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As direções do espaço - René Guenon

  • Criador do tópico Paganus
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P

Paganus

Visitante
Do livro 'O simbolismo da Cruz'
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Alguns escritores ocidentais, com pretensões mais ou menos iniciáticas, querem dar à cruz um significado exclusivamente astronômico, dizendo que é ''um símbolo da união crucial formada pela eclíptica com o Equador'', e também ''uma imagem dos equinócios, quando o sol, em seu curso atual, cobre sucessivamente estes dois pontos'' [1]. Para dizer a verdade, se a cruz é tal, é porque, como indicamos anteriormente, os próprios fenômenos astronômicos podem ser considerados, a partir de um ponto de vista mais elevado, como símbolos, e porque, dessa maneira, podem neles ser encontrados, assim como em todos os outros lugares, esta figuração do ''Homem Universal'' a que fazíamos alusão no capítulo precedente; mas, se estes fenômenos são símbolos, é evidente que não são a coisa simbolizada, e que o fato de tomá-las por esta constitui uma inversão das relações normais entre as diferentes ordens de realidades [2]. Quando encontramos a figura da cruz nos fenômenos astronômicos ou outros, ela tem exatamente o mesmo valor simbólico que a que nós mesmos podemos traçar [3]; isso só prova que o verdadeiro simbolismo, longe de ser inventado artificialmente pelo homem, se encontra na própria natureza, ou, para dizê-lo melhor, que a natureza inteira não é mais do que um símbolo das realidades transcendentes. Reestabelecendo assim a interpretação correta do que se trata, as duas frases que acabamos de citar contém ambas um erro: com efeito, por um lado, a eclíptica e o equador não formam a cruz, já que estes dois planos não se cortam em ângulo reto; e por outro lado, os dois pontos equinociais estão evidentemente unidos por uma só linha reta, de sorte que, aqui a cruz aparece menos ainda. O que é mister considerar na realidade é, de uma parte, o plano do equador e o eixo que, unindo os polos, é perpendicular a este plano; e, por outra parte, as duas linhas que unem respectivamente os dois pontos solsticiais e os dois pontos equinociais; temos assim o que se pode chamar, no primeiro caso, a cruz vertical, e, no segundo, a cruz horizontal. O conjunto destas duas cruzes, que tem o mesmo centro, forma a cruz de três dimensões, cujos braços estão orientados seguindo as seis direções do espaço [4]; estas correspondem aos seis pontos cardeais, que, com o centro, formam o septenário.

Tivemos a ocasião de ressaltar em outro lugar a importância atribuída pelas doutrinas orientais a estas sete regiões do espaço, assim como à sua correspondência com certos períodos cíclicos [5]; acreditamos ser útil reproduzir aqui um texto que citamos então e que mostra que a mesma coisa se encontra também nas tradições ocidentais; ''Clemente de Alexandria dizia que de Deus, 'Coração do Universo', partem as extensões indefinidas que se dirigem umas para o alto e outras para baixo, estas para a direita, aquelas para a esquerda, algumas adiante e outras para trás; dirigindo seu olhar até estas seis extensões quanto a um número sempre igual, acaba o mundo; ele é o começo e o fim (o alfa e o ômega); nele se completam as seis fases do tempo, e é dele de quem recebem extensão indefinida; este é o segredo do número 7'' [6]. Este simbolismo é também o da Qabbalah hebraica, que fala que o ''Santo Palácio'' ou ''Palácio Interior'' está situado no centro das seis direções do espaço. As três letras do Nome divino Jehowah [7], por sua sêxtupla permutação segundo estas seis direções, indicam a imanência de Deus no seio do mundo, ou seja, a manifestação do Logos no centro de todas as coisas, no ponto primordial do qual as extensões indefinidas não são mais que a expansão ou o desenvolvimento: ''Ele formou do Thohu (vazio) algo e fez do que não era o que é. Ele talhou grandes colunas a partir do éter inapreensível [8]. Ele refletiu, e a Palavra (Memra) produziu todo objeto e todas as coisas por seu Nome uno'' [9]. Este ponto primordial de onde se profere a Palavra divina não se desenvolve somente no espaço como acabamos de dizer, mas também no tempo; é o ''Centro do Mundo'' sob todos os aspectos, ou seja, está a uma só vez no centro dos espaços e no centro dos tempos. Isto, entenda-se bem, se tomamos no sentido literal, não concerne mais do que ao nosso mundo, o único cujas condições de existência são diretamente expressáveis na linguagem humana; é unicamente o mundo sensível que está submetido ao espaço e ao tempo; mas, como se trata na realidade do Centro de todos os Mundos, se pode passar à ordem supra-sensível efetuando uma transposição analógica na qual o espaço e o tempo não guardam mais do que um significado puramente simbólico.

Vimos que, em Clemente de Alexandria, se fala de seis fases do tempo, que correspondem respectivamente às seis direções do espaço: são, como dissemos, seis períodos cíclicos, subdivisões de outro período mais geral, e às vezes representados como seis milênios. OZohar, do mesmo modo que o Talmud, divide com efeito a duração do mundo em períodos de mil anos. ''O mundo subsistirá durante seis mil anos, aos quais fazem alusão as seis primeiras palavras do Gênesis'' [10]; e estes seis milênios são análogos aos seis ''dias'' da Criação [11]. O sétimo milênio, como o sétimo ''dia'', é o Sabbath, quer dizer, a fase de retorno ao Princípio, que corresponde naturalmente ao centro, considerado como a sétima região do espaço. Há aqui um tipo de cronologia simbólica que, evidentemente, não deve ser tomada ao pé da letra, como tampouco as que se encontram em outras tradições; Josefo [12] destaca que seis mil anos formam dez ''grandes anos'', sendo o ''grande ano'' formado por seis séculos (o Naros dos caldeus); mas, em outros lugares, o que se designa por esta mesma expressão é um período muito mais longo, dez ou ou doze mil anos entre os gregos e os persas. Além disso, isso não importa aqui, onde não se trata de nenhum modo de calcular a duração real de nosso mundo, o que exigiria um estudo profundo da teoria hindú dos Manvantaras; como não é isso o que nos propomos no presente, basta tomar estas divisões com seu valor simbólico. Assim, pois, digamos apenas que podem ser tratadas como seis fases indefinidas, e, por conseguinte, de uma duração indeterminada, mais uma sétima que corresponde ao acabamento de todas as coisas e ao seu restabelecimento no estado primeiro [13].

Voltemos à doutrina cosmogônica da Qabbalah, tal como exposta no Sepher Ietsirah: ''Se trata -- diz M. Vulliaud -- do desenvolvimento desde o Pensamento até a modificação do Som (a Voz), desde o impenetrável até o compreensível. Se observará que estamos na presença de uma exposição simbólica do mistério que tem por objeto a gênese universal e que se liga ao mistério da unidade. Em outras passagens, é do ''ponto'' que se desenvolvem por linhas em todos os sentidos [14], e que não devém compreensível senão pelo ''Palácio Interior'. É do inapreensível éter (Avir) de onde se produz a concentração, de onde emana a luz (Aor)'' [15]. O ponto é efetivamente o símbolo da unidade; é o princípio da extensão, que não existe senão por sua irradiação (posto que o ''vazio'' anterior não é mais do que pura virtualidade), mas não se torna compreensível senão situando-se nesta extensão, de que se torna então o centro, assim como explicaremos mais completamente adiante. A emanação da luz, que dá sua realidade à extensão, ''fazendo do vazio algo e do que não é o que é'', é uma expansão que sucede uma concentração; são estas as duas fases de aspiração e expiração de que trata tão frequentemente a tradição hindú, a segunda correspondendo à formação do mundo manifestado; e há lugar para se observar a analogia que existe também, a este respeito, com o movimento do coração e a circulação do sangue no ser vivo. Mas prossigamos: ''A luz (Aor) brotou do mistério do éter (Avir). O ponto oculto foi manifestado, isto é, a letra iod'' [16]. Esta letra representa hieroglíficamente o Princípio, e se diz que dela se formam todas as demais letras do alfabeto hebraico, formação que, segundo o Sepher Ietsirah, simboliza a formação mesma do mundo manifestado [17]. Se diz também que o ponto primordial incompreensível, que é Um não manifestado, forma três, que representam o Começo, o Meio e o Fim [18], e que estes três pontos reunidos formam a letra iod, que é assim o Um manifestado (ou mais exatamente afirmado enquanto Princípio da manifestação universal), ou, para falar na linguagem teológica, Deus fazendo-se ''Centro do Mundo'' por meio do seu Verbo. ''Quando este iod foi produzido, diz o Sepher Ietsirah, o que restou deste mistério ou doAvir (o éter) oculto foi o Aor (a luz)''; e com efeito, se retiramos o iod da palavra Avir, temos Aor.

Sobre este ponto, M. Vulliad cita o comentário de Moisés de León: ''Depois de haver recordado que o Santo, bedito seja, incognoscível, não pode ser apreendido senão segundo seus atributos (middoth) por meio dos quais Ele criou os mundos [19], começamos pela exegese da primeira palavra da Thorah: Bereshit [20]. Autores antigos nos ensinaram quanto a este mistério, que ele está oculto no grau supremo, o éter puro e impalpável. Este grau é a soma de todos os espelhos posteriores (isto é, exteriores em relação a este grau mesmo) [21]. Procedem dele pelo mistério do ponto que é ele mesmo um grau oculto e que emana do mistério do éter puro e misterioso [22]. O primeiro grau, absolutamente oculto (isto é, não manifestado), não pode ser apreendido [23]. Do mesmo modo, o mistério do ponto supremo, ainda que esteja profundamente oculto [24], pode ser apreendido no mistério do Palácio interior. O mistério da Coroa Suprema (kether, o primeiro dos dezSephiroth) corresponde ao do puro e inapreensível éter (Avir). Ele é a causa de todas as causas e a origem de todas as origens. É neste mistério, origem invisível de todas as coisas, onde o ''ponto'' oculto de quem tudo procede toma nascimento. Por isso é que diz no Sepher Ietsirah: ''Antes do Um, que pode tu contar?''. Isto é: antes desse ponto, que podes tu contar ou compreender? [25] Antes desse ponto, não há nada, exceto Ain, isto é, o mistério do éter puro e inapreensível, chamado assim (por uma simples negação) por causa de sua incompreensibilidade [26]. O começo compreensível da existência se encontra no mistério do ''ponto'' supremo [27] E porque este ''ponto'' é o ''começo'' de todas as coisas, é chamado ''Pensamento'' (Mahasheba) [28]. O mistério do Pensamento criador corresponde ao ''ponto'' oculto. É no Palácio Interior onde o mistério unido ao ''ponto'' oculto pode ser compreendido, já que o puro e inapreensível éter permanece sempre misterioso. O ''ponto'' é o éter tornado palpável (pela ''concentração'' que é o ponto de partida de toda diferenciação) no mistério do Palácio Interior ou Santo dos Santos [29]. Tudo, sem exceção, foi concebido primeiro no Pensamento [30]. E se alguém disser: ''Olha! Há novidade no mundo'', impõe-lhe silêncio, já que isso foi anteriormente concebido no Pensamento [31]. Do ''ponto'' oculto emana o Santo Palácio interior (pelas linhas saídas desse ponto segundo as seis direções do espaço). É o Santo dos Santos, o quinquagésimo ano (alusão ao Jubileu, que representa o retorno ao estado primordial) [32], que se chama igualmente a Voz que emana do Pensamento [33]. Todos os seres e todas as coisas emanam então pela força do ''ponto'' de cima. Eis aqui o que é relativo aos mistérios dos três Sephiroth supremos'' [34]. Quisemos dar esta passagem inteira, apesar de seu tamanho, porque, além de seu interesse próprio, tem, com o tema do presente estudo, uma relação muito mais direta do que se poderia supor à primeira vista.

Este mesmo simbolismo das direções do espaço é o que teremos de aplicar em tudo que se segue, seja desde o ponto de vista ''macrocósmico'', como no que se acaba de dizer, ou seja desde o ponto de vista ''microcósmico''. Segundo a linguagem geométrica, a cruz de três dimensões constitui um ''sistema de coordenadas'' ao qual se pode referir o espaço todo inteiro; e o espaço simbolizará aqui o conjunto de todas as possibilidades, seja de um ser particular, seja da Existência Universal. Este sistema está formado por três eixos, um vertical e os outros dois horizontais, que são três diâmetros retangulares de uma esfera indefinida, e que, independentemente de toda consideração astronômica, podem ser considerados como orientados para os seis pontos cardeais: no texto de Clemente de Alexandria, que citamos, o alto e o baixo correspondem respectivamente ao Zênite e ao Nadir, a direita e a esquerda ao Sul e ao Norte, a dianteira e traseira ao Leste e ao Oeste; isto poderia ser justificado pelas indicações concordantes que se encontram em quase todas as tradições. Pode-se dizer também que o eixo vertical é o eixo polar, isto é, a linha fixa que une os polos e ao redor da qual todas as coisas cumprem sua rotação; é pois o eixo principal, enquanto que os dois outros eixos horizontais não são mais que secundários e relativos. Destes dois eixos horizontais, um, o eixo Norte-Sul, pode ser chamado de solsticial, e o outro, o eixo Leste-Oeste, pode ser chamado de eixo equinocial, o que nos leva ao ponto de vista astronômico, em virtude de uma certa correspondência dos pontos cardeais com as fases do ciclo anual, correspondência cuja exposição completa nos levaria muito longe e que não importa aqui, ainda que encontrará sem dúvida melhor lugar em outro estudo [35].

[1] Estas citações são retiradas, a título de exemplo muito característico, de um autor maçônico bem conhecido, J. –M. Ragon (Ritual del grado de Rosa-Cruz, pp. 25-28).

[2] Quiçá é bom lembrar aqui, ainda já o tenhamos feito em outras ocasiões, que é esta interpretação astronômica, sempre insuficiente em si mesma, e radicalmente falsa quando pretende ser exclusiva, que deu nascimento a uma teoria muito famosa do ''mito solar'', inventada por volta do final do século XVIII por Dupuis e Volney, reproduzida depois por Max Müller, e que continua em nossos dias pelos principais representantes de uma suposta ''ciência das religiões'' que nos é completamente impossível levar a sério.

[3] Por outro lado, ressaltamos que o símbolo guarda sempre seu valor próprio, inclusive quando é traçado sem intenção consciente, como ocorre quando alguns símbolos incompreendidos são conservados simplesmente a título de ornamentação.

[4] É importante não confundir ''direções'' e ''dimensões'' do espaço: há seis direções, mas só três dimensões, cada uma das quais incluem duas direçoes diametralmente opostas. É assim que a cruz de que falamos tem seis braços mas está formada só por três retas, cada uma perpendicuar às outras duas; assim, pois, segundo a linguagem geométrica, cada braço é uma ''semi-reta'' dirigida em um certo sentido a partir do centro.

[5] El Rey del Mundo, capítulo VII.

[6] P. Vulliaud, La Kabbala judía, t. I, pp. 215-216.

[7] Este nome está formado por quatro letras, iod, he, vau, he, mas entre elas não há mais do que três distintas, posto que a letra he é repedida duas vezes.

[8] Trata-se das ''colunas'' da árvore sefirótica: coluna do meio, coluna da direita e coluna da esquerda; voltaremos a isso mais na frente. É importante observar, por outro lado, que o ''éter'' de que se trata aqui não deve ser entendido somente como o primeiro elemento do mundo corporal, mas também em um sentido superior obtido por transposição analógica, como acontece igualmene com o Akâsha da doutrina hindú (ver El Hombre y su devenir según el Vêdânta, capítulo III).

[9] Sepher Ietsirah, IV, 5.

[10] Siphra di-Tseniutha: Zohar, II, 176 b.

[11] Lembraremos aqui a palavra bíblica: ''Mil anos são como um dia aos olhos do Senhor''.

[12] Antigüedades judaicas, I, 4.

[13] Este último milênio é sem dúvida assimiláve ao ''Reino de mil anos'' de que se fala noApocalipse.

[14] Estas linhas são representadas como os ''cabelos de Shiva'' na tradição hindú.

[15] La Kabbala judía, tomo I, p. 217.

[16] Ibid., tomo I, p. 217.

[17] A ''formação'' (Ietsirah) deve ser entendida propriamente como a produção como a produção da manifestação no estado sutil; a manifestação no estado grosseiro é chamadaAsiah, enquanto que, por outro lado, Beriah é a manifestação informal. Há ressaltamos em outro lugar esta correspondência exata dos mundos considerados pela Qabbalah com oTribhuvana da doutrina hindú (El Hombre y su devenir según el Vêdânta, capítulo V).

[18] Sob este aspecto, estes três pontos podem ser assimilados aos três elementos do monossílabo sagrado Aum (Om) no simbolismo hindú, e também no antigo simbolismo cristão (ver El Hombre y su devenir según el Vêdânta, capítulo XVI e El Rey del Mundo, capítulo IV).

[19] Aqui se encontra o esquivalente da distinçlão que a doutrina hindú faz entreBrahma ''não qualificad''(nirguna) e Brahma ''qualificado'' (saguna), quer dizer, entre o ''Supremo'' e o ''Não Supremo'', não sendo este último outro que Ishwara (ver El Hombre y su devenir según el Vêdânta, I y X). — Middah significa literalmente ''medida'' (cf. o sánscrito mâtrâ).

[20] Sabe-se que esta é a palavra com que se inicia oGênesis: ''no Princípio''.

[21] Vê-se que este grau é a mesma coisa que o ''grau universal'' do esoterismo islâmico, no qual se totalizam sinteticamente todos os demais graus, isto é, todos os estados da Existência. A mesma doutrina usa também da comparação do espelho e de outros similares: é assim que, segundo uma expressão que já citamos em outro lugar (El Hombre y su devenir según el Vêdânta, X), a Unidade, considerada enquanto contém em si mesma todos os aspectos da Divindade (Asrâr rabbâniyah ou ''mistérios dominicais''), isto é, todos os atributos divinos, expressos pelos nomes çifâtiyah (ver El Rey del Mundo, cap. III), ''é do Absoluto (o ''Santo'' inapreensível fora de Seus atributos) a superfície reverberante de facetas inumeráveis e que engrandece toda criatura que se olha diretamente nele''; e há necessidade apenas de destacar que aqui se trata precisdamente destes Asrâr rabbâniyah.

[22] O grau representado pelo ponto, que corresponde à Unidade, é o do Ser Puro (Ishwara na doutrina hindú).

[23] A propósito disto, é possível remeter-se ao que ensina a doutrina hindú sobre o tema do que está mais além do Ser, isto é, do estado incondicionado de Âtmâ (ver El Hombre y su devenir según el Vêdânta, XV, onde indicamos os ensinamentos concordantes das demais tradições).

[24] O Ser é todavia não manifestado, mas é o Princípio de toda manifestação.

[25] A unidade é, com efeito, o primeiro de todos os números; antes dela, não há pois nada que possa ser contado; e a numeração se toma aqui como símbolo do conhecimento em modo distintivo.

[26] É o zero metafísico, ou o ''Não-Ser'' da tradição extremo-oriental, simbolizado pelo ''vazio'' (cf. Tao-Te-king, XI); já explicamos em outro lugar porque as expressões de forma negativa são as únicas que podem ser ainda aplicadas ao que está mais além do Ser (El Hombre y su devenir según el Vêdânta, cap. XV).

[27] Isto é, no Ser, que é o princípio da Existência, que é a mesma coisa que a manifestação universal, do mesmo em que a unidade é o princípio e o começo de todos os números.

[28] Porque todas as coisas devem ser concebidas pelo pensamento antes de serem realizadas exteriormente: isto se deve entender analogicamente, por uma transferência da ordem humana para a ordem cósmica.

[29] O ''Santo dos Santos'' estava representado pela parte mais interior do Templo de Jerusalém, que era o Tabernáculo (mishkan) onde se manifestava Shekinah, isto é, a ''presença divina''.

[30] É o Verbo enquanto Intelecto Divino que é, segundo uma expressão empregada pela teologia cristã, o ''lugar dos possíveis''.

[31] é a ''permanente atualidade'' de todas as coisas no ''eterno presente''.

[32] Ver El Rey del Mundo, cap. III; se destaca que 50 = 7 ao quadrado + 1. A palavra kol, ''todo'', em hebraico e em árabe, tem por valor número 50. Cf. também as ''cinquenta portas da Inteligência''.

[33] É também o Verbo, mas enquanto Palavra Divina; primeiro é o Pensamento no interior (isto é, em Si mesmo), e depois a Palavra no exterior (isto é, em relação à Existência Universal), posto que a Palavra é a manifestação do Pensamento; e a primeira Palavra proferida é o Iehi Aor (Fiat Lux) do Gênesis.

[34] Citado em La Kabbala judía, tomo I, pp. 405-406.

[35] A título de concordância, pode ser também observada a alusão que São Paulo faz ao simbolismo das direções ou das dimensões do espaço, quando fala da ''largura, o comprimento, a altura e a profundidade do amor de Jesus Cristo'' (Epístola aos Efésios, III, 18). Não há aqui mais do que quatro termos enunciados distintamente, em vez de seis: os dois primeiros correspondem respectivamente aos dois eixos horizontais, tomada cada um destes em sua totalidade; os dois últimos correspondem às duas metades superior e inferior do eixo vertical. A razão desta distinção, no que concerne às duas metades do eixo vertical, é que estas se referem a duas gunas diferentes, e inclusive opostas em um certo sentido; ao contrário, os dois eixos horizontais inteiros se referem a uma só guna, como veremos no capítulo seguinte.
 
Penso que é como dizem por aí... As maiores obras de engenharia já possuem bilhões de anos de existência sendo que aquelas que vemos são uma pequena parte, apenas a ponta mínima de uma outra ainda mais fundamental e complexa.

De um ponto de vista anomalista (estudando aquilo que existe de excepcional no mundo, enquanto o cientista prefere eliminar o estudo dos dados extremos) um agente (virus ou organismo) pode se integrar e esconder (ficar invisível) tanto quanto for eficiente. Desaparece do radar mas continua agindo com um potencial ainda maior do que antes.

Por isso que os hindus procuraram não se pronunciar sobre o sétimo corpo de quem alcançou o cume da realização espiritual deste mundo.

O ser que aqui vivia na carne passa a viver em um nível que transcende as tarefas deste mundo mas que se adapta melhor as tarefas divinas, porque para acompanhar Deus o ser ultrapassa a imaginação e a fé humana.

O que os hindus chamam de "nada", é entre aspas mesmo, porque significa o ponto da medida exata das coisas e não o ponto da anulação (cessação da existência) como quer aquele se pronuncia incorretamente sobre o sétimo corpo. Alguns até chamam esse nosso mundo de nada igual o cientista que chama de forma inconseqüente o espaço de "nada" quando na verdade é a ausência de um tipo específico de manifestação e não a ausência de total manifestação.

Porque como foi observado em outros livros, as vezes o homem busca a espiritualidade e as vezes a espiritualidade busca o homem. De modo que para quem completou a tarefa de buscar a espiritualidade compete ao indivíduo espalhar a espiritualidade alcançada em um trabalho ainda mais amplo e profundo que o da vida mortal. E no exato momento em que o conceito de complementaridade poderia vir a ficar em risco a forma do ser no espaço muda para o próximo estágio.
 

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