Amon_Gwareth
Paragon
mas não estamos apresentando um motivo para a cultura indígena não ter sido disseminada na brasileira? temos as 3 maiores civilizações ameríndias, que foram aniquiladas, mas ainda hoje exercem forte influência em países latino-americanos de língua espanhola. existe uma diferença básica que justifica isso: a capacidade de registro de tradições/valores além do oral-hereditário.Aqui eu discordo. A influência indígena no brasileiro é um traço forte sim. Só não é mais pq diferente do negro, do judeu e do branco, o indio foi aniquilado, morto em suas tribos e enormes troncos culturais dos mesmos desapareceram com eles, afinal, toda a tradição e cultura no indio brasileiro é passada oralmente, se o indio não sabe falar portugues e é morto antes de pensar em tentar passar algo para o branco é claro que a cultura dele ficará desconhecida.
Na questão do banho, tudo bem, é naturalmente indígena mesmo. nenhuma cultura simplesmente morre. existe o período de dialética entre culturas, mesmo no caso do brasil, onde os índios foram basicamente aniquilados. esses elementos pequenos de fato foram passados.Mesmo assim, vários habitos brasileiros são de origem indigena. O banho diário é um exemplo, o banho de mar, o consumo de raízes como a mandioca, inumeras técnicas ribeirinhas para pesca de peixes entre varios outros elementos.
o próprio navarro indica a existência de uma ampla utilização de nomes indígenas em parques, bairros, rios, etc. os bandeirantes, quando "invadiram" são paulo, não estavam preocupados em impor uma cultura, mas sim com as riquezas daqui. não houve esforço racional para renomear territórios como aconteceu, por exemplo, no nordeste. mas isso não significa, também, que os bandeirantes estavam dispostos a aceitar novas culturas. historicamente falando, o contrário é verdade.Em São Paulo existia uma linha de pensamento que afirmava queo paulista era um povo tão emprendedor e bem realizado no Brasil exatamente pela mistura índio x judeu x bandeirante, e que esse "DNA" mestiço que fez do paulistano povo que é. Não defendo essa idéia, mas ela existiu por muito tempo no imaginário sociológico do paulista, só ver, como indicado no texto, a quantidade de nome indígena na nossa capital, além do próprio nome da cidade, que é São Paulo de Piratininga.
ok, não vou entrar no mérito de avaliar se as micro-relações sociais entre determinados grupos humanos são complexas ou não. a questão em que estou atento é: até que ponto essas formas de transmissão atingiram o povo brasileiro. uma análise em um nicho indígena é uma análise em um nicho indígena. A proposta é que os indígenas utilizaram esses mecanismos difundidos em suas sociedades para implantar valores na nascente cultura brasileira?Quanto aos índios não terem uma cultura bem desenvolvida, ai eu discordo ainda mais. Levi-Strauss, Florestan Fernandes, tantos outros passaram a vida estudando a complexidade cultural desses povos... O índio tem uma forma de concretizar sua cultura e de transmitir ela que é muito diferente da nossa, por isso as vezes ela escapa aos nossos olhos.
Err...mas não é o Brasil um país ocidental? Não digo somente geograficamente, mas em todos os aspectos.Concordo com o Felagund. Pra mim inferiorizara cultura indígena é reminiscência de discurso colonizador além daquela velha noção ocidental de civilização superior, cristã, bla bla, coisa que vem do helenismo, da latinidade, da cristandade. Enfim, o Ocidente que deseja levar sua civilização, ou melhor, exercer domínio não só através da ocupação e exploração econômica mas também pela submissão da cultura.
Por partes:Os sistemas mítico-religiosos são mais simples, menos teologizados, unificados e abstratos porque a 'história religiosa' desses povos segue um ritmo diverso dos ocidentais. O Ocidente, a partir do Oriente Médio, Índia, Rússia e Europa, foram um terreno fértil de diversos povos autóctones sendo subjugados por povos nômades que ali se estabeleciam e realizavam sincretismos inconscientes, misturas e trocas simbólicas, interpenetração de ideias e mitos, troca de valorações religiosas e rituais etc. Isso vai gerando certos campos, certos escopos centrais, universos religiosos que não só possuem vitalidade própria como preparam o caminho dos grandes reformadores que irão engendrar as grandes sínteses, reformas, revalorizações, unificações teológicas e filosóficas que criarão as grandes religiões universais.
1) O catolicismo, base da religiosidade brasileira, não é amplamente conhecido por ter feito uma complexa relação de troca com os mitos indígenas
2) Se os mitos indígenas sobreviveram, foi numa mutação entre crenças populares portuguesas, indígenas e africanas, resgatados essencialmente e intencionalmente no romantismo brasileiro
3) As culturas asiáticas possuíam formas de escrita, que é a base oriental e ocidental para análise da história, consolidação de culturas, e tudo mais
4) Na tua crença, de que símbolos e rituais representam algo Per Se, sem que uma complexa necessidade de contextualização-dedução exista, não me cabe discutir.
Não é questão de classificar como inferior ou superior. Acima do fato de permaneceram na tradição, eventualmente a história chegaria. E chegouNas Américas isso não ocorreu. Principalmente no Brasil nossas tribos viveram isoladas de outros complexos culturais e as únicas trocas simbólicas e influências culturais que recebiam vinham de seus irmãos mais próximos e isso vai gerando um escopo religioso bem mais aparentemente uniforme ainda que vivido de forma mais ou menos densa de acordo com a índole de cada um. Esses complexos simbólicos unidos culturalmente e simbolicamente caóticos nunca precisaram, até pela simplicidade de sua história (não tendo, por exemplo, suas ideias de tempo sagrado sido estupradas por grandes catástrofes históricas que poderiam ser interpretadas como escatologias), de grandes reformas e unificações, nem de maior aprofundamento psicológico e metafísico. A 'inferioridade' dessas culturas está na sua fidelidade aos tempos primitivos, na sua permanência na tradição.