Ressuscitando o tópico de novo para comentar as traduções técnicas, como citado recentemente em
Nem sempre é culpa da mídia, ou alguns casos pessoais.
Lembro de um problema de nomenclatura que descobri ano passado por acaso. Estava lendo a biografia do Lincoln pela L&PM e lá falava de Leis do Milho, Leis do Milho, o tempo todo. Por acaso, li um capítulo da Era das Revoluções de Hobsbawm em que ele também fala dessas leis só que a tradução estava Leis do Trigo. Qual o certo? O original, como traz o Hobsbawm entre parênteses, é
Corn Laws. Uma simples busca do Google resolveu o problema, porque o segundo parágrafo do verbete na Wikipédia diz: "In Britain, the word corn is a generic term for cereal crops such as wheat, oats and barley." Ou seja, foi menos um erro que um deslize do tradutor do Lincoln. Mas um deslize também que uma simples pesquisa (ou revisão de alguém que conhece o assunto) teria corrigido.
Um outro caso pessoal (que me deixou mais chocado) foi a tradução
/adaptação? da obra "A civilização do Ocidente Medieval" pela EDUSC. O livro é um clássico até meio antigo para um livro técnico (década de 60) e tinha uma tradução em Portugal que fica bem cara de comprar no Brasil. A tradução então seria bem-vinda.
Mas quando decidi comparar o original francês com a tradução/adaptação?, vi que parágrafos inteiros estavam faltando, sem nenhum aviso de que a obra não é integral. Às vezes o original citava alguém e depois falava da pessoa e essa edição simplesmente corta tudo! Hum, acabei descobrindo (e por isso corrijo o texto) que, na verdade, a tradução parece ser de uma edição condensada, só que já originalmente pela Flammarion. Mesmo assim, nenhuma das editoras avisa isso...
Uma outra tradução que estou lendo agora traz "Alena", sigla em francês para o Tratado Norte-Americano de Livre Comércio conhecido em português como NAFTA, custava trocar?; e
Homo ecranis sem nenhuma nota, o que dificulta o entendimento da referência para quem não sabe francês (ou português de Portugal), porque "écran" é "tela" em francês.
Além desses lembro do caso da
Alta Books/Google Translate que segue aí com seus livros. Aqui parece que vale tudo para lucrar e o leitor/consumidor que fique com o pepino. O que fazer com um livro desses (que não é barato)?
Mas parece que a "nem sempre a culpa é do tradutor" também, como mostra o caso recente da Denise Bottmann, da CosacNaify e o
How fiction works. É meio impressionante aqui porque a CosacNaify sempre tem suas traduções elogiadas e talz.
Ou seja, também com as traduções técnicas a gente fica entre os plágios, as traduções ruins, as descuidadas e os originais? E ainda paga (muito mais) caro por isso? Fora toda a questão apontada no Observatório de Imprensa da propagação dos erros: como o público que lê esses livros é universitário, a ciência fica mal-feita, os erros vão se propagando de publicação em publicação até que um pato vire canário, como no caso de Darwin...