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As Flores do Mal - Charles Baudelaire

Ainda estou lendo. Acho que o livro exige bastante por causa de um certo preciosismo do Baudelaire com relação ao vocabulário (ou vai ver que meu vocabulário é pequeno, ou as duas coisas). Cheguei na parte dos Vinhos.

Por enquanto deixo aqui que apesar de toda a propaganda como "poeta da modernidade" ou primeiro poeta moderno (o que Baudelaire é, por ser um poeta do urbano como nenhum foi antes, por exemplo, entre outras características dele) é interessante que ele ainda use imagens de Vênus, de Dianas, tenha feito poemas em latim. Apesar da obsessão pelo novo (outra característica moderna) é meio desconcertante quando algo assim aparece em Baudelaire (na verdade aparece bem pouco).

É também um livro de imaginação. Alguns (a maioria?) dos poemas é de uma viagem "interior" como só tinha visto nos ultra-românticos. Mas Baudelaire faz isso de uma maneira diferente também.

Depois das Flores, pretendo seguir para outros ainda e para a crítica. Talvez reler o Benjamin, provavelmente ler Jakobson e a análise do Les chats.

Isso que você disse é verdade mesmo... Quando li pela primeira vez também notei isso. Mas se considerarmos alguns poemas específicos dAs Flores do Mal, como o A Carniça, nós percebemos que o Baudelaire foi bastante revolucionário em alcançar o prosaico no sue nível mais prosaico, isto é, no seu nível mais Feio. Mesmo porque acaba sendo plausível que ele não tenha rompido inteiramente com a tradição poética de então pois que o contexto da época também não o permitia. Além do mais, às vezes achamos que um poeta revolucionário é um poeta que surge espontaneamente, quando na verdade isso não existe. O verso livre do Whitman, apesar de livre, é todo amarrado a partir de aliterações, de enumerações ou de repetições (além, é claro, de se embasar no verso bíblico).

Acho que eu nem sempre tenho essa visão pois acabo lendo e relendo demais a versão do Guilherme de Almeida pro livro, o que é bem pouco, visto que ele só traduziu 21 poemas diante dos 166 do livro todo... (Se bem que a escolha dos poemas pelo Guilherme pode ser vista como uma espécie de "resumo", uma edição ultra-condensada do todo do livro).

Mas vai relatando pra galera aí o que você conseguiu encontrar de críticas sobre o Baudelaire :D

P.S.: Spartaco, o Ivo Barroso tem uma opinião sobre as traduções de Baudelaire nessa entrevista aqui:

JA – E em relação a Flores do Mal, como foi sua escolha ?

IB – Desde cedo aprendi a amar as belas versões que Guilherme de Almeida publicou sob o título de As Flores das Flores do Mal. Mas ele só traduziu os poemas com que mais se identificava, que infelizmente são poucos. Há também algumas boas transposições de Dante Milano. Mas a tradução de Ivan Junqueira, além de ser completa, o que garante uma unidade estilística do conjunto, é sem dúvida a melhor que temos em português, graças à sua concepção da arte de traduzir versos.

JA – Melhor mesmo que a do Guilherme ?

IB – Pelo menos diferente. Ivan deixa passar mais da forma baudelairiana pois está concentrado em efetivamente traduzi-la, ao passo que Guilherme, mais pessoal, faz um poema próprio, maravilhoso, recriando Baudelaire.

A edição do Guilherme de Almeida é essa; a do Ivan Junqueira, essa (mas fique atento se ela possui a introdução e as notas!); a do Dante Milano, foi publicada em 88 sob título Poemas Traduzidos de Baudelaire e Mallarmé. Não sei se possui todas as traduções do Milano, pois o Junqueira diz que 34 ainda estão inéditas...

A edição que o Ivo Barroso organizou foi uma pra Nova Aguilar, de 95.
 
Última edição:
Essa da Nova Aguilar possui vários tradutores. Como disse o Ivo Barroso na entrevista, "Li tudo o que havia em português de e sobre Baudelaire, selecionei o que me pareceu melhor, mandei traduzir o que faltava para um conjunto de cerca de 80% de sua obra completa, procedi a uma harmonização estilística do conjunto, fiz a nota introdutória em que são expostos os critérios adotados e redigi um bom número de notas que aparecem no final do volume."

A do Ivan Junqueira é a que foi publicada recentemente pela Saraiva (vide o link) e, anteriormente, numa edição comemorativa da Nova Fronteira.
 
Essa da Nova Aguilar possui vários tradutores. Como disse o Ivo Barroso na entrevista, "Li tudo o que havia em português de e sobre Baudelaire, selecionei o que me pareceu melhor, mandei traduzir o que faltava para um conjunto de cerca de 80% de sua obra completa, procedi a uma harmonização estilística do conjunto, fiz a nota introdutória em que são expostos os critérios adotados e redigi um bom número de notas que aparecem no final do volume."

A do Ivan Junqueira é a que foi publicada recentemente pela Saraiva (vide o link) e, anteriormente, numa edição comemorativa da Nova Fronteira.

Valeu pela informação.
 
Lembro que qdo eu tinha uns 17 anos, um cara me escreveu um livro de poesias e colocou um trecho de "As flores do mal" junto... rsrsrsrs!!

Mas não cheguei a ler todo. Apesar do vocabulário ser difícill, é bem legal e eu sempre gostei de coisas assim meio "sombrias"... rs.

Só um poema do Baudelaire que falava sobre corpos em decomposição que achei meio "curto e grosso" demais, mas o resto é até bom! :D
 
Jorge, você está lendo no original ou em versão para o português? Se for a traduzida, qual?

Estou lendo no original mesmo, Spartaco. Mas agora o Mavericco já nos deu uma boa aula sobre as traduções, né?

Isso que você disse é verdade mesmo... Quando li pela primeira vez também notei isso. Mas se considerarmos alguns poemas específicos dAs Flores do Mal, como o A Carniça, nós percebemos que o Baudelaire foi bastante revolucionário em alcançar o prosaico no sue nível mais prosaico, isto é, no seu nível mais Feio. Mesmo porque acaba sendo plausível que ele não tenha rompido inteiramente com a tradição poética de então pois que o contexto da época também não o permitia. Além do mais, às vezes achamos que um poeta revolucionário é um poeta que surge espontaneamente, quando na verdade isso não existe. O verso livre do Whitman, apesar de livre, é todo amarrado a partir de aliterações, de enumerações ou de repetições (além, é claro, de se embasar no verso bíblico).

Acho que eu nem sempre tenho essa visão pois acabo lendo e relendo demais a versão do Guilherme de Almeida pro livro, o que é bem pouco, visto que ele só traduziu 21 poemas diante dos 166 do livro todo... (Se bem que a escolha dos poemas pelo Guilherme pode ser vista como uma espécie de "resumo", uma edição ultra-condensada do todo do livro).

Mas vai relatando pra galera aí o que você conseguiu encontrar de críticas sobre o Baudelaire :D

Bem lembrado, Mavericco. A questão do prosaico. Quanto a isso, vale para lembrar também dos "Pequenos poemas em prosa" em que ele criou/ressuscitou a poesia em prosa. Ele é moderno por isso também, por ser o primeiro poeta mais prosaico, o que é uma tendência contemporânea, e se a gente quiser dizer, burguesa (acho que é Luckács que diz isso?). Daí a impossibilidade da épica e a ideia de que ela foi substituída pelo romance.

Sobre ser revolucionário, por causa da propaganda de poeta "moderno" eu não esperava ainda as referências à mitologia grega (embora sejam só 2 ou três poemas), mas acho que a poesia de Baudelaire é a prova de que em arte não dá para abolir o passado simplesmente e começar do zero como parece que os modernistas quiseram fazer. Ele também escreve em sonetos, né? Outra prova de que ele foi moderno antes dos modernistas que depois da "revolução" voltaram a escrever sonetos. Se bem que o Renoir, para citar outro exemplo, também pintava ainda uma Diana pouco antes do que viria a ser o Impressionismo. Isso é também um bom exemplo de que os artistas não necessariamente respeitam os limites de escolas impostos pela didática (Romantismo, Realismo, Simbolismo...).

E vou tentar sim, comentar de acordo com o progresso das leituras (na crítica também). Pode deixar.
 
Acho que dá pra falar também no simples fato de que a poesia do Baudelaire não foi feita com todo aquele contexto que o século XX obrigaria a arte a tratar. Poetas como o Apollinaire ou o Trakl foram ainda mais revolucionários pois os caras estavam vendo a Primeira Guerra Mundial, afinal das contas. Pessoas morriam com bombas de cloro.

E além, é claro, de já terem encontrado a porteira aberta. É a mesma coisa com o Rimbaud, que veio depois. Ou, no Brasil, o Álvares de Azevedo, que foi um dos precursores (gosto mais de contemporâneo) de Baudelaire nessa coisa de alcançar o prosaico. Claro que no caso dele ele está cercado de outras duas facetas angelicais (ou nem tanto assim), mas ele ainda tem versos como:

Ergueu-se... vem da noite a vagabunda
Sem xale, sem camisa e sem mantilha,
Vem nua e bela procurar amantes...
— É doida por amor da noite a filha.


A propósito, lembrei-me dum livro MUITO legal do Marshall Bermann onde ele analisa, entre outros, Baudelaire e sua relação com a modernidade/modernismo: http://www.companhiadasletras.com.br/detalhe.php?codigo=80055

Li ele há um tempão atrás e acho que vou (e vou!) reler de novo :)

Tem também aquele do Walter Benjamin, Baudelaire: um lírico no auge do capitalismo. Não tenho certeza se já li algo desse, mas, todavia...
 
Última edição:
Eu gosto de Baudelaire. Faz assim lê a versão original, as traduções nem sempre são bem feitas e o valor das palavras, acaba por se perder um pouco.
 
Mas também sempre se ganha muito, né? (e eu sinceramente acho que sempre se ganha mais do que se perde)

De todo modo, vou postar um poema aqui que li e achei bem bonito... Não me lembro de tê-lo achado tão belo da primeira vez que li o livro. A tradução é do Ivan Junqueira:

LXXI.
O morto alegre.

Na planície em que o lento caracol vagueia,
Quero eu mesmo cavar um buraco bem fundo,
Onde possam meus ossos repousar na areia,
Como o esqualo a dormir no pélago profundo.

Odeio o testamento e a tumba me nauseia;
Ao invés de implorar uma lágrima no mundo,
Prefiro em vida dar aos corvos como ceia
Os trapos que me pendem do esqueleto imundo.

Ó vermes! vós a que não chegam luz ou ruído,
Eis que vos toca um morto alegre e destemido;
Filhos da podridão, demiurgos do artifício,

Vinde pois sem remorso ungir-me os membros tortos,
E dizei-me depois se resta algum suplício
A este meu corpo sem alma e morto dentre os mortos!

Lembro-me dum comentário do Walter Benjamin em que ele dizia que o Baudelaire quer a solidão, mas a solidão acompanhada. Acho que o clima de força no momento de maior fraqueza, de crítica a si mesmo e ao mesmo crítica aos outros (como se o Baudelaire dissesse: "eu sou assim, mas você, leitor hipócrita, sabe muito bem que é também..."); todo esse clima e essa construção acabam dando um tom de modernidade ao poema e ao conjunto como um todo. E tem também a própria beleza e redondeza, a perfeição do poema, em que todos os termos são magnificamente usados e conseguem acoplar a expressão à forma de maneira lindona... Basta citar um verso como "Filhos da podridão, demiurgos do artifício," que é belíssimo.
 
Descobri ontem (meio que por acaso) uma interpretação bem interessante das Flores do Mal no todo: seria que o poeta entediado e odiando a vida por isso vai buscando diferentes tipos de distrações, daí as diferentes partes do livro (Spleen et ideal, Quadros parisienses, O vinho, Flores do mal, Revolta, A morte), ou seja, a distração das multidões na cidade ou da cidade em si, do vinho, do amor, por fim desistindo da busca. A interpretação é de um livro didático de literatura francesa =P. Pode ser meio óbvia também, mas não tinha me ocorrido =/

Uma outra coisa que descobri ontem também (dessa vez completamente por acaso) foi um ensaio do Antônio Candido no livro "A educação pela noite e outros ensaios" chamado "Os primeiros baudelairianos", sobre a recepção dele no Brasil.
 
Última edição:
Também nunca havia me ocorrido isso... É o problema de você só ler o livro aos pedaços. Mas isso dá uma unidade espetacular ao livro, hein?

Ontem dei uma relida boa no livro do Berman, e ele abarca mais os poemas em prosa do Baudelaire, mas ressalta também que o homem do século XIX ainda vivia uma certa dicotomia, ainda não era totalmente mergulhado no modernismo como o homem do século XX, de modo que ele podia escolher isso e aquilo, ao invés de isso ou aquilo. É algo parecido com a perspectiva para com o avanço tecnológico: Baudelaire pode escolher ser avesso a isso e ser avesso à natureza, ao passo que um futurista deveria escolher apenas um. Ou mesmo o Rilke, que em alguns Sonetos a Orfeu tem uma perspectiva mais engenhosa em relação a tais pontos.

Vou procurar esse ensaio do Candido também. Já ouvi falar dele, mas nunca cheguei a ler... Se bem que certa feita, analisando um soneto de Machado de Assis, o Suave mari magno, você consegue observar uma correspondência bem interessante com o Uma carniça do Baudelaire. E o Machado já falava em Baudelaire no ensaio A Nova Geração, de 1879:

http://www.machadodeassis.ufsc.br/obras/criticas/CRITICA, A nova geracao, 1879.htm

Gostei dessa passagem aqui: Digo que em parte é inexata porque os termos Baudelaire e realismo não se correspondem tão inteiramente como ao escritor lhe parece. (...) O tom dos imitadores [de Baudelaire] é demasiado cru; e aliás não é outra a tradição de Baudelaire entre nós." Mais tarde ele fala na "na viveza da pintura, na sonoridade do vocábulo" da linguagem de Baudelaire, o que é sempre ressaltado: a elegância do estilo etc. (e é interessante ver como, para o século XIX, Baudelaire era "perdoado" de sua crueza por ter um estilo tão fodástico).

A propósito, está lendo qual edição, Jorge?

P.S.: Relendo a tradução do Manuel Bandeira pro Epilogue, acho que dá pra entender bem a relação do Baudelaire com a cidade, a modernidade, o satanismo... Enfim. É essaqui:

EPÍLOGO

De coração contente escalei a montanha,
De onde se vê – prisão, hospital, lupanar,
Inferno, purgatório – a cidade tamanha,

Em que o vício, como uma flor, floresce no ar.
Bem sabes, ó Satã, senhor de minha sina,
Que eu não vim aqui para lacrimejar.

Como o amásio senil de velha concubina,
Vim para me embriagar da meretriz enorme,
Cujo encanto infernal me remoça e fascina.

Quer quando em seus lençóis matinais ela dorme,
Rouca, obscura, pesada, ou quando em rosicleres
E áureos brilhos venais pompeia multiforme,

– Amo-a, a infame capital! Às vezes dais,
Ó prostitutas e facínoras, prazeres
Que nunca há de entender o comum dos mortais.
 
Última edição:
Tô lendo essa daqui da Folio/Gallimard, mas eu tenho essa outra também, da sub-coleção Folioplus classiques, só pelo dossiê sobre o livro no final (que ainda não li) (e porque estava barata...). A edição que tô lendo tem bastante extras também como notas e alguns poemas do Baudelaire quando jovem.

Acho que o Antônio Candido fala de Machado (talvez justo desse ensaio) nesse texto. Engraçada é a data de 1879 e se chamar de "Nova Geração". O Baudelaire já tinha até morrido fazia mais de 10 anos. Para ver como a recepção/imitação das coisas na periferia demorava (e continua demorando, enfim). Por esses tempos uma outra coisa completamente diferente estava acontecendo na França que era o "Simbolismo" mais propriamente dito. Até o auge do "Realismo" como escola com Flaubert e Zola já podia ser considerado passado. Daí as confusões talvez de associar Baudelaire com Realismo/Naturalismo de que Machado fala.

E vou procurar o Berman então só depois de ler os "Pequenos poemas". A interpretação dele faz sentido. Aliás, para os Românticos do começo do século havia mais do que para os outros a possibilidade de retorno para antes da industrialização, da Revolução Industrial, para uma classe nobre politicamente forte, para uma religião ligada com Estado ou com mais importância, mas isso vai mesmo se acabando com o passar do século. Daí talvez a poesia do fim do século se voltar para si mesma no Simbolismo? Isso contra a sociedade burguesa "triunfante" (em uma visão ainda Romântica?), em outras palavras a modernidade.
 
Última edição:
Exibidade, hein? Lendo em francês e tudo mais... :yep:

E outra coisa que percebi, ao ler o Berman, é que aquele livro do Benjamin que eu falei anteriormente, o Baudelaire: um Lírico no Auge do Capitalismo, tem uma importância bem grande para a apreciação e crítica da obra baudelairiana. O Ivan Junqueira, na edição que estou lendo, cita reiteradamente notas do Benjamin para poemas do Baudelaire, o que apenas ressalta esse aspecto.

Outra coisa que o Junqueira fala muito é da relação do Baudelaire com o Poe, em especial no que segue as teses do Poetc principle. Vou dar uma relida nesse ensaio do Poe pra ver se algumas coisas se aclaram na mente...

A propósito, o Ivo Barroso tem uma postagem em que fala dos poemas em prosa do Baudelaire bem interessante. Acho que serve até mesmo como introdução.
 
Mas é que é barato (e sempre com o dicionário do lado). Pelo preço das duas não dá o preço daquela edição pela Nova Fronteira ou a dos "Flores das Flores" pela 34. =P E ainda vem com os extras como disse. Mas claro que sempre vale uma olhada nas traduções. Você resolveu reler pela edição da Nova Fronteira?

Só olhei o Poetic Principle muito por cima, agora, depois de ler a poesia do Poe. Precisaria reler com mais atenção, mas pela Wikipédia já dá para ver duas características importantes em ambos que é o tamanho curto dos poemas e a "arte pela arte" ou a arte pela beleza nela. Tem um ensaio (aliás, mais de um) do Baudelaire sobre o Poe que fiquei de ler o Edgar Poe, sa vie et ses oeuvres (Edgar Poe, sua vida e suas obras) que não sei se tem tradução ainda (a Denise Bottmann tinha feito um apanhado do que já foi traduzido do Baudelaire).
 
Sim, estou lendo pela edição do Junqueira mesmo. Quero depois conferir o trabalho do Almansur, apesar de que o livro do Junqueira tem alguns poemas a mais (é obra completa mesmo, pelo que pude entender. Acho que tem até os poemas da juventude etc). E, como disse na página anterior, quero muito ler as versões do Dante Milano...

Mas tem também a edição da Saraiva de Bolso desse livro do Junqueira. Salvo engano, essa edição não é bilíngue; mas, de todo modo, é bem baratinha, e o estudo introdutório, as notas e a bibliografia que o Junqueira põe na edição são bem legais.

Esse post da Denise é esse aqui. Eu sempre confundo o Poetic principle com o Filosofia da composição D:

Só não me lembro se é nele que o Poe fala que um poema longo é basicamente uma sequência de poemas curtos... Acho essa frase genial. Nunca mais li um poema longo da mesma forma depois disso.

P.S.: Ah, é. Ele fala nos dois =p
Ele começa falando disso no Poetic principle: I hold that a long poem does not exist. I maintain that the phrase, “a long poem,” is simply a flat contradiction in terms. (...) The great work, in fact, is to be regarded as poetical, only when, losing sight of that vital requisite in all works of Art, Unity, we view it merely as a series of minor poems.

Aqui ele fala algo interessante também: After a passage of what we feel to be true poetry, there follows, inevitably, a passage of platitude which no critical prejudgment can force us to admire; (...)

Isso me lembra que o Eliot dizia que todo poema longo é uma conjunção de passagens poéticas e passagens prosaicas (outra verdade). A gente percebe isso em alguns poemas mais longos do Baudelaire como o Viagem a Citera, em que você tem quebras no andamento poético justamente para ajudar o andamento poético.
 
Última edição:
Li o capítulo Os primeiros baudelairianos do Antônio Candido em A educação pela noite e outros ensaios e é bem interessante. Talvez você se interesse pela primeira parte onde ele faz um breve histórico das traduções de Baudelaire no Brasil até 1963. Ele analisa a influência de Baudelaire sobre a poesia no Brasil na década de 1870, mais especificamente sobre os poetas Carvalho Júnior, Teófilo Dias e Fontoura Xavier, todos citados lá no texto do Machado que é já do final da década. Ele fala de três momentos da recepção de Baudelaire no Brasil que teriam sido esse primeiro da década de 1870, um segundo com os simbolistas e um terceiro com o Modernismo em que ele fala que não é possível falar mais em influência, mas de "consagração acadêmica". Tem alguns trechos bons:
Aí está definido por um contemporâneo, o tom atribuído inicialmente no Brasil à influência de Baudelaire: satanismo atenuado e sexualidade acentuada.
Esses elementos [satanismo e sexualidade] representavam atitudes de rebeldia. Como os de hoje, os jovens daquele tempo, no Brasil provinciano e atrasado, faziam do sexo uma plataforma de libertação e combate, que se articulava à negação das instituições. Eles eram agressivamente eróticos, com a mesma truculência com que eram republicanos e agrediam o Imperador, chegando alguns ao limiar do socialismo.
N'As flores do mal [os baudelairianos] encontraram um tratamento não-convencional do sexo, um lutuoso spleen e um senso refinado da análise moral; mas refugaram ou não sentiram bem a coragem do prosaísmo e dos torneios coloquiais. Também não se interessaram pelos espaços externos da vida contemporânea, inclusive o senso penetrante da rua e da multidão [...]. Apesar disso, assimilaram algo da modernidade de Baudelaire na medida em que se inspiraram nele para afirmar o tempo presente e seus problemas, contra o refúgio no ego e na história, como tinham feito os românticos; ou na história e na neutralidade dos objetos, como fariam em grande parte os parnasianos.

A este propósito, e com o intuito de sentir a posição histórica dos nossos poetas do Realismo, digamos que mais ou menos entre 1875 e 1885 houve no Brasil uma espécie de opção tácita e simbólica entre Baudelaire e Leconte de Lisle. Os realistas se inclinaram para aquele e os parnasianos para este.

Li também parte do ensaio de Roman Jakobson sobre "Os gatos" e não achei tão bom. É um exemplo perfeito de análise estrutural(ista) de um poema. A análise impressiona: ele conta quantos substantivos, adjetivos, conjunções etc tem em cada estrofe, analisa as relações de coordenação e subordinação entre elas, mas (para mim) isso não explica nada, ele simplesmente descreve o soneto. Não sei como fica até o final do ensaio, mas até a metade é só essa análise "matemática"/"científica". Ele divide o soneto em duas partes nessa análise e contrapõe uma à outra.
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Sobre o poema longo, eu concordo com o Poe, mas o que dizer da Ilíada?
 
Bem legal esse ensaio do Cândido! Acho que deve ter na biblioteca da UFG, mas se tiver, é em outro câmpus que fica mais inviável pra ir...

E ah, lê o resto do ensaio do Jakobson e manda pra gente aí as impressões :)

Agora quanto à Ilíada... Isso fica mais claro na Odisseia, né? Aliás, bem mais claro. Mas como diz o Saint Saga no tópico da Ilíada, a Ilíada e a Odisseia eram apenas dois livros de uma sequência maior. Mesmo porque, acho que dá pra considerar a Ilíada como uma sequência de sagas... Talvez não de poemas tão menores quanto os que o Poe propunha, mas aí já temos que considerar todo um lapso temporal. Por exemplo, quando os deuses interveem na guerra, quando Pátroclo morre, quando ocorre a "confraternização", o episódio da sabotagem, os rodeios fúnebres de Aquiles pelos muros de Troia, a despedida do Heitor etc.

Seriam como se fossem capítulos que a estrutura da epopeia por si mesma comporta. E não é a toa, afinal, que o romance é chamado de epopeia moderna.
 
Estou lendo o livro Poesia em tempo de prosa, com poemas do Eliot e do Baudelaire traduzidos pelo Lawrence Flores Pereira, e com ensaios de Katherine Rosenfield (e um, no final, do d'Aurevilly).

As traduções do Eliot são de fato impressionantes. O Lawrence conseguiu preservar em grande parte os meandros do texto eliotiano que em outras traduções se perderam, como as rimas, o ritmo, as aliterações, a linguagem prosaica, a linguagem mais elevada... Em especial no The Waste Land, onde, por exemplo, na parte III, é comum que os tradutores passem o trator em cima nas passagens rimadas.

As de Baudelaire eu não tenho muito como comentar. O tradutor não manteve sempre o alexandrino do Baudelaire, o que não deixa de ser um aspecto grave -- ainda mais num autor que possui uma dimensão formal tão forte. Mas isso também não implica em tradução desleixada, é claro, pois, nas notas que ele dá às suas traduções, percebe-se o esforço que ele teve em traduzir o impacto que o original nos traz.

Ainda estou terminando de ler o livro, mas, assim que terminá-lo, volto aqui pra continuar a discussão. Os comentários da Rosenfield parecem ser ótimos tanto para um poeta quanto para outro. De todo modo, fica aqui a sugestão de livro, que é excelente. O número de poemas é reduzido, é claro, e acho que compensa comprar mais pelo Eliot que pelo Baudelaire... Não falo pela qualidade das traduções, mais uma vez repito, mas pela quantidade mesmo -- ainda mais se considerarmos que, da poesia do Eliot até o The Waste Land, ele traduziu quase que o principal (o "principal principal" mesmo seria se ele tivesse tirado o Retrato de uma Dama e traduzido os Sweeney's).
 
Última edição:
Nuss, Mavericco! Com uma capa dessa dá até desgosto de ler =P

Fora "O albatroz", os poemas escolhidos do Baudelaire tem o problema também de não serem "centrais" (só se forem mais do gosto do tradutor a escolha se justifica, né?). E também estão fora da ordem em que aparecem no livro. :think:

O que achou de Os paraísos artificiais? E esse ensaio do Barbey d'Aurevilly é o que ele publicou defendendo As Flores do Mal quando foi censurado?
 

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