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Anglo Saxões e Tolkien



OsAnglo Saxões como influência na mitologia tolkieniana




Aideia de punição dentro da mitologia tolkieniana parece-me comoalgo que também sofreu evolução. Se pensarmos que durante o GrandeOcaso as consequências foram de um tipo e séculos depois durante aGuerra do Anel foram totalmente diversas. Primeiro é necessárioentender o que é uma punição. Esta pode ser entendida como algoque está no nível da esfera física, verbal ou psicológica. Sendoalgo que varia de grau e intensidade de acordo com o crime cometido ea pessoa envolvida. Dentro do aspecto evolução dos costumes, apunição e a violência são também plausíveis de uma análise einterpretação de direitos e moral envolvidos. No entanto, estes sãoconceitos modernos e que vão além dos instintos primários ebásicos da humanidade a fim de obter uma dita sobrevivência social.
Tomandocomo base os antigos povos anglo-saxões descendentes mais diretosdos ingleses do que quaisquer outros povos, o seu sistema de punição,controle e lei são estritamente severos. A justiça deveria seraplicada de modo rápido, direto e eficiente de modo a não sepermitir uma atitude de revelia. Em uma sociedade na qual a guerraocupava o centro das preocupações e funcionava de base para aeconomia e estabilidade social, os castigos corporais e monetárioseram formas bastante diretas de apontar ao indivíduo que sua atitudehavia sido abusiva dentro do meio social. Homens que valorizavam suaforma física de modo a aparecer ameaçadores e conquistadores viamnos castigos mutilatórios sua desonra estampada de modo crítico enotável a todos. Neste contexto, significava muito ser bem sucedidoem uma persuasão, coação ou corrupção dos indivíduosresponsáveis pela lei e aplicação da mesma. Fossem estas por meiosde tesouros ou mulheres a lei poderia ser contornada por muitos queoferecessem aquilo que se almejava.
Mas,mais importante que a corrupção, residia o seu oposto: a palavra.Esta ocupava uma posição de destaque em um povo muitas vezes vistocomo bruto e insociável. A palavra dada e a promessa cumpridaresidiam como os mais altos valores para reconhecer a moral e nobrezade um indivíduo. Quando alguém se empenhava pela palavra por algoaquilo era algo que não se voltava atrás, por quaisquerjustificativas ou acontecimentos. A partir dos doze anos, qualquer umpoderia vir a ser julgado por crimes considerados maiores pelosjuízes das cortes. Esta era uma idade entendida como o abandono dainfância e o momento no qual todos passam a ter disciplina ejulgamento social. Sabemos hoje, que esta é a entrada naadolescencia e que muitos destes não tem a menor noção deresponsabilidade e cumprimento da palavra, tendo muito ainda queamadurecer.
Maisdo que um ato criminoso por si só como é visto hoje – algo deagressão e violação do humano – era visto como uma deslealdadecontra a comunidade. Em uma época no qual tantos povos eram vistocomo conquistadores, a união e contato dentro da própria comunidadeera fundamental para a inclusão do indivíduo socialmente e suamanutenção de contatos humanos: sobrevivência social. Dentro destaera necessário a administração das hierárquias sociais dejulgamento e punição dentro de cada agrupamento social ou vila.Dentro dos Condados tínhamos os Hundreds – subdivisões daqueles –que administravam diretamente as questões vitais das comunidades eagrupamentos menores. Era dentro das subdivisões dos Hundreds queexistia a hierarquia para divisões da corte e a correspondenteresponsabilidade de julgamento para cada uma. Estes organizariam umalista com os crimes de maior prioridade e importância e deveriamaplicar as punições correspondentes e necessárias – inclusive oexílio. O interessante é que neste momento a punição poderia seraplicada não apenas ao indivíduo autor do ato, mas talvez ao seupróprio Kin – espécie de entendimento para o termo comunidade –caso a corte entendesse que houve cumplicidade da execução docrime. O rei e as suas cortes deveriam preocupar-se não apenas emaplicar a execução da lei, mas principalmente em ser justo eaustero. Em uma sociedade na qual a palavra e a confiança eramsedimentadas na relação com o próximo trair a lealdade com umjulgamento ímpio ou exagerado poderia desprestigiar a autoridadereal frente à população e ao seu julgamento.
Sepudéssemos escolher quais os problemas de maior relevância para osreis antigos, sem dúvida estaríamos falando da relação entre oscrimes e a violência com a sua consequente punição. Com a ascençãodo cristianismo dentro, inclusive, das sociedades anglo-saxãs, estavisão de mundo passou a se conectar ainda com as questõesreligiosas e com a exigência cristã de ser vigários de Cristo naTerra. Novamente, o julgamento e a punição eram vistos como maisdelicados do que o crime em si. Se estes fatores, sobretudoreligiosos, não fossem tão importantes talvez a aplicação depenas mais duras e o uso do ferro teria acalmado as estradas e asexecuções. As penas de morte, apesar das demais considerações,era extensamente aplicada nos indivíduos de todas as idades. Um dosreis saxões, Athelstan, é retratado na Crônicas dos Saxõesdesculpando-se com os seus conselheiros por ter de aplicar tantaspenas de morte a jovens. Este mesmo rei, inconformado com a idadeprecoce com a qual tantos estavam sofrendo punições, passou paradezesseis anos a pena de morte. Apesar da aplicabilidade das leissociais ocorrer apenas a partir dos doze anos, há relatos em massade crianças com até mesmo oito anos sofrendo as penalidades deadultos. Seja por serem autoras, co-autoras ou cúmplices na execuçãoou planejamento dos crimes.
Muitosdiscutem que as autoridades usavam de crueldade contra os criminosos,mas também podemos ver o quanto de iniquidade estes criminosospoderiam vir a aplicar se tivessem mais chances de atuação social eliberdade. Hoje, os direitos humanos julgam que todos têm direito aum julgamento justo e livre de favorecimentos ou desfavorecimentossociais – com justiça. No entanto, vemos que dia após dia aviolência cresce e multiplicam as mortes e assassinatos. Poderíamosentão dizer que uma suavidade social poderia estar ajudando a formarmonstros? Bom, mas isto é tópico para outros artigos e outrasdiscussões. Vou agora relacionar a apresentação acima com algunsmomentos que julgo importantes para ilustrarmos estas questõesdentro do universo de Tolkien.
Porque não começar pelo próprio Ocaso de Valinor? É, eu sei quepoderíamos dizer que é a ideia de primitivo dentro da sociedadetolkieniana. Mas gostaria de retroceder ainda mais. Retroceder para aQueda de Melkor. Eu, por muito tempo, nunca entendi porque Melkortinha sido tão brutalmente exilado – não tanto como depois ele ofoi. Eu sempre pensei de uma forma um tanto liberalista: poxa, se elequer assumir o poder, temos que aceitar uma boa disputa e competição.Afinal, se Ilúvatar não estava conseguindo segurar a peteca, eleteria que aprender com a competição. Sim, eu sei, Melkor tentou econseguiu corromper muitos e desestabilizar a ideia e vivência deequilíbrio. Mas, então, em todas as sociedades humanas já tivemosmomentos parecidos. O que importa é o poder e as disputas fazemparte do pacote. Mas, depois de um tempo, começei a conectar todosos eventos desastrosos da Terra-Média com a atitude primeira deMelkor e assimilei o quanto aquele atitude primeira desestabilizou atudo e a todos. Mesmo em um primeiro momento existindo o entendimentode um desejo de revolução de uma nova atitude com relação a umanova dominação social, afinal o que seria da mobilidade social senão houvesse substituição de líderes e posições.
Adecisão da expulsão e exílio de Melkor podem parecer algo de tomdefinitivo demais, no entanto foi a decisão mais acertada parasilenciar uma possível pior revolução e arrebanhamento de maisgente para dentro de uma possível destruição e violência contrademais indivíduos. Pensando como a sociedade anglo-saxã, foi umaquebra de lealdade contra o grupo e os ideais em comum. Sendo umaatitude de modo tão intenso e com tão grandes repercursões queteve como consequencia merecida a sua completa exclusão e isolamentode contato com os semelhantes. Se foi uma atitude dura?Provavelmente, mas a consequencia de uam exposição social seriamuito maior para uma rebelição em massa por exemplo. Os ideais deMelkor feriam e agrediam a muitos, portanto quaisquer atitudespopulares que venham a ter tal consequencia considero como algomaligno e digno de ser banido – Ilúvatar, pelo jeito, pensou assimtambém.
Amaldição sofrida pelos elfos talvez seja o fardo eternamentecarregado por uma raça que não consegue se redimir do seu passadode sombras e atos violentos. Dentro das ideias punitivas dos saxõesum exílio e maldição eternos para os elfos talvez seja encaradocomo uma atitude por demais dura. Seria a pena de morte uma puniçãomais branda por desafiarem os deuses? Os elfos, com sua pureza einocencia, foram talvez condenados a uma punição maior que o SenhorMelkor.
Oque dizer então da auto-punição sofrida pelo próprio Gollum? Pormais de quatrocentos anos ele passou os seus dias isolados e sob ainfluencia que o Um Anel lhe trazia. Isto por si só, então, deveriaser uma punição digna de exclusão e isolamento. No entanto, anoção de castigo e punição na Terra-média evoluiu tanto quantoaqui. Portanto o que inicialmente era entendido como castigospuramente fisicos ou corporais, evoluiu para um conceito de castigosmuito mais voltados para o lado moral e psicologico. Entretanto,havera punição maior do que auto aplicar-se? Talvez sim e talveznão, mas o ser humano parece ter evoluido para uma tendencia a seauto mutilar e sofrer em silencio em todas as sociedades ao longo dosseculos. Podemos dizer então que essa é uma tendencia que começouno meio externo e evoluiu para a interiorização psicologica?
Citeidois exemplos, o caso de Melkor com os elfos e em seguida o caso deGollum. Poderíamos concluir dizendo dos próprios homens na TerraMedia? O homem de Gondor no inicio dos tempos era aquele que cedia àstentações e desejos, o homem da época de Aragorn era aquele queresistia e se auto punia como forma de resistir às tentações. Mastalvez a maior punição dos homens tenha sido serem abandonados naTerra Media sós e entregues ao próprio destino sem o auxiliopiedoso de nenhuma raça, nem mesmo para lhe oferecer uma possíveleducação e inteligencia superiores. Um castigo que não passou pelaagressão, mas que atingiu diretamente o psicologico e o emocional.Uma pena mais forte?
Apesarde falarmos em evolução dos costumes e das penalidades socialmenteaplicadas, ainda temos como base em nossa sociedade grande partedaquilo que foi idealizado pelos chefes saxões. Seja na facilidadecom a qual alguém é libertado do sistema prisional oferecendocompensações ao sistema ou à vitima, seja nas agressões extrasistema que os presidiários recebem como forma de aplicar uma liçãoou ainda no temor que temos de sermos capturados pelo sistema e nãosabermos nosso futuro. Muito do que foi elaborado naqueles tempostrnaformou para sempre as questões de lealdade social e cumplicidadedentro de um sistema.
 

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