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Ardil 22 (Catch 22)

Mavericco

I am fire and air.
Usuário Premium
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Ardil 22 é um livro escrito por Joseph Heller, que possui como foco uma sátira à mentalidade militar bem como à mentalidade social vigente durante épocas de guerra. O livro é também caracterizado por sua linguagem paradoxal e repetitiva, transformando a linguagem numa iconografia para a sátira em questão, visto que Heller pretende mostrar o qual ilógica, paradoxal e repetitiva é a guerra.

No livro acompanhamos a saga de Yossarian, um bombardeador de B-25 da Força Aérea Americana, durante sua estada na Ilha de Pianosa, Itália. Mas não acompanhamos apenas a saga de Yossarian. Vários personagens aparecem, e cada um desses personagens reflete um protótipo de militar diferente, carregando consigo uma carga ácida de sátira. O simples nome "Major Major Major" já é, por si só, autoexplicativo. Um major que se chama Major Major; ou um major sedento pelo poder? A questão no livro é que estamos numa guerra. A linguagem satírica dá lugar, de hora em hora, a um retrato fidedigno do cenário de guerra, e ver os personagens pouco a pouco morrerem ou desaparecerem é bastante impactante, à medida que percebemos que estamos dentro duma chuva de balas e cadáveres, e todas as gargalhadas que demos páginas atrás estão manchadas de sangue, agora e para sempre...

Mas o objetivo de Heller não é o de criar um cenário impactante e realista, transformando de seu campo de batalha uma descritiva desgraça humana, como se Heller fosse um Tolstói ou um Eça de Queirós e seus sertões. O objetivo de Heller não é também o de mascarar a realidade, sendo imparcial ou simplesmente satírico. Heller nos mostra a realidade da guerra a partir de caricaturas fortes, a partir de personagens e situações humorísticas, mas sem nunca perder sua essência de denúncia, de conscientização. O que Orwell mostrava com seu 1984 era um mundo próximo, terrível, avassalador, sufocante: não é á toa que Orwell pede mais ar alguns livros atrás. Mas Heller não quer sufocar nem aterrorizar seu leitor. A forma de pedir clemência de Heller é menos desesperada que a de Orwell. Fazer com que o leitor gargalhe e depois reflita, numa leitura ou numa releitura do livro, é a razão principal do Ardil 22. Acompanhar a crescente raiva de Yossarian ao ver o Coronel Cathcart aumentar o número de missões cada vez mais, é na verdade acompanhar duas faces distintas da guerra: se por um lado temos coronéis que querem apenas status e medalhas, reconhecimento e "honra"; do outro, temos soldados que morrem e dão sua vida no campo de batalha, que se protegem não atrás de maços maciços de aço, mas sim atrás de filhos, esposas, pais e mães. Mesmo que Heller trate esta situação de forma satírica, nós vamos aos poucos parando de rir da mesma piada, da mesma piada repetida e paradoxal, e vamos percebendo que a guerra não tem graça, e o humor do livro de Heller vai acabando á medida que o relemos. É isso o que Heller quer. Heller não quer que você ria da guerra para sempre. Ele quer que você chegue a um nível de conscientização anti-militar necessário para que você proteste, lute contra todo este jogo de carnificina; não que você se paralise de terror e simplesmente espere sua hora chegar, seu destino imutável.

Certo, certo. Entendi. Mas porque Ardil 22? Ardil 22, no livro, é um conjunto de regras que cria a falsa ilusão de dar escolhas a um interlocutor, quando na verdade não existem opções. Por exemplo: se eu lhe oferecer um chocolate amargo e outro azedo, você tem, obviamente, duas opções, duas escolhas. Mas e se eu te disser que o chocolate amargo lhe causará câncer no cérebro e o azedo contém veneno de rato? Você, também obviamente, não vai pegar nenhum. Então... De quê adiantou eu lhe oferecer os chocolates e ter lhe dado a falsa ilusão de que possui duas escolhas? É mais ou menos assim que o Ardil 22 funciona. Heller aplica, implicitamente, o Ardil 22 ao próprio leitor. Ele dá opções, afinal. Você pode, ao ler o livro, se mostrar indiferente á guerra ou lutar contra a mesma. São duas opções. Mas se você acha humor no livro de Heller, o que é inevitável, você está caindo no Ardil 22. Rindo do livro, você está se conscientizando contra a guerra, pois as anedotas de Heller são contra a guerra. Assim, mesmo que você seja um veterano de guerra ao melhor estilo Rambo, estará caindo numa espécie de cilada ao ler e encontrar a veia sátira e humorística do livro, pois encontrar a mesma é cair no Ardil 22, ou seja, no pensamento anti-guerra, ou seja, no livro, ou seja, nos dias atuais, ou seja, na história.

Afinal, ora pois, Ardil 22 possui tanto valor histórico quanto Guerra e Paz ou 1984 -- a diferença é que Ardil 22 cria este valor histórico a partir de uma cilada; uma cilada intransponível.
 
Já ouvi falar nesse livro... mas só sabia que ele possuia um tom satírico. E também já tinha lido a definição das escolhas ilusórias... mas muito pouco.
Estava pensando em comprá-lo, e seu tópico me deixou mais curiosa ainda. Acho que vou incluir na lista de futuras compras. =D
 
Pode comprar tranquila. A leitura é bastante agradável, e os livros do Heller são baratos em sites como o Estante Virtual. São baratos mesmo. Gold Vale Ouro, por exemplo, eu acho tranquilo por menos de 10 reais contando com o frete... :sim:
 

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