Gigio
Usuário
(Antes de mais nada, só colocar em palavras o que vocês já sabem né, Manu e Clara, que gosto muito das duas, não é nada pessoal essa discussão. Desculpem pelo "Qual seria a alternativa?", depois fiquei pensando e parecia mesmo muito acusativo.)
Mas Manu, o pensamento não está fora da vida, não há como separar uma coisa da outra. A partir do momento que surge a dúvida, ela não pode mais ser desconsiderada. E como eu tinha dito, a proposta da mulher tem um lado utilitarista: os pais que tem uma criança com problemas sérios de saúde, ou que por algum motivo se sintam incapazes de criá-la, têm direito de decidir sobre a vida do recém-nascido? (A pesquisadora não define exatamente, mas sugere que alguns dias de vida já seriam suficientes para diagnosticar quaisquer doenças graves.)
O jornal foi imprudente sim, na minha opinião. Esse tipo de questão é parte normal da bioética, mas eles anunciam como se já estivessem preparando o massacre das criancinhas.
Essa já é uma outra questão filosófica. Se você está se perguntando sobre a legitimidade ou não de trazer certas questões ao conhecimento das pessoas, já está fazendo filosofia. E os problemas vão se imbricando uns aos outros. Particularmente, acho que não é necessário sair panfletando posições filosóficas agressivas por aí (do tipo, Nietzsche estava certo, você não sabe nada sobre a vida, essa figura tão popular), mas quando alguém aparece para mim com alguma dessas dúvidas, fico muito feliz em poder discutí-las, porque ao menos é bom poder compartilhar um pouco de algum outro ponto de vista.
Me parece uma posição válida (sempre acho quase todas as posições válidas, não estou fazendo "patronising" com vocês). Mas a esse respeito, acho que a parte da tese da pesquisadora que seria mais aplicável é aquela em que ela diz que não se pode falar em dano à vida da criança uma vez que ela ainda não atingiu um mínimo de desenvolvimento mental. Mesmo aceitando a tese que você citou, ainda precisa ser respondida a pergunta: quando começa a vida? A pesquisadora está defendendo uma ideia de fundo materialista, é verdade, mas se os pais da criança também pensarem dessa forma, não seria um direito deles decidir? Aí já se conecta a questão política, que também aparece no caso do aborto: o Estado deve proteger o direito à vida do feto (ou do bebê)? Particularmente, acho que o julgamento e a decisão cabe aos pais, mas não me peçam para convencer vocês disso, acho que as raízes que levam alguém a acreditar nisso ou naquilo são muito profundas (ainda mais em temas como estes) para serem transformadas apenas em uma discussão no fórum.
Eu entendo "filósofo" de maneira ampla. Não relegaria a posição desses religiosos, se eles também se preocuparam com as mesmas questões.
Não, não pode, porque a Constituição do Brasil diz que ele não pode. Mas a lei também foi escrita por pessoas que precisaram pensar como seriam resolvidos os diversos casos. Nada impede que sejam feitas modificações nessas leis. (Tem o problema moral também, mas achei que você estava falando mais do aspecto político.)
Mas não tem que babar ovo mesmo. Cada um deve defender suas próprias opiniões como achar melhor, inclusive se recusando a discutir, se achar que é isso lhe fará mais bem. Mas acho que às vezes, quase sempre de forma muito devagar, a gente vai mudando de opinião sobre alguma coisa, então sempre vale a pena ouvir outros lados.
Mas ela diz no artigo que existem razões parra que uma doença não seja detectada durante a gravidez. Eles podem, por exemplo, ser tão raras, tão difíceis de detectar, que só se percebe mesmo depois do nascimento.
Verdade, é uma extensão que ela admite para a tese dela.
Manu disse:Sobre o exercício da filosofia, podem me chamar do que quiser, mas eu penso que nem tudo o que é bom pra se pensar é bom pra se viver, portanto, sou bastante utilitarista.
(...)
Pra quê??? Desde quando o pensamento é mais importante que a vida?? Sério, isso não me entra na cabeça de jeito nenhum.
Mas Manu, o pensamento não está fora da vida, não há como separar uma coisa da outra. A partir do momento que surge a dúvida, ela não pode mais ser desconsiderada. E como eu tinha dito, a proposta da mulher tem um lado utilitarista: os pais que tem uma criança com problemas sérios de saúde, ou que por algum motivo se sintam incapazes de criá-la, têm direito de decidir sobre a vida do recém-nascido? (A pesquisadora não define exatamente, mas sugere que alguns dias de vida já seriam suficientes para diagnosticar quaisquer doenças graves.)
Manu disse:A "irresponsabilidade" seria dos jornalistas? Pode ser que sim, sei lá. Pode lhes ter faltado tato. Só acho que esse assunto é delicado demais pra ser tratado de forma tão leviana como essa que eu li. Enfim.
O jornal foi imprudente sim, na minha opinião. Esse tipo de questão é parte normal da bioética, mas eles anunciam como se já estivessem preparando o massacre das criancinhas.
Manu disse:O lado arriscado da filosofia é esse, o de destruir o mundo alheio e não propor nada melhor ou mais adequado no lugar. Levar pessoas ao limbo existencial a troco de nada...?
Essa já é uma outra questão filosófica. Se você está se perguntando sobre a legitimidade ou não de trazer certas questões ao conhecimento das pessoas, já está fazendo filosofia. E os problemas vão se imbricando uns aos outros. Particularmente, acho que não é necessário sair panfletando posições filosóficas agressivas por aí (do tipo, Nietzsche estava certo, você não sabe nada sobre a vida, essa figura tão popular), mas quando alguém aparece para mim com alguma dessas dúvidas, fico muito feliz em poder discutí-las, porque ao menos é bom poder compartilhar um pouco de algum outro ponto de vista.
Manu disse:Seres humanos devem ser tratados como tendo valor essencial que não foi dado (por exemplo, pelo Estado), nem deve ser tomado por seres humanos; apenas deve ser reconhecido. Não são apenas mercadorias úteis cujo valor depende do que podem ou deixamde poder obter no mercado. As implicações morais dessa visão estão muito bem expressas nas palavras do biólogo francês Jean Rostan: 'De minha parte creio que não há vida tão desgradada, deteriorada ou empobrecida que não mereça respeito e não valha a pena ser defendida com zelo e convicção... Tenho a fraqueza de crer que é honra para nossa sociedade desejar o luxo caro de sustentar a vida para seus inúteis, incopetentes ou doentes terminais. Eu quase mediria o grau de civilização da sociedade pelo esforço e vigilância que se impõe por puro respeito à vida."
Me parece uma posição válida (sempre acho quase todas as posições válidas, não estou fazendo "patronising" com vocês). Mas a esse respeito, acho que a parte da tese da pesquisadora que seria mais aplicável é aquela em que ela diz que não se pode falar em dano à vida da criança uma vez que ela ainda não atingiu um mínimo de desenvolvimento mental. Mesmo aceitando a tese que você citou, ainda precisa ser respondida a pergunta: quando começa a vida? A pesquisadora está defendendo uma ideia de fundo materialista, é verdade, mas se os pais da criança também pensarem dessa forma, não seria um direito deles decidir? Aí já se conecta a questão política, que também aparece no caso do aborto: o Estado deve proteger o direito à vida do feto (ou do bebê)? Particularmente, acho que o julgamento e a decisão cabe aos pais, mas não me peçam para convencer vocês disso, acho que as raízes que levam alguém a acreditar nisso ou naquilo são muito profundas (ainda mais em temas como estes) para serem transformadas apenas em uma discussão no fórum.
Clara disse:Lembrando também do fato de que eles não descobriram a roda, pois religiosos indianos e tibetanos (e talvez até muitos antes deles) chegaram às mesmas conclusões (e até além) milênios atrás.
Eu entendo "filósofo" de maneira ampla. Não relegaria a posição desses religiosos, se eles também se preocuparam com as mesmas questões.
Clara disse:A vida que a maioria das pessoas vive é essa, onde você, na maioria das vezes, pode sim decidir o que fazer (tanto o sabor do sorvete que vai tomar como dar ou não um tiro na própria cabeça) e onde um assassinato é um assassinato, não importa se você condena à morte um assassino estuprador, o chato do seu vizinho, um recém nascido ou (ao meu ver) uma ninhada de gatinhos.
Alguém, deliberadamente, acabou com uma vida e isso é um fato que pode, em alguns casos, inclusive te levar pra cadeia.
Pode, por exemplo no mundo em que vivemos, o assassino sociopata argumentar que a vida é uma ilusão, a realidade não existe, ninguém tem consciência mesmo então tudo bem matar um monte de gente?
Não, não pode, porque a Constituição do Brasil diz que ele não pode. Mas a lei também foi escrita por pessoas que precisaram pensar como seriam resolvidos os diversos casos. Nada impede que sejam feitas modificações nessas leis. (Tem o problema moral também, mas achei que você estava falando mais do aspecto político.)
Clara disse:Acho lamentável esse negócio de ficar babando ovo nas ideias de alguém só porque ele/ela não fez mais nada na vida a não ser estudar anos a fio e consegue argumentar com destreza.
Mas não tem que babar ovo mesmo. Cada um deve defender suas próprias opiniões como achar melhor, inclusive se recusando a discutir, se achar que é isso lhe fará mais bem. Mas acho que às vezes, quase sempre de forma muito devagar, a gente vai mudando de opinião sobre alguma coisa, então sempre vale a pena ouvir outros lados.
Clara disse:Caso de doenças ou má formação de fetos, por exemplo, na maioria das vezes são detectáveis ainda nos primeiros meses de gravidez.
Qual o sentido de esperar a criança nascer pra matá-la?
Mas ela diz no artigo que existem razões parra que uma doença não seja detectada durante a gravidez. Eles podem, por exemplo, ser tão raras, tão difíceis de detectar, que só se percebe mesmo depois do nascimento.
Clara disse:Mas a pesquisadora em questão não fala só disso, de problemas com o feto:
A sua polémica tese é a de que o “aborto pós-nascimento” (matar um recém-nascido”) deve ser permitido em todos aqueles casos em que o aborto também é, incluindo nas situações em que o recém-nascido não é portador de deficiência”.
Verdade, é uma extensão que ela admite para a tese dela.