Álbuns conceituais
Discos conceituais, como muitos colegas já sabem, são aqueles que têm um fio condutor do início ao fim, seja uma estória, um tema específico, enfim, aqueles discos em que todas as faixas têm relação com o todo, com o tema principal proposto, alguns destes, inclusive, sendo inspirados em obras literárias. Nada mais natural, portanto, que tenhamos a curiosidade de saber qual é o conceito por detrás de cada disco conceitual que gostamos, por isso pensei em abrir este tópico, a fim de que aqui postemos os conceitos daqueles que be conhecemos.
Já que iniciei o tópico, vou postar alguns de que me lembro no momento:
PINK FLOYD – Animals
O fio condutor deste álbum é a crítica ferrenha à sociedade contemporânea, a partir de uma releitura amarga e inclemente do livro "A Revolução dos Bichos", de George Orwell. Waters (então único autor de todas as letras do Pink Floyd) coloca a espécie humana num microscópio e a disseca, separando-a em três classes distintas de acordo com os títulos das três principais faixas do disco, a saber: "Dogs", representando o capitalista selvagem, que só vê o lucro em sua frente. "Pigs (Three Different Ones)", representando os burocratas através de três subgrupos específicos – dirigentes políticos, autoridades militares e instituições moralistas como a Igreja. E "Sheep", representando a grande massa excluída do jogo, destinada a observar tudo de fora, passivamente.
MARILLION – Misplaced Childhood
A temática dominante desta obra-prima do Marillion é a infância perdida, aquela sensação de que quando éramos crianças tudo era mais fácil e sem dor. Para o desenvolvimento desta temática, o álbum nos conta a estória de um homem em profunda depressão por conta de um relacionamento amoroso em declínio e da morte de um amigo próximo. O disco nos transmite uma mensagem sobre a necessidade de renascimento, de redescobrimento da criança que existe em cada um de nós, a partir da idéia de que, na verdade, nossa infância não acaba nunca, mas fica guardada (misplaced) em algum lugar onde nunca procuramos. Dentre os temas específicos abordados, o álbum nos fala sobre solidão e isolamento ("Pseudo Silk Kimono"), sobre a dor da perda do primeiro amor – aquele que achamos que vai durar para sempre ("Kayleigh"), de críticas à sociedade moderna ("Blind Curve part V: Threshold") e mostra até um certo tom autobiográfico, ao abordar a rotina massacrante da indústria da música, que acaba levando à depressão e ao uso de drogas ("Lords of the Backstage"). Ao final do disco o tema avança em um tom eminentemente social também, abordando questões como conflitos e guerras.
DREAM THEATER – Scenes from a Memory
A estória contada neste álbum é sobre um cara chamado Nicholas que procura um psicoterapeuta para tentar descobrir a origem de insistentes pesadelos que vem tendo todas as noites. Em uma sessão de hipnose (regressão), ele descobre que foi uma mulher em outra encarnação, chamada Victoria, vivendo um triangulo amoroso com dois irmãos, tendo sido assassinada por um deles enquanto estava com o outro, igualmente assassinado, num caso típico de crime passional, ocorrido em 1928. O disco começa com a faixa “Regression” e a voz calma do psicoterapeuta iniciando a sessão de hipnose ("Close your eyes and begin to relax...”) e termina com a faixa “Finally Free” e a cura de Nicholas (“When I tell you to open your eyes you will return do the present, feeling peaceful and refreshed. Open your eyes, Nicholas").
PAIN OF SALVATION – Be
Há pelo menos duas linhas conceituais interligadas conduzindo este álbum: a primeira é filosófica, inspirada na idéia de que Deus criou o mundo para tentar entender quem Ele próprio é e de onde Ele surgiu; a segunda é sobre um homem rico que decide congelar a si mesmo até que a ciência encontre a fórmula da imortalidade. Nas palavras de Daniel Gildenlow (vocalista e líder da banda) "O disco lida com a humanidade, Deus e a relação que temos entre fé e ciência".
AYREON – The Final Experiment
O fio condutor deste álbum é a estória sobre uma guerra final devastadora destruindo completamente a vida na Terra, no ano de 2084, tornando-a inabitável, tendo alguns sobreviventes dessa guerra, colonizadores que estavam em Marte e que assistiam enquanto o planeta era destruído, descoberto uma forma de enviar mensagens no tempo, através de telepatia, e na esperança de alterar o rumo dos acontecimentos é enviada então uma mensagem de alerta para o passado, sendo o recebedor dessa mensagem telepática um trovador cego do século VI, de nome Ayreon.
AYREON – Universal Migrator – Parts 1 & 2
Continuação do "The Final Experiment". A experiência falhou e o planeta Terra foi mesmo destruído no século XXII. O álbum conta então a estória dos descendentes daqueles primeiros colonizadores de Marte, que conseguem construir uma máquina, denominada Dream Sequencer, a qual lhes permite visualizar o passado, através de hipnose. Dentro dessa máquina eles conseguem regredir no tempo, voltando à infância e até outras vidas passadas, regredindo mais e mais e chegando até à formação do universo.
AYREON – Into the Electric Castle
Mais uma típica jornada de ficção científica com a assinatura Arjen Lucassen, este álbum narra a estória de oito personagens de épocas completamente diferentes (um hippie, uma indiana, um bárbaro, um 'homem do futuro', uma egípcia, um romano, um highlander e um guerreiro medieval) que se vêem brusca e repentinamente em uma outra dimensão, às portas de um misterioso castelo, sem conseguirem em princípio entender que lugar é aquele e o que estão fazendo ali. Uma voz vinda do céu, então, lhes diz que aquela é uma dimensão diferente, feita de sonhos e medos, e que para eles reencontrarem seu caminho de volta às suas respectivas épocas e dimensões precisarão adentrar os portões atômicos do Castelo Elétrico à frente deles, dentro do qual serão forçados a confrontar seus piores medos, sendo advertidos de que nem todos conseguem sobreviver à traiçoeira jornada dentro do castelo. Ao final dessa difícil jornada, aqueles que conseguiram vencê-la descobrem então que a voz que os guiara era na verdade de um alienígena, de uma galáxia distante, pertencente a uma espécie que criou o planeta Terra e seu povo como um tipo de experimento para que pudessem estudar suas emoções, uma vez que eles próprios haviam perdido a capacidade de senti-las.
AYREON – The Human Equation
Narra a estória de um homem em coma devido a um acidente de carro. Ao seu lado, num quarto de hospital, estão seu melhor amigo e sua esposa, que tentam descobrir as causas do misterioso acidente, já que ocorrera em uma estrada tranqüila, sem problemas na pista e nem no veículo, em plena luz do dia. Paralelamente à trama do hospital, embora conseguindo escutar o que acontece no quarto, o acidentado se encontra em uma outra dimensão, vendo-se imerso em um mundo estranho onde suas emoções, tais como medo, razão, raiva, amor, orgulho, agonia e paixão (emoções estas com a maioria das quais ele nunca se importara) vão se personificando para confrontá-lo com momentos decisivos de sua vida. À medida que se vê confrontado com suas memórias e com as escolhas que fez em cada uma delas, ele vai pouco a pouco se dando conta dos eventos que culminaram no acidente que o vitimou, inclusive aquele que teria sido por assim dizer a gota d’água para esse desfecho, o fato de ter visto sua esposa e o amigo abraçados enquanto passava de carro. E descobre que a única forma de sair do coma é se redimindo dos males que fez, inclusive por julgar mal sua esposa e o amigo. São 20 dias de luta pela vida, a cada dia uma batalha interior diferente, culminando finalmente no regresso de um homem modificado e redimido dos males que praticou.
E aí, pessoal, que outros discos interessantes podemos adicionar ao tópico?
Demétrio.