby, o escriturário de Wall Street que se recusava a cumprir tarefas ordinárias de seu cotidiano encontra-se sintetizada na célebre resposta padrão do protagonista a qualquer requerimento de seu patrão (o narrador da história) - "Prefiro não fazê-lo". A situação de Bartleby vai se agravando conforme ele se recusa a fazer cada vez mais coisas, tornando-se apático não só no âmbito do trabalho, mas em vários outros aspectos de sua vida. A condição se torna tão insustentável que a empresa muda de lugar e deixa Bartleby (que preferia não deixar o escritório, permanecendo constantemente lá como um fantasma) nos antigos aposentos. O patrão-narrador volta ao local após algum tempo e descobre que Bartleby morreu. E que ele trabalhou numa seção dos correios norte-americanos para onde iam as encomendas não-entregues. Essa novela angariou seu lugar na lista pelo desfecho dúbio que até hoje alimenta hipóteses e a curiosidade dos leitores. A atitude de Bartleby se tornou prototípica de uma angústia que encontrou ecos profundos ao longo dos séculos posteriores, nos escritos existencialistas de Sartre (alguns dizem que Bartleby foi o pioneiro do existencialismo), por exemplo, ou no embascamento impotente diante dos extremos do "breve século XX".
O Velho e o Mar (Ernest Hemingway) - Eu devia deixar a Valentina escrever sobre esse (se é que ela concorda que esse livro é uma novela, hehe), mas vou me arriscar porque a história de Santiago tem lugar garantido na minha lista. A novela é sobre uma certa pesca do velho pescador Santiago, que após um jejum de fisgadas se depara com um belo espadarte, com quem trava uma batalha de proporções épicas. A batalha se estende e atinge condições extremas, obrigando ambos os êmulos a alcançarem o limiar de suas próprias forças, confrontando-se com suas próprias limitações e sua própria condição. A velhice de Santiago versus a pujança do peixe, Santiago versus si próprio com suas limitações, força versus experiência etc. Se segura na lista por seu estilo simples mas profundo, que permite várias leituras. Mas também ressalto o retrato reverente de Hemingway sobre o "homem do mar", um artífice do ofício da pesca, cuja luta com o peixe encampa a própria batalha do homem contra a natureza fugaz e limitada de sua própria existência. (e aí Valentina, curtiu? hehe)
Vamos lá galerê, que comecem as discussões sobre ser novela ou romance ou conto ou sei lá mais o que, e que continuam as indicações.
Vou pensar em mais algumas aqui. Pode deixar que de Ratos e Homens eu faço (estou com sono agora) e se alguém quiser se encarregar de Cândido, do Voltaire, acho que é uma boa, porque eu não sou muito fã dela.
(desculpem-me o tom engraçaralho, mas é que estou com um p*** sono, tá? Relevem, por favor)
Diante da dificuldade (e da minha preguiça) de separar
Pensei em colocar no formato mais ou menos padronizado:
Título (autor) - um breve comentário sintetizando uma sinopse e as razões pelas quais acha que ela é digna de estar aqui nessa lista.
Pensei que esse comentário podia ser um pouco mais sucinto, mas isso fica a critério de cada um de vocês.
Sigam-me os bons então! Começo com três das quais me lembro agora:
A Metamorfose (Franz Kafka) - A história de Gregor Samsa praticamente dispensa comentários. É um rapaz, caixeiro-viajante, que acorda metamorfoseado em um inseto (uns dizem barata, outros besouro rola-bosta) e enfrenta toda a situação de rejeição e crueldades físicas, morais e espirituais a ele dirigidas por toda a sociedade em torno dele, incluindo sua própria família. Uma bela história sobre a rejeição, o horror da marginalidade e do sentir-se estranho em relação ao mundo a sua volta, fazendo com que se inadeque de tal modo que uma tragédia se torne praticamente iminente.
Billy Budd, Marinheiro (Herman Melville) - O relato se dá acerca da inglória saga do jovem Billy Budd, o "belo marinheiro" que passa por maus bocados em um navio inglês em que enfrenta o mau caráter de Claggart, um oficial que acusa o jovem de estar organizando algum levante ou motim. Melville usa o navio H.M.S. Indômito como palco para uma profunda arena moral, onde se digladiam diferntes concepções de bem e mal e de certo e errado. Merece um lugar nessa lista por conta do caráter subjetivo e em constante devir sócio-histórico da moral e da natureza humanas. Também atinge altas notas quando toca nas teorias da época, ainda experimentando os ecos da Marselhesa da Revolução Francesa de 1789 e os pensamentos profundos dos iluministas sobre a humanidade.
Bartleby, o escriturário (Herman Melville) - A história de Bartleby, o escriturário de Wall Street que se recusava a cumprir tarefas ordinárias de seu cotidiano encontra-se sintetizada na célebre resposta padrão do protagonista a qualquer requerimento de seu patrão (o narrador da história) - "Prefiro não fazê-lo". A situação de Bartleby vai se agravando conforme ele se recusa a fazer cada vez mais coisas, tornando-se apático não só no âmbito do trabalho, mas em vários outros aspectos de sua vida. A condição se torna tão insustentável que a empresa muda de lugar e deixa Bartleby (que preferia não deixar o escritório, permanecendo constantemente lá como um fantasma) nos antigos aposentos. O patrão-narrador volta ao local após algum tempo e descobre que Bartleby morreu. E que ele trabalhou numa seção dos correios norte-americanos para onde iam as encomendas não-entregues. Essa novela angariou seu lugar na lista pelo desfecho dúbio que até hoje alimenta hipóteses e a curiosidade dos leitores. A atitude de Bartleby se tornou prototípica de uma angústia que encontrou ecos profundos ao longo dos séculos posteriores, nos escritos existencialistas de Sartre (alguns dizem que Bartleby foi o pioneiro do existencialismo), por exemplo, ou no embascamento impotente diante dos extremos do "breve século XX".
O Velho e o Mar (Ernest Hemingway) - Eu devia deixar a Valentina escrever sobre esse (se é que ela concorda que esse livro é uma novela, hehe), mas vou me arriscar porque a história de Santiago tem lugar garantido na minha lista. A novela é sobre uma certa pesca do velho pescador Santiago, que após um jejum de fisgadas se depara com um belo espadarte, com quem trava uma batalha de proporções épicas. A batalha se estende e atinge condições extremas, obrigando ambos os êmulos a alcançarem o limiar de suas próprias forças, confrontando-se com suas próprias limitações e sua própria condição. A velhice de Santiago versus a pujança do peixe, Santiago versus si próprio com suas limitações, força versus experiência etc. Se segura na lista por seu estilo simples mas profundo, que permite várias leituras. Mas também ressalto o retrato reverente de Hemingway sobre o "homem do mar", um artífice do ofício da pesca, cuja luta com o peixe encampa a própria batalha do homem contra a natureza fugaz e limitada de sua própria existência. (e aí Valentina, curtiu? hehe)
Vamos lá galerê, que comecem as discussões sobre ser novela ou romance ou conto ou sei lá mais o que, e que continuam as indicações.
Vou pensar em mais algumas aqui. Pode deixar que de Ratos e Homens eu faço (estou com sono agora) e se alguém quiser se encarregar de Cândido, do Voltaire, acho que é uma boa, porque eu não sou muito fã dela.
(desculpem-me o tom engraçaralho, mas é que estou com um p*** sono, tá? Relevem, por favor)