Vocês tem cada uma!
Vamos pensar primeiro na frase, e pensar quem realmente deixa o Brasil: quem tem dinheiro para comprar na Daslu, e "comprar" aceitação entre "povos melhores" (vã esperança, mas é o que se faz, fazer o que)
A velhinha obviamente não tem dinheiro, poder, ou qualquer coisa que o valha, exceto aquele pedaço pequenininho que temos dentro de nós que não podemos vender, dar jamais.
Nesse sentido, sim a frase podia tomar um rumo perigoso: a maioria deste povo brasileiro não pode deixar o Brasil, não podem comprar vida melhor lá fora.
Vamos fazer uma comparação com o Katrina.
Vide que a grande maioria das vítimas eram pessoas negras e de pouca posse. Na coluna de Helio Scharztman "Alibi de Deus" dá para a gente parar de pensar em coisas absolutas como "castigo Divino", Zeus invocando seus raios, etc..
Essa figura no entanto permanece muito na nossa cabeça, nos faz pensar "vejam só o pais mais poderoso do mundo também pode ser ferido", quando diferente de 11 de setembro foram os negros pobres que pagaram o pecado. Já ouvi coisas como "porque elas escolheram morar lá naquele lugar?", como se pudessem escolher onde morar.
Essa frase tem o mesmo efeito. Colocamos todos no mesmo patamar de poderes, enquanto que na verdade não temos todos os mesmos poderes. Torna-se injusta com quem não pode fugir do Brasil, colocando um injusto peso extra sobre pessoas que já estão lutando silenciosamente para fazer do lugar onde moram um lugar melhor por falta de opção.
Como a velhinha não temos como fugir daqui do Brasil. Mesmo quem pode fugir é ilusão. Não aceitos completamente aqui, não aceitos lá fora. Qualquer sugestão de fuga na verdade não é opção, é uma omissão. Esse ditado é infeliz por conta disso e não por conta de qualquer época que tenha sido usado.
O fato é que muitos pensam mais que não vale a pena, Calm... até mesmo você ao comentar que entrou no programa de proteção, outros que ela perdeu tudo.
Não é uma questão de amar, deixar, mas do que deve ser feito?
Patriotismo é algo muito curioso. Nesse formato da frase pode te induzir a aceitar apenas aqueles que ficam a seu lado, mas vê com nariz torcido alguém que avise "olha por aí não é uma boa". A velhinha é uma das que tão fazendo o possível mas que olhamos torto porque só vemos o "prejuízo". Achamos "errado" mesmo ela tendo se esforçado. Diminui-se-lhe o esforço.
Atravancamo-nos uns aos outros. Começamos a odiar uns aos outros porque achamos que o outro atrapalha. Gostaríamos que o outro fosse logo embora daqui para que possa-se fazer o que acha certo sem que atrapalhem.
É um longo caminho para que paremos de atravancar os passos uns dos outros. Esse tipo de frase não ajuda: só piora os ânimos como pode ver. Porque faz pouco do esforço silencioso de quem já faz, porque não inspira pessoas que nada fazem a fazer (antes ficam bravas).
É uma frase que não seduz, antipática, e por isso não funciona, com aqueles que já estão fazendo algo. (isso me lembra rosenritter em Ginga Eiyu Densetsu)
E no entanto, pelo seu teor absoluto, pela promessa de ordenamento ela fascina as pessoas desesperadas por ordem. Ordem que elas acham não serem capazes de construir sozinhas, muito menos que outros ineptos consigam já que só bagunçam.
Pode-se não gostar racionalmente de ditadura, mas no fundo emocional todos anseamos por ela, na forma de heróis que nos salvem de nós mesmos, que tomem as rédeas de nossas vidas e nos digam o que é o melhor a fazer. E que ponham ordem.
Esse é o perigo que todos corremos com alguns anos de "desordem". A época militar se torna mais nostálgica, romântica, ordeira. Mas essa ordem não vale nada: continuamos crianças sob tutela de um pai, sem nunca ousarmos andar sozinhas, errarmos sozinhas, fazer nossas próprias escolhas. Por isso que ao sairmos da tutela só fazemos bagunça. E por conta disso, os pais acham lícito retomar de novo o controle da vida dos filhos.
Outros se juntam e dão uma sensação de propósito, mesmo que individualmente não tenham definido propósito nenhum. Alguém pensou.
Pensem em termos de Humanidade e isso se torna uma tragédia.