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Autor da Semana Albert Camus

Kainof

Sr. Raposo
Usuário Premium
Anica passou a manha da pronúncia do nome do cidadão por aqui: Albert Camus.


“Para corrigir uma indiferença natural, fui colocado a meio caminho entre a miséria e o sol”

Nascido no dia 7 de dezembro de 1913 em Mondovi, Argélia, na época colônia francesa. Filho de agricultor e dona-de-casa, Albert perdeu o pai no ano seguinte, quando ele foi convocado e morto no início da Primeira Guerra. Cresceu na periferia pobre da cidade num casebre com o irmão mais velho, a mãe quase surda costureira e lavadeira e o tio, ainda mais surdo e tanoeiro.

Albert Camus teria seguido a mesma profissão do tio não fosse o professor dele de infância, Louis Germain, quem conseguiu para ele uma bolsa de estudos. Camus, mais tarde, dedicaria a ele o seu Prêmio Nobel de Literatura. Crescendo em meio à miséria, onde no entanto abundavam a natureza, as praias e o mar, o sol e as pessoas, Camus jamais queixou-se em seus escritos e anotações autobiográficos das condições de vida na infância na Argélia. Ao contrário, sempre louvou a beleza natural, a inclemência confortadora do sol e a camaradagem da necessidade.

Camus cursou a faculdade na capital, jogou como goleiro no time universitário. Após a formatura, a tuberculose o impediu de seguir carreira como professor. Camus se dedicou então ao teatro e ao jornalismo. O ambiente do futebol e do teatro contribuiriam sobremaneira para suas concepções sobre moral e humanismo, como ele mesmo anotaria em seus cadernos posteriormente. No jornalismo, foi responsável, com um amigo, pela editoração de um jornal de forte cunho político contrário ao governo e defensor da etnia árabe. Filia-se ao partido comunista em 1935 e deixa o partido 2 anos depois por não concordar com a direção ideológica do partido. Ainda na Argélia publica seus dois primeiros livros “O Avesso e o Direito” e “O Estrangeiro”. Funda uma companhia de teatro, mas deixa o país após o Alger Republicaine, jornal para o qual escrevia, ser fechado.

Chega a Paris em meio a certo exotismo de intelectual da periferia colonial, mas já razoavelmente reconhecido no meio por seus livros e por sua atividade jornalística. Após 3 anos de idas e vindas, se fixa definitivamente na França, ocupada pelos alemães em 1943, e toma parte na Resistência. Sua principal contribuição nesse período é a publicação de artigos sobre a liberdade, a defesa da dignidade humana e a incitação do povo francês a resistir a seu opressor. Arriscando a vida publicando e distribuindo o jornal clandestino Combat, do qual era editor-chefe, se tornou uma das maiores vozes da Resistência e da liberdade no mundo. Após 1945, Albert Camus era dos intelectuais mais aclamados da França e seus livros repercutiam imensamente em todo o mundo. Continua liderando o Combat, ao mesmo tempo que trabalha como revisor para seu amigo Gaston Gallimard, dono da hoje mundialmente prestigiada Editora Gallimard.

Durante o período que passou em Paris, Camus conheceu e se tornou amigo de Jean-Paul Sartre, famoso e influente filósofo francês. Suas obras eram muito próximas, suas ideias também, seus objetivos na Resistência idem. Surgiu uma amizade prolífica e de mútua catapultagem. No pós-guerra, Sarte e Camus emergiram como os heróis da nova intelectualidade francesa. Durante dez anos tiveram suas obras publicadas e comentadas e teorizadas juntamente. Camus buscava sempre, no entanto, se afastar de uma afiliação de Sartre: não era discípulo deste, mas contemporâneo, não queria e nem poderia ter sua obra baseada no absurdo categorizada como fazendo parte do existencialismo, corrente filosófica liderada por Sartre.

A gota d’água do desentendimento veio com a publicação de “O Homem Revoltado” de Camus em 1951, onde este ataca o autoritarismo das revoluções e a fácil via do socialismo em cair no assassinato político. Veio a enxurrada liderada por Sartre contra o seu livro, acusado de defender a liberdade de maneira simplista e limitada. Ambos trocaram ataques e protagonizaram terríveis desentendimentos, culminando num polêmico fim da amizade.

A partir de então, Camus se afastaria abalado do centro da intelectualidade francesa, dedicando-se a seminários internacionais e seu trabalho na editora. Publica “A Queda”, uma melancólica novela sobre a culpa e o julgamento. Recebe o Prêmio Nobel de Literatura em 1957 “por sua importante produção literária, que, com clareza lúcida ilumina os problemas da consciência humana no nosso tempo”. Em 1960 tem uma morte trágica e precoce num acidente de automóvel. Na mala de viagem o romance auto-biográfico “O Primeiro Homem”, para sempre inacabado.

A obra: absurdo e revolta

“O absurdo nasce desse confronto entre o apelo humano e o silêncio despropositado do mundo”
“A revolta nasce do espetáculo da desrazão diante de uma condição injusta e incompreensível"


Toda a sua obra está baseada em uma obsessão: o absurdo. E polarizada entre o diagnóstico do absurdo e a necessidade da revolta. Enquanto o absurdo é a impossibilidade humana de saber e de ser o que espera, a revolta é o que lhe restaura a dignidade em um mundo privado de sentido, ao mesmo tempo que lhe fornece a consciência e inconformidade de aceitar a opressão e o salto em todas as formas. “Eu me revolto, logo existimos”. Absurdo é o silêncio, o abismo e a ligação entre a esperança humana com o mundo vazio. Revoltar é bater o pé e sem o aguardo e sem esperança viver e tentar, criar para, em profundidade, não durar, fazer “como se”, um movimento sem utopia, como Sísifo, que toda a vez que leva a pedra até o topo, tem de busca-la novamente embaixo, pois ela rola eternamente. “No topo é possível imaginar Sísifo feliz” pois ele, apesar da inutilidade de sua tarefa a realizou da melhor forma que pode. Sísifo não se entrega e sempre recomeça.

Camus dividiu a sua obra principal em duas linhas temáticas em três frentes diferentes:
A do absurdo - Romance: O Estrangeiro; peça: Calígula; ensaio: O Mito de Sísifo.
E a da revolta – Romance: A Peste; peça: O Estado de Sítio; ensaio: O Homem Revoltado.

O Mito de Sísifo
Aparentemente é um livro despretensioso e de tema manjado: “Só existe um problema filosófico realmente sério: é o suicídio. Julgar se a vida vale ou não vale a pena ser vivida é responder à questão fundamental da filosofia”. Entretanto, em qual linguagem ao mesmo tempo profunda e simples poderia de melhor forma ter sido escrito um livro assim? Camus parece ter a resposta com esse ensaio filosófico. Numa incrível sensibilidade psicológica e extenso amparo filosófico ele desenvolve uma teoria não usual para o (não) sentido de viver. O livro do absurdo, contra o silêncio do mundo. Transformar o motivo para o fim em motivo para continuar, eis a inversão camusiana da revolta.

O Homem Revoltado

Numa análise profunda da história das revoluções e da trajetória do niilismo, passando por filósofos, escritores, políticos, rebeldes, etc, Camus traça um perfil da revolta como fator histórico-filosófico primoroso. Prevê o risco do assassinato como justificativa política: “a filosofia pode servir para tudo, até mesmo para transformar assassinos em juízes”. Camus havia negado o suicídio em O Mito de Sísifo como saída para o absurdo, propondo a revolta como fundamento de afirmação da vida. Aqui Camus renega o homicídio como legitimação da revolta.

“Sim! Compreendi bem o sistema. Vocês lhes dão a dor da fome e das separações para distraí-los da revolta. Os esgotam, lhes devoram tempo e forças a fim de que não tenham nem ócio nem impulso para o furor!
(...) Os homens arrastam os pés, vocês podem ficar contentes! Estão sós apesar da massa, como também eu estou só. Cada um de nós está só graças à covardia dos demais.”
- O Estado de Sítio, Albert Camus.

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Albert Camus

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Camus, a esposa Francine e filho

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Camus com os filhos

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A redação do Combat
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Manchete da morte de Camus no jornal Combat



 

Anexos

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Última edição por um moderador:
Eu gosto do pensamento de Camus, essa abordagem do suicídio, a ideia do absurdo. Só acho ele muito pessimista (o que não espanta). Interessante esse vídeo sobre a adaptação da obra de Dostoievski, porque põe lado a lado os dois autores e faz uma espécie de comparação entre eles. Camus é pessimista quanto à limitação humana perante o absurdo, sua resignação enquanto Dostô põe toda a esperança da superação das contradições no Cristo. Bem, paradigmático.

Ainda assim, o pensamento de Camus me é muito mais 'suave', límpido e claro que certos niilismos sufocantes, que certas visões derrotistas demais da existência.
 
Última edição:
Rômulo, agora, faça o favor de postar alguma merda gigantesca em algum tópico aí só pra eu te dar um - karma e você voltar para 42. Pô, fiquei até tristinha de clicar no Ótimo post, porque eu queria manter a mística do 42, mas o tópico ficou muito bom, então... :tsc:
 
Rômulo, agora, faça o favor de postar alguma merda gigantesca em algum tópico aí só pra eu te dar um - karma e você voltar para 42. Pô, fiquei até tristinha de clicar no Ótimo post, porque eu queria manter a mística do 42, mas o tópico ficou muito bom, então... :tsc:

Agora terão que ser 2 karmas negativos. O que é uma merda grande? "Melian é uma boa amiga"?

Eu ainda não li nada dele, mas pretendo.
 
Bah, deu muita vontade de ler O Mito de Sísifo, espero que o Kainof me empreste :P
 
Li "O Estrangeiro", "A Queda" e "A Peste". É curioso como com "A Peste", ao abordar o Absurdo, ele desmente a ideia de niilista que alguns tentavam imputar a ele com esse primeiro romance. Agora, "A Queda" é pra quem tem estômago. Causa um efeito semelhante ao de "Notas do Subsolo" ou "O Lobo da Estepe". BTW, "Estado de Sítio", peça trágica inspirada em parte por "A Peste", é impressionante. O cara consegue usar tudo quanto é recurso trágico ático e fazer isso funcionar na dinâmica do teatro contemporâneo.
 

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