Paulo
Cabeça de Teia
Anica disse:Uma coisa que tem me deixado com a pulga atrás da orelha é como algumas pessoas avaliam a tradução como boa ou ruim se não dominam o original. Já vi gente falando de tradução de obra francesa como sendo ruim sendo que a pessoa não sabe nem pedir café em francês. O mesmo valendo para russo, inglês, japonês, espanhol, etc.
Aí já não é meio que uma questão de preconceito?
Eu vejo duas possibilidades em que não é necessário conhecer a língua original (profundamente) para rejeitar ou elogiar uma tradução: quando a tradução é descuidada e quando você conhece o autor (através de outras obras e traduções).
A primeira parece ser a mais comum: não entendo uma palavra de russo, mas não tenho dúvidas de que as traduções do Dostoiévski pela Editora 34 são bastante cuidadosas. Isso é perceptível de diversas formas, seja a já citada coerência interna do texto (ainda que alguns autores sejam propositadamente "incoerentes", são formas diferentes de "incoerência"), a permanência de alguns termos na língua original, notas do tradutor acerca das questões que emergiram no processo de tradução etc.
É mais complicada a segunda possibilidade, demanda um conhecimento mais ou menos aprofundado não da língua, mas da obra do autor em questão. Dados esses pressupostos, é um tipo de erro ainda mais evidente (e, infelizmente, comum), quando o vocabulário de um autor é subitamente transmutado numa terminologia completamente bizarra.
No fim das contas, é óbvio que esses formas de avaliação não permitem nenhum tipo de crítica aprofundada das traduções, mas são bastante efetivas para situações cotidianas como, por exemplo, escolher entre traduções de uma mesma obra.