Em Tolkien, além da "mera fantasia", existem as próprias questões metafísicas, que por si só são incompatíveis com o prisma científico. No final das contas, que diferença faz dizer que Melkor foi banido para o vácuo interestelar e não para fora de Eä? Ou que ele absorveu energia do EM para recriar seu fána, do que ter seus pés crescidos novamente? As duas situações são confrontos entre idéias fantasiosas e que envolvem a metafísica do legendarium, incompatíveis com quaisquer idéias da ciência moderna.
Olha , honestamente , mesmo que as duas opções não sejam exatamente compatíveis com uma noção "hard" de ciência a versão mitológica primitiva do Silmarillion não tem nem sequer o menor resíduo de plausibilidade no contexto de um universo com nossas características básicas. Exemplo: crescimentro de plantas sem luz solar, depois da destruição de Almaren e antes da criação do Sol e da Lua.Eras antes da criação de Anor e Isil já havia a floresta de Neldoreth onde Melian e Thingol se conheceram e as flores de niphredil que desabrocharam no nascimento de Lúthien. Nada disso faz sentido algum numa interpretação ipsis literis do Legendarium.
As duas noções diferentes tem sim diversas consequências práticas que Tolkien explicou no ensaio. A preocupação de Tolkien naõ era com seguir os parâmetros científicos ao pé da letra mas, sim, dar um minimo de verosssilhança para a sequência dos eventos.
A explicação tardia pode ser pseudo-científica mas não é ilógica e contrastante com noções básicas de causalidade entrre os fenômenos naturais, ainda que a explicação da forma com que eles ocorram não possa ser dada em consonância com o nível atual do nosso conhecimento científico ou técnico.
As duas noções têm repercussões práticas muito importantes pq a primeira se refere a uma época em que Tolkien cogitou abandonar completamente a noção de profecia do Juízo Final ( Morgoth sem pés, acorrentado e expulso pro Vazio, sendo que, se tal fosse o caso, Tolkien disse que ele
não poderia voltar sem participação ativa de Eru ( e nem, tampouco , ser expulso pra lá tb, os próprios Valar não podem sair ou botar ninguém pra "fora" ou pra "dentro" de Eä com seus poderes. Eles mesmos estão "presos" no tecido do Espaço-Tempo e foi essa a consequência imposta para eles entrarem no Conto de Eä).
Já a segunda versão , narrada no Mitos Transformados em forma de ensaio do autor (Tolkien) onisciente, reinstaura a Ùltima Batalha como sendo fruto de uma outra profecia não proferida por Mandos e não se contrapõe à "lógica interna" do Universo Subcriado. Melkor não estaria boiando no Vazio Exterior mas sim vogando como uma consciência extra-corpórea no espaço fora de Arda ( sistema solar) e ansiando pelo seu retorno, vindo a conseguir isso sem qualquer "cochilada" ou colaboração de Eru num futuro distante do nosso mundo como existe agora.
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Do mesmo jeito tem repercussão prática a Noção de se identificar de qual "Vazio", Ungoliant proveio, Outer Darkness ou Ilmen que saõ conceitos totalmente diferentes.
Se Tolkien tivesse alguma pretensão definida para a origem de Ungoliant, por muito tempo essa origem se restringiria à duas possibilidades, ao menos quanto ao lugar: dentro ou fora de Eä, sendo que no caso de ter-se originado dentro de Eä, me parece que por extensão ela teria originado-se junto à Arda.
Pode ser mas não necessariamente no fim do Legendarium. Tolkien deixou claro que
existem outros Valar fora do sistema solar e , presumivelmente outras cortes de Maiar. Então uma forma de vida não precisa, necessariamente, ter se originado em Arda para ser parte de Eä, o próprio Tulkas que chegou "depois" tinha vindo de fora do nosso "sistema", vinha do "Céu distante" ou alguma outra expressão reminiscente da que Lewis usava pra designar o espaço entre as estrelas..
Mas, concordo que,
no caso especifico de Ungoliant a interpretação mais plausivel é que ela tenha se originado de fora de Eä, do Vazio Exterior, da Noite do Vazio pelos motivos já explicados no ensaio ( que não incluem a suposta inexistência de outros planetas ou sistemas estelares no Universo como vc falou antes), mesmo que , como vc mesmo disse, e eu tb salientei no início do texto, tal origem não possa ser afirmada com 100% de segurança.
É, de certa forma, como querer interpretar textos bíblicos sob a ótica pura da ciência. Não significa que não seja válido, mas certas coisas só fazem sentido sob um prisma poético.
Concordo. E essas coisas, portanto, como Tolkien explicou, na verdade não teriam acontecido tal como foram narradas no mito cosmogônico. Elas teriam outra explicação racional que o Tolkien pode esboçar e fornecer ou , então, omitir completamente por conveniência estilística ( como aconteceu com o paradeiro de Aman e Eressëa, a localização dos mesmos não pode ser dada em textos de linguagem poética ou mítica precisaria ser elucidada por linguagem científica.