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As Aventuras de Jimmy Corrigan, de Chris Ware

Zzeugma

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Fonte: http://www.estadao.com.br/noticias/arteelazer,hq-jimmy-corrigan-usa-publicidade-e-design-grafico,492708,0.htm

(por Ubiratan Brasil, pro Estadão)

SÃO PAULO - O americano Chris Ware é um sujeito particular - apesar da postura saudável e do sorriso miúdo escondido no canto da boca, como se pode observar na foto abaixo, ele ostenta uma incrível melancolia e baixa autoestima quando fala sobre seu trabalho. "Durante os exatos 27 minutos que durou nossa conversa, ele disse ‘Sinto muito’ oito vezes e ‘Não fique triste comigo’ outras cinco", comentou o graphic designer americano Chip Kidd. "Para mim, ele disse temer que o livro não fizesse sucesso no Brasil", emendou André Conti, editor responsável pelo selo de histórias em quadrinhos da Companhia das Letras.



Tanto Chip quanto André trocaram algumas palavras com Ware sobre Jimmy Corrigan - O Menino Mais Esperto do Mundo, obra que, desde que foi editada em 2000 nos EUA, tornou-se uma das mais importantes histórias em quadrinhos não apenas da primeira década deste século, mas de toda a trajetória das HQs. O livro foi lançado em dezembro aqui, pela Companhia (388 páginas, R$ 49), depois de vários meses de preparação. "Chris desculpou-se muito, mas não aceitou nenhuma modificação proposta por nós e o volume saiu como no original, mesmo que isso exigisse a quebra de algumas regras da editora", conta André.



Não se encontra, por exemplo, o logotipo da Companhia na capa, tampouco o nome do autor. A ficha catalográfica está escondida em alguma das primeiras páginas da história e a triste trajetória de Jimmy Corrigan ocupa um volume único, como determinou o autor, e não em dois, como pedia a editora brasileira. Tamanho detalhismo, porém, manteve intacta a qualidade inigualável de Jimmy Corrigan, um lamento desapontador sobre os ideais perdidos dos EUA e das fronteiras desbravadas.



Jimmy é um homem de meia-idade, tímido e solitário, que trabalha em uma repartição, onde é desdenhado pelos colegas e passa o tempo atendendo telefonemas da mãe, mulher dominadora, mas carente. Sua rotina muda quando recebe uma carta do pai que não conhecia, o que acaba acontecendo ao viajar a uma pequena cidade de Michigan no feriado de Ação de Graças. O que seria uma redenção, no entanto, torna-se uma série de episódios constrangedores e claustrofóbicos, que impedem a aproximação afetiva.



Da trama, transborda um teor autobiográfico, pois Chris Ware foi contatado pelo pai desconhecido quando trabalhava no livro, e as frustrantes e breves tentativas de vê-lo aparentemente influenciaram o comportamento apresentado pelo pai de Jimmy. Ou seja, Ware veste essas cicatrizes como estigmas.



A sofisticação da obra está na forma narrativa adotada por Ware, que transforma os sonhos e frustrações de Jimmy adulto em uma constante volta ao passado, quando o personagem era criança e vivia fascinado pela infância do avô. O passeio pelo tempo permite também que Ware utilize seu detalhismo e sua paixão pela publicidade e pelo design gráfico americano do início do século 20, transformando a leitura de Jimmy Corrigan em uma sucessão de descobertas visuais e históricas.



Por conta disso, a versão brasileira necessitou ter exatamente a mesma tonalidade de cores, idêntico tamanho das letras e, principalmente, uma fidelidade extremada à concisão das frases. Para isso, o escritor Daniel Galera encarregou-se da tradução, que foi submetida a pelo menos três revisões, cada uma enxugando um pronome ou encurtando um substantivo para se aproximar da prosa de Ware, que exala alienação infantil, crueldade de pessoas comuns e falsas promessas de felicidade. "Algo como o encontro de Charles Schultz (criador de Charlie Brown) com Samuel Beckett", afirma Chip Kidd.



Galera, que se prepara para estrear nos quadrinhos com Cachalote com desenhos de Rafael Coutinho, vê Jimmy Corrigan como um marco na linguagem das HQs pela brilhante combinação de texto e imagem sequencial. "A poética da obra depende tanto do roteiro e da narrativa principal quando de sutilezas tais como nuances de cor, mudanças quase imperceptíveis na expressão facial de um personagem ou cenas minúsculas ocorrendo em quadrinhos aparentemente secundários", comenta. "Uma experiência narrativa que só poderia ter sido realizada numa HQ."



Em tempo: Chip Kidd garante que, apesar da autodepreciação, Chris Ware é um jovem (tem 32 anos) irônico e excepcionalmente ajustado.


* * *

Um pouco mais sobre Chris Ware AQUI em artigo de Claudio Martini, da Zarabatana:
http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI2712854-EI8422,00-A+manufatura+de+quadrinhos+de+Chris+Ware.html
 
Conheci gente que era fã de carteirinha do Chris Ware, antes de sair por aqui. Isto me levou a correr atrás do livro.

Parece algo esquizofrênico/bipolar... Enquanto existe um "narrador" de ironia fina e de humor negro... a história dos personagens é bastante melancólica... Muito, muito triste.

Pra quem curte quadrinhos, vai se interessar bastante por suas páginas diagramas fluxogramas (Alguém já deve ter inventado um nome melhor pra isto); aqueles quadros com conexões e flechas mudas... É muito legal... São passagens importantes para compreensão da trama... vc consegue obter de dados a partir dali...

Vale a pena... Deve ter sido um dos quadrinhos que mais demorei pra ler, tamanha a quantidade de detalhezinhos... É o tipo de obra que - definitivamente - não vale o scan. Mas existem disponíveis em inglês poraí... Com um milhão de letrinhas pra quem quiser ficar cego no monitor.

Uma página de Ware já havia saído pela própria Cia das Letras numa coletânea de contos de fadas feita por quadrinistas independentes gringos (Saiu bem antes daquela outra, feita pela Desiderata, com quadrinistas brasileiros)



Abs
 
http://bravonline.abril.com.br/conteudo/literatura/jimmy-corrigan-saga-revolucionaria-homem-mediocre-538134.shtml

(Via o "De Chaleira": http://e-chaleira.blogspot.com/)

Jimmy Corrigan - Saga Revolucionária de um Homem Medíocre

Por Carol Bensimon para Revista Bravo


As histórias em quadrinhos parecem pertencer ao mesmo território dos livros policiais: sucesso de público, mas com raro reconhecimento da crítica, os dois gêneros ocupam um lugar movediço, entre as obras de consumo rápido e a "alta literatura". De vez em quando, porém, surge um autor que desafia as barreiras. O americano Chris Ware, autor da graphic novel Jimmy Corrigan ? O Menino Mais Esperto do Mundo, encaixa-se perfeitamente nessa categoria. Lançada em 2000 nos Estados Unidos e publicada no Brasil no fim do ano passado, Jimmy Corrigan já é considerada uma obra-prima entre as HQs.

A trama nos traz a história de Jimmy, um homem solitário com um trabalho maçante, tímido demais para os contatos sociais, que se resumem às conversas telefônicas com sua mãe dominadora. Ao receber uma carta do pai que nunca conheceu, Jimmy decide ir ao seu encontro em uma cidadezinha do estado americano do Michigan, durante o feriado de Ação de Graças. Paralelamente aos episódios que se seguem ? descobertas, desconfortos, silêncios, solidões compartilhadas, acidentes ?, vamos também acompanhando a vida do avô de Jimmy quando menino, na Chicago de 1893, e sua relação problemática com o próprio pai.

Trata-se, portanto, do clássico conflito entre pai e filho, mas Chris Ware dá a ele um tratamento muito particular, aproveitando toda a liberdade que as histórias em quadrinhos podem oferecer. Os delírios de Jimmy se misturam perfeitamente às conversas triviais que ele tem com o pai ou com a meia-irmã, criando uma trajetória onde imaginação e realidade se confundem. Além disso, cada detalhe visual parece dialogar com o sentimento de inadequação do protagonista, de modo que os panoramas cinzentos da cidade, as salas de espera das clínicas médicas, os luminosos das lanchonetes, todo esse cenário está carregado de melancolia.

Alguns críticos e leitores têm comparado Jimmy Corrigan a Ulisses, o emblemático romance de James Joyce, devido às inovações formais da obra ? a mistura de ações, pensamentos e memória lembraria um fluxo de consciência, e a inusitada e desconcertante disposição dos elementos gráficos seria uma revolução de linguagem equivalente à que Ulisses provocou na literatura. Exagero ou não, é difícil imaginar para Jimmy Corrigan melhor suporte que os quadrinhos. Seria como adaptar o livro de Joyce para o cinema e esperar que ele continuasse tendo o mesmo impacto. E é justamente essa certeza ? de que a história está sendo contada da melhor maneira possível ? o que caracteriza uma grande obra.

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Carol Bensimon é escritora, autora de Pó de Parede e Sinuca Embaixo d'Água.
 
Lembro que li no blog do Zeca Camargo no começo do ano,um post acerca da obra,que na época me deixou bastante interessado.


Eis o texto(com algumas imagens da obra):

[size=medium]Apresentando Jimmy Corrigan[/size]


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A tristeza é um sentimento que, como todos sabemos, alimenta-se de si próprio. É um processo ao mesmo tempo involuntário e auto-sabotador. Ninguém – salvo casos extremos – quer ficar triste o resto da vida. Mesmo assim, é quase inevitável não explorarmos esse estado de espírito no sentido de procurar motivos para que nos entreguemos mais e mais a ele. Não é, claro, uma decisão sensata. Deveríamos sempre procurar justamente o oposto: alternativas de distração – nem que fosse numa utópica esperança de que as coisas vão melhorar. Mas quem resiste à tentação de mergulhar um pouco mais na sua tristeza?

Essa pequena introdução “pseudo-melancólica” (e um pouco “pseudo-filosófica” também!) é para explicar que, uma vez que não estou enfrentando um dos períodos mais entusiasmados da minha história recente, a última coisa que eu deveria fazer era escrever aqui sobre um livro como esse que eu vou recomendar hoje. Porém, neste fim-de-semana, ao passar por uma livraria e ver que finalmente havia sido lançada no Brasil uma das obras mais interessantes que vi em toda minha vida (não, isso não é um exagero), não pude resistir. Tinha de dividir isso com você.

O nome do livro é “Jimmy Corrigan – o menino mais esperto do mundo”. Seu autor é o americano Chris Ware e, embora esse seja um trabalho único (ele ainda publicou nos Estados Unidos outros volumes sob o título de “ACME novelty library”, mas que apesar de também lindíssimo e inovador não chega a ser um livro tão coerente como “Jimmy”), ele causou impacto suficiente para tornar-se uma referência no design gráfico.

Parece pretensioso classificá-lo assim, mas a definição tradicional de cartunista – ou de autor de história em quadrinhos – simplesmente é pequena demais para Ware. O universo que ele criou é tão diferente, tão inovador, tão especial, tão cativante, tão enigmático e tão desafiador que ele realmente só pode ser compreendido numa categoria especial: a de gênio da ilustração. Eu fico até sem jeito aqui de achar adjetivos originais para descrevê-lo, tamanho meu entusiasmo em ter encontrado esse livro finalmente numa edição brasileira (“cortesia” da Quadrinhos na Cia. – que vem trazendo preciosidades na área desde o ano passado). Desculpe, mas é assim que fico sempre que estou diante de um trabalho verdadeiramente original.


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Mencionei isso de maneira meio displicente no último parágrafo, as, para poder continuar a falar dele, não tem como negar: “Jimmy Corrigan” é um trabalho de quadrinhos. Falo isso sempre com certo receio, porque sei que muita gente tem resistência a esse fascinante universo. (Por exemplo, se o número de comentários por post aqui é indicador de alguma coisa, aquele que teve menor retorno aqui desde que este espaço existe foi quando eu escrevi sobre o trabalho do “time” Guibert-Lefèvre-Lemercier e de Joe Sacco ). Mas mesmo que você seja dessa turma “difícil de ser convencida”, dê uma chance para Chris Ware.

Afinal, seu trabalho vai bem além dos traços que ele elegantemente distribui pela página – se é que essa é a melhor definição de seu estilo… De uma maneira finamente inovadora, Ware conseguiu redefinir o que é uma página com ilustrações, reeducando nosso olhar para uma linguagem totalmente nova – uma maneira inesperada de ler uma história, acompanhar uma sequência de quadrinhos e envolver-se com um personagem que, a princípio, parece ser tudo, menos carismático.

Mas como não se emocionar com Jimmy Corrigan – que é, na verdade, tudo menos “o menino mais esperto do mundo”. Dentro dos espaços mirabolantes definidos pelo traço de Ware, vamos encontrando Jimmy em vários estágios da vida (um aviso importante para quem quiser conhecer o nosso herói: espere tudo menos uma ordem cronológica nas histórias que o livro reúne). Porém, desde pequeno, até a idade mais avançada, suas feições são as de um velhinho infeliz. É verdade que raros são os acontecimentos alegres na vida de Jimmy, mas mesmo assim, a tristeza que ele carrega no rosto parece não ser só sua, mas de toda a humanidade.

O ziguezague imposto pelos quadrinhos rigorosos e lúdicos de Ware quase – mas apenas quase – nos distraem da narrativa, que já não é das mais cartesianas. Como um acompanhamento perfeito para o fluxo do olhar, a história vai te levando por tempos e espaços imprevisíveis. Ele certamente não foi o primeiro ilustrador e cartunista a inserir a idéia do silêncio nos quadrinhos, mas eu não tenho dúvida de que Ware foi o primeiro a representar esse silêncio de maneira que você ouça tudo que não está na imagem. (Eu sei que essa frase parece não fazer sentido, mas depois de cinco minutos viajando nas páginas de “Jimmy Corrigan”, você vai me entender…).


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Não que o livro não faça barulho. Em vários momentos, no lugar de um quadrinho, o leitor vai encontrar uma palavra ou uma expressão – “Felizmente”, “No andar de cima”, “Namorada” – que praticamente gritam para te lembrar que aquela história que você está acompanhando, apesar de parecer impossível poderia bem ser a de alguém que você conhece. Quem sabe até a sua…

E é através dessa identificação que você vai entrando na tristeza do personagem – que, como eu dizia no início do post de hoje, faz de “Jimmy Corrigan” uma leitura extremamente arriscada para os que não andam com os espíritos mais elevados…

Você também não acha curioso como, quando estamos tristes, ouvir ou entrar em contato com outras histórias ainda mais tristes não nos alivia nem um pouco? É como se outras referências melancólicas servissem apenas para constatarmos que nenhuma tristeza é tão grande quanto a sua – e por uma razão muito simples: ela é sua! E é esse estranho processo comparativo que vai alimentando essa tristeza. Até quando? Bem, até passar…

Brinquei no início do texto de hoje com a idéia de que a leitura de “O menino mais esperto do mundo” – na verdade a releitura, pois conheço o livro desde que foi lançado nos Estados Unidos em 2003 – seria perigosa para quem não estivesse desfrutando de um momento muito “pra cima”, mas na verdade esse livro não tem contra-indicações!

Tudo bem que você de vez em quando fique um pouco melancólico com tantas paredes cinza e marrom que Chris Ware usa para criar seus cenários – sem falar nos céus, que raramente são azuis. De vez em quando um vermelho ou um laranja – às vezes até um turquesa –, aparece para quebrar o clima. Tudo bem que nossos olhos de vez em quando não aguentam mais a tortura de olhar para as rugas perenes de Jimmy. A beleza de alguns quadros – como uma cidade sob a neve ou mesmo a estrutura de ferro de uma estação de trem – aparece aqui e ali para nos tirar desse torpor. E não se preocupe quando a sequência narrativa de repente parecer ter sido abandonada. Às vezes, é nos diálogos curtos e reticentes que está a maior beleza dos personagens do livro.

A edição brasileira chega com um atraso de quase sete anos, mas chega impecável. Todos os detalhes do original foram preservados – da letra de forma miúda à escrita corrida que de vez em quando conduz a história; da proporção do desenho na página original à impecável qualidade da impressão. E por isso é com o maior prazer que eu sugiro que você abra o ano com a leitura de “Jimmy Corrigan”. Num final de tarde escaldante como este que escrevo agora, nada melhor do que emprestar sua atenção a uma viagem visual como essa. Quem sabe até o final dela você não consegue esquecer o que te fez ficar triste em primeiro lugar?

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Outra resenha, esta do Universo HQ. Fez uma observação importante: definitivamente não é um gibi "fácil", com suas idas e vindas no passado e no presente.

http://www.universohq.com/quadrinhos/2010/review_JimmyCorrigan1.cfm
 
Eu comprei esse livro ontem e já comecei a ler. Até agora tenho gostado muito, na verdade fiquei bastante impressionada com a diagramação e com o conteúdo da história.
Quando eu terminar faço um post mais conciso...
 

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