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Apenas mais um dia

abylos

USS Voyager - NCC-74656 - Classe Intrepid
Usuário Premium
"Mais uma tarde, mais um dia escolar terminando na mesma rotina...” Assim pensava Lidia enquanto caminhava lentamente através do pátio da escola para os portões. O pátio é forma um “L”, com a parte de trás, que leva as escadas para as classes, coberta e a parte da frente, próxima aos portões aberta. Essa disposição colabora para aumentar a sensação de liberdade ao se aproximar dos portões no final das aulas a cada dia. “Mais um dia vencido com sucesso.”, pensou ela. Embora o sucesso a que Lidia se refere muito provavelmente não é o sucesso que a maioria pensa, que seria copiar a matéria, conseguir aprender o que foi passado nas aulas, tirar todas as duvidas com os professores, se divertir no intervalo e etc. Não. Para Lidia, sucesso tinha um significado muito diferente. Para ela, significava estar com os ossos inteiros, sem olho roxo e com o cabelo sem danos...

Mas ela havia se precipitado ao imaginar que o dia escolar havia acabado. De repente, passos apressados atrás dela e um pé que voa em direção as suas costas. Mas anos de luta a deixaram preparada. Conhecia aqueles passos como os seus próprios e, um segundo antes do pé acertar em cheio a suas costas, o que a deixaria pelo menos com uma costela quebrada, moveu o corpo para o lado, desviando as costas do golpe e, usando a alça solta da mochila, enganchou o pé da atacante. Então, com um giro, aproveitou o próprio impulso da outra menina para lançá-la com tudo no muro do lado dos portões. A outra menina, Carol, inimiga mortal de Lidia, só não ficou pior porque a sua mochila estava nas costas e absorveu a maior parte do impacto. Porém, a um custo alto. Pelo barulho, ela com certeza precisará de alguns materiais novos...

Lidia não esperou pra ver o resultado do seu golpe, mas correu para os portões antes que o inspetor chegasse e ela levasse outra suspensão. La fora, duas amigas dela esperavam aflitas e também empolgadas com a amiga, com medo de entrar na escola para ajudá-la, mas incapazes de se afastar por completo e deixá-la totalmente sozinha.

“Mano, essa foi da hora!” exclamou melissa.
“Se safou na boa, heim?” disse Joana.
“ninguém se mete comigo sem pagar o preço”, respondeu Lidia, de certa forma, orgulhosa de seu feito. Mas sempre havia uma parte dela que se perguntava por que precisava ser daquele jeito. Porque ela não podia ficar um dia na escola sem brigas. “porque quem tem personalidade forte sempre arruma inimigo” respondeu pra si mesma, a fim de calar aquela voz chata que tentava sempre estragar os seus momentos de triunfo. “Bora, antes que o Toninho vem espiar aqui e arrume treta pra gente!” E as três andaram rapidamente para o ponto de ônibus, as duas amigas ainda fazendo comentários empolgados sobre o ocorrido. Mas Lidia já estava longe, pensando que dali a meia hora chegaria em casa. Ela odiava ter que estar alerta o tempo todo, esperando ataques das suas inimigas conseguidas após anos na mesma escola, mas preferiria estar aos pés de todas elas, com braços e pés amarrados, sendo chutada e surrada, do que aonde ela estaria em breve. Pelo menos as meninas da escola tinham motivo pra odiá-la, pelo menos elas deixavam bem claro que queriam vê-la morta. Com ataques de surpresa ou não, havia certa sinceridade na inimizade com aquelas meninas que fazia com que Lidia nem tentasse fazer as pazes... Pois sinceridade é algo precioso pra alguém quando se cresce envolta em mentiras. Sim, mentiras... Deviam ser mentiras, pois como pode alguém dizer que te ama e lançar uma chaleira cheia de água fervendo na sua cabeça? Como pode alguém dizer que quer o seu bem e chegar em casa totalmente bêbado e sair distribuindo chutes e tabefes onde pegar? Alem de acabar com a renda da família, ainda espancar quem for burro o suficiente de ficar na frente? Isso quando volta pra casa, quando não passa dias sem aparecer. Não, isso não é amor... Mas diziam que era, e para Lidia, isso doía mais do que qualquer surra que ela levasse na escola.
No momento em que pensava nessas coisas e suspirava, voltou a ouvir a conversa das amigas e melissa dizia: “E depois tapa a boca dela com fita e só fica olhando o desespero da bicha. Hahahahahaha. Né, li?”

“Oi?”
“Ih, ela foi pro mundo das sombras de novo” Era assim que chamavam quando Lidia se destra ia e parava de prestar atenção a conversa. Nem podiam imaginar o quão perto da realidade estavam.

“Foi mal, gente” conseguiu dizer Lidia com uma voz relativamente calma, mas o que queria mesmo era gritar com todas as forças. Nesse momento, tinha raiva das amigas. Como elas podiam ser tão cegas? Não podiam ver a dor em seu olhar, o desespero, a solidão? Não, não podiam. Mas Lidia sabia que conseguia esconder bem seus segredos por trás da fachada de rainha da escola. Se elas não viam, era porque ela não queria que vissem, que soubessem como ela era na verdade frágil. Mas mesmo assim, não podia conter a raiva das amigas que falhavam em captar a verdade por trás da sua mascara. E por causa dessa raiva que tinha das amigas, que nunca lhe fizeram mal e sempre a apoiaram, Lidia tinha também raiva de si mesma, por ser tão egoísta e se permitir ter raiva delas por coisas que elas não tinham culpa alguma.

Nesse momento, o ônibus fez a curva na rua da casa dela (ela não se lembrava de como entrou no ônibus nem de ter pagado a passagem) e a raiva cedeu lugar ao desespero e tensão. Lidia não sabia o que a esperava em casa, e preferia não pensar. “melhor não sofrer por antecipação” disse a si mesma. Despediu-se das amigas e desceu do ônibus, a cada passo a tensão aumentando, seu coração frenético como alguém que acaba de levar um susto. Mesmo assim, caminhou lentamente até o pequeno portão branco que levava ao seu l... não, não podia chamar aquilo de lar. Lar é aonde nos sentimos queridos e onde podemos relaxar e sermos nós mesmos. Lidia não podia ser menos ela mesma em nenhum outro lugar. Suspirou mais uma vez, apurou os ouvidos e se aproximou da porta.

“TA VENDO! É POR ISSO QUE EU DOU TUDO LA NO ZÉ MESMO!” “PORQUE EU VOU TRAZER GRANA PRA SUSTENTAR VAGABUNDA?” “HEIM, SUA VADIA? REPONDE!” Lidia encolheu ao som dessas palavras, tentando imaginar a cena que iria ver ao entrar em casa, mas um ponto de alivio apareceu dentro dela. “pelo menos dessa vez ele não ta bêbado” pensou. Mas antes de entrar achou melhor escutar mais para saber como deveria se portar ao abrir a porta. “V-vadia? O que eu fiz pra que você me chame de vadia?” A voz vinha baixa, quase um murmuro, uma suplica de alguém que não tem mais forças dentro de si. E Lidia odiou mais ainda sua mãe. “mano, porque você tem que ser tão fraca? Enfia uma faca logo nesse desgraçado!” “DO QUE MAIS EU DEVERIA TE CHAMAR? CHEGO EM CASA E NÃO TEM NEM UM LANCHE PRA EU COMER!” “VOCE VIVE PEDINDO PRA EU CHEGAR CEDO EM CASA, E PRA QUE? PRA ENCONTRAR VOCE TODA DESLEIXADA? E NEM SEI PORQUE, JÁ QUE COMIDA NÃO FEZ!” “E ESSE SAPATO? TA AQUI HA SEMANAS!” berrou o pai de Lidia. “Como você pode saber, seu bebum maldito? tem tanta cachaça na cabeça que não ia ver nem se o sofá tivesse de cabeça pra baixo” pensou consigo.

"O QUE?? TA CHORANDO?? NÃO AGUENTA A VERDADE, É?” segui-se o barulho de algo quebrando na parede. “VEM AQUI QUE EU VOU RESOLVER ESSE CHORO AGORA!” Foi a gota d’água. Lida empurrou a porta e entrou em casa, pronta pra agarrar o pescoço daquele que se chamava de pai e apertá-lo até os olhos pularem fora. Um ódio imenso a deixava até anestesiada e parecia que ia explodir de tanta raiva. Deu um passo, dois em direção do pai, mas então, como sempre acontecia, sentiu sua coragem desaparecer, como se a fraqueza da mãe a tivesse contaminado. Talvez fosse o olhar alucinado do pai, que sóbrio parecia mais louco do que bêbado. Ou talvez fosse algo dentro dela que sabia que, no dia em que atacasse o pai, teria que sair de casa. Ou talvez ela tivesse mais medo do pai do que das inimigas, ou ainda talvez fosse outra coisa que ela não conseguia definir, mas a verdade é que ela ficou lá parada, olhando o pai como uma criança pega fazendo travessura. E nesse momento, o braço do pai se movia rapidamente em direção a face da mãe.

E naquele segundo, o que foi motivo de alivio há pouco, virou agora motivo para uma dor nova, algo que Lidia não esperava ter. Ela acreditava ter sofrido de tudo já na vida, apesar de seus meros 15 anos. Não foi o som, tão familiar a essa altura, nem a cena, que se repetia mais uma vez, nem o olhar da mãe, desamparada e derrotada. O pai dela gritou com a mãe. De novo. O pai dela bateu na mãe. De novo. Porém, havia algo novo naquele dia. Ele estava sóbrio. Naquele momento ele estava em total controle de suas faculdades(ou assim Lidia pensava). E, totalmente são, ele bateu na mãe.

Na medida em que aquela dor nova corroia seu já mutilado coração, Lidia se deu conta de que sempre viu na bebida uma desculpa para o comportamento do pai. E que sempre teve a esperança de que, sem a bebida, ele fosse um marido e pai diferente... Essa esperança havia sido agora destruída. E, por ter essa esperança, Lidia se odiou. Por ser tão fraca quanto a mãe, Lidia se odiou de novo. Por não conseguir defender a única pessoa que tentou ajudá-la de alguma forma em toda a sua vida, ela se odiou mais ainda. E ela odiou o mundo por ser um lugar tão cruel que permitia que vidas como a dela existissem.
Então, ela pensou em dar fim a tudo, mas sabia que não conseguiria. E, por isso, Lidia se odiou com mais força, se odiou mais do que odiava seu pai por ser alcoólatra e não se importar com a família, mais do que odiava a mãe que permitia esse abuso por parte dele, mais do que odiava suas inimigas, que detestavam tudo nela, se odiou mais do que achava possível odiar alguém...

Mas o dia não havia acabado. Antes que ela pudesse ir para o quarto tentar se isolar da cena de horror que acontecia na sala, o pai a viu e avançou na direção dela. “lute, desvie, ataque, você é a rainha da escola, po!” gritava Lidia dentro de si. Mas algo naquela figura ameaçadora a paralisava, e tudo que ela pode fazer foi colocar os braços na frente do rosto e deixá-los roxos e sangrando em seu lugar...

Um, dois, três safanões e ai um empurrão e ela estatelou no chão, lagrimas molhando sua face. ”não chora agora, sua burra!” pensou consigo mesma. “A CRIA DA VAGABUNDA CHEGOU!” rosnou o pai. “ACHOUQ EU IA FAZER O QUE, VINDO INTERFERIR EM CONVERSA DE GENTE GRANDE?” “SE NÃO QUISER LEVAR MAIS, NÃO CRESÇA PRA FICAR IGUAL À VADIA DA SUA MÃE!”. E o pai saiu da sala batendo a porta. A mãe estava ainda no mesmo lugar e lentamente colocou a mão no rosto recém batido. Parecia atônita, quando Lidia olhou pela fresta entre os braços. Ela não ousava baixá-los ainda. “por que, por quê? Eu é que preciso de ajuda, porque você é tão fraca que me faz querer te consolar? Pais deviam consolar os filhos, não o contrario” pensou Lidia, e sentiu ao mesmo tempo dó e raiva da mãe, então raiva dela mesma por ter dó de uma fraca, e o ciclo de emoções em ebulição se manteve, até que ela estava totalmente esgotada, enquanto se levantava e ia para o quarto ainda com os braços na frente do rosto, e das lagrimas que rolavam soltas, incontidas, como uma represa que se rompeu. Enquanto dava os pequenos passos em direção ao quarto e a cama, Lidia chorou todas as lágrimas. Por todas as vezes que o pai bateu na mãe, por todas as vezes que o pai bateu nela e por todas as vezes que se sentiu fraca, indefesa, diante dele. Ali, a última bolha de esperança havia estourado. Não havia saída. O pai era assim mesmo, sua mãe havia escolhido o homem errado para se unir e agora ambas pagavam o preço. A bebida não podia mais pagar o pato pelo monstro que havia ajudado a gerá-la. E, por ter os genes desse monstro, Lidia se odiou mais uma vez. Mas não foi um ódio como os outros... Foi mais como uma aceitação. Claro que, amanhã, ela iria brigar na escola. Claro que ela iria tirar sangue, se pudesse, das suas inimigas... Afinal, ela era cria de um monstro com uma vadia fraca, o que mais ela podia ser a não ser um monstro e uma vadia? E, se consolando na impossibilidade de ser melhor do que era, se é que isso é consolo, Lidia se deitou para tentar dormir.

Antes de dormir, uma pequena voz dentro dela ainda ecoou, Lidia não soube dizer como: “porque eu? Deus, porque alguém como eu deveria existir?”
 
Pessoal, como eu faço pra deslocar a primaira linha de cada paragrafo pra direita?
tentei diversas formas sem sucesso :P
 
o seu texto deveria se chamar estereótipos ideias, heheheh. do amor, do lar, do pai, da mãe, da boa menina.

apesar do tom coloquial ñ só das falas mas do próprio texto (oq acaba revelando mto sobre o narrador/autor), eu sugeriria apenas uma revisão textual para correção d pequenas falhas.

Pessoal, como eu faço pra deslocar a primaira linha de cada paragrafo pra direita?
tentei diversas formas sem sucesso :P
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