Alexandre Fidélis
Usuário
Olá pessoal!
Vejam que graça de artigo que foi publicado no dia 13 de julho no Caderno 2 do jornal O Estado de São Paulo, e a resposta que enviei para a redação do mesmo. De minha parte, estou cheio de muitas coisas neste país, inclusive da visão torpe que incide sobre os quadrinhos. Escrevam pra lá também, pois uma andorinha só... bem, vocês sabem...
A Manipulação Pseudocientífica das Telas
Filmes como “X-Men” e “Hulk” pervertem descobertas da ciência e reforçam preconceitos
Por Ruth Helena Bellinghini
David Banner trabalhava em seu laboratório nos anos 50 quando recebeu uma dose de radiação gama e virou o Hulk. Na mesma época, o estudante de ciências Peter Parker foi mexer com uma aranha, que também havia sido exposta à radioatividade, e virou o Homem-Aranha. Um sem-número de heróis e super-heróis nasceram assim, num laboratório, onde alguém se meteu a bulir com as misteriosas e proibidas forças da natureza. E se nos anos 50 o assustador e incompreensível era o átomo, hoje é o gene.
O pai do Bruce/David Banner que chegou ás telas este ano tentou criar um bebê geneticamente perfeito, um prodígio de força. Deu no que deu. Peter Parker foi picado, sim, por uma aranha transgênica. Quem também vai reaparecer nas telas, encarnado por ninguém mais ninguém menos que Brad Pitt – exemplar mais-que-perfeito da loteria genética natural -, é o Capitão América, aquele soldado franzininho da 2.ª Guerra, que toma um soro experimental e se transforma num supersoldado. Quer apostar quanto que, na nova versão, Pitt-América vai ser um prodígio da alta biotecnologia? E que seu arquiinimigo será inspirado na dupla Osama Bin Laden e Saddam Hussein?
A maioria dos super-heróis explora o mito popular de que cientistas são sujeitos esquisitos, praticamente loucos, que vão fuçar no que não deviam, seja a natureza do átomo ou a dinâmica dos genes. E são castigados. A idéia não é nova. Prometeu roubou o fogo dos deuses para dar aos homens. Zeus puniu o titã de forma exemplar, acorrentando-o em uma montanha e fazendo com que, eternamente um abutre devorasse seu fígado – os gregos, muito espertos, já sabiam que o fígado tinha a capacidade de se regenerar.
A punição dos super-heróis que tiveram a ousadia de decifrar os segredos da natureza não é menos exemplar: são condenados a esconder de seus amigos, família e, principalmente, de suas amadas, sua identidade secreta. Não existe castigo maior. Podem salvar a humanidade da destruição centenas de vezes, livrar Gotham City de seus piores inimigos, mas nunca seu eu real será reconhecido pelo feito, é o mascarado quem leva a fama. Do contrário, a encrenca é certa.
Basta ver o inferno que é a vida dos mutantes X-Men . As pessoas “normais” têm medo deles, o governo tenta exterminá-los – sob a alegação de que são uma ameaça à segurança mundial, pois são superpoderosos. O segundo longa estrelado pelos mutantes fez mais sucesso que o primeiro e mereceu. É uma aventura e tanto. Mas, lá no meio da história, vem o besteirol cientificóide. O jovem mutante revela aos pais – e ao irmão normalésimo e morto de inveja – sua condição. A mãe, claro, pergunta se é a culpada. E o veterano Volverine* sai-se com a pérola: “ O homem é o portador da mutação.”
Bom, se o homem é portador e o gene se manifesta no filho é porque é dominante ( lembra-se dos olhos castanhos e azuis, AA e aa da escola?) como o pai não é mutante? E por que o outro filho não é? E as meninas mutantes? Basta a genética do ensino médio para ver que a “explicação” não funciona. Mutações não são intrinsecamente ruins, mas o que nos faz ser o que somos, num processo de milhões de anos. Mutações são naturais e simplesmente acontecem. Não são “culpa” de ninguém. Mas o que importa não é ciência, mas a pseudociência. A menção de algo que não se entende direito – a genética – e, portanto, é motivo de desconfiança e medo. O americano médio padece do mesmo analfabetismo científico do brasileiro médio. Talvez até pior – 45% dos americanos acham que evolução é coisa do demônio. Ninguém perdeu o medo da radiação e das forças atômicas porque aprendeu como funcionam, mas porque se acostumou a elas. A radiação dos anos 50 foi aparentemente domada e, em que pesem os acidentes de Three Mile Island e Chernobyl, usinas nucleares integraram-se à paisagem do dia-a-dia nos EUA, na Europa e até em Angra dos Reis. Vai acontecer o mesmo com a genética e a biotecnologia.
Em Hollywood, porém, pouco se cria e quase tudo se recicla. É pouco provável que produtores se lembrem de adaptar para as telas – agora que têm à mão toda tecnologia possível e imaginável – clássicos da ficção científica que abordam temas atualíssimos, como Os filhos de Matusalém, de Robert Heilein, em que um grupo de seres humanos que vive por séculos tem de esconder sua condição; ou A Rebelião dos Clones , de Evelyn Leaf, em que eles são usados para fornecer órgãos para uma elite milionária ou têm seus cérebros conectados a supercomputadores; ou mesmo Os amantes do ano 2050 , de Philip José Farmer, em que a religião transforma em tabu a relação entre humanos de diferentes espécies. O mais provável é que telonas e telinhas apresentem uma enxurrada de remakes com aranhas e formigas gigantes, homens que escolheram e derreteram. Todos geneticamente manipulados.
*Sim, Wolverine estava escrito com V.
minha carta:
A Manipulação Pseudocientífica dos Jornais
Artigos como “A Manipulação Pseudocientífica das Telas” de Ruth Helena Bellinghini pervertem o avanço da arte e reforçam preconceitos
Por Alexandre Fidélis
Já faz parte da rotina de leitura que assumi, com muito prazer, degustar do suplemento Caderno 2/ Cultura do Estado com aquela sensação saborosa do diálogo multilateral: a fruição tanto do conteúdo quanto o estilo dos autores das colunas e artigos. Óbvio, não concordo com absolutamente tudo que é escrito. Por exemplo, não concordo com a análise crítica do cenário político feita pelo Sr. Daniel Piza em sua maior parte, mas não deixo de apreciar sua coluna ( algum freudiano de plantão poderia suscitar masoquismo ideológico, mas eu chamaria simplesmente ‘respeito’ pela opinião).
Infelizmente, deparei com um artigo publicado no dia 13 de julho que causou uma tristeza não compatível com a sensação supracitada de todos os domingos. Neste artigo, Ruth Helena Bellinghini disserta sobre as recentes adaptações de quadrinhos para o cinema, sob a flâmula da seção Genética. Como apreciador da Arte, seja ela qual for e onde estiver, gostaria de discutir alguns pontos e esclarecer a razão de não considerar o artigo publicado à altura de minha sobremesa litúrgica dominical:
A linha mestra desta réplica baseia-se nas incongruências encontradas, a começar pelo título. A palavra ‘manipulação’ é um tanto radical, típica de folhetim sensacionalista. O subtítulo ainda alia os nomes ‘X-Men’ e ‘Hulk’ a uma perversão das descobertas científicas e reforçam preconceitos. Ao dizer que as adaptações cinematográficas destes personagens, hoje alardeados como ícones pop , colocam-se de tal maneira perante os dogmas científicos é desconsiderar toda a trajetória dos mesmos, a transposição de uma linguagem artística à outra, que embora sendo narrativamente correlatas na síntese texto/imagem, são categorias distintas, acima de tudo por seus meios de produção e pelo viés semiótico que a eles deve ser aplicado. Insisto com colegas aficcionados pelo gênero dos quadrinhos com relação a estas adaptações, que devemos observar alguns fenômenos que possibilitaram o recente sucesso destas produções. Em primeiro lugar, a proximidade dos roteiros com a estrutura e premissas básicas da essência destes personagens, e em segundo, a excelência e ousadia dos diretores em adicionar sua visão artística ao mito destes heróis sabendo contrapor elementos de linguagens diferentes para agradar ‘gregos e troianos’, sem perder a personalidade que os distingue como profissionais.
Lamentavelmente, ocorre por todo o texto os indícios de um desconhecimento das origens destes ícones naquilo que os fez perdurar e alcançar o status que hoje desfrutam, talvez para abalizar um gosto mais depurado numa posição purpurinada de suposta cinéfila. Comentar como uma descoberta incrível a mudança do paradigma da radiação como genitora dos dons super-humanos em virtude da nova abordagem biotecnológica é algo no mínimo pífio. Esta não é uma mudança ocorrida primeiramente nos cinemas, e sim nos próprios quadrinhos. A própria Marvel Comics notou que as origens de alguns de seus maiores personagens estavam defasadas e incompatíveis com o contexto não apenas científico, mas também sóciopolítico ( um Homem-de-Ferro oriundo da Guerra Fria e um Justiceiro vindo das selvas do Vietnã, entre outros). Para tanto, alguns anos atrás, a empresa criou a linha Ultimate , onde as origens são revisitadas, contadas com o referencial tecnológico e social dos dias atuais. Se o valor da leitura destes quadrinhos estivesse atrelado aos raios ópticos, músculos verdes ou teias orgânicas ou não de maneira tão intrínseca, a mudança do contexto alteraria a natureza atrativa destes personagens que existem há pelo menos 50 anos neste último século onde o avanço das descobertas se deu num ritmo que mal podemos acompanhar em 100 míseros anos. Isto é, o valor literário e plástico alcançado pelas produções quadrinísticas atuais deve-se a um potencial genuíno desmistificado pela universalidade , um dos maiores preceitos para que uma obra transcenda seu tempo, que quando colocada sob a ótica de qualquer linguagem artística em relação à humanidade, reinventa-se. As histórias em quadrinhos perduram até hoje, subestimadas pelo academicismo tacanho, por não tratarem de poderes e pancadaria. As que seguem este filão, não configuram como relevantes à posteridade, somente às chacotas do próprio meio. As histórias em quadrinhos estão aí por dissertarem, apesar das capas e colantes, sobre seres humanos e situações.
Outro dado duvidoso, e perigoso, é a citação, também num tom de erudição, da comparação dos cientistas caracterizados nos quadrinhos com o mito de Prometeu. Digo isso devido ao fato de ser publicada uma semana antes pela editora Panini, em Marvel Apresenta 6, a história O Último Titã , escrita por Peter David, autor que ficara à frente das histórias do gigante verde por anos, ressaltando o caráter psicológico disfuncional do Hulk como força motriz de suas manifestações. Nesta revista, publicada originalmente no ano passado nos EUA, David usa essa analogia com Prometeu. A autora do texto que criticou a postura dos cientistas como “ praticamente loucos” no mundo dos super-heróis “por fuçar onde não deviam” escrevendo ‘PARE’ numa placa que pretende dizer ‘CUIDADO’, diz ainda que “a idéia não é nova”. A menos que ela tenha criado o mito de Prometeu, entendo a analogia numa escala que vai de um “ops!” ao velho conhecido plágio. Afinal, a idéia não é nova...
Quanto a colocação da necessidade do herói de possuir uma identidade secreta, tanto para os amigos quanto aos inimigos como uma espécie de punição, primeiro seria necessário lembrar que em nosso país, infelizmente, uma significante parte dos políticos, empresários e demais detentores da mídia usam máscaras feitas de pau presas por um colarinho alvo e brilhante, enquanto alguns policiais, juizes, cidadãos e poucos políticos e empresários considerariam uma identidade secreta algo útil para suas famílias. No tocante aos quadrinhos, temos hoje um Homem-Aranha casado que discute as mazelas de sua vida heróica com a esposa e a tia, os X-Men lecionando e abrindo ao mundo as portas de sua escola, além de propagar uma ideologia de coexistência pacífica e uma ética étnica em embaixadas espalhadas por vários países, e ainda um Capitão América forçado a tirar a vida de um terrorista em rede internacional, revelando sua identidade civil dizendo que foi ele, Steve Rogers, quem matou; não o povo . Aliás, os roteiros pós 11 de setembro do Capitão América possuem uma vertente que não toma chá com biscoitos com a própria política bélica americana, o que já causou pressão por parte do governo junto à Marvel para abrandar os pensamentos humanitários de um dos maiores ícones do patriotismo do Tio Sam.
Sem contar que em Gotham City não haveria muita alegria por parte de um certo sujeito vestido de morcego em auferir o resultado de suas patrulhas noturnas ao seu frívolo alter-ego.
E realmente, a vida dos X-Men é um inferno, tanto quanto a minha vida seria se entrasse com uma Ferrari cantando pneu na Rocinha, ou se um negro de bermudão e chinelos quisesse declamar seus poemas num jantar chique reunindo a intelligentsia local. O preconceito quanto aos mutantes é tão real quanto aquele que levou à morte Tim Lopes, queima índios através de jovens abastados, e leva a mulher a sofrer uma condição de objeto de consumo que, apesar de tudo, o gênero masculino ainda está longe de alcançar.
X-Men sem a busca da aceitação do diferente, que é antes de tudo referencial, não seria o que é hoje enquanto fenômeno. Pior, classificar como “besteirol cientificóide” a cena onde Wolverine diz aos pais de Bobby que o gene X ( que não existe, até onde sabemos, em nossa realidade) é passado pelo homem é o cúmulo de procurar defeito para parecer que está acima do conhecimento médio. Deter-se nas lições do ensino médio quanto aos pares de cromossomos para avaliar uma questão mutagênica é pobre. Mais pobre ainda quando falamos de uma genética fictícia, que faz parte um universo onde as leis físicas não se aplicam como este que habitamos.
Não devemos nos calcar no estudo da genética colegial porque as alterações hereditárias obedecem a mais preceitos do que aqueles apresentados quando falamos de mutações tão absurdas quanto as demonstradas no universo dos mutantes. Nossas crianças ainda são obrigadas a engolir esta historinha de Cabral como um Papai Noel didático, e o artigo ainda vem depreciar a intenção por trás de uma obra apenas escorada na camada superficial de uma ciência, que é claro, da qual soubéssemos tudo e houvessem tantas certezas seriamos Deus há um bom tempo. Sou capaz de levantar a hipótese, conhecendo o caráter do personagem, de Wolverine nem saber do que estava falando, declarando aquilo para aporrinhar o pai de Bobby e seu irmão, que em plena puberdade talvez , ainda , não tenha desenvolvido seus dons. Quanto as meninas, provavelmente viram mutantes porque o código genético do pai mescla-se com o da mãe, portanto, algo do pai passa para a filha, não é? Será por isso que algumas meninas tem problemas hormonais, ou mesmo hormônios masculinos? O ovo ou a galinha..., quem veio primeiro? A menos, que a análise venha calcada em algo mais profundo na genética e antropologia quanto a questão da Eva mitocondrial, é inaceitável a colocação. E discordo quando é afirmado que “mutações são naturais e simplesmente acontecem”. É claro que são naturais, fazem parte de um processo, e é por isso que não “simplesmente acontecem”. Uma mutação ocorre por diversos motivos, entre eles o meio ambiente e suas alterações e a própria combinação genética, que pode ler uma informação trazida de forma errônea e por isso produzir mais pelos, um dedo a menos, etc.
Perdão pelo trocadilho, mas o X da questão não é a pseudociência, mas a pseudoleitura, onde a sabedoria é confundida com o saber. E quando a pessoa sabe, ou acha que sabe demais, certos detalhes passam e considero ultrajante aos que acompanharam o filme e a todos os leitores do quadrinho dizer que “aquilo que não se entende direito – a genética – portanto, é motivo de desconfiança e medo” quando a mensagem em ambas as linguagens ( quadrinho e cinema) é exatamente o contrário! O homem teme aquilo que ele não entende, daí a desconfiança e o medo, mas não deve. Lembrem-se: os mutantes ( os protagonistas, os heróis, os mocinhos ,etc) representam o diferente, são o fruto da genética, seu emblema; portanto eles, como a própria genética, devem encontrar seu lugar entre os homens e uma ética para o alcance de suas capacidades baseadas no respeito e cooperação.
E todo esse nonsense para reverberar o analfabetismo científico americano comparando-o com o nosso. Mas eu afirmo que a maioria dos artistas e fãs da área dos quadrinhos, em qualquer país, entre uma falha ou outra, como a maioria daqueles que fazem a Arte ao invés de apenas falar, procuram e se destacam por pensarem o mundo através da própria arte; uma visão muito além da xenofobia teológica. A ignorância limita tanto mendigos quanto acadêmicos.
E finalmente, aquilo que aparenta ser o motivo do artigo: o momento onde após o supostamente novo ser reduzido a uma débil pantomima sem conteúdo, a autora discorre triunfante sobre as montagens cinematográficas de ficção científica de sua predileção e segundo ela, recheadas de temas atualíssimos que são relegados por Hollywood ao esquecimento. São elas, nas palavras da autora:
“Os filhos de Matusalém, de Robert Heilein, em que um grupo de seres humanos que vive por séculos tem de esconder sua condição;...”
Minha indignação: E Highlander? E os X-Eternos?
“...ou A Rebelião dos Clones , de Evelyn Leaf, em que eles são usados para fornecer órgãos para uma elite milionária ou têm seus cérebros conectados a supercomputadores;...”
Minha indignação: E Johnny Mnemonic? E Minority Report? Robocop? E o que o empresário John Sublime estava fazendo há pouco nas páginas de New X-Men?
“... ou mesmo Os amantes do ano 2050 , de Philip José Farmer, em que a religião transforma em tabu a relação entre humanos de diferentes espécies.”
Minha indignação: Esse eu não assisti, mas, espere um momento, se são humanos de diferentes espécies, há alguma casta evoluída... mutantes? Ou espécies são negros, amarelos, brancos,etc? Tomara que não. Mas de qualquer forma essa interação proibida por um totem paradigmático social como a religião não traria à baila uma luta pela coexistência e interação entre as “espécies” humanas? Se for, onde será que vi isso antes...?
O que pretendo deixar claro, é a intolerável mania de se apoiarem em algo aparentemente superficial, como alguém querendo fazer peso num iceberg por acreditar que a ponta é maior que a parte submersa. Atacar uma conquista de um meio artístico transposto para outro de maior circulação sem conhecimento prévio e com preconceito calcado no caráter aos desinformados infantil e estereotipante de um deles, no intuito de demonstrar que passa fome por esperar pelo caviar em celulóide de outrora; isso sim, é manipulação.
Como exemplo, poderia dizer que prefiro o livro O Nome da Rosa ao filme, apesar de ser um fã inveterado de Sean Connery, que prefiro o filme Dr. Jivago ao livro ou que gosto de A Morte em Veneza na mesma intensidade em ambas as linguagens. Mas porque entendo que devo ler de acordo com os signos que compõem a Literatura e o Cinema como artes distintas, que se tocam nestes momentos e porque será a minha leitura, não um veredicto canônico.
Espero que quando tratar novamente de qualquer diálogo com outra arte, ou somente de quadrinhos, que haja o devido respeito a esta subestimada manifestação do espírito humano, cujos balões apresentaram-me Shakespeare, Blake, Jung e outros; fazendo minha vida tomar o árduo e delicioso rumo das Letras.
E espero também, que a flâmula da Genética não seja hasteada para colocações cujos momentos mais científicos sejam alegar que um filme de ficção errou na explicação de algo fictício com uma explicação sofrível de algo pretendido a ser simples, e que “Brad Pitt é um exemplar mais-que-perfeito da loteria genética natural”.
Que nada. O rapaz é um ótimo ator mas, embora até minha namorada discorde, sou mais eu que o Pitt.
Alexandre Fidélis,
ator e encenador,
escritor ainda desconhecido
e estudante do curso de Letras
da Universidade Católica de Santos.
E-mail: Xorn__hotmail.com
Ps: Caso o Estado queira adotar uma postura mais contemporânea na análise da arte, poderia contratar alguém para escrever sobre o assunto no Caderno 2. Tem assunto para a semana toda , e referências e pontes com outras manifestações artísticas não faltam.
Vejam que graça de artigo que foi publicado no dia 13 de julho no Caderno 2 do jornal O Estado de São Paulo, e a resposta que enviei para a redação do mesmo. De minha parte, estou cheio de muitas coisas neste país, inclusive da visão torpe que incide sobre os quadrinhos. Escrevam pra lá também, pois uma andorinha só... bem, vocês sabem...
A Manipulação Pseudocientífica das Telas
Filmes como “X-Men” e “Hulk” pervertem descobertas da ciência e reforçam preconceitos
Por Ruth Helena Bellinghini
David Banner trabalhava em seu laboratório nos anos 50 quando recebeu uma dose de radiação gama e virou o Hulk. Na mesma época, o estudante de ciências Peter Parker foi mexer com uma aranha, que também havia sido exposta à radioatividade, e virou o Homem-Aranha. Um sem-número de heróis e super-heróis nasceram assim, num laboratório, onde alguém se meteu a bulir com as misteriosas e proibidas forças da natureza. E se nos anos 50 o assustador e incompreensível era o átomo, hoje é o gene.
O pai do Bruce/David Banner que chegou ás telas este ano tentou criar um bebê geneticamente perfeito, um prodígio de força. Deu no que deu. Peter Parker foi picado, sim, por uma aranha transgênica. Quem também vai reaparecer nas telas, encarnado por ninguém mais ninguém menos que Brad Pitt – exemplar mais-que-perfeito da loteria genética natural -, é o Capitão América, aquele soldado franzininho da 2.ª Guerra, que toma um soro experimental e se transforma num supersoldado. Quer apostar quanto que, na nova versão, Pitt-América vai ser um prodígio da alta biotecnologia? E que seu arquiinimigo será inspirado na dupla Osama Bin Laden e Saddam Hussein?
A maioria dos super-heróis explora o mito popular de que cientistas são sujeitos esquisitos, praticamente loucos, que vão fuçar no que não deviam, seja a natureza do átomo ou a dinâmica dos genes. E são castigados. A idéia não é nova. Prometeu roubou o fogo dos deuses para dar aos homens. Zeus puniu o titã de forma exemplar, acorrentando-o em uma montanha e fazendo com que, eternamente um abutre devorasse seu fígado – os gregos, muito espertos, já sabiam que o fígado tinha a capacidade de se regenerar.
A punição dos super-heróis que tiveram a ousadia de decifrar os segredos da natureza não é menos exemplar: são condenados a esconder de seus amigos, família e, principalmente, de suas amadas, sua identidade secreta. Não existe castigo maior. Podem salvar a humanidade da destruição centenas de vezes, livrar Gotham City de seus piores inimigos, mas nunca seu eu real será reconhecido pelo feito, é o mascarado quem leva a fama. Do contrário, a encrenca é certa.
Basta ver o inferno que é a vida dos mutantes X-Men . As pessoas “normais” têm medo deles, o governo tenta exterminá-los – sob a alegação de que são uma ameaça à segurança mundial, pois são superpoderosos. O segundo longa estrelado pelos mutantes fez mais sucesso que o primeiro e mereceu. É uma aventura e tanto. Mas, lá no meio da história, vem o besteirol cientificóide. O jovem mutante revela aos pais – e ao irmão normalésimo e morto de inveja – sua condição. A mãe, claro, pergunta se é a culpada. E o veterano Volverine* sai-se com a pérola: “ O homem é o portador da mutação.”
Bom, se o homem é portador e o gene se manifesta no filho é porque é dominante ( lembra-se dos olhos castanhos e azuis, AA e aa da escola?) como o pai não é mutante? E por que o outro filho não é? E as meninas mutantes? Basta a genética do ensino médio para ver que a “explicação” não funciona. Mutações não são intrinsecamente ruins, mas o que nos faz ser o que somos, num processo de milhões de anos. Mutações são naturais e simplesmente acontecem. Não são “culpa” de ninguém. Mas o que importa não é ciência, mas a pseudociência. A menção de algo que não se entende direito – a genética – e, portanto, é motivo de desconfiança e medo. O americano médio padece do mesmo analfabetismo científico do brasileiro médio. Talvez até pior – 45% dos americanos acham que evolução é coisa do demônio. Ninguém perdeu o medo da radiação e das forças atômicas porque aprendeu como funcionam, mas porque se acostumou a elas. A radiação dos anos 50 foi aparentemente domada e, em que pesem os acidentes de Three Mile Island e Chernobyl, usinas nucleares integraram-se à paisagem do dia-a-dia nos EUA, na Europa e até em Angra dos Reis. Vai acontecer o mesmo com a genética e a biotecnologia.
Em Hollywood, porém, pouco se cria e quase tudo se recicla. É pouco provável que produtores se lembrem de adaptar para as telas – agora que têm à mão toda tecnologia possível e imaginável – clássicos da ficção científica que abordam temas atualíssimos, como Os filhos de Matusalém, de Robert Heilein, em que um grupo de seres humanos que vive por séculos tem de esconder sua condição; ou A Rebelião dos Clones , de Evelyn Leaf, em que eles são usados para fornecer órgãos para uma elite milionária ou têm seus cérebros conectados a supercomputadores; ou mesmo Os amantes do ano 2050 , de Philip José Farmer, em que a religião transforma em tabu a relação entre humanos de diferentes espécies. O mais provável é que telonas e telinhas apresentem uma enxurrada de remakes com aranhas e formigas gigantes, homens que escolheram e derreteram. Todos geneticamente manipulados.
*Sim, Wolverine estava escrito com V.
minha carta:
A Manipulação Pseudocientífica dos Jornais
Artigos como “A Manipulação Pseudocientífica das Telas” de Ruth Helena Bellinghini pervertem o avanço da arte e reforçam preconceitos
Por Alexandre Fidélis
Já faz parte da rotina de leitura que assumi, com muito prazer, degustar do suplemento Caderno 2/ Cultura do Estado com aquela sensação saborosa do diálogo multilateral: a fruição tanto do conteúdo quanto o estilo dos autores das colunas e artigos. Óbvio, não concordo com absolutamente tudo que é escrito. Por exemplo, não concordo com a análise crítica do cenário político feita pelo Sr. Daniel Piza em sua maior parte, mas não deixo de apreciar sua coluna ( algum freudiano de plantão poderia suscitar masoquismo ideológico, mas eu chamaria simplesmente ‘respeito’ pela opinião).
Infelizmente, deparei com um artigo publicado no dia 13 de julho que causou uma tristeza não compatível com a sensação supracitada de todos os domingos. Neste artigo, Ruth Helena Bellinghini disserta sobre as recentes adaptações de quadrinhos para o cinema, sob a flâmula da seção Genética. Como apreciador da Arte, seja ela qual for e onde estiver, gostaria de discutir alguns pontos e esclarecer a razão de não considerar o artigo publicado à altura de minha sobremesa litúrgica dominical:
A linha mestra desta réplica baseia-se nas incongruências encontradas, a começar pelo título. A palavra ‘manipulação’ é um tanto radical, típica de folhetim sensacionalista. O subtítulo ainda alia os nomes ‘X-Men’ e ‘Hulk’ a uma perversão das descobertas científicas e reforçam preconceitos. Ao dizer que as adaptações cinematográficas destes personagens, hoje alardeados como ícones pop , colocam-se de tal maneira perante os dogmas científicos é desconsiderar toda a trajetória dos mesmos, a transposição de uma linguagem artística à outra, que embora sendo narrativamente correlatas na síntese texto/imagem, são categorias distintas, acima de tudo por seus meios de produção e pelo viés semiótico que a eles deve ser aplicado. Insisto com colegas aficcionados pelo gênero dos quadrinhos com relação a estas adaptações, que devemos observar alguns fenômenos que possibilitaram o recente sucesso destas produções. Em primeiro lugar, a proximidade dos roteiros com a estrutura e premissas básicas da essência destes personagens, e em segundo, a excelência e ousadia dos diretores em adicionar sua visão artística ao mito destes heróis sabendo contrapor elementos de linguagens diferentes para agradar ‘gregos e troianos’, sem perder a personalidade que os distingue como profissionais.
Lamentavelmente, ocorre por todo o texto os indícios de um desconhecimento das origens destes ícones naquilo que os fez perdurar e alcançar o status que hoje desfrutam, talvez para abalizar um gosto mais depurado numa posição purpurinada de suposta cinéfila. Comentar como uma descoberta incrível a mudança do paradigma da radiação como genitora dos dons super-humanos em virtude da nova abordagem biotecnológica é algo no mínimo pífio. Esta não é uma mudança ocorrida primeiramente nos cinemas, e sim nos próprios quadrinhos. A própria Marvel Comics notou que as origens de alguns de seus maiores personagens estavam defasadas e incompatíveis com o contexto não apenas científico, mas também sóciopolítico ( um Homem-de-Ferro oriundo da Guerra Fria e um Justiceiro vindo das selvas do Vietnã, entre outros). Para tanto, alguns anos atrás, a empresa criou a linha Ultimate , onde as origens são revisitadas, contadas com o referencial tecnológico e social dos dias atuais. Se o valor da leitura destes quadrinhos estivesse atrelado aos raios ópticos, músculos verdes ou teias orgânicas ou não de maneira tão intrínseca, a mudança do contexto alteraria a natureza atrativa destes personagens que existem há pelo menos 50 anos neste último século onde o avanço das descobertas se deu num ritmo que mal podemos acompanhar em 100 míseros anos. Isto é, o valor literário e plástico alcançado pelas produções quadrinísticas atuais deve-se a um potencial genuíno desmistificado pela universalidade , um dos maiores preceitos para que uma obra transcenda seu tempo, que quando colocada sob a ótica de qualquer linguagem artística em relação à humanidade, reinventa-se. As histórias em quadrinhos perduram até hoje, subestimadas pelo academicismo tacanho, por não tratarem de poderes e pancadaria. As que seguem este filão, não configuram como relevantes à posteridade, somente às chacotas do próprio meio. As histórias em quadrinhos estão aí por dissertarem, apesar das capas e colantes, sobre seres humanos e situações.
Outro dado duvidoso, e perigoso, é a citação, também num tom de erudição, da comparação dos cientistas caracterizados nos quadrinhos com o mito de Prometeu. Digo isso devido ao fato de ser publicada uma semana antes pela editora Panini, em Marvel Apresenta 6, a história O Último Titã , escrita por Peter David, autor que ficara à frente das histórias do gigante verde por anos, ressaltando o caráter psicológico disfuncional do Hulk como força motriz de suas manifestações. Nesta revista, publicada originalmente no ano passado nos EUA, David usa essa analogia com Prometeu. A autora do texto que criticou a postura dos cientistas como “ praticamente loucos” no mundo dos super-heróis “por fuçar onde não deviam” escrevendo ‘PARE’ numa placa que pretende dizer ‘CUIDADO’, diz ainda que “a idéia não é nova”. A menos que ela tenha criado o mito de Prometeu, entendo a analogia numa escala que vai de um “ops!” ao velho conhecido plágio. Afinal, a idéia não é nova...
Quanto a colocação da necessidade do herói de possuir uma identidade secreta, tanto para os amigos quanto aos inimigos como uma espécie de punição, primeiro seria necessário lembrar que em nosso país, infelizmente, uma significante parte dos políticos, empresários e demais detentores da mídia usam máscaras feitas de pau presas por um colarinho alvo e brilhante, enquanto alguns policiais, juizes, cidadãos e poucos políticos e empresários considerariam uma identidade secreta algo útil para suas famílias. No tocante aos quadrinhos, temos hoje um Homem-Aranha casado que discute as mazelas de sua vida heróica com a esposa e a tia, os X-Men lecionando e abrindo ao mundo as portas de sua escola, além de propagar uma ideologia de coexistência pacífica e uma ética étnica em embaixadas espalhadas por vários países, e ainda um Capitão América forçado a tirar a vida de um terrorista em rede internacional, revelando sua identidade civil dizendo que foi ele, Steve Rogers, quem matou; não o povo . Aliás, os roteiros pós 11 de setembro do Capitão América possuem uma vertente que não toma chá com biscoitos com a própria política bélica americana, o que já causou pressão por parte do governo junto à Marvel para abrandar os pensamentos humanitários de um dos maiores ícones do patriotismo do Tio Sam.
Sem contar que em Gotham City não haveria muita alegria por parte de um certo sujeito vestido de morcego em auferir o resultado de suas patrulhas noturnas ao seu frívolo alter-ego.
E realmente, a vida dos X-Men é um inferno, tanto quanto a minha vida seria se entrasse com uma Ferrari cantando pneu na Rocinha, ou se um negro de bermudão e chinelos quisesse declamar seus poemas num jantar chique reunindo a intelligentsia local. O preconceito quanto aos mutantes é tão real quanto aquele que levou à morte Tim Lopes, queima índios através de jovens abastados, e leva a mulher a sofrer uma condição de objeto de consumo que, apesar de tudo, o gênero masculino ainda está longe de alcançar.
X-Men sem a busca da aceitação do diferente, que é antes de tudo referencial, não seria o que é hoje enquanto fenômeno. Pior, classificar como “besteirol cientificóide” a cena onde Wolverine diz aos pais de Bobby que o gene X ( que não existe, até onde sabemos, em nossa realidade) é passado pelo homem é o cúmulo de procurar defeito para parecer que está acima do conhecimento médio. Deter-se nas lições do ensino médio quanto aos pares de cromossomos para avaliar uma questão mutagênica é pobre. Mais pobre ainda quando falamos de uma genética fictícia, que faz parte um universo onde as leis físicas não se aplicam como este que habitamos.
Não devemos nos calcar no estudo da genética colegial porque as alterações hereditárias obedecem a mais preceitos do que aqueles apresentados quando falamos de mutações tão absurdas quanto as demonstradas no universo dos mutantes. Nossas crianças ainda são obrigadas a engolir esta historinha de Cabral como um Papai Noel didático, e o artigo ainda vem depreciar a intenção por trás de uma obra apenas escorada na camada superficial de uma ciência, que é claro, da qual soubéssemos tudo e houvessem tantas certezas seriamos Deus há um bom tempo. Sou capaz de levantar a hipótese, conhecendo o caráter do personagem, de Wolverine nem saber do que estava falando, declarando aquilo para aporrinhar o pai de Bobby e seu irmão, que em plena puberdade talvez , ainda , não tenha desenvolvido seus dons. Quanto as meninas, provavelmente viram mutantes porque o código genético do pai mescla-se com o da mãe, portanto, algo do pai passa para a filha, não é? Será por isso que algumas meninas tem problemas hormonais, ou mesmo hormônios masculinos? O ovo ou a galinha..., quem veio primeiro? A menos, que a análise venha calcada em algo mais profundo na genética e antropologia quanto a questão da Eva mitocondrial, é inaceitável a colocação. E discordo quando é afirmado que “mutações são naturais e simplesmente acontecem”. É claro que são naturais, fazem parte de um processo, e é por isso que não “simplesmente acontecem”. Uma mutação ocorre por diversos motivos, entre eles o meio ambiente e suas alterações e a própria combinação genética, que pode ler uma informação trazida de forma errônea e por isso produzir mais pelos, um dedo a menos, etc.
Perdão pelo trocadilho, mas o X da questão não é a pseudociência, mas a pseudoleitura, onde a sabedoria é confundida com o saber. E quando a pessoa sabe, ou acha que sabe demais, certos detalhes passam e considero ultrajante aos que acompanharam o filme e a todos os leitores do quadrinho dizer que “aquilo que não se entende direito – a genética – portanto, é motivo de desconfiança e medo” quando a mensagem em ambas as linguagens ( quadrinho e cinema) é exatamente o contrário! O homem teme aquilo que ele não entende, daí a desconfiança e o medo, mas não deve. Lembrem-se: os mutantes ( os protagonistas, os heróis, os mocinhos ,etc) representam o diferente, são o fruto da genética, seu emblema; portanto eles, como a própria genética, devem encontrar seu lugar entre os homens e uma ética para o alcance de suas capacidades baseadas no respeito e cooperação.
E todo esse nonsense para reverberar o analfabetismo científico americano comparando-o com o nosso. Mas eu afirmo que a maioria dos artistas e fãs da área dos quadrinhos, em qualquer país, entre uma falha ou outra, como a maioria daqueles que fazem a Arte ao invés de apenas falar, procuram e se destacam por pensarem o mundo através da própria arte; uma visão muito além da xenofobia teológica. A ignorância limita tanto mendigos quanto acadêmicos.
E finalmente, aquilo que aparenta ser o motivo do artigo: o momento onde após o supostamente novo ser reduzido a uma débil pantomima sem conteúdo, a autora discorre triunfante sobre as montagens cinematográficas de ficção científica de sua predileção e segundo ela, recheadas de temas atualíssimos que são relegados por Hollywood ao esquecimento. São elas, nas palavras da autora:
“Os filhos de Matusalém, de Robert Heilein, em que um grupo de seres humanos que vive por séculos tem de esconder sua condição;...”
Minha indignação: E Highlander? E os X-Eternos?
“...ou A Rebelião dos Clones , de Evelyn Leaf, em que eles são usados para fornecer órgãos para uma elite milionária ou têm seus cérebros conectados a supercomputadores;...”
Minha indignação: E Johnny Mnemonic? E Minority Report? Robocop? E o que o empresário John Sublime estava fazendo há pouco nas páginas de New X-Men?
“... ou mesmo Os amantes do ano 2050 , de Philip José Farmer, em que a religião transforma em tabu a relação entre humanos de diferentes espécies.”
Minha indignação: Esse eu não assisti, mas, espere um momento, se são humanos de diferentes espécies, há alguma casta evoluída... mutantes? Ou espécies são negros, amarelos, brancos,etc? Tomara que não. Mas de qualquer forma essa interação proibida por um totem paradigmático social como a religião não traria à baila uma luta pela coexistência e interação entre as “espécies” humanas? Se for, onde será que vi isso antes...?
O que pretendo deixar claro, é a intolerável mania de se apoiarem em algo aparentemente superficial, como alguém querendo fazer peso num iceberg por acreditar que a ponta é maior que a parte submersa. Atacar uma conquista de um meio artístico transposto para outro de maior circulação sem conhecimento prévio e com preconceito calcado no caráter aos desinformados infantil e estereotipante de um deles, no intuito de demonstrar que passa fome por esperar pelo caviar em celulóide de outrora; isso sim, é manipulação.
Como exemplo, poderia dizer que prefiro o livro O Nome da Rosa ao filme, apesar de ser um fã inveterado de Sean Connery, que prefiro o filme Dr. Jivago ao livro ou que gosto de A Morte em Veneza na mesma intensidade em ambas as linguagens. Mas porque entendo que devo ler de acordo com os signos que compõem a Literatura e o Cinema como artes distintas, que se tocam nestes momentos e porque será a minha leitura, não um veredicto canônico.
Espero que quando tratar novamente de qualquer diálogo com outra arte, ou somente de quadrinhos, que haja o devido respeito a esta subestimada manifestação do espírito humano, cujos balões apresentaram-me Shakespeare, Blake, Jung e outros; fazendo minha vida tomar o árduo e delicioso rumo das Letras.
E espero também, que a flâmula da Genética não seja hasteada para colocações cujos momentos mais científicos sejam alegar que um filme de ficção errou na explicação de algo fictício com uma explicação sofrível de algo pretendido a ser simples, e que “Brad Pitt é um exemplar mais-que-perfeito da loteria genética natural”.
Que nada. O rapaz é um ótimo ator mas, embora até minha namorada discorde, sou mais eu que o Pitt.
Alexandre Fidélis,
ator e encenador,
escritor ainda desconhecido
e estudante do curso de Letras
da Universidade Católica de Santos.
E-mail: Xorn__hotmail.com
Ps: Caso o Estado queira adotar uma postura mais contemporânea na análise da arte, poderia contratar alguém para escrever sobre o assunto no Caderno 2. Tem assunto para a semana toda , e referências e pontes com outras manifestações artísticas não faltam.