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Alice

Edu

Draper Inc.
Quando a primeira gota de chuva tocou, sistemática, o chão de terra seca, após escorrer, perambulante, por todas as folhas da árvore, as pequenas formigas souberam que era chegado o verão. Alegraram-se pela perspectiva de boas colheitas e, felizes, morreram-se todas logo na primeira chuva. O formigueiro não era um lugar seguro, logo atolou-se em água, levando quem esperava esperança. Do outro lado, do de fora, espiava Alice. Como que não dando importância, mas sabendo o destino de todas as formigas do mundo, ponteava com ressentimento seu coração. Lhe doía os olhos de tanto tentar vê-las não-morrendo, por algum acaso sobrevivendo ao estapafúrdio banho de sobrevivência que, embora garantisse boas colheitas, não assegurava agricultores.

E apesar de suas retinas se cansarem de tanto observar o formigueiro se desmanchando, quando a chuva passava e novas formigas vinham de lugares distantes habitar a terra encharcada era bom pra ela vê-las reconstruindo tudo, cavando novos túneis e erguendo outros salões de terra embaixo do chão. E Alice sabia, embora não se desse conta do porquê, que tudo aquilo era necessário, que era preciso chuva para que o formigueiro nascesse de novo, porque, se assim não fosse, se só existisse o sol, por exemplo, ele iria ressecar com o tempo e se tornaria quebradiço, e a terra seca nada mais seria além de inabitável para as pequenas formigas.

Enquanto a chuva caía o chão bebia suas gotas, e as árvores, plantas e flores sugavam de dentro dele aquilo que era necessário para a sua própria sobrevivência — e tudo estava bom porque estava molhado, tudo estava bom porque era verão e nenhuma preocupação pesava demais nos corações dos homens. Nem nos das formigas, contanto que não chovesse muito. E, enquanto os dias passavam, Alice continuava atenta às menores coisas à sua volta, aos passos curtos dos insetos, ao andar atarefado dos esquilos, aos vôos rasantes dos pássaros. Nada passava desapercebido aos seus olhos, nada era pequeno demais para que não fosse importante para ela, nem grande demais para que não houvesse para ele um lugar dentro de sua mente.

Conforme acabava-se o calor costumeiro da estação e o avançar das semanas trazia a todos as folhas secas e o vento com cheiro de terra do outono, a natureza que cercava Alice também ia perdendo seu brilho; o verde não saltava mais aos olhos, nem o vermelho das flores conservava-se tão colorido. E quanto mais se aproximavam do equinócio, mais as coisas se tornavam opacas, silenciosas e quietas. E, da mesma maneira, também Alice se acomodova, enrolava-se toda em torno de si mesma e deixava de observar o mundo que a rodeava. Não que ele não tivesse mais importância ou fosse desinteressante demais. É só que, quando tudo ao seu redor deixava de brilhar, Alice ainda conseguia encontrar luz dentro de si mesma.
 
Preciso te falar que gostei muito do seu conto... Tem uma leveza e uma precisão de sentir as pequenas coisas que é cativante.
Parabéns, queria te ver escrevendo coisas ainda maiores.

Abraços.
 

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