Prologo [Revisado]
Estava tão animado... Era uma tarde normal de outono e estavamos juntos... Ela estava sentada no metrô, esperando que chegassemos logo a Estação Baker Street. Sempre quieta e eu gostava de observá-la... Crescemos juntos e comecei a sentir algo por ela. Era tão bela... Ela tinha um olhar sereno em um tom azul-claro muito raro, os cabelos quase prateados, tinha uma voz doce. Eu podia passar o dia todo olhando-a, por todo o tempo. Eu não queria perdê-la jamais... Ela ergueu um tanto a cabeça, olhou-me, ficando com a face rubra, por eu estar observando-a tanto... Deu um sorriso curto e me abraçou.
Finalmente havíamos chegado.... Animado, saí do metrô puxando-a pela mão. Aquela estação era tão diferente! Os ladrilhos com a face de Sherlock Homes estilizada. Valia a pena toda a viagem. Saimos da estação, olhando a imponente estatua de, claro, Sherlock. Olhei a novamente, e percebi que tinha uma sacola em mãos. Éramos jovens... tinhamos 15 anos. Caminhamos juntos, tranquilos, em direção à Regent’s Park.
Tudo estava calmo... uma brisa suave soprava pelo parque, e podíamos ver as folhas cair... Sentamos embaixo de uma árvore, e eu acariciava seus cabelos... Ela ergueu o olhar direcionando-o à minha face, sentando-se de frente a mim tirando uma caixa da sacola entregando-a e me dando um rápido e tímido beijo. Fiquei sem graça por não ter trazido nada a ela. E ao abrir a caixa, deparei-me com uma adaga, com o cabo prateado, com uma cruz templária adornando-a.
Sorri em agradescimento e houve uma explosão... gritos... o céu tornara-se negro... Raios cortavam os céus, num tom rubro. Levantei-me, segurando-a proximo a mim, guardando o presente em um dos bolsos de minha calça. De dentro do lago, um imenso anel de pedra surgia. Comecei a afastar-me, puxando-a comigo para longe daquilo. Instinto de sobrevivência. Alguns ficavam próximos, curiosos quando olho para trás, chamas tomaram conta do interior daquele anel de pedra e dele sairam, queimando aqueles que estavam próximos. Segurei mais forte a sua mão e saí correndo dali. Não olhei mais para trás, apenas queria voltar pra casa. Seguro, com ela. Mas não aconteceu...
(...)
Acordei assustado e suando frio, num sobre-salto, acertando minha cabeça na cama acima no alojamento... Tentava controlar a respiração. Novamente sonhei com aquele dia. Eu ainda não consegui esquecê-la e nem entendo como a perdi. Estávamos juntos, próximos à estação e fomos separados. Ela nunca voltou para sua casa. Peguei a adaga que ela me dera, sempre comigo, embaixo de meu travesseiro. Foi muito util nesses anos de batalha. Passaram-se 10 anos desde aquele dia. O dia que os Portões do Inferno abriram. O dia que a Humanidade tornou-se escrava dos caprichos demoníacos. O dia que percebemos que anjos não existem....
Levantei e caminhei pelo apertado quarto. Uma dúzia de rapazes dormia ali. Anos atrás, eramos apenas jovens comuns. Do tipo que não chamaria atenção na multidão, e teria uma carreira comum, uma família comum, uma vida comum. Hoje somos soldados. Lutávamos por uma causa única. Libertação. Éramos cerca de 150 pessoas e estavamos em um dos poucos lugares “seguros” para humanos. A Abadia de Westminster. Não sabíamos por quê, mas eles não conseguiam se aproximar deste lugar e demarcamos esse perímetro, mas sabíamos que um dia eles iriam conseguir entrar aqui. Seja eles mesmos ou seus servos humanos, que preferiram se ajoelhar.
Tomei uma rápida ducha e me juntei aos outros no refeitório. Sentei ao lado de Victor, amigo e confidente ali dentro, além de ser um dos cientistas de nossa cidadela. Ele era um gênio e junto com o resto do pessoal de pesquisa, inventou armas, armadilhas, ferramentas, tudo para ajudar em nossa luta. Desenvolvemos tecnologias incríveis nos ultimos 5 anos. Coisas que nunca imaginaríamos, se não fosse uma necessidade, alguém disse que o homem evolui muito mais em tempos de Guerra no que nos tempos de Paz e concordo plenamente. Victor observou-me, e falou baixo “Novamente aquele sonho meu amigo?”. Olhei-o e menei a cabeça, concordando. Ele suspirou pesadamente e calou-se, terminando sua refeição e saindo, dando dois tapinhas em minhas costas tentando me animar. Quando ia levantar, senti meus olhos serem cobertos por mãos, macias, suaves, um riso feminino atrás de mim. Soltei as mãos dela e virei-me “Charlotte...”. Perdi em meus pensamentos ao ver aquela bela mulher. Cabelos ruivos longos, em uma trança e os olhos verdes, um corpo que facilmente, fora desse inferno, teria uma vida de luxo como modelo, ou arrasaria corações. Aqui ela era como eu, um soldado. Mas o jeito que ela agia comigo, eu percebia que ela se interessava por mim. Sai de minha confusão de pensamentos ao ouvi-la: “Shay, Shay... por que ta com essa carinha denovo hein? Já sei o que você precisa... vem comigo!” E riu, me puxando pela mão pra fora do refeitório. Ela me puxava pra sala de briefing, onde algumas pessoas nos aguardavam. Anos atrás, eu era apenas um jovem comum, com cabelos castanhos e sonhos. Hoje era um soldado, que lutava pela única causa justa que a Terra já havia presenciado em uma guerra. E nós, nessa pequena sala, tinhamos um mais trabalho a fazer.