Aluguei o filme e gostei muito. Como entretenimento faz muita honra ao livro de Lewis apesar das mudanças (muitas delas necessárias). O Peregrino finalmente é o primeiro filme da franquia a me fazer querer adquirir os 3 outros já produzidos. A quantidade de seqüencias de ação e cenários fantásticos é tão grande e tão ricamente recheada de detalhes belos que só isso já valeria a pena adquirir os filmes. Mas ele possui outros pontos muito positivos que valem a aquisição. Alguns dos locais retratados só encontram paralelo em beleza em produções japonesas como Ghost in The Shel Innocence como é o caso da biblioteca mágica em que Lucy entra. Apenas o palacete do Puppet Master de Gits seria tão luxuoso, detalhista e misterioso ao mesmo tempo (uma aproximação visual do ambiente poderia ser uma Hogwarts ainda mais anabolizada de Harrypotter, mas Hogwarts é apenas uma comparação pouco eficaz, uma imagem. Literalmente todos os objetos de lá dão vontade de se ter em nossa casa de tã bonitos que são.).
Enquanto havia uma quantidade menor de cenas memoráveis nos filmes anteriores o Peregrino possui muitas delas e um visual e principalmente soluções para problemas extremamente complexos de retratar coisas que só funcionariam nos livros e não em filmes para a tela de forma muito criativa e original. Seria muito problemático fazer Estáquio ter a pele arrancada por Aslam como ocorre no livro então decidiram fazer essa cena discretamente mostrando o leão pateando e arranhando o chão de forma mais discreta e elegante. E a ilha negra não podia ser retratada de muitas outras maneiras. Uma aparência de fumaça negra sólida era mesmo uma das melhores opções. A decoração do interior do navio também contempla o barco como uma jóia, digno de ser um navio lendário do qual todos contariam histórias. O barco encantado de Earendil certamente teria uma beleza clássica, universal e atemporal e é isso que o Dawn Treader almeja ser, guardadas as diferenças culturais entre os livros e povos. Decoração interna enche bem os olhos.
Ripichipi está no ponto ótimo na cena do diálogo com o dragão e as motivações secretas de Lucy para com sua irmã estão bem coerentes. E Caspian está bem mais a vontade no papel. O melhor de tudo é que os créditos ao final são ilustrados pelos desenhos da Pauline Baynes se não me engano. Se o dragão tivesse sido inspirado no desenho dela seria ainda mais inspirado, pois ele possui a tristeza infinita que consagrou o terror de Alien no trabalho de Giger.
Dotado de uma tristeza aterrorizante que precisou ser adaptada do desenho de dragão dos livros de Pauline, a tristeza que é uma das maiores raízes dos maiores terrores já imaginados de Giger (Alien) talvez não caísse muito bem numa platéia infantil (uma coisa é uma criança ler sobre um terror num livro e outra é mostrá-la visualmente na tela). O que quer dizer que a dupla Ripi e Eustáquio ficou boa e consegui ver amizade ali e não apenas CG (eu sinto falta disso desde que as histórias de Benji se foram e resolveram colocar animais com humorzinho e falas metidas a esperteza quando os melhores filmes com Lessie retratavam os movimentos coerentes da natureza e não a espetavam com perspectiva cínica ou bobinha. Era um cão atuando e a emoção corria apenas por conta do espectador)
Enfim, os sites brasileiros foram contaminados com muito hype negativo como costuma ser na nossa república bananeira. Lembro de uma vez que olhando nos sites do Brasil encontrei uma reportagem que me fez questionar e criticar o texto para entrar em contato com o editor americano que a publicava e ele me avisou que o autor dela estava cumprindo pena numa prisão estadual americana e enquanto o funcionário da revista me explicava isso a massa de sites aqui no Brasil apenas replicava e copiava num ciclo vicioso que se espalhava por fóruns 2 anos a fio. O_O
Cada vez mais eu acho mais confiável ver o filme com meus próprios olhos do que depender da crítica nacional (ou falta de bom senso dela).