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As malditas traduções...

Anica disse:
Uma coisa que tem me deixado com a pulga atrás da orelha é como algumas pessoas avaliam a tradução como boa ou ruim se não dominam o original. Já vi gente falando de tradução de obra francesa como sendo ruim sendo que a pessoa não sabe nem pedir café em francês. O mesmo valendo para russo, inglês, japonês, espanhol, etc.

Aí já não é meio que uma questão de preconceito?

Eu vejo duas possibilidades em que não é necessário conhecer a língua original (profundamente) para rejeitar ou elogiar uma tradução: quando a tradução é descuidada e quando você conhece o autor (através de outras obras e traduções).

A primeira parece ser a mais comum: não entendo uma palavra de russo, mas não tenho dúvidas de que as traduções do Dostoiévski pela Editora 34 são bastante cuidadosas. Isso é perceptível de diversas formas, seja a já citada coerência interna do texto (ainda que alguns autores sejam propositadamente "incoerentes", são formas diferentes de "incoerência"), a permanência de alguns termos na língua original, notas do tradutor acerca das questões que emergiram no processo de tradução etc.

É mais complicada a segunda possibilidade, demanda um conhecimento mais ou menos aprofundado não da língua, mas da obra do autor em questão. Dados esses pressupostos, é um tipo de erro ainda mais evidente (e, infelizmente, comum), quando o vocabulário de um autor é subitamente transmutado numa terminologia completamente bizarra.

No fim das contas, é óbvio que esses formas de avaliação não permitem nenhum tipo de crítica aprofundada das traduções, mas são bastante efetivas para situações cotidianas como, por exemplo, escolher entre traduções de uma mesma obra.
 
Não sabia dessa história da pirataria da Nova Cultural:

http://www.lendo.org/lista-de-plagios-da-nova-cultural/

* * *

É possível perceber que uma tradução é mal feita sem conhecer a língua original, às vezes sobram uns sintomas de traducite, como expressões estranhas repetidas muitas vezes que você percebe que são traduções muito literais de expressões idiomáticas, etc. Por outro lado, se você traduzir Balzac e ele não soar francês, you fail. Um bom tradutor consegue estetizar a linguagem original do autor, o mau tradutor tem soluços periódicos que incomodam.

Eu não vou conferir se toda reclamação que leio sobre problemas de tradução é necessariamente verdade, mas a freqüência com que se lê na imprensa aquele clichê idiota sobre tradução ser traição me faz pensar que há muita impostação aí. Se não sabe mais o que escrever na resenha, fale mal da tradução! Você pode passar por crítico exigente sem fazer esforço mental, e há esse consenso estúpido de que toda tradução é ruim (que é uma vulgarização de uma questão teórica legítima) que vai imediatamente legitimizar o comentário do crítico preguiçoso. Eu gostaria que a discussão pública sobre tradução pudesse ir um pouco além disso. Como você avalia uma tradução mediana, sem arroubos de genialidade, e que não é o projeto de vida do tradutor? Em que medida ela funciona ou não e serve como intermediário legítimo ou não?
 
Nesse caso, Guilherme, podemos falar que a boa tradução é a que transmite a ideia original.
Mas olha só, se em livros técnicos isso não é fácil, imagina em literatura. Claro que algo se perde. Mas taambém existe a chance de algo se somar! É arte.
Mudando de ramo artístico, podemos comparar com uma nova versão de um filme clássico. Algo se perde? Normalmente. Mas sempre tem algum mérito na coisa. Para mim, o tradutor também é autor. Se assim não fosse, tanto faria ler a tradução de fulano ou beltrano.
Por coincidência, comprei hoje "A defesa de Sócrates", tradução de Sérgio Avrella, diretamente do grego. E vou falar: Show!
É Platão? Claro que não... É Sérgio Avrella. Mas e aí? Eu leio grego para ler Platão?
 
Nesse caso, Guilherme, podemos falar que a boa tradução é a que transmite a ideia original.

Você está certo de apontar que no caso em que você não conhece o idioma original, você não vai saber qual a idéia original. A pessoa que leu uma tradução sem conferir com o original às vezes vai poder detectar que a tradução é ruim por motivos superificiais, mas provavelmente não vai conseguir detectar se a tradução é fiel.

Claro que a partir daí você vai ter milhões de problemas para definir o que é a "idéia original". Se eu traduzir Moby Dick em terceira pessoa, mas de resto razoavelmente fiel (usando discurso indireto livre para expressar o ponto de vista de Ishamel, etc.), eu estarei preservando a "idéia original"? Se a Moby Dick virar um robô-baleia branco do espaço sideral, mas a natureza do capitão Ahab permanecer intacta, eu estarei preservando a "idéia original"? A pergunta é retórica, mas aceito respostas :)

Mas olha só, se em livros técnicos isso não é fácil, imagina em literatura. Claro que algo se perde. Mas também existe a chance de algo se somar! É arte.

Quando você soma algo, não é mais tradução :) Tradução é igual-ou-menor sempre.

Nada contra tentar fazer mais, porém. É uma proposta diferente e válida.
 
Anica disse:
Agora lendo Uma Longa Queda, tem uma hora que a Jess chama um cara de "Joselito". Gente, Jo-se-li-to. Tá, eu nem assisto mais MTV e acabei incorporando a palavra ao meu vocabulário também, mas que escolha estranha, não? Talvez só um 'sem noção' ficasse melhor.

Estou lendo agora também e peguei a Jess dizendo que o JJ "...está de caô..."

CAÔ?!?!?
 
Agora não sobre o texto necessariamente, mas sobre o título. Então que tem todo esse bafafá sobre a série millenium escrita por um sueco que bateu as botas antes de colher os louros do sucesso, certo? E o primeiro livro aqui no Brasil chegou como Os Homens que não Amavam as Mulheres, né?

Eu sei que em parte a culpa foi minha, pq se eu estivesse interessada meeeeesmo no negócio eu teria ido pesquisar um tico, mas assim segue a história: em dezembro eu quase comprei o livro em português. Mas aí pensei "Ok, é mais caro. E vai demorar um monte até traduzirem toda a série para o português, em inglês já deve estar toda traduzida e é mais barata." E eu ia comprar em inglês, mas só achava "The girl with the dragon tattoo" e "the girl who played with fire" e eu ficava pensando "Po, mas o que aconteceu que o primeiro volume sumiu?"

Pelo título no Brasil, eu esperava algo com "men who didn't love women" ou algo que o valha né. Bão, não. O primeiro volume é "A garota com a tatuagem de dragão" mesmo. Duh. Duh duplo, porque aparentemente a série segue o padrãozinho básico "The girl..." no começo do título né. Fico cá pensando porque resolveram traduzir desse jeito. Até porque ainda estou no começo do livro, mas acho que de certa forma o título em português é meio que um spoiler ¬¬'
 
É que nem o novo título de 'O caso dos dez negrinhos'. E não sobrou nenhum... :D

dilemas da tradução:
http://www.sobresites.com/alexcastro/artigos/traducao.htm
achei o texto fantástico :D
 
Traduzir não é um trabalho nada fácil, o profissional tem que ter comprometimento com o que está fazendo. Ele tem que tentar fazer a tradução mais proxima o possivel do original.
Dizer o 'mesmo' a Outros- Ensaios Sobre Tradução do autor Adail Sobral. é um livro que destaca bem esse comprometimento que o profissional de tradução deve ter quando fizer o seu trabalho,pois além de ler e entender o tradutor terá que reconstituir/reconstruir/restituir o que lê em outra língua para o publico da obra traduzida.
 
Tipo a tradução de um poema simbolista do Mallarmé? Taí uma das coisas mais ingratas de se tentar traduzir, auheuhaeuhuae

Pra mim o tradutor, antes de mais nada, deve ser um excelente leitor. Eu queria mexer com isso na minha monografia, mas acabei desistindo porque achei algo mais interessante pra mexer. Entretanto, durante as minhas pesquisas iniciais e conversando com meus professores (todos, no mínimo bilíngues e doutores na área), quase todos disseram que, pra traduzir obras literárias, você tem que ser um literato, alguns chegavam a um extremo maior de dizer que não bastava ser um literato, você tinha que ser realmente um escritor, só assim pra entender o pensamento abstrato de outro escritor.

Sei que existem faculdades de tradução (e também sei, por amigos que estudam nessas faculdades, que não se aprende a traduzir patavinas lá) e tudo o mais, mas eu faço coro com os meus professores que dizem que o ideal é ser um literato (no mínimo), ou seja, saber ser crítico e fazer análises literárias boas o suficiente para não obter algumas leituras equivocadas.

Eu gosto de pensar do lado oposto da moeda. Você tem, por exemplo, o Machado de Assis que tem vários especialistas principalmente na Inglaterra, um dos grandes fãs de Machadão é o carrancudo Harold Bloom que nunca leu uma obra em português dele. Fico imaginando a astúcia do tradutor em fazer e estabelecer todos os jogos sutis que Machado faz.

Assim como eu já ouvi falar que Paulo Coelho é muito, mas MUITO melhor em Francês ou Inglês. Mérito do tradutor, hehehehe.
 
Vou colocar aqui um argumento do texto que linkei para ver o que você acha, Pescaldo.
Dublador É Ator?

A Denise escreveu: "Você se contradiz quando afirma que "todas as minhas críticas são à dublagem enquanto método de tradução de uma obra de arte, nunca à qualidade do trabalho dos dubladores" e anteriormente diz, referindo-se ao fato de sua mulher assistir a filmes dublados: "Parece que ela está sempre assistindo ao mesmo filme. Devem haver só uns 20 dubladores no Brasil. São as mesmas vozes, programa após programa. As mesmas mocinhas, os mesmos heróis, os mesmos bandidos."... ora... se isso não é uma crítica aos dubladores, é ao quê??? Um bom dublador não parece sempre igual... afinal, ele é, antes de tudo, um ator!"

Mas dublador não é ator. Dublador é dublador. São profissões diferentes, que exigem habilidades diferentes e, principalmente, egos de tamanhos diferentes.

Tradutor também não é escritor - e falo isso com conhecimento de causa, pois sou ambos. Até acontece de escritores e atores fazerem bicos de dubladores e tradutores, mas nunca dura. Quem quer criar tem o ego muito grande: não consegue se prender a simplesmente reproduzir o trabalho dos outros. Dublar e traduzir são exercícios em humildade: antes de mais nada, você tem que saber o seu lugar.

Eu tinha uma edição dos contos de Poe traduzidos pela Clarice Lispector. Alguém aqui confia na fidelidade (ou seja, na não-interferência) de uma tradução da Clarice Lispector? Aquele espírito mais livre e louco que já nasceu nesse país, tolhido numa tradução? Será que Clarice sabia o seu lugar?

Clarice era mais escritora do que Poe jamais sonhou em ser - e olha que o Poe era maravilhoso, mas a Clarice era algo de outra dimensão. É capaz de os contos de Poe traduzidos por Clarice serem melhores que os originais. Mas aí já estaríamos lendo uma nova obra, não mais os contos do Poe.

Será que, digamos, o Marco Nanini conseguiria dublar decentemente o Olivier? Marco Nanini é, talvez, mais ator do que Olivier. Deve saber disso. Será que conseguiria seguir Olivier quando discordasse dele? E se ele achar que o get thee to a nunnery tinha que ser choroso e não irônico?

Dublador não é ator. Dublador não ser ator não é demérito algum. Mas, principalmente, dublador não deve ser ator. Dublador deve ser dublador, deve ter respeito ao texto e saber o seu lugar.
 
Eu acho uma visão totalitária e, por isso, equivocada.

A tradução, por si só, é uma leitura e ela está inerente a uma visão particular da obra. Existem leituras equivocadas e leituras pertinentes e eu, acredito, que as mais pertinentes são feitas por quem é literato.

Entenda que alguns professores meus defendem que para traduzir uma literatura, só sendo um artista porque aí você tem a habilidade de entender e penetrar mais facilmente na mente de um texto em particular. Se você tem alguém que traduz sem a sensibilidade necessária para a leitura e uma análise crítica da obra em questão, você terá uma tradução ruim e porca, bem linear e, em muitas partes, sem aquilo que o texto original poderia provocar.

Também mexo com tradução (por hobbie e necessidade) e também escrevo algumas coisas, mas sei onde começa o meu texto e termina o do outro. Mesmo que o teu ego seja grande o suficiente pra achar que do seu jeito "ficaria melhor", você ainda está fazendo a leitura de um texto que não é seu. Como dito no texto que você cita: você tem que saber o seu lugar. Se você se propõe a traduzir alguma coisa (como no caso da Clarice e do meu, excluo a profissão nesse momento) é porque você gosta daquele texto e quer passar ele adiante para outras pessoas que não conseguem ter acesso à ele.

Mas, seja Clarice, Fernando Pessoa, eu ou você traduzindo Poe, sempre haverá uma diferença na leitura e uma escolha pessoal das palavras que serão colocadas na tradução. Você traduz do jeito que você acha que a obra passa a mensagem, não do jeito que você gostaria que ela transmitisse. Fazer a segunda é destruir o texto original e tirar o autor da ligação com ele.

Eu defendo que, pelo menos literato você deve ser para fazer a tradução e não apenas conhecer muito bem a língua que pretende traduzir. Meu pai, por exemplo, é tão fluente quanto eu em inglês, mas não consegue fazer uma leitura decente de um livro literário, suas leituras são deveras errôneas e, caso ele fosse traduzir, comprometeria demais a leitura de quem o fizesse em português.

No meu caso (e modéstia à parte), ela se sairia bem melhor que a do meu progenitor, visto que eu tenho uma sensibilidade literária e artística maior que ele. E, literato, pra mim, é aquele estudioso das literaturas, um teórico, não necessariamente um escritor.
 
Concordo com sua visão em partes, Pescaldo. O "em partes" fica por conta dos tradutores que resolve tomar algumas liberdades com relação ao texto, quase que impondo o próprio estilo à obra a ser traduzida.

Mudando de saco para mala, sobre o que eu tinha postado ali:

Agora não sobre o texto necessariamente, mas sobre o título. Então que tem todo esse bafafá sobre a série millenium escrita por um sueco que bateu as botas antes de colher os louros do sucesso, certo? E o primeiro livro aqui no Brasil chegou como Os Homens que não Amavam as Mulheres, né?

Eu sei que em parte a culpa foi minha, pq se eu estivesse interessada meeeeesmo no negócio eu teria ido pesquisar um tico, mas assim segue a história: em dezembro eu quase comprei o livro em português. Mas aí pensei "Ok, é mais caro. E vai demorar um monte até traduzirem toda a série para o português, em inglês já deve estar toda traduzida e é mais barata." E eu ia comprar em inglês, mas só achava "The girl with the dragon tattoo" e "the girl who played with fire" e eu ficava pensando "Po, mas o que aconteceu que o primeiro volume sumiu?"

Pelo título no Brasil, eu esperava algo com "men who didn't love women" ou algo que o valha né. Bão, não. O primeiro volume é "A garota com a tatuagem de dragão" mesmo. Duh. Duh duplo, porque aparentemente a série segue o padrãozinho básico "The girl..." no começo do título né. Fico cá pensando porque resolveram traduzir desse jeito. Até porque ainda estou no começo do livro, mas acho que de certa forma o título em português é meio que um spoiler

Descobri que na verdade a caca é da edição americana. O título em sueco é "Män som hatar kvinnor", que seria mesmo "Os homens que odiavam as mulheres", o que fica bem mais próximo do título em português do que do em inglês. Acho que o que aconteceu aqui é que lá fora há atualmente uma certa "mania" de manter títulos meio semelhantes para coleções, para mostrar que são coleções. Por exemplo, a série da Charlaine Harris tem "Dead" em todos os títulos. Eles devem ter mantido o "The girl..." para deixar evidente que é uma coleção.

Enfim, meus pedidos de desculpas aos tradutores brasileiros :timido:
 
Ressustitando o nosso tópico de discussões sobre os plágios vim divulgar que recebi um email da Denise Bottmann em fala:

quatro pesos-pesados da tradução literária no brasil - heloisa jahn, jorio dauster, ivone benedetti e ivo barroso - numa generosa iniciativa de solidariedade juntaram esforços e redigiram um manifesto sobre o processo da landmark contra mim e o nãogostodeplágio.

encontra-se em http://apoiodenise.wordpress.com/, e os dispostos a subscrevê-lo encontram o link do abaixo-assinado no próprio apoiodenise ou diretamente em http://www.petitiononline.com/Bottmann/petition.html

Ela pediu nosso apoio, portanto aqui peço eu: blogueiros divulguem, e aos não blogueiros tirem um tempinho e assinem a petição!

estrelinhas coloridas....

p.s. Depois vou colocar aqui a lista das traduções malditas lá do blog da Denise.
 
obg por divulgarem e assinarem.

hoje publiquei uma série de tiradas e reflexões de jorio dauster (trad. do salinger e do nabokov): http://naogostodeplagio.blogspot.com/2010/02/jorio-eu-nao-daria-menor-bola.html
 
Denise, falando em jorio dauster. Eu gostaria de saber qual tradução de Lolita é melhor: Jorio Dauster ou Brenno Silveira?
 
Assinado, ainda estou devendo um post sobre a situação da Denise, vou pensar em algo e tentar postar o mais rápido possível essa semana, apesar da volta das aulas. :/
 

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